Corri o máximo que pude, acho que eu deveria parecer uma louca na rua. Correndo e chorando daquele jeito, mas pouco ligava. Minha casa estava tão longe, eu não tinha escolha a não ser pegar um transporte. Para minha sorte ele estava vazio. Menos olhares para encarar. Aquilo seria um alivio. Por enquanto...

Quando cheguei em casa, já tinha parado de chorar, mas ainda estava acabada por dentro. Ao entrar encontrei minha mãe na sala assistindo TV, apenas a cumprimentei e corri para o banheiro não queria que ela me visse assim, se não seria mais um interrogatório.

Fui tomar banho, queria limpar todo aquele stress, toda aquela dor que eu sentia. Pouco depois de ligar o chuveiro as lagrimas já caiam junto com água. Conseguia sentir e diferenciar as minhas lagrimas das gotas de água do chuveiro, elas eram mais intensas, mais pesadas, mais dolorosas. Esfregava a esponja com força sobre minha pele, como se isso fosse tirar o cheiro do seu perfume, como isso fosse tirar todas as lembranças que eu tinha dele. Antes que eu percebesse meu corpo já estava bastante vermelho. O nojo tomava conta de mim, me sentia idiota e enganada por ele.

Ao sair do banho minha mãe estava sentada na minha cama, com um olhar de preocupação sobre mim.

– Júlia, algo aconteceu filha?

– Não...

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela me abraçou. Ficamos abraçadas assim, enquanto eu revezava entre o choro e a fala para explicar tudo a ela. Ela me escutou pacientemente, acariciando minha cabeça e me consolando. Quando já estava mais calma, ela conversou comigo.

– Júlia, esse rapaz... Eu tenho certeza que ele gosta de você.

– Como você pode saber mãe? Ele mesmo me disse, que era tudo por causa da Luana.

– Sim, mas isso não muda o fato que você gosta dele!

– É.... Eu queria não gostar dele, eu queria! – Falei abraçando ela e chorando.

– Conversa com ele, ta? Tenho certeza que ele também não ta feliz com tudo isso. Tente entende-lo. – Falou me dando um beijo na testa, e saindo do meu quarto.

O que eu poderia falar para ele? Era verdade o que minha mãe disse, eu gostava dele. Mas isso não apagava o fato dele amar a Luana. Estava uma confusão enorme na minha cabeça eu realmente não sabia o que fazer tudo que eu queria era fugir disso tudo, me esconder para sempre. Era realmente difícil encarar tudo.

~ 2 dias depois ~

Acordei sem a mínima vontade de ir para escola. Já tinha faltado dois dias, e hoje obviamente queria faltar também, mas minha mãe insistiu bastante me dando um sermão que minhas notas cairiam e eu ficaria de exame final, conseqüentemente isso iria me atrapalhar depois então resolvi ouvi-la. Ela também não esqueceu de falar que eu estava fugindo do Lee Shin e que eu tinha que encarar a situação.

Por mais que eu odiasse concordar, era verdade. Esses 2 dias que eu tinha ficado em casa não me ajudaram em nada, ainda estava confusa sobre o que eu sentia. Sai um pouco mais cedo do que o normal, dessa vez consegui chegar no horário sem me atrasar . Assim que cheguei na porta da escola coloquei meus fones de ouvido e botei um rock bem alto, queria evitar pessoas me parando para falar coisas desnecessárias. Simplesmente não estava com cabeça para fingir estar prestando atenção no que elas estavam falando.

Assim que entrei na sala, todos olharam para mim e cochicharam. Ué... Eu só fiquei sem vir 2 dias.... Porque isso? Será ainda sobre o caso com a Ashley. Coloquei minha mochila na cadeira, e estava indo para o corredor ver o movimento e ficar escutando música, como eu sempre fazia, quando Ashley puxou meus fones com força.

– O que é isso?

– VOCÊ... ISSO TUDO É SUA CULPA!

– Ahm? Ta louca Ashley.

– Ele...Ele.... – Falou chorando

– Do que você ta falando?

– LEE SHIN SUA IDIOTA! ELE, ELE FOI ATRÁS DE VOCÊ E OLHA O QUE ACONTECEU! Ele... sofreu um acidente e está em coma.

O que? Não, não, não! Isso não podia ser verdade, não podia estar acontecendo. Não com ele.... Isso devia ser apenas uma brincadeira daquela maluca, não poderia ser serio.... Antes que percebesse já estava chorando. Seria minha culpa assim como ela estava me falando? NÃO! Ele, droga eu sou uma idiota mesmo.

– Onde ele está?

– Você é a última pessoa para que eu diria.

– Ashley... Por favor! – Falei em meio aos soluços, quando uma amiga dela me deu um papelzinho com o endereço. – Obrigada, obrigada mesmo!

Peguei minhas coisas e fui correndo o mais rápido que eu pude, as lagrimas escorriam cada vez mais pelo meu rosto. Assim que cheguei no hospital parei na porta, antes de entrar. E se fosse verdade? Que ele tinha sofrido o acidente por minha culpa, como eu poderia encarar o pai dele? Droga, não deveria hesitar agora.

– Você está bem querida? – um senhor com pouco mais de 30 anos me parou.

– Er.. Não.. Quero dizer sim! Só vim ver um amigo. – Falei já secando as lágrimas e entrando no hospital. Ele me acompanhou. Era incrível como ele parecia o Lee Shin... Será que era o pai dele?

– Eu vim ver meu filho... – Falou triste.

– Desculpa, perguntar mas qual o nome dele?

– Lee Shin!

Então era verdade mesmo... Por um momento eu quis acreditar que aquilo tudo era só brincadeira da Ashley, mas se eu estava ali, e agora e o pai dele também... Não era apenas um pesadelo, e sim real. Por um momento desejei fechar os olhos, e acordar... Pensando que aquilo tinha sido apenas um sonho ruim e com apenas um belisco eu iria acordar. Antes que me desse conta minhas pernas estavam tremendo, meu corpo todo tremia eu tinha parado de andar e agora estava ajoelhada no chão com as mãos no rosto chorando.

O senhor de antes o pai do Lee Shin, agora estava parado ao meu lado junto com uma enfermeira. Ambos falavam coisas que eu não entendia. Senti por um momento que ia desmaiar, quando lembrei da sua voz do Lee Shin quando eu estava chorando por causa da Ashley, me pedindo para não chorar... Estando ao meu lado o tempo todo mesmo quando eu o rejeitava, o mandava embora, tinha raiva dele... Aquilo me fez acordar, realmente poderia tudo aquilo ser falso? Por causa da Luana? Sim, não? Minha mente dizia que sim, mas meu coração não acreditava naquilo. Seus sentimentos para mim tinham sidos reais era isso no que eu iria confiar, independente do que realmente seja e eu não iria desistir dele agora. Não quando ele precisava de mim, não mesmo que aqueles sentimentos dele tinha sido falsos ele me ajudou quando eu mais precisava, por isso justo agora quando eu finalmente me dei conta que eu o amava tanto, não poderia desistir... Me levantei, despreocupei a enfermeira e esclareci as coisas com o pai do Lee Shin.

Enquanto explicava a situação para o pai de Lee Shin, ele botou a mão em meu ombro, tentava parecer o menos agoniado o possível, mas não conseguia. A situação era extremamente delicada.

O pai de Lee Shin chegou perto do meu ouvido, e disse:

– Vamos, vou te mostrar onde ele está

Entrei em desespero no mesmo momento. Estava preocupada, ansiosa para ver onde e como ele está. Por um segundo pareceu que meu coração ia sair pela boca. Estávamos indo em direção á um corredor, estreito. Não tinha sinal de nenhum paciente ali. Parecia tudo morto. O silêncio me assustava.

Estava perdida em meus pensamentos, quando o pai do Lee Shin pegou meu braço – É por aqui. – Quase tive um ataque, meu coração simplesmente acelerou pelo fato de ver ele.

Ver ele, Lee Shin, ali, deitado. Pálido como um fantasma, as olheiras roxas, seu corpo estava em posição de um cadáver em seu caixão, apenas esperando para ser enterrado.

Os fios pendurados em seu corpo, os tubos de oxigênio, a bolsa de sangue, os vários arranhões em seu braço... Tudo fazia me sentir pior, menos esperançosa. Chorava em pensar que nunca mais ia ver o seu sorriso. Chorava em pensar que talvez ele fosse embora daqui.