Coração De Gelo escrita por Caroline


Capítulo 2
Capítulo 1 - Deusa da Confusão




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Ela caminhava calmamente pelas ruas de Oxford, Inglaterra. Os homens, quase sempre bem arrumados, com seus chapéus pretos e ternos risca de giz, ou até mesmo com roupas de segunda mão a cumprimentavam com um aceno de cabeça ou uma leve reverência, retirando o chapéu e abaixando a cabeça. Mas seu pai não a deixava namorar, era muito nova. "Mal completou um éon!" dizia ele. Mas ela costumava andar por aí como uma jovem de dezessete anos. "Uma lady", todos comentavam e ela sorria, os lábios avermelhados em uma perfeita curvatura. Mas desta vez Quione não empinava o queixo como sempre fazia ao passar pelos mortais. Temia o que poderia acontecer. Iria visitar o Olimpo pela primeira vez em sua imortalidade. Bóreas a esperava na relojoaria de um mortal, um amigo da família. Em seus 20 anos já fora à Paris e estudara medicina. Ele tratava Quione bem, muito bem, mas ela se sentia como uma barra de ouro à ser cobiçada.

A deusa abriu a porta vermelha da loja, que fez o sino tintilar. Em frente ao balcão de mogno ela viu o pai. Bóreas aparentava 38 anos e bebia chá em uma caneca de latão. Ele sorriu ao ver a filha e a abraçou

– Seja gentil - ele sussurrou em seu ouvido

Quione olhou para o jovem atrás do balcão. Ele observava calmamente um relógio de ouro, mas levantou o rosto assim que notou seu olhar. Ele sorriu e ela acenou com a cabeça, sorrindo levemente.

– Vamos, papai?

– Partindo tão cedo? - o jovem perguntou

– Mil perdões.

O pai repousou a caneca sobre o balcão e segurou a mão pálida da filha.

– Agradeço o chá, Louis.

O jovem o encarou com seus olhos verdes, hesitou e fez um sinal de sim com a cabeça. Juntos, pai e filha saíram da relojoaria, entraram em um beco, tornaram-se ar e, juntos, rumaram ao Olimpo.


*~~*~~*~~*

O local era grande e imaculadamente branco, muito espaçoso e com grandes janelas para permitir a circulação de ar. Quione gostava daquilo. Era imaculadamente calmo e limpo, como a neve.

– Aguarde-me aqui - Éolo disse à filha e passou por uma grande porta de mármore, esculpida com pequenas imagens. Muito ainda faltava por completar. Quione aproximou-se e observou. Pessoas com arpões, caçando grandes animais exóticos; no próximo, este fazia fogo em uma fogueira e assava uma ave; no próximo, eles utilizavam os animais à seu favor. "A história da humanidade" Quione pensou

– Fascinante, não?

Ela virou-se abruptamente. Uma pequena criatura vinha flutuando em seu encontro. Seus longos cabelos eram loiro-platinados, e flutuavam ao seu redor, leves como o vento. Os olhos eram de um azul vivo. Ela a encarou.

– Sim? Quem és?

– Oh, perdão senhora, sou apenas uma amiga. E tu pareces com Quione, estou errada? És mais antiga que o próprio Hefesto! Espero que não a tenha ofendido, claro. É um prazer conhecê-la!

A deusa arqueou uma sombrancelha. Como aquela criatura falava rápido!

– Sabes mais do que pensa, minha senhora - a ninfa flutuou para mais perto - Sempre soube disso, e não apenas eu mas Poseidon! Mandou espalhar pelos sete ventos que tu ainda estás caindo de amores por ele. E tem mais!

– Mais?

– Mandou colocar toneis com água pois duvida de tua capacidade. Está tudo lá dentro.- A ninfa apontou para a porta.

"Mas que salafrário" pensou Quione. Ele duvidava dela? Pois ela jamais seria esquecida por aqueles Olimpianos metidos, não por éons. A raiva subiu à sua cabeça rapidamente.

– Quione? - uma voz mais fina a chamou. Outra ninfa - Senhor Zeus está aguardando.

A ninfa loira saiu flutuando, mas a mais novinha que acabara de chegar franziu o cenho e flutuou atrás dela.

Quione encarou a porta, que imediatamente começou a congelar, detalhe por detalhe. Crac, crac, o gelo estalava. A temperatura ao redor dela caiu abruptamente e neve começava a se acumular nos cantos. A porta estava tão fria que começava a rachar. A deusa flutuava. A sensação era ótima. A porta explodiu e ela entrou na sala, deliciando-se com as faces espantadas dos outros deuses.

– Sou Quione, caso não tenham notado.

Ela olhou fixamente os outros deuses e deusas presentes. Zeus, Ártemis e Deméter estavam chocados. Hera e Afrodite estavam levemente indiferentes, assim como Dionísio, mas este estava focado em uma taça de vinho. Hermes, Poseidon e Hefesto a olhavam com um misto de admiração e surpresa, mas o deus dos oceanos foi o que ela se focou. Ele deu uma leve piscada para ela. Ela enrubesceu. Os outros começavam a acalmar Zeus. Éolo encarava a filha fixamente.

– O motivo da reunião seria...?

Apolo pigarreou

– Um baile de apresentação.

– De quem, exatamente?

– Da senhorita, claro! Sendo assim tão nova e desconhecida da sociedade atual.

– Oh, claro - Quione arrependeu-se profundamente por destruir a sala do trono - Quando, exatamente?

Poseidon ria consigo mesmo

– Bom - interrompeu, sorrindo - dado o estado do salão eu daria dois dias.

Ele olhou para o irmão Zeus. O rei franzia o cenho para Quione, juntamente com Éolo. Ela estava em grandes apuros.


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