Sendo Aline escrita por Bruna Carreira


Capítulo 11
Capítulo 11




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            O período que se estendeu foi meio conturbado, com as últimas provas do bimestre antes das provas finais. A semana de provas foi perfeita para quem queria distrair a cabeça de pensamentos recentes. Com isso quero dizer que todos estavam desesperados e arrancando os cabelos, meninas choravam notas aos professores e alguns não davam a mínima para matérias inferiores.
            De qualquer forma foi engraçado eu ser uma das únicas a estar calma. E pior: eu ser uma das únicas a tirar notas boas em tudo. A ironia é que eu tinha sido desleixada o ano inteiro.
            Eu andava estudando e arrumando a casa sem motivo aparente algum, simplesmente porque queria manter minha cabeça em outro lugar. Até minha mãe já estava começando a ficar assustada com a ausência de poeira nos móveis, já que ela não espirrava mais. Acho que o sonho dela é que eu ficasse depressiva. Nesse estágio eu começaria a lavar as roupas. Quer dizer, as dela. Talvez as do papai.
            O fato é que mal falei com Marcelo a semana toda, mas encontrei com o Igor algumas vezes pelo corredor - eu não sei o tanto que ele fazia no meu prédio, mas enfim - então acabava acenando e perguntando como ele estava.
            Eu me afogava cada vez mais nas músicas mais tristes do meu Ipod, procurando entender porque meu estômago embrulhava e não me deixava comer, mesmo quando o assunto não surgia na minha mente. E me perguntava ainda  mais porque ele tinha se tornado um vício.
            Eu incrivelmente nem liguei para o ocorrido com o Bruno. Pelo menos não muito. Era algo incrível a minha vontade de beijá-lo, mas eu não sentia nada. Quer dizer, nada além do desejo de mordê-lo.

- Você pode contar comigo, tudo bem? – Débora, que caminhava ao meu lado desde que eu cheguei, finalmente se pronunciara.

- O que? – Ouvi e entendi, mas mesmo num reflexo, perguntei – Ah, sim, obrigada. Mas não tem nada de errado comigo.

- Eu não sei se tem a ver com o que aconteceu com o Bruno – Ela continuou, ignorando minha defesa -, mas eu sei que tem algo de errado.

- Não tem não – Insisti.

- Aline, eu posso não ser sua melhor amiga, posso não perceber quando professores chegam atrás de mim e posso até não ser uma amiga perfeita – Ela disse -, mas sinto quando alguém não está bem só de olhar, se a vejo todos os dias. E eu te vejo todos os dias. E sei que você não está bem.

- Tudo bem – Admiti -, não estou nos meus melhores dias ultimamente, mas está tudo bem.

- Não estou pedindo pra você me contar o que está te incomodando – Ela continuou. – Só estou dizendo que você pode contar comigo.

- Tudo bem – Eu disse, quase querendo chorar -, obrigada.

            Eu nunca imaginei que a Débora fosse a pessoa a me ajudar naquele momento. Não que eu tenha contado o que aconteceu pra ela, porque não contei, mas ela realmente sabia conversar comigo e me distrair de uma forma que quase ninguém mais conseguia. E digo quase, porque a outra pessoa é o Marcelo.

            De qualquer forma, eu grudei nela nesses dias como se fosse chiclete, só porque me fazia esquecer todo o resto. Viramos quase um casal gay dentro da escola, só faltava nos beijarmos e irmos ao banheiro juntas.

- Como você pode não estar surtando? – Ela me perguntava, todos os dias.

- Eu estudei – Eu dizia, todos os dias.

            Além de tudo, eu fiz algo que prometi a mim mesma nunca fazer: ficar a tarde no colégio para estudar. Não que eu precisasse, mas Débora estava prestes a ir para a prova final em sociologia se não tivesse uma séria ajuda. Não que tivéssemos produzido muito, mas fiquei feliz em saber que a parte que eu expliquei foi uma das únicas que ela conseguiu acertar no exercício que valia ponto.

- Por favor, Aline! – Ela insistia.

- Não. Eu já disse.

- Por favor, eu te imploro!

- Eu já disse que não.

- Mas Aline, você é a única nerd despreocupada e com tempo – Ela insistia. – Eu PRECISO de você!

- Depois de me chamar de nerd? – Cruzei os braços - Agora mesmo que não.

- Aline, se eu for pra prova final, minha mãe vai surtar! Ano passado ela ficou sem falar comigo quase um mês, e eu só fui precisando de meio ponto.

- Pensasse nisso antes de ficar babando pelo professor de sociologia.

- MAS ELE É MUITO GATO! – Ela dizia – Vai dizer que não acha?

- Eu não acho nada – “Muito gato, muito gato, muito gato!”, eu pensava.

- Acha sim, não venha pra mim com essa cara de santa!

- Não sei de nada.

- Ah, deixa isso pra lá! – Ela balançou a cabeça – Vamos vai? Eu faço qualquer coisa pra você me ajudar.

            Eu não ia aceitar mesmo. Eu estava convencida. Eu ia ter que gastar dinheiro e estudar, e não era nem por mim mesma. De jeito nenhum. Nem que me obrigasse. Eu tinha que dormir à tarde.

- Eu te ajudo a matar aula.

- Não - Eu disse.

- Te ajudo a ficar com algum dos caras gatos do terceiro ano.

- Não – Eu repeti.

- Faço seus deveres de artes.

- Tá brincando né? – Eu disse.

- Já terminou? – Ela perguntou.

- Sim.

- Que merda! – Ela gritou.

- Já acabou? – Perguntei, entediada.

- Não, espera! – Ela ficou alguns minutos parada.

- Então?

- EU JÁ SEI! – Ela saiu pulando, feliz.

- Você não sabe – Levantei uma sobrancelha.

- Sei sim.

- Então? – Perguntei.

- Eu te ajudo a espionar o Igor e a descobrir o que tanto ele faz no nosso prédio – Ela disse.

            Puta que o pariu.


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