Sendo Aline escrita por Bruna Carreira


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/202199/chapter/1

O sinal tocou e fui uma das últimas a sair da sala, porque como sempre estava enrolada colocando todas as coisas em todos os lugares errados.

O professor me olhava aborrecido, com cara de poucos - ou talvez nenhum, se considerar a sobrancelha levantada em desprezo a minha mediocridade - amigos. Tentei ir um pouco mais rápido e o máximo que consegui foi esbarrar em um monte de cadeiras com a mochila. Clássico.

Saí pela portinha minúscula da sala e não olhei pra trás. O corredor estava relativamente cheio. Acho que todos estavam ansiosos pelo fim do ano, enquanto eu, não tinha nada pelo que estar ansiosa. Pelo contrário, eu queria poupar meus minutos.

Parei um pouco no corredor, atrasando um pouco mais aquilo. Eu sei, era ridículo ter que evitar algo que vai acontecer de qualquer jeito. É como deixar pra depois o que você pode fazer agora. Mas no meu caso, eu estou tão desesperada que acho que não ligo mais por ser covarde.

Tirei meus fones de ouvido da bolsa enquanto acidentalmente joguei quase tudo que estava no meu outro braço cair no chão. Bufei e fui tentar desembolar os fones, quando vi a sombra de alguém parar na minha frente. Ignorei, achando que provavelmente era o inspetor vindo reclamar da minha presença aqui. Quando me virei, vi o Bruno chegando perto de mim. Ah o Bruno...

Fuck. Já não bastava ser fofo, tinha vir aqui me ajudar com as coisas que derrubei no chão.

Isso, imbecil. Pegue minhas coisas.

Isso mesmo, vai, continue organizando-as, na minha cara.

Muito bom, agora carregue pra mim enquanto vamos andando para a porta de saída e esqueço completamente dos fones que estava tentando desembolar.

Ah, como eu te odeio.
– Tinha alguém um pouco enrolada? – Ele disse algo, finalmente.
– Não, eu já estava quase conseguindo – Disse eu, frustrada.
– Eu vi – Ele jogou o cabelo pro lado, em tom irônico.
– Estava mesmo! – A raiva me subia.
– Tudo bem - Ele olhou pra cima, quase debochando.
– Ah, calado.
– Tem alguém irritada hoje?
– Não estou irritada – Disse eu e, pela cara dele, foi o tom mais irritado possível.
– Tudo bem, desculpa se te irritei. Vou te compensar te levando até em casa e me atrasando pro curso.

Ah, que ótimo. Já não bastava te ver no corredor e querer te beijar, agora vai me levar em casa também? E amanhã, vai aparecer de carro? Bitch, please.

Continuamos andando e minha mente praticava e desenrolava diversas cenas que não poderiam ser descritas em horário nobre. Em algum momento que eu não sei qual, percebi que ele contava do dia dele.
–...Então foi bem divertido. Acho que vou tentar de novo, amanhã.
– Aham – Concordei sem nem saber do que se tratava.
– E você? Tem ficado com alguém, Aline?

Foi aí que quase parei e descobri que ele contava a história de alguém com quem ele tinha ficado. Que bom que não ouvi. Ou alguém ia ficar com a orelha coçando por algumas horas...

Então foi mais ou menos depois de alguns momentos quieta que ele começou a me olhar com aquela cara de bundão, e eu percebi que não tinha respondido o que ele tinha me perguntando.
– Eu? Estou abalando o bairro. É só perguntar pra qualquer menino que passar por aí.

Eu não sei o que foi pior. A minha descrição irônica e completamente patética ou o fato de ele DE FATO ter ido atrás de um garoto bonito que andava do outro lado da calçada pra perguntar. E eu não acreditei até o ver apontando pra mim enquanto falava com o cara.

Coloquei a bolsa sobre a minha cara e rezei para que o menino fosse meio míope ou sei lá o que.
– ALINE! ALINE! –Ele gritava deliberadamente na rua pouco movimentada – OLHA PRA CÁ!

Senti meu rosto corar um pouco, então fiquei irritada. Eu odiava ficar vermelha, já que era branca demais. Momentos depois me vi dando o dedo do meio pra ele do outro lado da rua, e subitamente ele decidiu voltar.
– Aline... – Ele começou.
– O que é, idiota?
– Eu não falei que você queria ficar com ele, só disse a ele pra rir e olhar pra você porque eu estava brincando.
– Pelo que devo ficar mais irritada? Por você ter feito essa droga toda ou por eu ter dado o dedo do meio pra um garoto muito gato?
– Você pode ficar irritada pelo fato de me conhecer há uns 5 anos, saber que não vou fazer tudo isso, mas mesmo assim ter esse impulso idiota de que o farei – Ele deu de ombros.
– Ah, por que você não me deixa em paz? – Senti minha voz afinando, como se eu fosse chorar. Ou estivesse de TPM.
– Você realmente não está no humor hoje, não é? – Ele olhou pra mim, preocupado.
– Não, tudo bem – Suspirei – Só quero ir pra casa.
– Ou então a gente pode ir ali, esclarecer tudo, enquanto te arrumo um garoto muuuito gato, menina – Sim, ele fez a voz de gay. Aham, ele também mexeu a mão. Sim, eu continuei amando o idiota.

Bati no braço dele.
– Mais forte, vai, assim eu gosto – Ele disse, mordendo o lábio logo em seguida.

Ele saiu correndo. Saí atrás dele.

Nunca o alcancei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sendo Aline" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.