E foi assim que seguiram os dias no trabalho. Olhares frios. Zhoumi só falava comigo pra pedir algo, seu almoço, jantar, roupas e amostras de marcas famosas, claro que eu tinha mil e um pedidos dele por segundo, senão como ele se divertiria? Me ver correndo de um lado para o outro carregando mil sacolas era beem mais divertido.

- Secretária! – era assim que ele me chamava agora, acho que ele realmente tinha esquecido meu nome. Fiquei pensando agora o quê ele me pediria pra fazer.. Ir pra China e voltar em três horas? Só faltava isso. Abri a porta com o mau-humor já totalmente visível.

- Sim? – entrei e seu escritório e ele estava como sempre, naquela cadeira, de costas para mim encarando a cidade pela janela.

- Lembra de quando fomos no parque? – senti meu rosto esquentar um pouco com a lembrança, foram dias bons, dias quando ele ainda era um Zhoumi suportável, um Zhoumi que eu até atrevia a dizer, que eu gostava.

- Sim, por quê? 

- Vamos lá amanhã. – me surpreendi com suas palavras, o que ele poderia estar planejando?

- Posso perguntar o por quê? – ele finalmente girou a cadeira e me encarou.

- Porque o Fashion Week New York está chegando e eu ainda não tenho uma coleção para apresentar já que não tenho ideias e se você não me ajudar dessa vez, poderá dizer adeus ao seu emprego.- lá estava ele, o ZhouMi Miranda, achando que todos os astros no universo giravam ao redor dele, o Zhoumi que eu não gostava de jeito nenhum.

- Tudo bem, que horas? – ele levantou uma sobrancelha por ter percebido que eu não havia relutado em corresponder ao seu pedido, algo que eu não estava acostumada a fazer. Mas pra falar a verdade, já estava cansada desses joguinhos dele me mandar fazer alguma coisa e eu ficar brava e tentar não fazer, mas no final fazer.

- Oito horas no mesmo lugar, não ouse se atrasar.

- Hum...- me virei e fechei a porta atrás de mim. Eu achava que conseguiria, mas ter que encarar todo dia esse Zhoumi estava acabando comigo. 

Sim, minha maior vontade era de dar um soco no meio do rosto dele e mandar ele ir catar coquinho, tomar soda cáustica ou coisa do tipo, mas no fundo eu não queria fazer isso com ele... O que estava acontecendo comigo?

- Ei Thainá. – olhei pra porta que dava para o corredor e lá estava Henry, fofo como sempre. – quer sair pra jantar com o pessoal? Vamos sair agora.

- Claro, só vou...

- Thainá! – veio a voz do demônio, ia pegar minhas coisas, mas o inferno chegou antes pra me perturbar.

- Só um minuto – fiz sinal para que Henry esperasse e abri a porta do escritório dele pra ver o que ZhouMi queria. – Sim?

- Quero que você traga meu jantar do Harrington agora. – respirei fundo, controlando a raiva dentro de mim e fechei a porta.

- Acho que não é dessa vez. – tentei expressar um sorriso pra ele, mas não sei se tinha dado certo.

- Eu posso ir com você até o Harrington se precisar de ajuda...

- Ah não, eu me viro, vai se divertir. – peguei minha bolsa e já ia sair quando ele me parou se apoiando na porta.

- Você também precisa se divertir sabia? – ele me olhava sério, primeira vez que o via assim.

- Eu me divirto também. – ele ergueu uma sobrancelha.

- Como? Carregando coisas pro Zhoumi todo dia? Fala sério Thainá! Você... 

- Eu o quê? – esse é o meu emprego e a minha vida, não se intrometa nela! – Henry ficou assustado com minha reação, até eu fiquei, mas não tinha nada que eu podia fazer. Passei por ele e saí do prédio.O Harrington ficava na outra quadra, teria pouco tempo pra esfriar a cabeça, mas qualquer segundo não estando naquela sala já me ajudaria. 

Henry tinha razão, eu estava sem uma vida social. Em poucos dias eu já tinha esquecido como era sorrir, rir... Tudo por causa do Zhoumi! Mas por que eu não conseguia largar aquele emprego? Talvez fosse porque eu conseguia ainda enxergar um pouco do Zhoumi verdadeiro por baixo do Zhoumi Miranda, talvez eu ainda tinha esperanças de o ver sorrindo um sorriso verdadeiro... Mesmo que eu me acabasse para conseguir isso, pelo menos a última imagem que eu fosse ver seria o verdadeiro Zhoumi.

Mas finalmente tinha chegado ao Harrington, pedi o almoço dele e o meu. Agradeci a Deus por eles terem demorado, não queria ter de encarar Henry depois de tudo que eu falei, mas mais cedo ou mais tarde eu ainda teria que pedir desculpas. Peguei os pedidos e sai. No caminho de volta me lembrei do Ruan, ainda não tinha me desculpado também. Nós teríamos tido uma noite maravilhosa se não fosse Zhoumi... Mas por que eu não sentia remorso de ter continuado o encontro? 

Olhei para a rua, as pessoas estavam como sempre, preocupadas com seus empregos, falando no celular, correndo... E pensei que nos últimos dias eu deveria ter estado exatamente assim, ou pior. Me assustei quando um som rompeu pelas ruas, um trovão, não era um bom sinal em plena New York. Apressei o passo, senti algumas gotas de chuva caírem sobre mim mas estava finalmente chegando no prédio, entrei quando outro trovão ecoou pelo céu e trouxe a chuva com ele. Olhei para o elevador mas decidi ir pelas escadas, as subi devagar já que minha respiração continuava descompassada. Subi cada degrau pensando em como minha vida iria seguir, eu continuaria mesmo com o Zhoumi? Ou sairia da empresa pra tentar uma vaga em outra? Quanto mais perguntas eu me fazia, pior eu ficava então decidi ficar sem elas.

Consegui chegar ao andar e percebi que todos tinham saído, passei o cartão pela porta e ela se abriu, passei pelas mesas, cheias de coisas, tecidos, fotos e perfis de modelos. O pessoal realmente estava trabalhando muito. Subi as escadas quando um trovão, mais forte que qualquer outro me assustou. 

- AAAH! – não segurei o grito, que foi causado não só pelo trovão, mas porque todas as luzes haviam se apagado. E quando eu digo todas, 
não eram apenas as luzes do escritório, eu digo de toda New York. Me segurei no corrimão para não cair, tinha que confessar, estava com medo, nunca tinha sentido um medo assim tão irracional. Sentia meu coração querer sair do meu peito de tão forte que ele batia.

- Thainá?! – ouvi a voz de Zhoumi e não percebi então o que fiz. 

Só depois de um tempo eu me liguei no que estava acontecendo. Eu tinha deixado o saco com os jantares no chão e corri em direção à Zhoumi e me joguei em seus braços, chorando como uma criança. Coloquei meus braços sobre seu pescoço e coloquei minha cabeça forte em seu peito, tremia, tremia feito um bambu praticamente. Ele hesitou mas depois de um tempo colocou seus braços ao meu redor e colocou sua cabeça sobre a minha, senti seus braços me enlaçando de um jeito protetor, um calor diferente e tinha uma certeza. O Zhoumi que eu gostava estava vindo.

- Nunca pensei que você teria medo de trovões ó tão valente Thainá. – ele disse depois de alguns minutos enquanto afagava meus cabelos. 
Era daquele toque que eu precisava, que eu ansiava... O toque do Zhoumi que eu queria, carinhoso e que não tinha medo de mostrar suas inseguranças. Incrível como só esse toque conseguia me acalmar e me dizer tantas coisas sobre ele.

- Hum – foi tudo que consegui pronunciar enquanto me afundava ainda mais em seu peito, querendo que o tempo parasse naquele instante e ficássemos assim por toda a eternidade. Seu perfume invadia minhas narinas e eu me deleitava com isso. Tê-lo assim tão perto era muito melhor do que qualquer outra coisa...

- Thainá..? – ele me tirou de meus pensamentos e eu mesmo que ainda entorpecida pelo seu perfume consegui olhar pra ele. – Vou checar as portas pra ver se vamos conseguir sair daqui ok?

Não sei como eu consegui concordar e tirar meus braços dele. Zhoumi foi até a porta e eu desci alguns degraus para pegar os jantares, quando olhei para ele percebi que não conseguiríamos sair daquele escritório tão cedo. Ele segurava a carta eletrônica em suas mãos com uma expressão de desapontamento, então eu finalmente consegui processar a informação. 

Eu estava trancada em um escritório à noite. Sozinha. Com Zhoumi.