Coração De Gelo escrita por Caroline


Capítulo 3
Capítulo 2 - O Baile




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Uma mortal trançava seus cabelos lenta e perfeitamente. Seu vestido estava estendido em sua cama de dossel, em cima de sua colcha de seda e seus travesseiros de pena de ganso. Suas sapatilhas, cada uma com um rubi em cima, estavam calçadas delicadamente em seus pequenos pés e o colar de ouro com pingente de asas, ao redor de seu pescoço.

– Sabe segnora – começou a mortal, sorrindo para a deusa através de seu reflexo no espelho. Seu sotaque italiano era forte, mas ela tentava se adaptar à Grã-Bretanha.

– Sim?

– Ouço as outras moças cochichando sobre vossa senhoria. Bem e mal. Acho que se sentem com inveja. A segnora é muito bonita.

– Obrigada, Marci. – Quione sorriu para a garota, que abaixou o olhar para a trança e retomou seu trabalho. Alguém bateu à porta.

– Não não não! – era a voz de Justine, a outra jovem, governanta da casa e amiga de Marci.

– Mas eu preciso muito falar com ela!

Era a voz de Poseidon. Quione franziu o cenho, curiosa.

– Minha senhora se arruma para o baile. Poderá vê-la mais tarde.

Quione fez um sinal para Marci parar, levantou-se, vestiu seu roupão cor de creme e abriu a porta, deparando-se com um deus impaciente e uma jovem ruiva quase sendo levada à loucura.

– Deixe-o entrar, Justine. Não me importo.

Poseidon fez uma breve reverência e entrou no quarto formalmente. Olhou para Marci, que arregalou seus olhos castanhos, encantada com sua presença.

– Poderia ser a sós?

Quione olhou para a empregada e acenou com a cabeça, dando-lhe a permissão para sair. Mas antes de esta deixar o quarto totalmente, o deus dos mares sussurrou algo em seu ouvido. Marci acenou com a cabeça rapidamente e fechou a porta do quarto. Poseidon encarava os olhos cinzentos de Quione quando esta lhe dirigiu o olhar.

– Belo vestido. – ele apontou

– O que deseja?

– Achei impressionante o modo como entrou no Olimpo. – O deus andava pelo quarto, passando a ponta dos longos dedos lentamente pela parede – Até mesmo meu irmão ficou boquiaberto.

– Veio para me parabenizar? Poderia ter esperado até o baile.

Poseidon sorriu.

– Achei que gostava de minha presença.

– Receio que não.

Ele deu uma risada curta e se aproximou da deusa, tocando levemente suas bochechas. Ela olhou em seus olhos azuis. Eram hipnotizantes como as ondas do mar. Seu primeiro erro.

– Mas você gostou sim, e muito.

– Pare.

– Parar? Não acho que queira isso. Se quiser que eu pare, terá de me obrigar.

Quione poderia pará-lo, poderia congelá-lo por sua insolência. Por se dirigir assim a uma senhora. Mas não o fez. Seu rosto chegava mais próximo do dela e suas mãos acariciavam sua cintura por cima do tecido de seda. Seus lábios se tocaram e os beijos ficaram mais e mais ardentes. Não pensou em quanto se arrependeria depois quando tirou seu roupão.



O palácio que Zeus conseguira para a festa estava iluminado por várias tochas, lanternas coloridas e velas perfumadas. O ambiente era espaçoso, o teto mal era visto. As paredes cor de areia estavam cobertas por quadros de paisagens e pessoas, finas tapeçarias vindas da China e da Índia. Os convidados se alternavam entre deuses, ninfas, sátiros, mortais influentes da mais alta sociedade e outras criaturas. A névoa os escondia dos mortais, ao menos suas partes mais diferentes, que eram magicamente transformados em coisas mais mundanas. O chão era ladeado por pequenos diamantes. Quione olhava ao redor, maravilhada.

– Agora, senhorita, comporte-se. – Éolo apertou-lhe o braço – Ou sofrerá as consequências.

A deusa assentiu, seu braço latejando de dor. Era como se ele soubesse o que fizera mais cedo, e a punia por isso. A punição não era por palavras, mas por atos. Quione temia decepcionar seu pai.

“Sua vadiazinha” a voz de Éolo soou nítida em sua cabeça. Não sabia se imaginava coisas ou se ele realmente falava com ela. Preferia pensar que estava ficando louca. Fixou seu olhar no pai, que conversava com Louis. O mortal estava incrivelmente bem arrumado, sem seu colete de lã e sem sua boina. Quione não sabia que ele era parte da alta sociedade. Maldição! Louis olhou para ela e sorriu. Não, Quione não estava com humor para ser educada. Saiu em disparada para a escada e subiu até o segundo andar.

Era um local extremamente espaçoso e igualmente rico em tapeçarias. Ao lado de uma grande porta de carvalho via-se uma grande mesa, coberta pelos mais diversos pratos: desde os mais simples até as mais complicadas e caras refeições com salmão e truta, diversos tipos de salada, molhos e as mais variadas bebidas.

Um garçom passava por ela trazendo vários copos coloridos. Quione precisava de uma bebida. Pegou uma taça de cristal e bebeu em um gole só. Mal dava para sentir o álcool. O que era aquilo? Néctar?

A música da lira parou e uma voz masculina anunciou uma breve valsa em alguns instantes. Como se isso importasse. Procurava apenas uma pessoa, um deus para ser mais exata. Poseidon não se encontrava em lugar algum. Louis se aproximava. Droga! Quione andou apressadamente até a escada e desceu-a, acertando alguém sem querer.

– Perdão, eu...

– Não se preocupe. – disse Hefesto. Sim, era ele mesmo. Não necessariamente feio. Ele estava uma graça em seu terno caro risca de giz. Mas Quione o odiava. O ar ao redor dele era necessariamente mais quente. Fogo e gelo não combinavam de jeito nenhum.

– Quione?

– Não me toque. – ela empinou o nariz e andou até a borda da sala, próxima a uma coluna de mármore. A pedra era fria. Perfeito.

Uma música suave começou a tocar, e o primeiro casal, Zeus e Hera, se aproximavam do centro do salão. Naturalmente o rei deveria iniciar a dança, seguido por seus irmãos. Onde estava Poseidon? Ele iria chamá-la para valsar, certo? Era natural. Ele a queria novamente. Mas a multidão se aproximava, impedindo-a de ver ou se locomover. Hades e Perséfone não estavam lá.

Grandes mãos agarraram seu pulso.

– Venha comigo.

– Mas não posso!

– Venha comigo.

A mão, cujo dono recusava-se a virar o rosto, puxava-a. Quione não era forte o suficiente. E quanto à Poseidon? Quando ela olhou para o centro do salão, ele dançava com sua esposa. Aquele nojento! Como ele ousava fazer isso com ela? Com as duas? A deusa parou de lutar e seguiu a figura. Para onde quer que fossem qualquer lugar era melhor do que ali, onde poderiam ver suas lágrimas. Mas estava enganada. O lugar para onde iam não era nada agradável. O lugar era abominável.



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