One Fics escrita por Rafaella_Dutra


Capítulo 6
A Menininha do Papai




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Sou a garota perturbada. Aquela do coração partido, das lágrimas dolorosas, dos abraços apertados e dos sorrisos falsificados. Aquela que não entende nem a si própria. Que quer tudo e não quer nada.

Passei a vida toda pensando em quem eu era, sendo que apenas agora percebo que não sou ninguém. Afinal, porque alguém se importaria com a garota autista, lendo seu livrinho no fundo da sala? Porque alguém se importaria em conhecer alguém tão profundamente desequilibrada?

Só queria entender o que me tornou tão amarga, tão grossa, tão mal-educada. Só queria saber quando foi que meus castelos de princesa desmoronaram sobre as minhas costa, e eu fui forçada a abandonar a terra do nunca assim, tão derrepente.

Sinto tanta falta de mim. Quem eu me tornei? Quando passei a me importar com a opinião dos outros? 

Saudade da minha fase patricinha. Da fase nerd. Da emo. Da infantil. Da descomplicada. Saudade dos estereótipos que eu própria criei.

Mas afinal, apenas um completo idiota se impede de evoluir só para manter um estereotipo que ele próprio cria. Mas será mesmo que eu evolui? Cade a menina educadinha, santinha, fofinha, boazinha? Onde ela foi parar? 

Ela sempre foi a minha favorita, sabia? A que sempre me pareceu ser a mais real. Mas as pessoas começaram a se aproveitar dela, e ela precisou sumir.

Quem é essa irônica, cruel e fria tomou seu lugar? Juro que nunca vi, jamais imaginei existir. 

Sou a menina fria dos olhos vazios. Do corpo oco sedento de esperança. A garota das lembranças reprimidas, dos sonhos destruídos, do arco iris desbotado. A menininha do papai que cresceu sem estar preparada. 

Aquela que não chama atenção, que não marca a vida se ninguém. Que não faz diferença.

A que escolheu as pessoas erradas, os momentos errados, as roupas erradas, tudo errado. A que a vida já nem bate mais, por pena.

A que quer ser forte, mas é mais frágil que uma casca de ovo. A que quer se destacar, mas é tão comum quanto suas próprias roupas pretas. A que se maqueia todos os dias, na esperança de esconder as olheiras e a falta da vontade de viver. A que já não quer mais se levantar, manhã após manhã.

Nem loira, nem morena. Só o castanho sem graça de sempre.

Nem azul, nem castanho. Só o velho meio termo que é o verde.

Boa forma de descrever-me. Meio termo. Sempre ali, em cima do muro. Não vai nem fica. Não cheira nem fede. Não chove nem molha. Não faz diferença.

Já cavei tão fundo a minha cova que posso sentir o núcleo da terra se aproximando. E não há ninguém para me jogar uma corda.

A menina desastrada, de boas intenções, que tinha o mundo nas mãos e que agora não tem nada. A que de tanto se importar, deixou de ser importante. Aquela ali, sentada na sala de aula. Que não conversa nem levanta a mão. Que não faz nada. Simplesmente está ali.

Aquela que uma vez já foi verdadeiramente feliz e que agora, aguarda o fim do mundo, ansiosamente.

Ás vezes me pergunto se alguém se importa. Não necessariamente comigo, mas com qualquer um. Afinal, não é esse o sentido de nossas vidas? Encontrar alguém que se importe conosco?

Alguém que nos faça querer acordar toda santa manhã? Porque apenas existir, já não supre todas as minhas necessidades.

Sou apenas mais uma na multidão, com dezenas iguais a mim. A diferença? Nenhuma.

Mas tudo bem, já estou acostumada a ser apenas mais uma peça no jogo da vida.


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