De castigo por uma semana disse Marta, por ser uma garota que não sabe ter limites.

Eu não me importava, nunca fui uma garota de sair, e mesmo que fosse, eu nem tinha autorização. Acho que minha tia tinha medo de que se eu tivesse fugiria para Áustria, onde morava um primo da minha mãe. Eu fiquei sabendo dele quando fiz treze anos; tia Sierra conversava sobre minha guarda com Marta e tocou no assunto. Felizmente eu ouvia atras da porta.

Pelo que eu ouvia do primo Pierre, é que ele parecia ser uma pessoa boa. Ele vivia indo para a Africa ou América, protestar contra comercio de animas. Ele deveria ser legal. Mas acho que nem sabia sobre mim.

Era de tarde, e a maioria das meninas estavam no centro da cidade. Eu nunca fui para centro de Paris, gostaria muito de conhecer.

Olhei pela janela e o dia estava ainda claro. Olhei para o meu livro no criado mudo, e para meu casaco na cadeira.

Desci as escadas rapidamente até chegar na porta.

"Onde pensa que vai?" -Disse Clarisse.

Me virei devagar, Clarisse me encarava, mordi o lábio.

"Vou lá fora." -Sorri.

"Pensei que estivesse de castigo." -Ela cruzou os braços.

"Mas... Amanha talvez comece a nevar, e ai... Por favor!" -Supliquei.

Ela olhou pela janela perto da porta e suspirou.

"Mas o que você vai fazer?"

"Só ler meu livro enquanto está claro." -Dei de ombros.

"Quando escurecer, quero que entre imediatamente."

Pulei de felicidade.

"Obrigada." -Sorri e saí.

Respirei fundo o ar de inverno. Estava bem frio, por isso dei volta no meu cachecol. Desci as escadas da entrada e olhei em volta. Sim, a neve logo viria.

Andei calmamente até os fundos, lá tinha um tronco onde eu sempre me sentava para ler. Abri na página e o mundo a minha volta sumil.

"Que livro é?" -Quase gritei quando vi Victor do meu lado. Ele tinha um sorriso sarcástico no rosto e estava em cima do tronco, sentado nos calcanhares, como um gato.

Olhei para ele brava, mas me contive para não xingar.

"Não é da sua conta." -Disse voltando ao livro.

"Nossa."

Ele me encarava imóvel, depois de um tempo, perdi a paciência.

"A Invenção de Hugo Cabret." -Sussurrei- "Você sabia que não pode ficar aqui, é uma propriedade privada." -Disse.

"Me desculpe, você não me quer aqui?" -Ele ficou ereto.

O fitei, e ele sorriu.

"O que quer de mim?" -Fechei o livro.

"E por que acha que quero alguma coisa?" -Ele deu de ombros.

Segurei o livro com raiva.

"Você já me trouxe muitos problemas." -Me levantei e andei para a frente da casa.

"Eu? Mas por que?"

Parei e me virei.

"Eu sei que você entrou no orfanato ontem." -Disse.

"Como eu entraria?" -Ele sorriu, um sorriso maldoso.

"Não sei! mas eu sei que entrou."

Ele ficou serio e veio até mim.

"Você não pode acusar as pessoas pelo seus erros." -Ele estava tão perto, que eu podia sentir sua respiração.

"Por que esta aqui?" -Sussurrei.

Ele se afastou e deu de ombros. Pegou uma pedrinha do chão e jogou do outro lado do muro.

"Onde estão seus pais?" -Perguntei, mas ele não respondeu. Voltei a me sentar no tronco.

"Me desculpe, se eu te encrenquei." -Ele disse, se agarrando no galho da arvore- "Não foi minha intenção."

"Aha! Então você admite que esteve lá."

"Claro." -Ele olhou para mim e deu um sorriso zombeteiro- "Eu sempre entro."

Fui até ele.

"O que? Você sempre entra? Por que?"

"Gosto de te olhar dormir." -Ele se agarrou na arvore e sentou no galho.

"O que!" -Gritei, mas logo tampei a boca, Clarisse poderia ter ouvido.

Ele segurou o galho na frente e deu uma cambalhota, caindo no chão de pé.

"Por que?" -Disse brava.

"É interessante." -Seus olhos brilharam.

Ele foi então até o galho e pegou o livro, abriu na pagina e começou a ler.

"É você que fica na janela anoite? Me observando?"

Ele me olhou curioso e inclinou a cabeça de leve para a direita.

Me sentei do seu lado, mas não próxima. Observei ele lendo o livro até que senti algo gelado na mão. Um fino floco de neve acabará de cair. Olhei para cima, onde a neblina cobria o céu.

"Você..." -Fui interrompida, quando Clarisse gritou meu nome.

Me levantei no sobressalto. Victor olhou para mim confuso. Peguei o livro de sua mão e corri para o jardim da frente.

"Onde você estava? Já esta na hora..." -Clarrise me olhava brava.

"Clarisse! Venha! Rápido." -Puxei ela pelo braso e a levei até os fundos. Mas como da ultima vez, ninguém.

"O que foi Alicia?" -Disse ela brava.

Olhei em volta decepcionada.

"Esta começando a nevar." -Sorri.

Ela olhou para mim, e logo sorriu.

"Sim, a neve e linda. Vem, o jantar já esta quase pronto, e as meninas já estão chegando."

Suspirei e voltei junto com Clarisse, olhei para traz e lá estava Victor, sorrindo e acenando para mim.