Bem, eu estava ali não é mesmo? O que poderia dar errado? Desconsiderando o fato de que era eu? Melhor eu não pensar nisso.

Me chamo Isabella Swan, porém como não gosto desse nome as pessoas me chamam apenas de Bella, o que é menos ruim. Pelo menos pra mim. Passei todos os meus 17 anos sonhando com esse intercâmbio para o país mais perfeito do universo: Inglaterra, só de pensar meu coração já dispara, minhas pernas começam a tremer e minhas mãos a suar.

A caminho do guichê para o chek-in, minha família já estava toda ali pra me dar tchau, minha mãe, Reneé ao meu lado preparava um dilúvio, ela sempre fora muito dramática, principalmente quando o assunto é filhos. Ela já havia me passado as recomendações umas quinhentas vezes eu só assentia e falava ‘ ta bom, mãe...’ ou ‘pode deixar, mãe...’ Porém mesmo assim eu via seus lindos olhos azuis transbordarem enquanto ela tentava sem muito sucesso segurar as lagrimas, eu até hoje não consigo me conformar em ter olhos castanhos enquanto ela tinha aqueles benditos olhos azuis, mas agora não é hora de se lamentar e falar todo aquele discurso sobre genética. Seus cabelos castanhos balançavam enquanto ela chorava. Como eu a amava! Apesar de tudo ela sempre deu o sangue por mim e pelo meu irmão , Embery, aquela criatura só tinha 3 anos mais era mais inteligente do que muita gente da minha idade, sendo assim não tirava aquele sorriso que só ele conseguia deixando as lindas covinhas a mostra, desde que descobriu que iria ficar com o meu quarto. Mas só enquanto eu ficava fora. Embery puxou os malditos olhos azuis da minha mãe, enquanto os cabelos eram do marrom escuro do meu pai. Já eu puxei os olhos castanhos do meu pai e os cabelos também castanhos da minha mãe. Meu pai Charlie, o único racional da família me ajudava a despachar as malas. Acho que ele era o único que tinha real consciência de que aquilo seria o melhor para mim.

A mocinha que me atendeu parecia muito simpática, ela tinha o rosto redondo e cabelos loiros cacheados que a deixava mais bonita, fora o sorriso de orelha a orelha que eram contagiantes. Ela me falava pacientemente o horário que eu deveria embarcar. Me perguntei novamente se não deveria esquecer tudo aquilo e voltar para casa... Não Bella! Você já está aqui! Vai dar tudo certo, você vai voltar falando Inglês e voltar com amigos dos qual você nunca vai esquecer.. Fora que você vai ser uma pessoa diferente, essa viajem além de ser pra você conhecer o país que você tanto ama é pra botar em pratica a nova Bella, a Bella que vai voltar bem mais forte do que já era! Que vai saber o que fazer... não aquela menina meiguinha e estúpida que você vai deixar aqui.

Eu tentava inutilmente convencer a mim mesma de que aquilo era o melhor a se fazer.

– Tem certeza de que você vai ficar bem?

Minha mãe perguntou pela qüinquagésima vez. Dei-lhe um sorriso sincero

– Claro mãe! Eu sei me virar.

Será que eu sabia mesmo? Bom, se eu não soubesse, eu iria aprender certo?

– Vá com Deus meu amor.

Meu pai falava enquanto me apertava forte em seus braços, sussurrando em meu ouvido para que apenas eu escutasse.

– Vai dar tudo certo Bells!

Eu esperava que sim, esperava mesmo. Não iria sentir falta daqui, eu sei que é a minha família e o lugar que eu cresci, mas só de lembrar tudo o que eu passei minha vontade de correr e fugir dalí só aumentava. E que lugar melhor pra fugir do que o país que você sempre sonhou em conhecer? Eu esperei tanto por isso e eu preciso mesmo de um tempo só pra mim, um tempo sozinha, só meu, sem ninguém pra me lembrar do que eu vivi por tanto tempo. Eu precisava mudar, mudar de vez e por isso mesmo eu não iria desistir, não agora.

– Tchau pestinha!

Baguncei os cabelos do meu irmão enquanto ele dava um tapa no meu braço me fazendo rir.

– Tchau Belhusca!

Como eu ODIAVA esse apelido! Antes de devolver o xingamento ao mesmo estilo ele me surpreendeu ao puxar minha cintura para um abraço, já nem sentia raiva pelo apelido ridículo.

– Vou sentir sua falta.

Nessa hora eu pensei em largar tudo ai e voltar pra casa. Mas eu sabia que não podia fazer isso. Abaixei e puxei seu rosto para me olhar. Aqueles olhos azuis transbordando em lágrimas me deixavam com dor no coração. Eu tinha que fazer isso por mim, aquela dor me assombrava, se eu não sumisse por um tempo eu não sei o que aconteceria.

– Hey, eu vou voltar logo! Eu juro! Um ano vai passar voando você vai ver!

Ele sorriu fraco assentindo com a cabeça. Era incrível como a gente brigava, se batia, se xingava ( sim, aquele pirralinho tinha uma criatividade para criar apelidos pra mim) mais no fundo não conseguiríamos viver um sem o outro. Eu tinha que sair logo dalí se não eu sabia que iria acabar desistindo. Levantei-me e vi minha mãe chorando. Continuei segurando minhas lagrimas, não iria chorar ali na frente deles.

– Ah, mãe vai passar rápido!

Ela me abraçou forte.

– Você vai ficar bem, vai encontrar a felicidade. Eu sei que vai!

Deus sabe o quanto eu queria acreditar naquelas palavras, mas eu sabia que aquilo não iria acontecer, eu não merecia nem uma gota de felicidade, não depois das coisas que eu fiz.

Agora, andando em direção ao portão de embarque pude ver a quantidade de pessoas que iriam no mesmo vôo que eu. Me sentei para esperar até que autorizassem a entrada dos passageiros no avião. Me foquei em tudo o que estava acontecendo ao meu redor, isso era parte da mudança, antes eu sonhava mais acordada do que dormindo porém agora isso não iria acontecer, não mais. Lagrimas começaram a descer sem que eu pudesse impedir, era horrível deixar minha família logo depois de reencontrá-los, mas era preciso mais do que nunca era preciso. O choro estava tão incontrolável que eu comecei a soluçar. Afim de passar menos vergonha eu coloquei minhas mãos no rosto, estava liberando um pouco de tudo o que estava preso esse tempo todo.

– Olá.. tudo bem com você?

Uma voz feminina ecoou na minha cabeça e eu sabia que era comigo, quem mais poderia ser do que a menina que estava aos prantos sentada na cadeira de embarque? Minha vontade era de perguntar se eu pareço bem, mas ela foi educada e eu sabia que a minha mudança não constava eu ser mal educada com ninguém. Limpei as lagrimas com a mão e me forcei a parar de chorar. Quando vi que não dava pra ficar mais apresentável eu resolvi olhar para a menina que sentava ao meu lado. Sabia que eu devia estar com os olhos vermelhos e com o rosto inchado, mas isso não impediu com que a garota saísse correndo. Ela tinha cabelos loiros até os ombros, seus olhos eram castanhos escuros e seu sorriso iluminava o ambiente.

– Tudo sim.

Me forcei a sorrir. A menina sorriu mais e me perguntou novamente.

– Qual seu nome?

– Isabella, mais pode me chamar de Bella. E o seu?

Tentei ser mais simpática possível, ela esticou a mão para mim e eu apertei amigavelmente enquanto ela respondia.

– Jéssica. Ta indo viajar a passeio?

– Intercambio, e você?

Ela arregalou os olhos brilhantes para mim.

– Jura? Nossa! Que máximo eu também! Pra onde você vai?

Eu ri, por ela estar tão empolgada, não que eu não estivesse, meu sentimento era mais parecido com receio principalmente pelo meu inglês.

– Londres.

Ela deu mais um gritinho me fazendo pular da cadeira.

– Eu vou pra lá também! Uau vai ser tão divertido! A gente pode marcar de sair a procura de uns gatinhos britânicos!

Inconscientemente fiz uma careta enquanto mudava de posição, era muito desconfortável tocar nesse assunto, quando era uma das muitas coisas que eu queria esquecer.Respirei fundo, quando vi que ela não iria parar de falar tão cedo nos ‘gatinhos britânicos’ resolvi fazer aquilo que eu não iria fazer mais. Me desliguei de tudo principalmente da Jéssica que agora falava comigo no modo automático.

Tentava a todo custo apagar as lembranças que insistiam em vir, junto com a tristeza e as lagrimas. Eu havia prometido a mim mesma que o que aconteceu ia ser um mero pesadelo, assim que eu entrasse no avião aquilo seria apagado da minha mente, eu estava indo para aprender inglês, conhecer pessoas novas e o lugar que eu tanto amava, ia deixar as pessoas daqui completamente para trás, menos minha família, eles eram as únicas pessoas que ficariam no meu coração, o resto iria direto para o lixo. Aquela Isabella meiguinha e dependente ficou pra trás, ou melhor, morreu! Eu ia para essa viajem com uma única certeza: eu NÃO iria me apaixonar de maneira nenhuma, já passei horrores por causa desse sentimento, passei por coisas que eu nunca seria capaz de falar em voz alta. O amor só me ferrou e esse é o principal motivo pra eu querer ele longe da minha vida, não iria permitir sentir isso de novo, sofrer por isso de novo. Chega!

Senti algo cutucando meu ombro e logo vi que era Jéssica já de pé ao meu lado. O que eu perdi? Que droga, eu tinha que parar logo com essa mania de sonhar acordada.

– Ain, eu não acredito que eu to indo pra lá, você acredita Bella? Acredita?

Balancei a cabeça em negativa sussurrando.

– Não. eu não acredito.

E de fato, não acreditava.

A place in the world – Taylor Swift.

(http://www.youtube.com/watch?v=05kKuhod4po)

Jéssica saiu correndo na minha frente, me levantei e respirei fundo. Era agora. Meu corpo inteiro tremia mas eu não voltaria atrás. Fui dando passos normais até a grande saída que dava para o avião. Ao caminhar para a aeronave eu me permiti olhar mais uma vez para trás. Lá estava ela, era igualzinha a mim fisicamente, porém aquela Isabella era a bobinha, a meiga, a criança que foi obrigada a se tornar adulta antes do tempo, a que sofreu e sofreu por algo que o amor fez a ela, a grande vitima de tudo, eu era a nova Isabella, a que não se deixa abalar a que é forte a que é independente e principalmente a que vai sobreviver a tudo. A menininha da minha frente acenou pra mim e só eu sabia o quão louco e o quão certo aquilo parecia.

– A senhora vai embarcar?

Me perguntou a comissária de bordo que estava na frente das escadas que davam pro avião. Eu a olhei e sorri. Sem falar nada subi as escadas daquela grande bacia ambulante. Não pude deixar de me perguntar como aquele negocio conseguia voar com tanto peso, mas aquela não era uma boa hora pra se pensar nisso. Graças a Deus na poltrona só havia eu, então ia poder colocar os pés nas vazias do meu lado. Sentei na janela e as portas já haviam se fechado. Nesse momento escutei uma tossida baixa e levantei a cabeça para a Jéssica que se encontrava ao meu lado de pé.

– Posso sentar aqui?

E lá se foi meu espaço. Sorri.

– Claro.

Ela se sentou deixando a poltrona do meio vazia.

– Já sabe algo sobre a sua família?

Eu respirei fundo, pensar naquilo me deixava estranhamente nervosa.

– Não, só sei que tem uns adolescentes mais ou menos da minha idade.

Ela arregalou os olhos e eu voltei a fitar a janela enquanto o avião já se movimentava, esse ia ser um longo vôo.

– Eu sei tudo sobre a minha. Eu vou ter um irmão chamado Jacob e uma irmã chamada Leah. Você não recebeu um envelope branco? Lá dizia tudo sobre a sua e ainda tinha fotos de cada um deles.

Eu não sabia praticamente nada da minha nova família, nem fui eu quem escolheu e sim meus pais, eles me entregaram sim esse tal envelope com as fotos para não ocorrer problemas na hora deles vierem me buscar no aeroporto. Porém eu estava tão nervosa que eu acabei nem abrindo esse envelope, apenas o coloquei dentro da minha mala despachada. Ótimo, teria que pegá-lo lá dentro antes de sair. Um friozinho percorreu meu corpo me deixando mega nervosa por isso respirei fundo novamente e me obriguei a ficar calma, falando comigo mesma, ultimamente tenho adquirido essa mania, agora além de tudo eu virei maluca. Balancei a cabeça. Isabella Swan! Agora você é uma mulher forte e madura, vai dar tudo certo! Um ano vai passar voando e você nem vai perceber.

– Bella? Bella?

Jéssica estava estalando os dedos na frente do meu rosto afim de me tirar dos devaneios.

– Oi?

Disse eu agora mais animada

– Desculpe, tava viajando aqui.

Ela sorriu e me entregou dois pedaços de papel com uma caneta

– Anota ai seu e-mail pra gente marcar de sair.

Por favor, Por favor que ela não comece a falar de caras britânicos. Percebi que em um dos pedaços de papeis havia o e-mail dela. Guardei o que estava escrito na bolsa e anotei o meu entregando pra ela logo em seguida.

– Senhoras e Senhores, vôo autorizado.

O comandante falou no microfone quando nesse momento a grande banheira pegou velocidade e começou a subir. Meu estomago estava parecido com uma maquina de lava e a única coisa que eu pensava era: Agora fudeu Bella, não da mais pra voltar atrás.

Por incrível que pareça depois dessa afirmação eu me acalmei.

– Bella, vou dormir agora, depois a gente conversa mais!

Graças a Deus Jéssica dormiu rápido. Olhei para a janela e permiti que algumas lagrimas caíssem, iria sentir falta da minha família, muita mesmo! Mas eu como sempre repeti a mim mesma, um ano passa rápido e vai dar tudo certo. Eu realmente esperava isso.

Fechei meus olhos na esperança de dormir o vôo inteiro, mas a única coisa que passava na minha cabeça era como raios devia ser minha família? Comecei a me arrepender de não ter aberto aquele maldito envelope. Estava com medo, medo deles não gostarem de mim, deles me acharem insuportável... balancei a cabeça..eu tenho que confiar mais em mim mesma, ter mais segurança.Cheguei a conclusão de que é melhor eu dormir se não amanha eu vou conhecer minha nova família parecendo um zumbi. Acabei adormecendo pouco depois, porém uma coisa antes disso me chamou atenção, de alguma maneira eu sabia que essa viajem iria mudar a minha vida só não sabia se essa mudança ia ser boa ou ruim, mas de uma coisa eu tinha certeza: se essa mudança fosse ruim eu iria superá-la sem pensar duas vezes... Porque essa é a nova Isabella.