Sendo Aline escrita por Bruna Carreira


Capítulo 8
Capítulo 8




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/202199/chapter/8

Me peguei chorando sem motivo algum, quando acordei e comecei a escutar “Molly Smiles”. Na verdade me peguei chorando várias vezes naquele dia, e eu não estava nem prestes a ficar naqueles dias - quando eu, por acaso, chorava até vendo High School Musical, já que eu nem tinha um namorado.

Dei uma desculpa para minha mãe, dizendo que estava doente. Ela caiu bem fácil, já que meus olhos estavam inchados pela noite mal dormida e eu estava meio grogue. Isso fora que ela sabia que quinta-feira era um dia completamente inútil no colégio, já que eu só tinha aulas leves e educação física - na qual eu tinha uma preguiça de cão de aparecer...

Minha intuição me disse que alguém me ligaria na hora do intervalo, para saber o que tinha acontecido, porque eu não costumava faltar. Nem quando já estava perto das férias de final de ano e não davam muita matéria.

Juntei forças para conseguir levantar, peguei lençol e um travesseiro e fui para a sala. Não me preocupei em ver que horas eram, nem em pegar o celular só para tê-lo do meu lado, como costumava fazer. Desejei até que meu cérebro saísse pelo meu ouvido e fosse pulando embora, como aconteceu com Homer Simpson, só pra não ter que ficar pensando em 10 bilhões de coisas ao mesmo tempo.

Pensei em ligar pra alguém, mas eu não sabia se tinha alguém pra ligar. Ou ao menos se teria o que dizer.

Liguei o ventilador e me joguei no sofá. Permaneci assim o dia inteiro basicamente, mesmo que fosse necessário tomar um banho. Fiz pipoca enquanto via filmes no estilo sessão da tarde, para distrair a minha cabeça do que eu não sabia estar pensando.

As nuvens lá fora gritavam, anunciando um temporal.

Reuni as forças de novo para levantar e fechar as janelas, antes que eu morresse afogada. Fui ao meu quarto e olhei para a minha bateria por alguns minutos, sem saber exatamente o porquê.

Peguei minhas baquetas e fui tocar um pouco. Em 10 minutos fiquei enjoada e voltei para a sala. Resolvi ligar um pouco o computador e entrei um pouco no Tumblr. Novamente lágrimas se formaram no canto dos meus olhos.

Eu não precisava nem ficar feliz, eu só detestava não saber explicar o que eu estava sentindo. Era uma sensação péssima, e me fazia sentir menor do que uma formiga.
O telefone então tocou.
– Alô? - Eu disse.
– Aconteceu alguma coisa contigo? - A voz familiar falou.
– Tudo bem comigo, Marcelo - Eu disse, meio irritada. - Só não estava me sentindo muito bem de manhã.
– Entendi. Você está em casa? - Ele ignorou o meu tom.
– Estou, eu estava passando mal, lembra?
– Tudo bem, senhorita grossa - Ele respondeu. - Agora abre a porta pra mim.
– Você está aqui?
– Não, só quis que você abrisse a porta sem roupa mesmo.
– Muito engraçado. Espera uns 10 minutos aí.

Saí correndo na velocidade da luz para tomar um banho e colocar uma roupa qualquer. 5 minutos depois, quando saí correndo de toalha do banheiro para colocar uma roupa, vi Marcelo sentado no sofá com a minha mãe entrando.

Fingi não estar nada envergonhada e entrei em meu quarto, querendo achar uma arma no guarda-roupa só para matar minha mãe.

Coloquei minhas roupas de andar em casa e fui para a sala, dando uma olhada mortal para minha mãe no caminho. Ela me olhou de volta sem culpa alguma, e provavelmente reclamaria por eu ter colocado a culpa nela mais tarde.
– Olha a pessoa mais simpática do mundo aí! - Marcelo exclamou, enquanto me abraçava.
– Oi - Eu disse, seca.
– Nossa, que humor maravilhoso!
– Me diz logo o que você quer, por favor?
– Eu só vim te visitar, mas acho que só estou incomodando.
– Não está incomodando.
– O que? Eu até te fiz tomar banho. Devo estar sendo um peso de duas toneladas sobre a sua cabeça nesse momento.
– Idiota - Não pude me conter em rir. Ele tinha uma personalidade muito alegre nesse ponto. Acho que foram raras as vezes que o vi de mau humor.
– Então, você está melhor? - Ele disse, mais suave.
– Sim, me sinto um pouco melhor - Ainda mais depois que ele chegou, mas não completei.
– Que ótimo! - Ele ficou animado - Tenho algumas notícias pra você.
– Se for sobre a escola, eu não quero saber.
– Então tudo bem - Ele olhou para cima -, não vou te contar quem é o idiota que gosta de você.
– O QUE? - Berrei, sem lembrar que tinha uma mãe com ouvidos de tuberculoso na cozinha.
– A gente pode ir pro seu quarto? - Ele perguntou, tranquilo.
– Pra que? Pra você desmaiar lá e depois sua mãe colocar a culpa em mim? - Ele disse, fazendo cara de quem estava chocado. - Nem pensar. Você que se vire.
– Marcelo, eu estou falando sério! - Eu disse, com cara de brava.
– Tudo bem, tudo bem - Ele riu.

Fomos para o meu quarto, encostei a porta e peguei uma cadeira pra ele. Logo depois, sentei na cama e cruzei as pernas, apreensiva.

Eu imaginava que ele fosse me dizer que era qualquer um daqueles excluídos de uma das turmas de primeiro ano, já que eu era simpática com eles e era a única menina relativamente bonita - Nem tanto assim, mas de qualquer forma o nível deles não era tão alto quando o assunto era ser bonito - que de fato ouvia o que eles tinham a dizer.
– Então, está pronta? - Ele fez suspense.
– Diga logo. É o Marcos, ou quem sabe o Dennis?
– Nem chegou perto!
– O Leonardo?
– Ah, sim. Ele gosta de você, mas não, não é ele.
– Como assim o Leonardo gosta de mim? - Perguntei, incrédula.
– Você que chutou um nome e nem sabe?
– Ah, ele fala comigo na educação física. E aí?
– Você é a única que conversa com ele sobre jogos de computador. É o suficiente.
– Tudo bem, tanto faz - Ignorei. - Quem é?
– O Bruno.
– O QUE? - Gritei de novo, enquanto meu coração pulava pela minha boca e ia dançar no meio da rua.
– Aquele garoto, metido a galã. Acho que do terceiro ano também.
– Bonitinho? De cabelo preto? - Perguntei, só para ter certeza.
– Sim, sim.
– Com um sorriso fofo, e o cabelo grande, meio arrepiado?
– Sim.
– Tem uma irmã no primário?
– Eu não sou o namorado dele, Aline - Marcelo revirou os olhos.
– EU NÃO ACREDITO! - Eu não conseguia mais lembrar dos pensamentos anteriores.
– Pois acredite - Ele riu. - E aí, quer que eu fale pra ele que você está comigo pra ele não ficar no seu pé?
– Está brincando? - Olhei pra ele, novamente incrédula. - Quero que ele fique no meu pé, na minha mão e principalmente na minha boca!
– Que horror, Aline - Ele revirou os olhos. - Se está desesperada é só dizer, que eu te beijo.
– Desesperada? - Levantei a sobrancelha - Você já olhou pra ele?
– Tudo bem, ele é bonito - Ele continuou -, mas não é pra você?
– Nossa, obrigada. Eu não sou bonita o suficiente?
– Não foi o que eu disse. Só estou dizendo que ele é um idiota.
– Você não o conhece - Defendi.
– Conheço, acredite.
– Claro que conhece - Revirei os olhos. - Esqueci que você o conhece há cinco anos e conversa com ele de vez em quando.
– Pare de ser sarcástica comigo - Ele ficou sério. - Estou te dizendo que ele é um idiota, e que você merece coisa muito melhor.
– Ah, claro. Agora você quer escolher os caras com quem eu saio.
– Não, eu só me preocupo com você, mas se você não liga, vai lá. Fique com ele. Faça o que quiser.
– Ótimo.
– É melhor eu ir embora.
– Você que sabe.

E assim, com essas palavras, ele foi embora - se despedindo da minha mãe e se desculpando por ele ter que sair cedo, dando uma desculpa qualquer - e a minha cachoeira particular voltou.

Minha mãe notou logo que tinha acontecido alguma coisa, ainda mais por causa da cara que eu fiquei no jantar depois que ele se foi.

Qual era o meu problema? Por que eu fiquei daquele jeito?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sendo Aline" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.