Good Charlotte escrita por Is a Bella
Saímos Edgard e eu para o intervalo, após duas horas e meia de uma aula maçante de Biologia. Teríamos meia hora. Fomos à lanchonete comprar alguma coisa pra comer e fomos nos sentar num jardim que havia nos fundos do colégio. O sol aquecia a grama e iluminava o ambiente. Sentamos em um banco na sombra e começamos a comer.
– Você namora? – Ele me perguntou, de repente.
– Não.
– Já namorou alguém?
– Sim, uma vez apenas.
– Por que terminaram?
– Ele me achava muito fria, mesmo sendo asiático ele achava isso. Então terminou comigo.
– Quanto tempo ficaram juntos?
– Dois anos, acho. Já faz um tempo, nós éramos muito novinhos.
– Você é virgem?
– Erm… - Senti meu rosto esquentar e minha mão suar. – Não, por que?
– Imaginei que não fosse.
Um grupo de meninas aproximava-se do local, suas risadas ecoavam, o que pareceu incomodar profundamente Edgard. Percebi que as fitava com um olhar rígido, como se estivesse prestes a levantar e gritar com elas para que parassem, mas não foi o que aconteceu. Na verdade, ele esboçou um sorriso malicioso combinado ao olhar rígido, tornando seu rosto um quadro assustador.
– Sabe aquela de cabelo comprido? – Ele apontou sutilmente para uma garota de cabelos louros, trajando uma jaqueta cor-de-rosa.
– Sim, o que tem?
– A cada duas semanas, alguém do colégio dá uma festa. Essa garota está sempre lá.
– Parece uma vida vazia, a dela.
– Sim. Um dia eu resolvi ir em uma dessas festas.
– Não me parece o tipo de coisa que você faria.
– Não, mas eu sou curioso. Enfim, no meio da festa, essa garota estava totalmente bêbada. Por incrível que pareça, ninguém conseguiu ficar com ela, enxotava todos que se aproximassem, se achando a tal.
– Ela tem cara de quem faria isso.
– Pois é. Achei a atitude dela deplorável, então lhe dei uma lição.
– O que você fez? – Olhei assustada para Edgard, seu sorriso malicioso custava a sair de sua face.
– Levei ela para o quintal da casa, onde não tinha ninguém, prendi suas mãos com a corda que segurava o cachorro da anfitriã e, bem… Você sabe.
– Vocês fizeram…?
– Eu fiz, ela não estava muito a fim.
– Você estuprou a menina? – Percebi alguns segundos mais tarde que meus olhos estavam arregalados e minha boca semi-aberta.
– “Estuprar” é um verbo muito vulgar.
– Você fez isso mesmo? Qual o seu problema? – Estava com uma voz que transmitia medo e raiva.
– Ela me irritava. Mas está tudo bem com ela, de vez em quando nós saímos e repetimos a dose. Duvido que ela não tenha gostado.
Olhei para meus pés em busca de orientação para dar continuidade àquela conversa, mas foi falha.
Edgard notou que eu estava sem fala e constrangida, pôs a mão em meu ombro e suas palavras sairam da forma mais gentil que ouvi na vida.
– Oras, não fica assim, eu não fiz nada de mal. Mas olha só aquilo, ela exala vagabundice.
– Não importa, você a estuprou.
– Eu não fiz por mal. Achei que você entenderia. – Agora Edgard parecia arrependido, com um ar tristonho.
– Só prometa que não fará isso de novo. É meio estranho tudo isso, faz você parecer alguém…
– Ruim?
– Sim.
– Eu não sou alguém ruim, muito pelo contrário, eu faço justiça.
– Que justiça foi feita naquele dia?
– Ela é uma vadia, teve o que mereceu?
– Então você puniu uma vadia com sexo? Sério?
– Char, não faz isso. Olha, desculpa. Foi a primeira e última vez, eu prometo.
“Ele me chamou de ‘Char’, nem acredito”, pensei. Ele era tão amável, tão gentil e educado. Mal o conhecia, mas na aula, tive o tempo de conversa suficiente para conhecer uma boa parcela de seu caráter, e jamais imaginaria que ele fosse capaz de algo assim.
Ouvimos o sinal tocar ao longe, era momento de voltar à sala de aula. Neste período teriamos aula de Inglês. Meu forte sempre foi a área de Humanas, as horas passariam rápido.
Fomos em direção ao prédio, e para isso, tivemos que passar pelo grupo de garotas. Enquanto caminhávamos, Edgard soltou aquele olhar malicioso novamente para a garota loura, e ela desviou, olhando para os pés. Nenhuma de suas amigas parecia perceber que houve algo de errado com ela.
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