– Ele precisa falar algo importante para a gente.

Josh estava temeroso, eu não sabia o que era, mas devia ser grave, bem grave, pois seus olhos estavam brilhantes e fundos, e cheio de olheiras.

– Bom vamos todos sentar, acho que a conversa pode ser longa. – disse a Jane séria, eu quase nunca a via desse jeito.

Sentamos todos em volta da mesa na cozinha.

– Bom Dan, cara eu ia contar isso em casa, mas como você tá ai, vou falar já – Josh suspirou, e então pôs o rosto entre as mãos e logo voltou a nos olhar. – Os médicos suspeitam que eu esteja com leucemia.

Eu não era daquelas que entrava em choque fácil, mas eu não tinha palavras, parece que o meu chão tinha sumido, Jane estava firme e forte, não demonstrava qualquer reação, Dan deveria estar do mesmo jeito que eu. Eu não conseguia pronunciar uma única palavra, estava perdida.

– Desde quando? – Dan se pronunciando.

– Pouco tempo, ainda não é confirmado, por isso eu deixei de vir aqui – Josh olhou para Jane, e segurou sua mão. – Não a deixei por causa de outra, muito menos usei ela e fui embora, eu a amo, nunca poderia fazer isso. –

– Cara você devia ter contado isso. – disse o Dan nervoso, nunca o vi daquele jeito, seus olhos irradiavam raiva, ele sempre tão calmo, e finalmente pude ver como os dois eram apegados, pois o uma lágrima escorreu do rosto do Josh. – Por que cara? – continuou Dan, e assim ele também começou a soltar lágrimas silenciosas. Eu apenas assistia a situação assim como a Jane, calada.

– Ei mano, não é confirmado, eu tenho certeza que eu não tenho isso. – Josh tentava conforta o irmão. – Eu sei que deveria ter falado antes, mas queria ter certeza, e agora eu estou perdido.

Olhei a Jane, e minha maior preocupação era ela, eu sei que não poderia fazer muito, mas se fosse pra fazer ela feliz, tentaria de tudo, morreria se preciso, nesses anos todos, ela foi minha irmã, minha mãe, meu pai e minha única família, mesmo que não fossemos de sangue, e ela fosse filha da empregada, ela muito preciosa pra mim.

Percebi então, que esboçou uma reação, ela ria, sempre riria numa situação assim, ela estava nervosa. Josh e Dan olharam para ela como se ela fosse insensível, mas eles não a entenderiam e muito menos a conheceria como eu conheço. Eu precisava tomar uma atitude.

Dei um olhar bem significativo para os dois, levantei, peguei a mão da Jane, e a levei em seu quarto.

Ao fechar a porta, Jane caiu de joelhos desabando em choro, apenas ajoelhei e a abracei, e ficaria ali até que fosse necessário.

– Por quê? Sô, sempre acontece isso comigo, eu sou amaldiçoada né? – Jane gritava desconsoladamente. – Sô, eu sou né?

– Não, não é. Você é a pessoa mais incrível do mundo. Você está passando por isso pra mostrar que o que vocês sentem é mais forte. – dizia tentando acalmá-la. Mas seus soluços eram dolorosos, eu queria chorar junto com ela, mas eu seria forte, ela foi forte por mim tantas vezes.

– Shiu, vai passar tudo isso vai passar. – eu dizia, passando minha mão em seus cabelos sedosos.

Aos poucos ela foi se acalmando, e fiquei secando suas lágrimas, dizendo que tudo iria passar.

– Jane vá se deitar, você está cansada, amanhã você estará melhor. – disse colocando-a para deitar.

– Mas e eles? – perguntou.

– Eu resolvo.

– Dorme comigo Sô? – perguntou ela deixando mais lágrimas caírem.

Apenas assenti.

Voltei para a cozinha, e os dois ainda conversavam.

– Por que ela riu? – perguntou o Dan.

– Vocês nunca entenderiam, ela é assim. – disse calma. Eu apenas não sabia como conseguia ficar calma, não entendia por que eu ainda não tinha feito o drama que eu jurava que faria.

– Eu a escutei chorando, ela está bem? Eu quero vê-la. – disse o Josh determinado.

– Não, não vai vê-la hoje. – disse firme. – Ela está descansando e não, é lógico que ela não está bem, espero que você entenda, peço que se puderem voltar outro dia para conversamos melhor, por que hoje todos nós não estamos em condição, estamos todos abalados, vamos colocar nossos sentimentos em ordem e assim poderemos conversar.

Meu Deus, como eu estou fazendo isso? De onde eu estou tirando tudo isso?

– Tudo bem Sô, voltaremos outro dia. – disse o Josh dando um beijo em minha testa e saindo, quando percebi que o meu pai estava na entrada da cozinha apenas observando tudo.

Meu pai deu a mão para o Josh que a apertou na mesma hora.

Dan se levantou e veio em minha direção e me abraçou forte e eu sussurrei em seu ouvido.

– Tudo vai ficar bem grandão, eu estou aqui. Nunca vou sair do seu lado. – e assim ele me apertou mais em seus braços.

[...]

A noite inteira a Jane acordava e começava a chorar, foi assim, eu não preguei um segundo meus olhos, velaria pelo sono dela. Cortava-me o coração vê-la daquele jeito. Eu tinha fé de que fosse apenas um erro médico e que tudo não passaria de um engano.

Eu estava sentada na cama, e ela deitada no meu colo, eu mexia em seus cabelos e uma tentativa de que ela pegaria no sono, eu olhava a escuridão, e ficava pensando em como minha vida era fútil, e do nada descobri coisas que mudaram totalmente o rumo da minha vida, era estranho pensar que as pessoas que eu confiava de alguma maneira me enganaram, de como as pessoas também podem ser boas, mas eu pensava mesmo era que em momentos como aqueles eu não sabia se seria o conforto de alguém nas horas difíceis, mas faria de tudo para que pelo menos as lágrimas caídas e as pudesse secá-las.

[...]

Estava amanhecendo e Jane dormia serenamente em meu colo, estava cansada, e hoje seria o dia que eu deveria apresentar minha música na aula de inglês, não sabia se deveria ir para escola ou não, eu não queria deixa-la.

Mexi-me um pouco desconfortável na cama, e acabei acordando a Jane.

– Desculpa, não queria te acordar. – disse baixo.

– Tudo bem, já está na hora de você ir para escola. – disse ela me olhando, seus olhos estavam cheios de olheiras e bem inchados.

– Quer mesmo que eu vá? – perguntei.

– A vida continua Sô, mesmo que doa, ela continua.

– Ui, filosofando logo de manhã? – perguntei sorrindo, e ela apenas deu sorriso triste.

[...]

Cheguei à escola um pouco atrasada e me deixaram entrar, a primeira aula seria a de inglês, estava nervosa, eu tinha levado meu violão, e várias pessoas também, outros apenas fariam a capela, mesmo cantando mal.

A professora chegou atrasada também, porém bem animada, Dan não tinha chegado ainda e eu estava bem preocupada.

– Bom dia pessoal, vejo que vocês focaram bastante no trabalho... - dizia ela sorridente quando alguém a interrompeu.

– Com licença professora. – meu coração soltou quando vi o Dan passando pela porta, ele me olhou e deu um meio sorriso, seus olhos estavam inchados, e ele parecia bem cansado também.

– Continuando, veremos quem vai começar. Que tal você Sophie? – disse ela.

– Qual é professora? Logo eu? – disse indignada.

– É você sim. – cantarolou a vadia megera.

– Tá bom. – levantei bufando da cadeira, e arrumei as coisas na frente da sala.

Sentei-me com o violão no colo, e comecei a dar alguns acordes.

http://www.youtube.com/watch?v=axXQRMSbzus (Ou quem quiser procurar: Paramore - Brick By Boring Brick (DaViglio Cover))

“Bem você construiu um mundo mágico

Porque sua vida real é trágica

É você construiu um mundo mágico

Que eu particularmente acho que parece com ela “

Logo que eu terminei a música todos me olhavam assustados, e eu não sabia onde por a cara, estava morrendo de vergonha, e após alguns segundos de silêncio que mais parecia a eternidade começaram a aplaudir.