POV Gabi

Acordei com o despertador berrando no meu ouvido, dormi tanto que nem me dei conta de que já eram 7:00am. Me levantei com muita dificuldade, o que eu realmente queria era ficar ali pra sempre, dormindo. Até que eu me toquei que hoje não era segunda. E nem terça, nem quarta, nem quinta e nem sexta. Hoje era sábado, mais precisamente dia 15/03. Por um minuto me perguntei porque eu deveria estar de pé tão cedo ou porque o despertador tocou no sábado. Até que minhas dúvidas desapareceram quando minha mãe entrou no quarto com lágrimas nos olhos.

Minha filhinha... é hoje –Disse ela me abraçando.

–Hoje o que mãe? –Olhei pra ela realmente confusa.

–É hoje o seu intercâmbio, não se lembra? Você vai pra Inglaterra.

–Ah, é mesmo! Desculpe, só estou cansada. –COMO EU TINHA ME ESQUECIDO???

–Termine de arrumar suas coisas, vamos te esperar na cozinha. –Ela falou fechando a porta atrás de si ainda com a voz chorosa.

Não podia acreditar que finalmente tinha chegado o dia em que eu iria passar um ano fora, conhecer pessoas novas e lugares diferentes... eu estava muito animada até lembrar que eu estava indo pra estudar e que iria ficar um ano longe da minha família, dos meus amigos e de tudo que me faz tão bem aqui no Brasil... Ignorei a tristeza que veio logo em seguida e fui me preparar pra viagem. Resolvi ir de jeans e uma blusinha rendada vermelha. Nada muito exagerado. Peguei minha bolsa, dei uma última olhada pro meu quarto que com certeza estaria diferente quando eu voltasse e fui tomar café.

Assim que cheguei na cozinha todos estavam chorando, o que fez com que eu me sentisse a pior pessoa do mundo. Talvez eu devesse ficar aqui com eles, doía demais ter que deixa-los aqui sem mim. Apesar de eu achar que não vou fazer falta, mas naquele momento eu senti que deveria ficar. Meu irmãozinho, Lucas veio correndo me abraçar me tirando do meu transe.

–Por favor Gabi, não vai! Eu vou sentir sua falta, eu te amo, fica aqui por favor –Ele dizia entre soluços.

–Eu não posso Luquinhas... eu também te amo. –Comecei a chorar mais que ele, eu queria ficar, mas sabia que não podia. De alguma forme eu sentia que eu tinha que ir, não sei por que, mas eu sentia aquilo.

–Não esquece de mim tá? –Ele disse se afastando de mim.

–Prometo. –Disse olhando pra ele- Mãe, eu não estou com fome, podemos ir de uma vez, por favor? –Falei desviando o olhar.

–Claro filha. –Ela disse pegando as chaves do carro enquanto meu pai carregava as malas.

Entrei no carro e fiquei esperando toda a confusão lá fora acabar, não queria uma despedida muito longa, por isso não chamei nenhum dos meus amigos e nem familiares. Meu pai colocou as malas no porta-malas e seguimos até o aeroporto sem pronunciar uma palavra sequer. O silêncio me amedrontava pois me fazia pensar em milhões de possibilidades horríveis que eu realmente prefiro não comentar.

Chegamos no aeroporto depois de uns 40 minutos. Até hoje eu não entendo porque o aeroporto fica tão afastado da cidade. Coisas de Belo Horizonte... vai entender. Peguei toda a minhas malas, minha bolsa e me despedi da minha família antes de entrar na sala de embarque. Já estava atrasada.

–Eu amo muito vocês, vou ligar e passar e-mail todos os dias... –A essa altura eu já estava chorando rios. –Um ano passa muito rápido, vocês não vão nem notar que eu não estou aqui, vou aproveitar o máximo que eu puder. –Falei dando um último abraço em cada um deles. –Ah, e avise pra Mari que assim que eu chegar vou entrar no MSN.

–Tá, aviso sim. Nós também te amamos filha –Falou minha mãe mais me esmagando do que abraçando.

Me despedi de todos mais uma vez e entrei na sala de embarque, já estava atrasada. Já podia escutar os alto-falantes chamando pelo meu voo.

–Passageiros do voo 3552 com destino à Londres, Inglaterra. A aeronave já se encontra no pátio. Embarque imediato. Última chamada.

Corri em direção ao portão de embarque que nem uma louca, não podia perder o voo. Entreguei minha passagem ao segurança e fui procurar meu assento. Era o 22C. A pior parte de viajar sozinha era ter que aturar as pessoas estranhas que sentavam ao meu lado. Mas por um milagre dessa vez quem sentou ao meu lado foi uma intercambista da minha idade, seu nome era Fernanda. Ela era muito simpática. Era ruiva, tinha várias sardinhas, olhos castanhos, cabelo na altura dos ombros... bem fofa.

Olhei pela janela mais uma vez, olhei pro horizonte, pras montanhas, as árvores e cheguei a conclusão de que eu iria sentir muita falta de tudo isso. Mas ninguém sabe o que me aguarda do outro lado do oceano, pode ser que seja bem melhor. Se eu não arriscar nunca vou saber. O comandante anunciou a partida do voo interrompendo meus pensamentos.

–Partiremos agora tripulantes, tenham uma ótima viagem.

Desviei o olhar da janela e olhei para Fernanda que estava chorando assim como eu. O avião decolou e partimos para Inglaterra.

–Vou sentir saudades daqui –Fernanda disse olhando pra mim.

–É, eu também...

–Pelo ou menos vamos conhecer Londres! Tudo tem um lado bom.

–É, pelo ou menos isso –Tentei rir, mas não consegui, eu queria mesmo era pular daquele avião e voltar pra minha casa.

–Hmm... eu vou dormir, estou com sono, levantei muito cedo.

–É, vou dormir também. –Falei virando pro lado e reclinando a poltrona.

Dormi todo o percurso, estava cansada, não de sono, mas de angústia. Quando me dei conta já estávamos quase chegando. Por um momento fiquei feliz por estar ali, naquele momento. Eu tive um pressentimento muito bom sobre meu intercâmbio. Sacudi Fernanda pra que ela acordasse mas não deu muito certo, então tive que colocar uma música bem alta em seu ouvido.

–AAAAAH, O QUE? QUANDO? COMO? ONDE? –Ela dizia eufórica.

–Chegamos –Dei um sorriso.

–Ah, que susto, achei que tinha morrido –Ela falou se levantando e pegando suas coisas.

Peguei minhas coisas também, descemos do avião e fomos até o interior do aeroporto pra pegarmos nossas malas. Já tinha pego o telefone e o MSN da Fer então não perderíamos contato. Minha mala demorou 20 minutos pra passar pela esteira, achei até que tinha sido extraviada.

–Tchau Gabi, a gente se vê esses dias –Falou Fernanda pegando suas ultimas malas e indo em direção a família que iria recebê-la.

–Tchau Fer, até!

Peguei minhas tralhas e fui conhecer minha nova família. Eles pareciam ser muito simpáticos. Todos eles eram loiros de olhos azuis, pareciam até alemães. Eles eram realmente como eu havia imaginado. Um casal feliz com duas filhas. Uma delas da minha idade -16 anos- e a outra de 8 anos. A mãe das meninas se chamava Margaret e o pai Tom. Já as filhas eram Melanie e Natasha. Eles me receberam com muitos abraços. Até que eu estava gostando daquele país.

–Bem vinda a Londres! –Falou Natasha e veio me abraçar. Ela era muito bonitinha, tinha cabelos grandes, dentes de leite e batia na altura da minha barriga. –Isso porque eu não sou lá a pessoa mais alta do mundo-

–Obrigada pequena –Falei sorrindo.

–Você vai adorar a Inglaterra, vou te mostrar tudo por aqui –Melanie estava realmente muito animada.

–Nós vamos fazer de tudo pra que você se sinta em casa. –Disse Margaret.

–Muito obrigada –Eu estava realmente feliz, sorrindo, eu me sentia em casa, aquela família me transmitia ótimas energias.

Peguei minhas malas e fomos até o carro. Passamos por todos os pontos turísticos de Londres. Acho que aquela cidade era mágica, ou não sei o que, tudo era tão perfeito. Eu não queria mais ir embora, estava amando tudo. Minha nova casa era bem longe do aeroporto, mais ou menos 30min. Era uma casinha azul que parecia ter saído de algum conto de fadas. Por dentro era ainda mais encantadora.

–Vem Gabi, vem! O papai disse que eu podia te mostrar a casa! –Ela disse enquanto saia do carro.

–Estou indo –Falei correndo atrás dela.

–Olha, aqui é a sala, ali é a cozinha e ali em cima são os quartos, vem! –Ela falava apontando pra cada um dos cômodos- Vem Gabi, seu quarto é aqui em cima! –Como ela conseguia correr tão rápido? Ela já estava na porta do quarto. Saí correndo pra tentar acompanhar seu ritmo.

–Que gracinha Nat! Eu adorei -Falei sorrindo e abraçando-a. O quarto era realmente lindo. Tinha uma cama de casal no meio, uma escrivaninha, um closet e um banheiro.

–Agora vem ver o meu! –Ela falou me puxando pela mão. E me levando até o quarto da frente.

–Que lindo seu quarto Nat, todo rosa! –Seu quarto era bem fofo, todo rosa e com decorações das princesas.

Ela se deitou na cama pra provavelmente descansar e acabou adormecendo. Aproveitei a oportunidade e voltei pro andar debaixo.

–E aí, gostou da casa Gabi? –Melanie perguntou enquanto pegava um copo d’água.

–Amei, muito linda.

–Ah, que ótimo! Vou te ajudar a subir com suas malas –Ela disse já pegando uma das malas.

–Não precisa, eu posso subir com todas.

–Não! Eu quero ajudar. –Ela disse sorrindo.

–Tudo bem –Falei pegando duas malas.

Depois de subirmos com todas as malas resolvi tomar um banho e dormir um pouco, a viagem tinha sido muito cansativa.

–Você deve querer dormir agora né? –Acho que Melanie era vidente.

–É, estou bem cansada.

–Tudo bem, “boa noite”! Te vejo amanhã. Ah, não sei se você sabe mas amanhã é o ultimo dia de aula então acho que você não precisar ir se não quiser.

–Ah, obrigada, acho que vou ficar por aqui mesmo.

–Tá bem, então “boa noite” de novo –Ela disse rindo.

–Boa noite!

Fechei a porta e fui tomar um banho beeeem demorado. Minha maquiagem estava um pouco borrada por conta das lágrimas. Eu não sei por que, mas tomar banho me faz bem, parece que a água meio que lava minha alma. Vai entender... Saí do banho coloquei meu pijama, deitei na cama e adormeci.