Meet Athena escrita por Nunah


Capítulo 8
capítulo 7 - novo membro




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Yesterday,

All my troubles seemed so far away,

Now it looks as though they’re here to stay,

Oh, I believe in yesterday.

- Yesterday

Poseidon

Me concentrei bem no nome que piscava na tela. Não, eu devia estar viajando, só pode. Era a última pessoa em que pensei.

Cronos.

Acho que até se fosse Anfitrite eu ficaria um pouco menos assustado.

O que ele queria? Nós já não tínhamos resolvido nossos problemas? Ele não devia estar ligando para me pedir para voltar, certo? Acho que era para avisar que eu estou fora do testamento legalmente agora. Bem provável.

Mas, se fosse isso, mandar um advogado para avisar no lugar seria mais sua cara.

Ou será que ele gostaria de esfregar isso na minha cara ele mesmo?

Vai saber. Esse homem deve ter um tipo de vício em fazer o possível para arruinar a vida dos outros.

Como foi que minha mãe se casou com ele?

Ah, claro, o dinheiro. Quase me esqueci.

Por um minuto eu ponderei se atendia ou não. Eu não queria falar com ele, sobre nada. Não me interessava se ele até tivesse ido ao mercado negro e me vendido como escravo. Eu não ligava.

Mas, ao mesmo tempo, eu queria qual o motivo maravilhoso para fazê-lo ligar.

O celular parou de tocar, e por um momento pensei que estivesse livre da dúvida. Mas ele recomeçou e me deixou mais ainda irritado.

- Se queria estragar meu fim de semana inteiro, acabou de conseguir. – falei de dentes cerrados.

- Não seja estúpido Poseidon, eu não te ligaria, estragando o meu sábado, para te infernizar.

Pude vê-lo revirando os olhos do outro lado.

Mas tenho certeza de que ele faria isso, sim.

- O que quer? Eu tenho mais o que fazer.

- Quero que venha aqui hoje à noite.

Dessa vez, eu revirei os olhos. Ele não esperava mesmo que eu fizesse o que ele queria, não é? Até parece que nunca conviveu com o filho que manchou a honra da família. Mas, quando comecei a questionar, ele disse:

- Isso não é um pedido. Estou falando Poseidon, quero você aqui hoje à noite. E venha sozinho.

- Só me diga por que eu iria?

- Você vai vir.

Antes que eu pudesse responder algo bem baixo, ouvi o som que indicava que a pessoa tinha desligado. Ótimo.

- Ok né. Tchau. – suspirei. Aquele ia ser um longo dia.

Uma voz doce e suave me tirou dos devaneios.

- Poseidon? – Athena veio ao meu lado com uma expressão preocupada. – Está tudo bem?

Seus cabelos pareciam mais bonitos. Mais cheios de brilho, não sei... Ela estava mais linda ainda. Seus olhos ainda me tiravam do ar.

- Eu... Está tudo bem. Sim. Hm.

- Então... – ela suspirou e sorriu. – Ok, vamos comer.

Athena me puxou pela mão até a mesa. A conversa que tivemos ontem à noite (de madrugada, eu acho) pareceu ter surtido efeito, porque mesmo com os olhares nada discretos dos outros não a incomodou. Ou ela sabe fingir muito bem.

Athena

Tentei não ligar para os comentários idiotas da minha família. Ok, em parte era só brincadeira, sei disso. Mas incomoda. Porque eu sei que uma hora ou outra eles vão começar a levar isso a sério e tudo vai se complicar ainda mais.

Quando tia Deméter enfia uma coisa naquela cabeça dura ninguém consegue convencê-la do contrário. E ainda tem Hermes pra ajudar nisso. Grande apoio. Nem mesmo Ártemis, que eu pensei que me ajudaria, estava ligando, porque ela ainda continuava com aquela ideia ridícula sobre Poseidon ser um tarado sem volta.

Pelo menos, a atmosfera estava muito boa naquela manhã. Todos voltaram a conversar normalmente como se eu não tivesse dado a louca na noite anterior. Família unida é assim mesmo.

Eu estava totalmente alheia ao assunto, mais observando, no meu canto, as pessoas, suas expressões, gestos e tudo o mais. Desde pequena gosto de fazer isso. É tão intrigante. Eles nem sabem o quanto é possível de se perceber só observando.

Mas uma coisa em especial me chamou a atenção. Hera, que tanto gosta do bolo de chocolate que tia Deméter faz, estava engolindo em seco, com uma expressão angustiada, sem nem tocar no seu pedaço.

Educadamente, ela murmurou algumas palavras com Zeus, depois se levantou e andou até as escadas, respirando fundo.

Franzi os lábios. Troquei um olhar rápido com meu pai. Ele estava apreensivo. Assenti e me levantei em silêncio. Ninguém se deu ao trabalho de perguntar.

Subi as escadas e andei pelo corredor agora totalmente iluminado pelo sol. A porta do banheiro estava fechada. Cruzei os braços e me apoiei no batente da porta. Eu não estava brava e nem queria satisfações, mas precisava fazer aquilo.

Depois de quase vinte minutos, a porta se abriu, revelando uma Hera de rosto molhado e cabelos presos, descalça.

Ela suspirou e esfregou os olhos.

- Já contou a ele? – perguntei, abraçando-a.

Sua voz estava chorosa.

- Não. Eu não posso. Athena, quando ele descobrir... Não sei o que vai acontecer.

- É por isso que está chorando? – toquei as olheiras que estavam começando a aparecer. – Anda passando as noites em claro? Por isso?

- Sim. – ela deu de ombros. – Eu sei que isso não é saudável, tá legal? Mas... O que eu posso fazer? Ele já me perguntou o que tenho, por que fico triste do nada e vou ao banheiro correndo, mas...

- Ele está desconfiando? – perguntei. Ela balançou a cabeça. – Então o que há? Hera, uma hora você terá de contar, sabe disso. E é melhor ser o quanto antes.

Ela apertou os lábios enquanto algumas lágrimas caíam silenciosamente.

- Tenho medo de que ele não vá querer isso. Ele não tem mais idade para essas coisas, Athena. Eu o amo, acima de tudo, e não quero perdê-lo.

- Um bebê é tudo do que ele precisa agora. – falei, sorrindo. – Ele vai ficar muito feliz. Poucas coisas são capazes de abalá-lo desse jeito. Hera, você não vê? Isso é o que está faltando para ele. Meu pai passou a vida toda trabalhando, ele não nos viu crescer... E, agora que está tudo se acalmando... E vocês irão se casar em breve...

Vi um sorriso triste começar a brotar em seus lábios.

- Você acha mesmo que ele ficaria feliz? Athena, você não sabe o quanto tenho medo de desapontá-lo... Não... Não quero estragar sua vida, entende? E se ele não aceitar...? Zeus é tão cabeça-dura que pode até pensar que nem é o pai!

Aquilo, eu tinha de admitir, era verdade. Meu pai levava as coisas muito a sério, e se ele desconfiasse que era de outro – o que era mentira, porque tenho certeza de que Hera não faria algo assim nem obrigada –, então aquela casa seria o palco da III Guerra Mundial.

- Hera, ele é o pai, certo? – ela assentiu várias vezes. – Eu sei que você não faria algo errado como isso. Então, o que há para temer? Eu já disse, ele tem de saber o quanto antes.

- Eu já estou no quarto mês... Não vai demorar até ele notar a barriga... – ela respirou fundo e assumiu um sorriso radiante. – Eu vou contar Athena. Você tem razão, ele precisa saber agora mesmo.

Eu fiquei muito feliz por ela. Por eles dois. Ou três... Tanto faz. Aquilo iria fazer tão bem para Zeus. Eu podia sentir isso. Seria uma felicidade só. Sorte a deles. Porque eu também sabia que meus problemas estavam só começando. E quando se tem pressentimentos desse jeito, você não pode simplesmente ignorá-los.

Hera

Athena tinha mesmo razão. E ela me fez enxergar a verdade. Eu tinha de contar. Ele tinha o direito de saber.

E se algo desse errado... Então a gente consertava.

Eu sabia que Zeus não era fácil de enfrentar, mas eu podia lidar com alguns gritos, surtos e tudo o mais. Eu acho.

Eu o chamei depois do café. Ele estava com uma expressão preocupada. Tão lindo...

- Hera, está tudo bem? Você está branca.

Revirei os olhos. Eu ficava assim sempre que tinha enjoos, mas eu sabia que daquela vez era outra coisa.

- Zeus, querido – sorri. -, tenho algo para contar.

Ele arregalou os olhos.

- Você não está me traindo, não é? – balancei a cabeça. Por que ele era sempre tão pessimista? – Quer adiar o casamento? É isso? – parecia que sua respiração tinha desaparecido. – Hera, não faça isso. Eu amo você, por favor, por que agora? Hera, meu amor...

- Se controla, homem! – eu disse, mais alto do que suas lamentações. – Não é nada disso. Eu tenho uma novidade realmente... Boa.

Ele se calou na mesma hora e me encarou de sobrancelhas levantadas.

- E o que é?

- Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que é boa para mim. E a lei do mundo é você também ficar feliz, então... Bem, Zeus, você sabe que eu sou totalmente fiel, não sabe? E que eu também te amo? E que quero passar o resto de meus dias ao seu lado? Você sabe, não sabe? Zeus, me responda!

Conforme minhas palavras foram saindo, um sorriso foi se alargando em seu rosto. Seus olhos estavam desfocados e Zeus parecia em outro mundo. Eu não sabia se aquilo era bom ou ruim...

Mordi o lábio.

- Hera... – suas palavras saíram bem devagar e baixas. – Você está querendo dizer... Hera, você está esperando um filho meu? É isso?

Prendi a respiração. Era agora ou nunca. Eu rezava para que ele estivesse daquele jeito porque estava feliz e queria isso tanto quanto eu.

Assenti devagar, temendo sua reação.

Ele se levantou de um pulo, abrindo os braços. Era estranho vê-lo daquele jeito, tão espontâneo. Um sorriso se estendia de ponta a ponta em seu rosto.

- Mas essa é a melhor notícia que eu recebo há anos! Hera, por que não me contou antes? – ele me puxou e me abraçou fortemente. Sorri enquanto lágrimas de felicidade se formavam em meus olhos.

- Porque tive medo de que não iria me querer mais. Querer a nós.

- Eu nunca te deixaria por isso Hera, não sou um adolescente. Eu quero você, quero aumentar a família. Você, meus filhos, Deméter, esse bebê... Eles são tudo o que me restaram. Eu já fui muito duro e distante, e ainda sou às vezes, mas fui abençoado com uma linda família e isso me mudou profundamente.

Algumas lágrimas escaparam enquanto eu ria. Zeus me beijou como não fazia há muito tempo. Suave, apaixonado, com uma promessa silenciosa de que ele pertenceria a mim para sempre.

Ele se apressou em reunir toda a família para contar a novidade. Todos ficaram surpresos e estranhamente muito felizes. Athena foi a que mais sorriu. Seus olhos me transmitiam conforto e afeição. Nós costumávamos conversar bastante quando tínhamos tempo. Ela era uma filha, uma amiga, quase uma irmã para mim. Ela era sem dúvidas o significado de família.

Eu sorri para ela também. Nós podíamos nos entender pelos simples olhares e eu sabia que ela estava realmente feliz por mim, por seu pai, pelo bebê e pela aproximação de todos. Eu estava feliz por ela também, que estava seguindo seu sonho de fazer História. Eu tinha certeza de que ela seria uma historiadora maravilhosa e que viajaria pelo mundo fazendo inúmeras coisas que ninguém nunca conseguiu com sua inteligência e raciocínio rápido.

A única coisa que faltava era alguém para lhe fazer companhia. E quando Poseidon passou pela porta, eu sabia que iria sair algo dali. Talvez nenhum dos dois soubesse ainda. Mas eu sabia que o futuro guardava grandes planos para eles.

Depois da bagunça que foi com todos querendo nos dar os parabéns, eu arrastei Athena para o shopping. Eu sabia que ela odiava aquelas coisas, mas a faria ficar bem à vontade. Nós combinamos de ir ao cinema, olhamos algumas livrarias e depois almoçamos por ali mesmo.

Athena comentou que Deméter, sempre exagerada, estava planejando fazer um jantar diferente para comemorar o novo membro da família que ainda demoraria alguns meses para nascer.

Eu não ligava. Seria bom me distrair um pouco depois de tanta preocupação que tive com isso tudo.


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Notas finais do capítulo

Olááá, que saudadessss *-* como vão?
Gostaram da novidade? :3
O que acham que Cronos quer? LOL
Quanto àquela oneshot Clintasha, acho que não vai sair tão cedo :/
Até o próximo bbs :)