Oi, meu nome é Lianna Carter Malik, hoje é meu aniversário de 16 anos e meu pai fez uma festa enorme, eu estou olhando para todos se divertindo lá embaixo no jardim, todos esperam por mim.

Consigo ver meus tios, Liam, Louis, Harry e Niall, meus avós maternos e paternos, todos meus amigos estão lá, eu me olho no espelho e sinto um aperto no meu coração quando eu encontro meus olhos no reflexo. “Iguais aos da sua mãe”, meu pai sempre me disse, olhei a foto que deixava no meu criado mudo, era uma das únicas que meu pai tinha dela, nós realmente éramos parecidas, principalmente os olhos.

Eu não cresci ao lado dela, ocorreram algumas complicações na hora do parto e ela não resistiu, ela só era 3 anos mais velha do que quando me teve, meu pai tinha a mesma idade e ele sempre disse que apesar de eu não estar nos planos, o aborto nunca havia sido uma ideia.

Tudo que sei sobre minha mãe é o que me contam, falam do seu sorriso, da sua alegria, de como era inteligente, corajosa e sincera; meus avós contam como ela era crescendo, alguns amigos contam como era na adolescência, mas eu gosto de ouvir meu pai me contando sobre ele, de todas as pessoas ele parecia ser o único que realmente a entendia.

Ele falava da serenidade em sua voz, de sua persistência, ele conta sobre a maciez de sua pele, do jeito como ela ficava vermelha quando tinha vergonha, como ela se fazia de forte quando na verdade morria de medo, ele disse que amava o jeito como suas mãos encaixavam perfeitamente nas dele, ele sempre me disse que ela foi a única mulher que ele amou a ponto de querer morrer apenas pra ela viver, pra ela poder ouvir meu primeiro chorinho, pra ela trocar a primeira fralda, pra ela me amamentar, pra me ver andar, me ver falar, ir pra aula pela primeira vez.

Quando fiquei “mocinha” meu pai não sabia o que fazer e pediu que minha tia o ajudasse, eu sei que ele ficou triste, eu escutei aquela música tocando a noite toda em seu quarto, era Angels do Robbie Williams, no outro dia ele me pediu perdão por ser tão desajeitado com essas coisas e eu disse que ele não tinha que pedir, porque ele era o melhor pai do mundo e ele respondeu dizendo “Sua mãe deveria estar aqui, minha princesa”. A partir desse dia eu saberia que eu passaria a sentir cada vez mais a falta dela, como no dia que ganhei meu primeiro beijo,a vez que me apaixonei pela primeira vez, eu queria contar pra ela. Não que meu pai não fosse perfeito, mas certas coisas eu não conseguia conversar com ele e esses era um daqueles momentos em que a saudade machucava e queimava meu peito. Puxei o baú que ficava embaixo da minha cama e peguei o presente que meu pai havia me dado aquela manhã, ele disse que era um álbum que minha mãe havia preparado durante toda a gravidez e eu ainda não havia tido coragem de abrir. Rasguei o embrulho e a capa macia e rosa claro me tomou os olhos, abri a primeira página tinha uma foto dela sorrindo com um barrigão enorme e meu nome escrito em sua barriga, do lado havia escrito “Lianna Carter Malik” com a letra dela, isso foi o suficiente pra me fazer chorar, virei a página com cuidado e tinha a foto do teste de gravidez.

“Eu não acredito que estou grávida, eu estou com medo mas não posso deixar o medo me vencer. Eu vou amar esse bebê com todo o meu coração”

Essa frase estava arrancada de uma folha de diário, na outra página era uma foto da ultrassonografia e a seguinte frase “Toda confusão e duvida que eu sentia desapareceram quando eu escutei o pequeno coração bater, mal posso esperar o dia de carrega-la nos meus braços”

Fechei o álbum depois dessas 3 frases, deitei na minha cama sem me preocupar se o vestido amassaria ou não, se eu estragaria meu cabelo ou não e chorei, não sei quanto tempo fiquei chorando antes dele entrar no meu quarto.

-Lianna, estão te esperando – meu pai disse e quando percebeu que eu chorava ele sentou do meu lado na cama e pegou na minha mão, ficando em silêncio apenas escutando meu choro baixinho. Ele viu o álbum ao meu lado e entendue tudo.

-Eu sinto tanta falta dela – eu disse apertando a mão dele – por quê tem que ser assim pai?

-Minha filha, eu já parei de tentar entender isso a muito tempo – ele disse limpando as lágrimas do meu rosto, eu conseguia ver a tristeza nos olhos dele também e isso simplesmente acabava comigo.

-Por que não eu? – eu perguntei mal conseguindo falar por causa do soluço que me atrapalhava – Se eu tivesse morrido na hora do parto, ELA estaria viva. Vocês poderiam ter outro bebê e meu Deus, ele seria o bebê mais sortudo do mundo. Mas não... eu tive que nascer, por que eu tive que nascer pai?  - eu perguntei olhando em seus olhos

-Nunca mais fala isso Lianna – ele disse e eu vi uma lágrima escorrer do seu olho, lágrima que ele rapidamente limpou – Você é a melhor coisa da minha vida, olha lá embaixo, todas aquelas pessoas que te amam, como você pode dizer uma coisa dessa filha? Fui eu que te fiz pensar isso alguma vez? Porque eu te amo mais do que qualquer coisa nessa vida e eu não consigo imaginar minha vida sem você – ele disse olhando nos meus olhos – Olhar pra você me deu forças pra continuar, quando você abriu os olhos pela primeira vez, deu o primeiro sorrisinho, tudo isso me deu forças pra continuar.

Eu sorri e ele continuou

-Eu sinto falta dela todo dia, mas uns dias antes de você nascer ela me falou uma coisa estranha que eu não dei bola na hora, mas que depois fez todo sentido

-O que ela disse?

-Ela disse que eu precisava ficar forte, que tantas coisas acontecem mas que agora que iriamos ser pais a gente devia parar de tentar entender as coisas e lembrar que tem alguém que vai precisar de nos dois o resto da vida.

-Parecia que ela sabia o que iria acontecer – eu disse secando as lágrimas

-Eu fico triste por saber que você nunca a conheceu, ela era uma mulher incrível – ele disse – Mas eu sei que ela te conhece e te conhece mais do que você conhece a si própria. Ela nunca descuidou de você, nunca Lianna.

Ficamos em silêncio por mais algum tempo

-Eu sei que você se sente sozinha – ele disse por fim descrevendo exatamente o que eu sentia – Mas você nunca vai estar sozinha. Você tem seus avós, seus tios, seu pai bobão que te ama mais que tudo na vida e tem sua mãe, não de uma maneira tradicional, mas ela tá no seu coração, 24 horas por dia, ela nunca vai sair dai, ela sempre vai cuidar de você. Eu sei que tem coisas que você queria contar pra ela, como aquela fez que você beijou o Harold – ele disse.

-Pai! – eu disse com vergonha, não tinha a menor ideia que ele sabia

-É princesa, eu sei das coisas – ele disse rindo e secando o resto das minhas lágrimas – Imagina que tá contando pra ela, eu sei que ela vai te escutar e ela vai dar o jeito dela de te responder.

Ele disse levantando-se

-Sabe... tem várias pessoas te esperando

-Eu to feia – eu disse presumindo que minha maquiagem estava detonada

-Você nunca vai estar feia Lianna – ele disse saindo do quarto e parando na porta – Ah... eu mandei os seguranças ficarem de olho naquele tal de Henri – ele disse piscando.

Depois dessa conversa eu retomei a confiança, eu tinha a melhor família do mundo e eu sabia que nunca estaria sozinha, ela estaria do meu lado, de alguma forma.

Lianna off

POV ZAYN ON

Ela segurou minha mão, me olhou nos olhos e me pediu pra ser forte.

-Deixa de besteira, não vai acontecer nada – eu disse tranquilizando-a e ela sorriu, o sorriso mais bonito que eu já vi em toda minha vida.

Eu entrei na sala de parto, o seu rosto estava sereno, ela apertava minha mão, o anel que eu havia acabado de dar a ela brilhava em seu dedo, íamos nos casar assim que Lianna nascesse.

Eu ouvi o chorinho dela e no mesmo momento senti seu aperto ficar mais fraco e seu rosto perder a cor, me tiraram da sala sem que eu me despedisse, quinze minutos depois veio a notícia, eu quis sumir, desaparecer, como eu poderia viver em um mundo sem ela? Eu afundei em uma daquelas cadeiras, tudo ao meu redor desapareceu e várias memórias surgiram na minha cabeça, o nosso primeiro encontro, seu sorriso envergonhado, o olhar que tanto me chamou a atenção,  de todas as vezes que eu havia dito que a amava, de todas as vezes que a abraça e ela dormia em meus braços. Todas essas lembranças me atingiram e eu percebi que isso faria parte do passado agora e levantei-me e fui caminhando até a saída, visivelmente transtornado, fui impedido pelos meus pais que me levaram até o berçário e eu a vi pela primeira vez, enrolada em uma mantinha rosa, era a única que estava acordada e estava agitada.

-Você não está sozinho, Zayn. Você tem ela agora – minha mãe me disse mas eu a escutei ao longe, minha mente estava em outro lugar.

Eu a observava enquanto ela brincava com suas mãozinhas, ela não tinha cara de joelho como os outros bebês, ela era linda e era minha. A enfermeira a pegou e trouxe até mim. Eu nunca esquecerei do momento que a segurei em meus braços pela primeira vez, tão pequena e indefesa, ela tinha me nariz, a boca da mãe e ela me olhou, os mesmos olhos e o olhar profundo de sua mãe, ela tocou em meu rosto e parecia entender tudo que eu sentia, seu toque me deixou mais calmo, me deu esperanças e me deixou grato. Ela tinha ido, mas deixou o melhor presente que já poderia receber.

-Somos só eu e você, princesinha. Eu e você contra o mundo. – eu disse olhando pra Lianna recém nascida e mesmo tendo toda a dor queimando meu peito, a alegria de tê-la em meus braços amenizava a dor e eu só pensava em ser o melhor pai o possível pra ela, pra minha garotinha.

FIM