Força e Graça

Autoconhecimento. Controle absoluto

Frio na barriga. Fogo correndo pelas veias.

Payson Keeler gostava disso. Não se importava se aquele era um esporte que em longo prazo lhe privava de muita coisa, como colégio ou uma adolescência normal, mas não era como se isso lhe fizesse muita falta.

Seu amor por aquele esporte estava muito acima de qualquer ideia a respeito de normalidade. A pretensa normalidade não era sua vida. E, ao contrário de tudo que poderiam pensar seu objetivo de vida não se limitava ao metal dourado tão precioso.

Seu objetivo era o movimento perfeito nos mínimos detalhes. Era ter uma nota sem deduções, era ter o abraço de urso de seu treinador e o lugar mais alto do pódio por um trabalho perfeito. Ter para si a virtude que pertencia a poucos e que faria a todos reconhecer que aquela dedicação toda não fora algo percorrido para ser perda de tempo e que todos os riscos simplesmente havia valido a pena.

A sujeira do giz, o som peculiar dos aparelhos a cada movimento executado, a dor e o cansaço ao fim de um dia de treino, o desafio à gravidade, sensação de voar, a iminência da queda. Tudo aquilo que parecia tão arriscado significava solidez. Voar significava para si uma forma de ter raízes. Aquilo que era inseguro para todos significava tudo o que queria no mundo. Tudo que amava, tudo que queria, tudo aquilo que desejara com todas as forças mesmo que no fim o seu tempo pudesse ser muito curto.

Payson sabia que não havia tempo para esperar. Não tinha tempo para ser insegura, para estar indecisa, para ser frágil, para sentir o peso de dramas que sequer deveriam estar em seus ombros. Precisava ser forte para cair e levantar, sentir a dor por vezes incontáveis até estar pronta para o voo. Precisava de paciência e perseverança para se redescobrir, para descrever em cada gesto seu a perfeita mescla entre força e graça.

Porque sabia que naquele esporte, caso não pudesse viver o presente, sabia muito bem que não haveria qualquer chance de futuro.

Era hora de voar.

Fim