– Você errou, de novo. – A senhora Harsen disse um pouco brava.

Eu também estaria. Quero dizer, se meu marido errasse o caminho para a antiga casa do lago quatro vezes no mesmo lugar.

Agora cinco.

– Você vai gostar de lá. – Marie, minha melhor amiga e filha do senhor e da senhora Harsen, disse.

– Sei que vou. – Falei e respirei fundo, inalando o ar de natureza.

E desejando desesperadamente voltar para Nova York.

Como meus pais estão naquela fase chata do divórcio, eles pediram para o casal Harsen me levarem para casa do lago para tirar férias com eles. Eu adorei por ser minha melhor amiga e meus segundos pais, óbvio, mas eu não sabia que era tipo assim...

Dentro do mato.

– Vê se agora faz certo, Andrew. – A senhora Harsen falou.

– Meredith, quem sabe se você parar de tagarelar no meu ouvido eu acerte o caminho. – O senhor Harsen disse.

– Não liga pra eles não, Mel. – Marie falou e sacou o telefone do bolso do short.

Encostei na janela, observando a estrada filha da mãe que parecia nunca acabar. Cinco minutos depois, o carro parou em frente a um sobrado de madeira perto das margens do lago.

– Chegamos. – Andrew falou.

– Sinta-se em casa, querida. – Meredith completou. – Andrew, tire a bagagem das meninas do porta-malas.

Marie desceu do carro e eu desci logo em seguida, pisando na lama logo de cara. Virei os olhos e comecei a chutar o ar igual uma retardada, tentando tirar aquela coisa do meu tênis.

– Oi. – Ouvi uma voz masculina.

Me virei para ver e lá estava dois meninos, um loiro e outro com cabelos castanhos. Os dois bonitinhos.

– Oi. – Marie respondeu, fazendo a voz do “sou sensual e vou te seduzir”.

Senti uma vontade quase instantânea de estapear minha melhor amiga.

– Eu sou Ryan e ele é Chaz, os vizinhos da casa da frente. – O loiro falou e sorriu amigavelmente.

– Ah. – Marie falou e sorriu. – Sou Marie. E ela é Melissa.

– Oi. – Falei e sorri.

Chaz e Ryan sorriam para Marie, sem nem me notar, como sempre. Todos os garotos nunca falam comigo quando estou com a Marie pelo fato dela ser linda. Olhos azuis e cabelos loiros com mexas pretas nas pontas, bochechinhas salientes e tudo no lugar, se é que me entende. Tirando, é claro, o fato de ter 1,70 de altura.

E eu... Bom, estou presa ao meu corpo idiota de menina ruiva baixinha e desprovida de peitos. Sou a pessoa mais desengonçada que tive o desprazer de conhecer.

– Quem sabe você não queira dar uma volta de jet ski um dia desses. – Ryan falou, ainda com aquele sorriso idiota. – Iriamos adorar.

– É. – Chaz completou sorrindo idiotamente também. – Vamos gostar de ter uma menina linda como você andado de jet ski com a gente.

É, sobrei legal.

Sai da zona de perigo de lama e tirei os sapatos, andando até a casa tentando não pisar em bicho nenhum.

(...)

– Bom dia garotas. – O senhor Harsen falou quando entrou na sala/cozinha. – Bom dia meu amor.

O senhor e a senhora Harsen trocaram um selinho rápido antes dela quase derramar café nele. Marie bufou enquanto tentava pintar suas unhas do pé.

Basicamente, ontem Chaz e Ryan chamaram ela para irmos andar de jet ski com eles hoje. Até ai tudo bem, até nós virmos a humilde residência daqueles dois. Marie começou a surtar porque os biquínis dela eram velhos e ela não podia ir em casa de gente rica usando aquilo, mas o pai dela mandou ela sossegar a periquita porque ele vai nos obrigar a andar de maiô hoje o dia inteiro.

É, fomos comprar maiôs logo quando chegamos. Maiôs. Que tipo de férias de verão é essa?

E, claro, a melhor parte: Eu nem queria ir. Na verdade, Marie está me arrastando para ir junto porque:

1- Ela quer que eu seja menos anti-social;

2- Ela precisa de alguém para acobertar o “crime”.

Acontece que os pais de Marie são muito rígidos, do tipo que dizem que ela só pode namorar – ficar nem pensar – com alguém quando tiver dezoito anos. Óbvio que Marie desobedece a essa regra estúpida desde sempre e sempre me usa nas mentiras. Por exemplo, no segundo ano quando ela queria sair com um garoto do terceiro e disse para os pais que eu ia para o encontro com o tal garoto e ela ia ao encontro para me dar uma força.

No fim eu fiquei assistindo Marie e o tal garoto quase se comerem de camarote. E os pais dela devem achar que já namorei com metade da ilha de Manhattan.

Respirei fundo enquanto zapeava os canais da televisão, esperando Marie terminar os dedos do pé esquerdo.

Não me levem a mal, eu adoro a Marie como a irmã que nunca tive, mas ela pode ser extremamente inconveniente no quesito “rapazes”.