O cheiro de forte de café invadiu suas narinas, ainda sem abrir os olhos tateou o outro lada da cama, estava vazia.

Logo um choro agudo tomou conta da casa, e o despertou por completo. Esfregou os olhos lentamente e, enfim, levantou-se.

Severus logo tratou de ver qual era o motivo de agitação logo de manhã. Adentrou o pequeno quarto, decorado em um tom de rosa suave, a única cor com a qual ambos concordavam, ela queria vermelho, e ele, queria verde, se fosse menino. Mas não queria um menino; quando finalmente descobriu que teria seu desejo atendido, ambos decidiram o rosa.

O local estava era repleto de bichinhos de pelúcia e pequenos mimos e, logo a sua frente, encontrava-se o berço branco, aonde estava toda sua nova razão de viver.

Tomou-a nos braços, com todo cuidado que se pode ter, afastando qualquer dor, ou temor, que ela estivesse sentindo.

Ninando a pequena vida que tinha nos braços, percebeu que jamais conseguiria parar de sorrir. Desde o momento em que sua vida, magicamente, havia mudado, ele não conseguia parar de sorrir, ainda assim, não era o suficiente para expor toda a felicidade que sentia.

Sempre que se pegava admirando Lily, como quem admira a beleza do mundo, dizia a mesma coisa: 'Parece magia.'

Ela sorria abertamente, pegava carinhosamente em suas mãos e respondia que magia não existia, a única coisa que os unia e os tornava felizes era apenas amor. Logo depois ela sempre o beijava afetuosamente, passava as mãos nos cabelos lisos, e escuros, e então aconchegava-se na curva de seu pescoço.

Depois de tudo o que havia passado, toda a tristeza que vivera com os pais, Severus ainda de beliscava para se convencer de que aquilo não era um sonho, e de que Lily, ali aninhada ao seu lado, era tão real quanto a alegria que sentia ao acordar todos os dias e, olhar os olhos verdes, iluminando os seus olhos.

Fitou novamente para a pequena vida que tinha nos braços, ela tinha os mesmos olhos de Lily, a mesma beleza, a mesma pureza. Em seus dois braços podia segurar tudo aquilo que dava motivo para viver uma vida tão simples como se podia imaginar.

Distraidamente divagava por tudo isso, e sem perceber que Lily o observava, sorria cada vez mais.

Ouviu a voz suave o chamar, dizendo para descer, que o café estava pronto, e que ele acabaria se atrasando para sua primeira aula.

Mas Severus, necessariamente, não se importava com nada disso, se importava apenas com o que envolvia Lily e a pequena vida, que agora dormia em seus braços.

Olhou para a esposa e, lhe entregou a filha, ainda sorrindo lhe deu um beijo tenro. De fato, estava atrasado, olhou novamente para as duas, e foi trocar-se.

Passaria o dia todo na escola, ensinando, por vocação, sobre fórmulas e substâncias químicas. Olharia incansavelmente para o relógio, apenas aguardando o momento de voltar para as duas.

Era assim todos os dias, esperava o tempo passar, somente para voltar logo para sua casa simples, localizada em um bairro comum, onde sempre encontrava Lily e sua pequena vida.

Sem perceber se deu conta do quanto havia ansiado por essa existência, mesmo que não fosse fantástica, mágica , gloriosa ou mesmo excepcional, aquela era a única vida que gostaria de ter. Um amor correspondido e toda a felicidade que havia nos olhos verdes.

E ali, sentando no escuro, segurando em seus braços, aquilo que era sua felicidade, ouvindo o choro incessante da criança que, assustada, não parava de soluçar, Severus pendeu a cabeça. Pela última vez ousou imaginar como poderia ter sido feliz ao lado de Lily, que agora repousava sem vida, naquele abraço.

Pela última vez ousou fantasiar uma existência sem grandes, feitos sem magia, uma vida que trocaria por outra, por qualquer uma em que Lily estivesse ao seu lado, onde fosse capaz de protegê-la e, somente, ser feliz.

"The other night, dear, as I lay sleeping

I dreamed I held you in my arms

When I awoke, dear, I was mistaken

So I hung my head and cried " *