PDV Bella (Boston – EUA)

Por mais suspeitas que eu tivesse, ainda não conseguia acreditar que aquilo que eu estava vendo era verdade. Jacob realmente me traia com aquela secretária ridícula e vulgar. Cheguei ao escritório dele sem avisar e o vi no maior amasso com a secretária no sofá da sala. Nem sequer trancaram a porta.

-Amor, espera, eu posso explicar. – Ele tentava falar, mas para aquela cena não existia explicação.

-Explicar? Acho que o que eu vi não precisa de nenhuma explicação. – Respondi friamente.

A secretária estava lá, só olhando pra mim e para Jacob, ainda toda desalinhada.

-Não foi bem isso... – O interrompi antes que ele pudesse terminar de falar.

-Não sejamos ridículos, se for pra começar com “Não é o que parece...” pode continuar em silêncio.

-Eu...Não...O que você está fazendo aqui? – Ele fez a pior pergunta que poderia ter feito naquela situação.

-No momento isso não tem muita importância, quem deveria perguntar, o que você estava fazendo era eu. Mas vi perfeitamente.

-Bella, querida, você sabe que eu te amo. – Ele tentou se aproximar, mas o afastei.

-Não ouse encostar em mim.

-Mas você é minha esposa. – Continuou tentando se aproximar.

-Agora você lembra que é casado. – Não estava reagindo como qualquer pessoa normal faria, eu estava calma como se fosse uma situação normal.

-Eu nunca esqueci, você sabe que é a única que eu amo. – Como ele conseguia ser tão cara de pau?

-Deu pra notar. Mas caso você ainda não tenha percebido, nosso casamento acabou. Vou entrar em contato com um advogado para preparar os papéis do divorcio. – Falei sem demonstrar nenhuma emoção.

-Você não pode fazer isso.

-Claro que posso, tanto posso como vou fazer. – Respondi.

-E o que vai acontecer com o Tony e Sophie? – Perguntou ele.

Só aí lembrei do que aconteceria quando Anthony e Sophie soubessem, eles  foram o motivo do nosso casamento, descobri que estava grávida de gêmeos, com apenas 17 anos, e é claro que tanto meus pais quanto os de Jacob acharam que o melhor seria nos casarmos.

Há 10 anos achava que eu era a mulher mais feliz do mundo, casada com meu namorado, que eu acreditava ser o homem mais perfeito do mundo, e pra completar a felicidade, esperando gêmeos. Seria a típica família feliz, mas não foi bem assim, os anos passaram, e a cada dia o casamento se mostrava completamente diferente do que eu sempre imaginei que seria.

Minha mãe me ajudou muito, principalmente no primeiro ano dos gêmeos quando eu ainda estava no colegial. Como Jacob é um ano mais velho que eu, ele terminou o colégio e começou a trabalhar na empresa do meu pai. Minha família era dona de uma das maiores empresas de Boston.

No começo ele era muito carinhoso, mas quanto mais o tempo passava, mais ele se tornava distante, tanto de mim, quanto das crianças, chegava tarde em casa, e saia muito cedo para o escritório. E nos poucos momentos em que ele não estava trabalhando, estava em bares com os amigos, ou em festas.

-Agora você lembra do Anthony e da Sophie, mas quando eles precisam de você, você está aqui trancando nesse escritório. E só agora entendi o porquê de gostar tanto do trabalho. – Já não conseguia mais olhar pra cara daquele homem, a única coisa que eu quero agora é distância dele.

-Você não pode dizer isso, sempre fui um bom pai. E eu não quis esse trabalho, fui obrigado a começar a trabalhar aqui. – Perguntou ele.

-Você está se esquecendo de que eu também tenho um trabalho? E mesmo assim, não sou tão ausente quanto você. – Respondi.

-Você praticamente não faz nada, só sendo diretora da empresa do papaizinho.

-Eu com certeza, trabalho muito mais que você, pelo que pude perceber aqui. – Comentei irritada.

Virei-me para ir embora e ele se colocou no caminho entre a porta.

-Aonde vai? – Perguntou ele.

-Não lhe interessa, agora com licença que eu preciso passar. – Respondi e o deixei lá, sem nenhuma reação.

Ao chegar à rua, minha cabeça começou a girar com o número de pensamentos nela. Entrei no carro mas não dei a partida, não sabia o que fazer.

Decidi ir para a casa dos meus pais, não queria voltar pra casa agora, Tony e Sophie estavam na escola, mas mais tarde teria que ter uma conversa com eles.

Cheguei em alguns minutos a casa deles e encontrei minha mãe na varanda.

-Querida, tudo bem? Já saiu do trabalho a essa hora? – Perguntou ela me abraçando.

-Mamãe, eu... eu... – Não sabia o que falar e logo percebi que estava chorando.

-O que aconteceu filha? – Ela estava preocupada, então fiz de tudo pra me controlar e explicar a situação toda a ela. Quando terminei, ela me olhava e segurava minhas mãos protetoramente.

-E não tem mesmo como vocês darem um jeito?  - Perguntou ela.

-Não, mãe. Agora foi pra valer, Jacob já não era mais o mesmo há muito tempo, e o nosso casamento já estava por um fio.

-Entendo querida, mas e as crianças?

-Esse é o maior problema, como vou conseguir contar isso a elas? Por mais que o Jacob seja distante, elas o adoram. E eu não vou conseguir mais morar na mesma casa que ele.

-Você terá que contar, e eles são espertos, vão entender a situação. – Ela me tranquilizou.

Depois de algumas horas, já me sentia bem melhor, papai chegou para o almoço e tive que repetir a história novamente.

-Aquele canalha não podia ter feito isso. Vou demiti-lo ainda hoje. – Falou Charlie, sério.

-Não pai, não é pra tanto. O melhor será uma separação o mais amigável possível, tanto pra mim quanto pras crianças.

-Tudo bem então, mas o que você pretende fazer, minha filha?

-Ainda não sei, mas a primeira providência será me afastar dele, não o quero mais vivendo comigo.

-Acho que tenho uma solução pra isso. Estava pensando mesmo em fazer essa proposta a você. – Comentou Charlie.

-E o que seria? – Perguntei curiosa.

-Estamos precisando de um novo diretor para a filial da nossa empresa em New York e achei que não teria ninguém melhor para assumir o cargo que você. – Falou ele.

Uma mudança tão radical? Talvez seja mesmo a melhor opção.

-Não sei pai, preciso pensar. E também conversar com o Tony e a Sophie, posso responder depois? 

-Claro minha filha, você tem o tempo que precisar.

-Obrigada, agora preciso ir pra casa. – Me levantei e me despedi dos dois.

Voltei ao carro e dirigi rapidamente em direção a minha casa ao chegar lá, dei sorte de ainda não estar na hora das crianças voltarem da escola. Encontrei somente Dani, a babá delas.

-Boa tarde, dona Bella. – Ela me cumprimentou logo que entrei.

-Boa tarde Dani. O Tony e a Sophie ainda não chegaram? – Perguntei, só para ter certeza.

-Ainda não, mas estão quase chegando, senhora.

-Tudo bem, obrigada. – Subi para a minha suíte e decidi tomar uma banho.

As dúvidas ainda me atormentavam, a única certeza que eu tinha era que do jeito que eu estava vivendo com o Jacob não dava mais pra continuar.