-Yun... Preciso te pedir uma coisa...

Cochichou-me Jaejoong, enquanto estávamos deitados no escuro de meu quarto, apenas sendo iluminados pela luz do luar, que invadia o cômodo pela janela aberta.

-O quê?

Perguntei. Ele reconfortou sua cabeça sobre meu peito enquanto eu o abraçava mais forte.

-Quero que você me prometa uma coisa... Você nunca vai chorar por mim...

-Quê? Como assim?

Perguntei-lhe assustado.

-É que... Ele hesitava a falar, e parecia escolher cada palavra cuidadosamente É que seu olho fica inchado quando você chora, e eu fico com medo de não conseguir vê-los...

Ele riu suavemente depois de terminar a frase. O acompanhei.

-Que promessa mais... Estranha! He!

Foi tudo o que pude dizer, mas havia algo me incomodando... E um mal pressentimento...

-É... Ele disse, rindo ainda, mas com um pouco de peso nas palavras Mas é que me assusta pensar que você pode não conseguir enxergar o que eu realmente sou Yunho...

Ele concluiu, virando-se para mim, enquanto selava seus doces lábios aos meus.

Uma brisa fria invadiu o quarto, fazendo com que Jae se aproximasse mais de mim, eu o envolvi com mais força, como se o protegesse do frio.

-Com uma condição... Me prometa que você será feliz, independente do que aconteça...

Eu disse, com medo de alguma coisa que viesse a acontecer. Ele sorriu docemente para mim, fazendo-me admirá-lo como se fosse a primeira vez que o tivesse visto, como se nunca tivesse notado esse belo sorriso durante esses três anos de namoro.

-Mas eu não preciso te prometer isso... Eu já sou, e só de pensar que eu estarei sempre ao seu lado, posso dizer que serei para sempre feliz.

Disse ele. Mas mesmo sorrindo, senti um pouco de tristeza no dito. Sorri para ele e o puxei para um beijo longo e apaixonado, como se quisesse selar o nosso amor, só por garantia. Ele se deitou novamente sobre meu peito e eu o envolvi com meu braço, tomando a posição que estávamos antes.

Olhei pela janela, a noite estava iluminada pelas estrelas, brilhando forte e puramente, assim como o amor que eu sentia por ele, e sabia que ele o sentia por mim. Mas mesmo tendo certeza disso, algo me incomodava...

Kim Jaejoong, eu serei para sempre o seu coração pensei, tentando deixar a angústia de lado, resolvi deixar para esclarecer isso ao amanhecer, então fechei os olhos e adormeci.

-Agora faz sentido Kim...

Disse alto, enquanto me lembrava da noite há três meses atrás.

Estava de pé na calçada, observando o outro lado da rua, uma lanchonete, onde Jaejoong e um homem estranho almoçavam e riam. As lembranças daquele momento voltaram a inundar minha mente...

Despertei com o sol incomodando meus olhos através das pálpebras, sem abri-los, tateei meu lado direito, onde deveria haver alguém, mas estava vazio. Finalmente abri os olhos, o procurando, mas tudo o que encontrei, foi um papel dobrado, onde em cima se lia Yunho com a letra de Jae, desdobrei o papel e li, já esperando por algo que eu não queria ler.

-Obrigado por me amar... Sínico...

Falei sozinho, sentindo uma sombra negra se apoderando de mim, enquanto as palavras daquela carta eram cuspidas rudemente pela minha boca.

-Perdi pra um mané de jaleco branco... Há!

Ria da minha desgraça.

Mas não havia deixado de amá-lo.

Mais tarde naquele dia, já era mais de dez horas da noite quando eu me encontrei jogado no sofá da sala, assistindo um filme que passava na TV, e comendo o macarrão de jantar direto na panela. Não estava prestando atenção no programa, já haviam outras cenas se passando em minha mente... Repetidamente.

-Só porque é doutor... Aff Kim!

Falava de boca cheia, entupindo minha boca de comida.

Meus devaneios foram interrompidos com o barulho da campainha. Fui atender, de boxer e a regata branca toda suja de molho. Abri a porta e me deparei com ele. O Mané de jaleco branco? O que esse desgraçado está fazendo aqui?Pensei.

-Jung Yunho?

Ele me perguntou inocente, enquanto eu o analisava de cima a baixo, tentando matá-lo com o meu olhar. Nossa! Eu sou muito melhor que esse velho Kim!

-Sou eu, o que você quer?

Perguntei, sem me importar em demonstrar educação ou algo do tipo.

-É sobre Kim Jaejoong...

Engoli seco. E senti uma dor no peito ao ouvi-lo pronunciar o nome dele.

Esse Mané veio até aqui me falar dele? Cansou de viver desgraçado?

-O que tem ele?

-Meu nome é Park Yoochun, eu sou o medico que...

-É, eu sei quem é você! Disse, interrompendo-o O que você quer? Fala logo!

Quase gritava com ele.

Ele se assustou um pouco, recuando. Pegou uma carta que estava guardada em seu bolso e a estendeu para mim. E disse:

-Jaejoong me pediu para lhe entregar essa carta assim que...

-Me esfaqueasse pelas costas? Nossa, quanta consideração! Esbravejei, tomando a carta das mãos dele Se é só isso que o doutor Park tem a tratar, pode se retirar por favor. Agradeça a ele pela caridade comigo! Passar bem.

Terminei, batendo a porta na cara dele.

-Seu desgraçado!
Gritei sozinho, enquanto amassava a carta e a jogava contra a parede.

Meu peito explodiu de dor, minha mente se recusava a acreditar no que Jaejoong havia feito, fiquei bufando, tentando me acalmar, sem nenhum sucesso. Mas meu coração queria que eu tomasse outra atitude. Me acalmei um pouco, fui até o papel, o desamassei, abri o envelope e estendi o papel em minha frente.

-Você nem teve a coragem de falar na minha cara não é Kim? Sempre me escrevendo essas cartas estúpidas...

reclamei um pouco, antes de começar a ler:

Yunho,

Eu sou um covarde né? Olha eu aqui te escrevendo de novo... Acho que não tenho coragem pra te enfrentar de frente... Me desculpe por isso...

Me desculpe?... Aff! é um covarde mesmo...

Yun... Há três meses, aquilo que eu fiz com você, não foi o certo, mas foi o melhor, acredite... Foi para o seu próprio bem...

Bom saber que você deseja o meu mal Kim!

Lembra que você sempre dizia pra eu cuidar da minha saúde e ir ao médico? Mas eu nunca ia né? Não sei bem o porquê... Mas eu sentia que ao seu lado, nenhum mal poderia me atingir... Você sempre me protegeu de tudo... Acho que eu fiquei um pouco mimado! Há-há!... Mas eu resolvi ir ao médico fazer um check-up, só pra te tranqüilizar e dizer que estava tudo bem...

Bom... Eu não entendo direito dessas coisas que os médicos falam, nunca me preocupei em entender também, era você que sempre acabava me explicando as coisas complicadas da vida!... Mas resumindo... O doutor Park que me deu o resultado dos exames, e vem me ajudado bastante ultimamente (agradeça a ele por mim depois! ^-^), ele me disse que eu tenho um problema no coração, e por algum motivo ele não funciona direito... Ele vem falhado bastante ultimamente... Lembra aquela vez que eu cancelei nosso cinema por que minha mãe estava de férias em casa? Então... Naquele dia mais cedo, foi a primeira vez que eu desmaiei por isso... Não queria que você soubesse, nem que convivesse com isso, ainda mais sabendo que você é todo preocupado!... Enfim, fiz todos os exames que pediram, e os médicos disseram que o problema não tem tratamento, e a única forma de me salvar, era um transplante, mas mesmo assim, as chances eram pequenas, pois é difícil encontrar um coração saudável na minha idade, ainda mais compatível, e não são todas as pessoas que autorizam a doação de órgãos dos que já morreram, então, seria complicado... E eu decidi esperar pelo pior...

Yun... A essa hora, meu coração já deve estar parando... Pedi pro doutor Yoochun te entregar essa carta assim que esse momento chegasse... Não quero você aqui do meu lado nesse momento... Não quero te ver chorando e sofrendo, sem poder fazer nada por você... Sabe, às vezes eu sinto uma tristeza batendo, mas quando isso acontece, eu penso em todos os momentos bons que a gente passou junto, e aí a tristeza passa... Se você ficar triste, faça como eu, não pense nesse momento ruim que estamos passando, pense em tudo de bom que aconteceu!

Bom... Saiba que eu não estou te deixando sozinho... Estarei sempre com você, ao seu lado, te olhando e cuidando de você, lá do paraíso, e se eu conseguir, eu posso te contar depois como é lá! E nunca se esqueça disso Jung Yunho:

EU TE AMO!

Kim Jaejoong

Yunho ficou paralisado alguns minutos com a carta em mãos, antes de reagir e voltar a respirar. Teve vontade de chorar, mas lembrou-se que havia feito uma promessa, e não pretendia descumpri-la.

Deixou a carta sobre o sofá e sentou-se, apoiou a cabeça com as mãos e ficou a pensar por cerca de meia hora, antes de se dirigir ao banheiro e abrir as torneiras da banheira para enchê-la. Yunho deixou a água aberta e foi ao quarto, onde pegou um papel, uma caneta, e escreveu algumas coisas. Dobrou, foi até a cozinha e a deixou sobre o balcão, depois pegou o telefone sem fio na sala, e foi para o banheiro.

Fechou a torneira, tirou as roupas de seu corpo, deixando-se exposto a fraca luz do luar que entrava pela pequena janela, ficou a fitar a água por alguns momentos antes de entrar. Estava fria, e ia cobrindo seu corpo despido lentamente, envolvendo-o aos poucos. Yunho sentia o frio fazendo efeitos sobre ele, e logo já estava a bater os dentes. Pegou o telefone, discou três números, disse algumas palavras e ficou a fitar o teto branco, onde passava o filme de sua vida ao lado daquele que amava, e que logo estaria muito longe dele. Apenas esperou seu corpo se acostumar com o frio, para afundar a cabeça e molhar os cabelos negros. Agora sim faz sentido Jae... pensou, soltando algumas bolhas de ar, brincando com a paciência.

Aqui embaixo da água, nem parece que eu estou chorando... não é Jae?

Niga inneum gose, nado hamkke halke...

Niga ganeun gose, nado hamkke kalke...¹

Depois de dois meses, finalmente saí do coma que disseram que eu me encontrava. Finalmente voltaria ao conforto de minha casa, mas nem tão feliz, por saber que não o veria mais... Havia recebido a confirmação de que ele não estava mais entre nós logo após acordar, e por algum motivo, não chorei como esperava... Mas mesmo assim, o sentia, e isso me confortava.

Saindo do hospital, chequei todas as minhas coisas e vi que a chave de seu apartamento ainda estava em meu chaveiro. Decidi passar lá antes de ir pra casa.

Cheguei ao apartamento, abri a porta lentamente, como se quisesse surpreendê-lo quando entrasse, ou vê-lo sentado no sofá, mas sabia que isso não aconteceria...

Dei uma boa olhada ao meu redor, aquele lugar era realmente confortável, me sentia feliz e protegido. Quando olhei para a cozinha, me deparei com um papel dobrado sobre o balcão.

-Leia, mas deixe aqui para quando ele chegar... O que é isso?

Perguntei-me, tomando o papel e desdobrando-o. Comecei a ler:

Amor,

Parece que essa foi a única forma de nos comunicarmos ultimamente né?... mas pelo menos nos falamos!

Há um tempo, nós trocamos promessas, se lembra? E dissemos que estaríamos sempre juntos.

Eu vou me esforçar para cumprir a minha promessa, e você? Vai ser feliz como eu te pedi? Eu vou estar te olhando hein! E sem lágrimas nos olhos!

Acredite quando eu digo que estarei sempre com você Jae, porque agora, eu encontrei o paraíso de verdade! Não lá no céu como a maioria diz, mas bem aí, do seu lado esquerdo, onde bate um novo coração, o nosso coração! E eu sempre soube, que meu paraíso era junto a você, e eu consegui isso, estarei sempre junto com você, sendo parte de você, porque eu quero te ver feliz daqui pra frente! E vou continuar cuidando e protegendo você como sempre fiz! E nunca se esqueça disso Kim Jaejoong:

EU TE AMO!

Jung Yunho

Jaejoong colocou a mão sobre seu peito, sentiu a presença de Yunho, seu toque em seu cabelo, seu beijo nos seus lábios, seu braço o envolvendo, seu calor o aquecendo, mas não pode chorar, por mais que tivesse vontade, pois seu coração não deixaria, afinal, tinha uma promessa a cumprir.

Uri hamkkeramyeon, we will never cry, never never cry...

And never gonna be alone...²