Já havia acabado de me arrumar e me encarava pelo espelho, nenhum detalhe estava faltando, sabia que Ruan era perfeccionista e adorava quando tudo estava arrumado nos mínimos detalhes. Faltavam apenas dez minutos para que eu ele chegasse. Pensava em todas as possibilidades sobre como nossa noite poderia ser. Só queria saber de aproveitar o máximo que eu pudesse com ele. Sim, fazia um bom tempo que eu não me sentia mais uma mulher desejável e esperava que Ruan pudesse me ajudar com isso. Ouvi o som de seu carro na entrada e peguei minhas coisas o mais rápido possível. Mas relaxei quando cheguei à porta e a abri. Não poderia me mostrar tão desesperada assim. Fechei a porta e olhei para trás, lá estava ele me encarando pelo vidro aberto, havia esquecido o efeito que seus olhos causavam em mim.
- Linda como sempre minha doce Thainá! – ele praticamente cantou a frase e sorriu para mim quando entrei no carro. Me virei para ele e me apoiando no banco, depositei um beijo em seus lábios. Fazia tanto tempo desde a última vez que tive aquele tipo de toque... E principalmente com Ruan... Havia esquecido como aquilo era bom.
- Eu não tenho nem palavras para dizer como você está Ruanzito! – sim, ele estava deslumbrante como sempre, principalmente agora que estava começando a ficar vermelho por minha causa. Ruan ficava envergonhado facilmente e eu adorava tomar posse da situação para fazê-lo ficar assim a noite inteira. – Para onde vamos?
- Você já vai saber, espere. – ele me respondeu calmamente e eu resolvi não perguntar mais nada, quando Ruan não queria me contar para onde iriamos era porque o lugar era muito bom.
A lua brilhava imponente no céu e as pequenas estrelas a acompanhavam... Mas por quê eu estava pensando em como a lua estava?! Estranho.... Decidi olhar para rua, estava um pouco deserta e me indaguei sobre onde porderíamos estar, parecia uma das áreas remotas da cidade e aparentemente mais chiques. O carro então parou repentinamente, me assustando um pouco.
- Chegamos.- Ruan disse alegremente. Abri a porta do carro e olhei para o grande letreiro luminoso. 
- “The Melody”? – pronunciei o nome do restaurante de forma duvidosa, nunca havia ouvido falar dele antes.
- Sim, é um restaurante novo e achei a sua cara! Dizem ter comida boa e música ao vivo e... Dança! – Ruan abriu um mega sorriso enquanto segurava minha mão. – Vamos?
Concordei e entramos. Realmente era muito bonito, as paredes eram de uma cor vinho, iluminado à luz de velas em sua grande maioria. O andar térreo era dividido e tinha sua maior parte para a pista de dança, enquanto o segundo andar era totalmente preenchido por mesas e a música rolava solta, era um tipo de mistura de todos os ritmos musicais dançantes, mas combinavam perfeitamente. Ruan me puxou para uma mesa próxima da janela e então nos sentamos. Enquanto a música enchia nossos ouvidos com uma melodia gostosa, conversávamos sobre como nossas vidas estavam indo.
- Realmente me impressionei quando você me falou que trabalhava para o Zhoumi. – Ruan comentou enquanto bebia de sua taça de vinho.
- Isso eu já percebi, mas por quê?
- Vocês são iguais, ambos dominadores e não medem esforços para conseguirem o que querem. As vezes eu esqueço que vocês dois tem coração... – ele riu, tomando mais um gole.
- É O QUÊ?! – gritei o mais baixo que pude, mas gritei pelo menos. Como ele poderia me achar parecida com aquele traste?! - Me explique o por quê!
- Não preciso explicar minha querida, vamos apenas ver o que acontece esta noite, e você verá.
Tentei perguntar mais mas fui interrompida pelo garçom trazendo nosso jantar. Ficamos conversando sobre outras coisas , mas ainda pensava no assunto... Até que então começou uma música maravilhosa, fazendo meu corpo querer dançar, peguei na mão de Ruan e o levei para a pista. Ele me olhou de cara feia por ter o interrompido, mas não liguei e coloquei suas mãos sobre minha cintura, colocando meus braços sobre seu pescoço. Queria que essa noite fosse exatamente como eu pensei, não pensando em mais nada além de nós dois. Dançamos por um tempo, até eu sentir meus pés doendo na verdade. Estávamos no fim da música quando Ruan me puxou para mais perto.
- Quer ir para outro lugar? – ele disse com uma voz rouca, provocativa em meu ouvido.
- Se for o seu apartamento, eu aceito.- Fui até a mesa e peguei minha bolsa, mas ele não me deixou nem me mover. Me jogou na parede e começou a me beijar.
E como eu sentia saudade daquele beijo, urgente, sedento. Mas ele tinha que se lembrar que quem dominava essas horas era eu. Inverti as posições, o colocando contra a parede, espremendo meu corpo contra o seu, minha real vontade era tirar todas as suas roupas naquele momento, mas acho que não seria um tanto quanto apropriado fazer isso no meio de um restaurante. Ele do nada começou a rir, me assustando.
- O quê foi? – perguntei, pausando o beijo.
- Nada, dominadora. – ele continuou rindo.
- Ah, cala a boca Ruan.- e voltei a o beijar. 
Achei estranho ninguém daquele restaurante nos perceber naquela cena, mas todos estavam interessados demais em dançar, nem percebiam a nossa presença. E eu agradeci a Deus por isso. Sentia o lugar ficar ainda mais quente, beijava seu pescoço e mordia sua orelha, senti ele tremer um pouco pelo contato e sorri confiante, até que meu celular começou a tocar. Não, eu não iria atender...
- Pode atender, estamos indo pro meu apartamento mesmo não estamos? – Ruan disse me levando para a entrada, sorridente. Aquela seria uma bela de uma noite!
Mesmo relutante, peguei o celular da bolsa enquanto acenava para os garçons e só consegui mexer no celular quando entrei no carro. Senti Ruan disparar, pelo jeito ele estava mais desesperado do que eu, ri com o pensamento e por reflexo atendi uma chamada que estava sendo feita, nem tinha visto quem era, coloquei direto na orelha.
- Boa noite?
- Wei, Thainá preciso de uma ajuda, venha pra minha casa por favor! – uma voz meio grogue falava do outro lado da linha, demorei um pouco mas percebi quem era.
- Zhoumi?!
- Não, sua tia. Passa na farmácia e compra remédio pra febre também.
- Zhoumi, como assim?! Por quê? O quê aconteceu?
- Se você não chegar aqui em dez minutos está demitida, vem logo. – e então desligou.
- Seu filho da.....- gruni enquanto jogava meu celular na bolsa.
- O quê foi Thainá? – Ruan me perguntou preocupado, pelo jeito eu deveria realmente estar muito estressada.
- Mudança de planos, vá para a 4th Avenue. – disse secamente, realmente Zhoumi queria acabar até com minha vida amorosa.
- Por quê?
- Zhoumi.
- Entendi. – ele parecia bravo também, realmente muito bravo.
- Me desculpa Ruan... Na próxima vez eu te recompensarei em dobro! – peguei sua mão livre.- Eu prometo! – ele me deu um sorriso amarelo e continuou dirigindo.
Chegamos rápido e eu me despedi de Ruan. Droga, ele realmente estava muito estressado comigo! ZhouMi pagaria, de algum jeito ele pagaria!!! Tinha uma farmácia bem na rua, corri até lá e comprei alguns remédios básicos para febre. Então quer dizer que o senhor Zhoumi estava doente? Aquele cara era humano! Fui até a portaria do prédio luxuoso e dei os dados que me pediram, logo me deram permissão para subir. 
Realmente era um prédio muito lindo, decorado de todas as formas mais brilhantes e inspiradoras existentes. Cheguei então no elevador, caberiam umas vinte pessoas naquele elevador, no mínimo! Era todo espelhado e com musiquinha de fundo, mas simplesmente lindo. O apartamento de ZhouMi era o vigésimo e o elevador parecia estar levando meio século. Por quê agora estava preocupada com ele? A porta se abriu e ZhouMi estava com a porta do apartamento aberta, me esperando. Seu rosto estava bem vermelho e ele respirava com dificuldade.
- Chegou atrasada, eu deveria te demitir por isso! Cadê os remédios? – ele continuava como sempre, mesmo doente. Entreguei o pacote para ele e ele foi para onde eu pensei ser a cozinha. Entrei e fechei a porta atrás de mim. 
O apartamento de Zhoumi não era diferente do resto do prédio, totalmente luxuoso e bem decorado. Tinha fotos de modelos pra todos os lados, alguns papéis jogados por ai, mas até que era bem arrumado. Segui os sons e achei a cozinha, Zhoumi já tinha aberto os remédios e engolia alguns.
- Ei! Você é louco?! Tem que analisar primeiro, não tomar eles assim!
- Não enche... – ele disse emburrado como uma criança.
- Você me chamou aqui, agora me ature. – larguei minha bolsa na mesa de centro e chequei os remédios um por um, escrevi então o horário de cada remédio na caixa. – Aqui estão os horários certinhos, é bom tomar corretamente!
Ele me olhou, com uma expressão de confusão, nunca havia visto Zhoumi com aquela cara antes. Ele estava aproximando seu rosto do meu, de um jeito perigoso, mas por que eu não conseguia desprender meus olhos dos seus? Pareciam tão intimidadores e ao mesmo tempo chamativos, queria me afogar neles.... mas quando senti sua respiração em meu rosto, cai em mim.
- Acho que vai demorar ainda pra sua febre passar. – coloquei minha mão em sua testa e me espantei com o calor. – Vem aqui. 
Não sabia onde era a cama, mas já sabia onde era o sofá, o levei para lá. O deitei e ele obedeceu, Zhoumi estava obedecendo sem contestar, algo estava muito errado! Deveria ser a febre. Graças aos céus ele já tinha tirado um cobertor de algum dos armários e estava jogado no outro sofá. Peguei o cobertor e estendi sobre ele. Olhei para ele e me arrependi. Ele pegou meu rosto e me levou para mais perto do dele, fazendo com que eu caísse em cima dele. Então outra coisa me chocou. Nossos lábios.... Estavam se tocando. Eu sempre achei que se isso acontecesse, eu teria nojo, eu odiava Zhoumi... Não odiava? Mas eu não conseguia parar.Zhoumi me beijava tão delicadamente e ao mesmo tempo com tanta autoridade.. Ele me abraçou e mexeu em meus cabelos, parando o beijo. Ele me olhava... feliz... Ele estava feliz?!
- Não conte a ninguém o que aconteceu agora nem no parque! Ninguém pode saber como eu realmente sou! – sua voz estava um pouco fraca, mas ainda assim tinha poder.
- Por quê você me mostrou suas fraquezas? Eu sei que você não confia em mim. - ele tocou meu rosto suavemente e estremeci com o toque quente de sua mão.....
- Eu confio mais em você do quê em mim mesmo..- ele acariciou minha bochecha com o polegar. Eu senti uma lágrima surgir em meus olhos. Por quê ela estava ali?
Ok, as pessoas só confiavam em mim quando se tratava sobre trabalho e afins, mas confiavam em mim. Por quê esse toque do Zhoumi estava fazendo isso comigo? Ele estava mexendo comigo com um jeito que ele talvez não consiga imaginar. Seus olhos me mostravam algo que ele não queria dizer, ele sentia algo por mim. Por quê? Por quê isso estava acontecendo? Como poderia estar acontecendo? Ele era Zhoumi, meu chefe, o maior carrasco do mundo da moda!E...
- Não chore, eu prefiro te ver irritada – olhei para ele e nem percebia que minhas lágrimas estavam caindo, até que ele enxugou uma com uma das mãos.- Acho que vou ... Dormir um pouco ok?
- Ok... – respondi enquanto vi seus olhos fechando calmamente, até sua respiração ficar mais calma e ele não dizer mais nenhuma palavra.
Aquilo não poderia estar acontecendo. Estava em cima de meu chefe febril no sofá e... eu não queria sair dali.. Parecia mais confortável que os ombros do Ruan... Parecia mais confortável do que tudo que eu já havia tentado. Pelo menos naquele momento, Zhoumi estava sendo ele mesmo. Ele era amável... Era carinhoso ao mesmo tempo que irritante. Não tinha palavras para descrevê-lo. Era impossível. Ele era tão bipolar que nenhum medicamento o trataria, mas por que eu gostaria de tentar ficar com ele? Por que eu queria conhecê-lo mais? Não eu não poderia fazer aquilo... Mas... Pelo menos por hoje...
O sofá era grande o bastante para nós dois, escorreguei para o lado e fiquei entre ele e o apoio do sofá. Deitando minha cabeça em seu braço, que era até musculoso para o que eu havia pensado. Ver seu peito subindo e descendo tão calmamente, era reconfortante. E naquele lugar, eu pensei que poderia passar a minha vida inteira.