Do You Believe In Fairies? escrita por anearlywitch


Capítulo 1
Capítulo único




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Ryan Ross assistia à aula de história da arte, os dedos batendo freneticamente na mesa. Essa era a aula mais chata de todas, por ser um assunto entediante e por nenhum de seus amigos dividirem a aula com ele. Ele se sentava no fundo, onde ele não podia ser visto pelo professor. Seu caderno azul está aberto, onde ele escreve o que vem em mente. 

Ele rabiscava alguma coisa em baixo de uma possível música que habitava na página. Naquele dia, ele não sentia vontade de fazer nada, muito menos de estar ali. 

"Como era o nome desse pintor... Ryan?" o professor tinha os braços cruzados. 

Ele finalmente sai do transe, observando o quadro sem significado nenhum, que parecia um monte de pinceladas desconexas. "Não sei". 

O professor suspira, apontando para outro aluno. "Sim, Matthew?"

"Leonardo da Vinci, senhor"

"Correto. Ryan, sua nota de literatura não vai te salvar esse ano, hora de se ligar"

Ryan dá de ombros e continua a observar o relógio.

O sinal finalmente toca, a confusão de pessoas tentando sair ao mesmo tempo. Ele finalmente sai, o ar novo do corredor o batendo. 

Ele logo encontra Trevor, que estava falando com Spencer perto dos armários. 

"Oi" ele diz, cansado. 

"Oi… uh, tá tudo bem, Ry?" Spencer pergunta depois de analisar o amigo. 

"Sim, claro" ele diz, por mais que seu pai tenha chegado tarde e bêbado ontem à noite, o acordando com os barulhos e gritos. Ele não tinha conseguido dormir direito desde então. "Mas eu vou embora. Não estou com vontade de ficar na escola hoje".

"Mas faltam três períodos!" Trevor diz. 

"Não ligo. Nos vemos amanhã" ele pega a mochila e vai em direção à entrada principal, totalmente desprotegida, e caminhando até em casa. 

Ele tinha que aproveitar o tempo que o pai não estava em casa.

***

Ele pega o leite e coloca na tigela, procurando o cereal nos armários. Ele finalmente acha a caixa, despejando seu conteúdo no leite enquanto cantava com o rádio. Ele se vira para abrir a gaveta e pegar a colher, e, quando se vira novamente, ele jura que pode ver o cereal se mover. Ele chega mais perto, observando. Ele se move novamente. Agora ele segura a colher com ambas as mãos, apontando para a tigela. O movimento começa a ficar maior, e, de repente, alguma coisa sai pulando dali de dentro, e Ryan não consegue reprimir um grito. 

"Autch" ele escuta, e finalmente vê: havia uma criaturinha em cima da sua mesa, com as mãos nos ouvidos. Ele era um humano em miniatura, só que com... Asas?

Ele observa em silêncio, a boca aberta e as mãos tremendo.

A criatura começa a se mexer novamente, caminhando para perto de onde Ryan estava. Ele se afasta um pouco, mas o menor continuava caminhando.

"Você é o Ryan, então! Olá!" ele fala, um sorriso na face. 

"Você... Fala? O quê-" ele não consegue terminar a frase, atônito. 

"Sim, eu falo. Eu vim te ajudar!"

"Ajudar? O quê?"

"Bem, eu sou um guardião, mas oficialmente me chamo fada conselheira. Prefiro guardião" ele sorri, logo depois voando até ficar no nível do rosto de Ryan. "Não se assuste, eu não vim te matar nem nada" ele sorri para o maior. 

"Eu estou ficando louco. Alguém me belisca" ele diz, fechando os olhos e respirando fundo, até que ele sente alguma coisa no seu braço, soltando um gemido de dor. 

"Eu não posso beliscar, mas eu podia morder, então"

"Você- você é real"

"Yep, realzão... Ou zinho"

"Eu nem sei o que-" Ryan ia começar uma frase, mas ouve seu pai chegando. "Merda" ele pega a pequena fada no ar, a colocando no bolso do jeans e subindo as escadas, encontrando seu pai no caminho. Sem uma palavra, ele vai até o seu quarto. 

Ele entra e tranca a porta, logo depois deixando a criatura sair. Ele a coloca delicadamente em cima da escrivaninha, a observando melhor. Ele estava com uma camiseta preta, um jeans e um All Star vermelho. Uma fada. De All Star. 

"Uh, por que você fugiu do seu pai?" ele pergunta enquanto ajeita as roupas. Ryan permanecia encarando a criatura, que agora tinha as asas batendo lentamente, o branco delas o hipnotizando.

"Ele... Tem problemas".

"Tipo?"

"Bebida. Jogo. E eu não gosto de falar com ele, mas não importa" ele senta na cadeira, de frente para a fada. "Pode me dizer por que está aqui?"

Ele suspira. "Pra te ajudar nas dificuldades"

"Ah. E o quê você ganha?"

"Nada, é meu trabalho. Toda fada nasce pra alguma coisa. Eu nasci para estar aqui"

"Entendo... Acho"

"Com o tempo você se acostuma. Meu nome é Brendon, a propósito" ele estica a mãozinha na direção do maior. 

"Prazer" Ryan estica o mindinho, sentindo o pequeno toque na ponta do seu dedo. 

"Sua casa é legal. Aqui é o seu quarto? Nossa, uma guitarra!" Ele voa até a guitarra, colocando suas mãos nas cordas, fazendo um barulho desafinado. Ele parecia se divertir com o que estava fazendo. 

"Você vai ficar por quanto tempo aqui?" Ryan finalmente pergunta, um sorriso de admiração no rosto enquanto ele levanta até a guitarra, pegando-a devagar e se sentando na cama.

"O tempo que você precisar de mim. Não é o máximo?" ele diz, agora voando perto das cordas. 

Ryan não sabia responder. Afinal, tinha uma fada que dizia o ajudar em sua casa, o tempo que precisasse. Era estranho, e ele não sabia se ia conseguir se acostumar. 

Ao invés de responder, ele coloca três longos dedos no braço do instrumento. "Puxa as três de cima"

E o pequeno assim vez, o som que agora saía sendo um pouco mais razoável do que o de antes. Ele dá um sorriso, e continua puxando as cordas com as duas mãos. 

***

Brendon tinha contado toda a sua história para Ryan. Aparentemente, ele não havia vivido muito até agora. A primeira coisa de que se lembra é de acordar em uma sala cheia de fadas estranhas que o estavam analisando. Elas perguntaram qual era o seu nome, e o primeiro que o veio na cabeça era Brendon, e ele não se lembra o motivo. Depois eles o mandaram escolher três objetos, e ele tinha escolhido um livro, uma boneca e um violão. Quando o maior questionou a boneca, ele só disse que ela precisava ser mais cuidada, que estava feia e que era pra ele ficar quieto. A parte seguinte ficava confusa, depois que eles colocaram algum tipo de capacete na sua cabeça. A última coisa era escolher o que ele queria vestir, e então o disseram o que fazer, que era tomar conta do humano que ele ia encontrar. E ali estava ele, com suas asinhas brancas e All Star.

Ryan conta da sua vida sem graça, de como ele ia pra escola e quase sempre estava na casa do amigo, Spencer, e eles tinham uma banda com amigo chamado Trevor e outro chamado Brent. Ele diz dos problemas do pai, que ele bebia e às vezes nem voltava pra casa, e que ele nem se importava mais. Ele conta de quando foi rejeitado por uma menina que ele realmente gostava, e o pequeno Brendon o questiona bastante, de como funcionava essa história de amor.

"Você vai descobrir" foi tudo o que ele disse para o pequeno. 

Depois eles descem e não encontram o pai, que provavelmente tinha ido para algum bar. O maior faz o jantar, macarrão com queijo, e a criaturinha o ajudava no que precisasse, já aprendendo como se fazia comida. Ryan assiste encantado o menor voar com a colher na mão, a colocando na panela e mexendo com dificuldade. Ele depois desiste e resolve pedir ajuda.

Eles comem assistindo televisão - algum filme idiota da Disney que Brendon insistiu em ver - e depois percebem que já está tarde, e Ryan tinha, infelizmente, aula no outro dia. Eles sobem para o quarto, e o maior faz uma cama com uma camiseta de banda velha na sua cabeceira, com pequenos algodões em baixo. Enquanto ele arrumava, ele permanecia pensando de onde ele tinha tirado todo aquele sentimentalismo, e não encontra a resposta, mas encontra Brendon riscando com dificuldade um de seus cadernos, a caneta sendo um pouco maior do que ele. Ryan sorri ao ver a cena, a pequena criatura desenhando alguma coisa com a língua para fora, totalmente concentrado. 

"Quer ajuda?"

"Não. Eu consigo. Pode-" e então a caneta escorrega e cai do seu lado. A criatura cruza os braços e permanece fitando o objeto. "Eu preciso praticar". 

Ryan ri, um sorriso abobado nos lábios. Ele estava cada vez mais intrigado com o pequeno homenzinho na sua frente. "Cama" ele aponta para a cabeceira, logo observando Brendon voar até o móvel. 

Ele coloca a mão, afofando o tecido vermelho, dando um sorriso. "Está perfeito"

Ryan sorri, deslizando seu corpo para baixo das cobertas. Ele ainda não entendia muito bem como era cuidar de uma fada, mas ele estava satisfeito com o que já tinha conseguido fazer. 

"Boa noite, Brendon"

Mas o menor já estava enrolado na camiseta, os olhos fechados. 

***

"Tem certeza que quer ir junto?"

Ele dá de ombros. "É o meu trabalho". 

Ryan olha para a criaturinha, que estava de pé na mesa, observando o maior se vestir. Ele colocava uma camiseta V, que tinha um bolso do lado esquerdo. Ele arruma o cabelo do jeito que gosta, coloca os sapatos e um desodorante com um odor forte, que Brendon reconhecia: baunilha. 

"Se você vai, você vai ficar comigo o tempo inteiro. E quieto"

"Tudo bem"

Ryan caminha até a mesa, segurando o pequeno na palma da mão, o deslizando para dentro do bolso da camiseta. Ele se senta ali dentro. "Tudo bem?"

"É confortável" o menor diz, um sorriso nos lábios enquanto olha para cima. 

"Vamos, então" 

E ele pega a mochila e vai para a rua, tentando ignorar o fato de ter um ser vivo no bolso da sua camiseta, se mexendo. 

***

Já era hora da segunda troca de períodos, e até agora tudo tinha dado certo. Ele tinha assistido às aulas e Brendon deveria ter escutado tudo também, já que ele não falou uma simples palavra durante os dois períodos. Quando Ryan olhava para baixo, ele encontrava Brendon olhando fixo para algum lugar, prestando atenção. Ele admitia para si mesmo que achava até fofo aquele ser humano em miniatura. 

"Não sei por que você não gosta da escola. Eu acho divertido" ele diz, Ryan dando um sorriso e se dirigindo até o armário. 

Ele coloca a cabeça quase totalmente dentro do armário para poder falar com a criaturinha sem parecer um louco. "Algumas pessoas preferem ficar em casa" e ele pega um livro de geometria, trocando com o de física. 

"Eu gosto de aprender… mas eu queria ver as obras que vocês estavam falando"

"São um monte de rabiscos. Nada de mais" 

"Ryan" uma voz aparece de trás, e ele logo encontra Brent o fitando. "Com quem você tá falando?"

Ele olha o amigo, pensando em uma saída. "Sozinho. Sabe como é"

"Uh. Enfim, vai ter encontro com a banda mais tarde, não se esquece"

"Eu acho que não vou poder ir. Eu tenho- ai!" ele sente alguma coisa, logo depois se lembrando de Brendon. Ele tinha sido mordido por dentro da camiseta. "Eu vou estar lá?" e depois nada acontece. "Sim, vou"

"Ok... Te vejo mais tarde, então" Brent diz desconfiado e depois anda em direção ao outro corredor. 

"O que foi isso?" ele diz para o menor. 

"Eu quero ver você tocar"

"Não... Morda, ok? Não é legal"

Ele escuta o menor rindo, e eles se dirigem para a próxima sala.

***

Era hora do almoço, e Ryan queria fazer o que tinha feito no outro dia: ir embora. Mas o diretor já estava começando a notar, e ameaçou avisar seu pai do que estava ocorrendo. Isso não era problema, o velho não se importava, mas ele tinha medo igual. 

Ele serve o seu prato, sentando sozinho em uma mesa. Ele começa a comer, mas sente Brendon se mexer no bolso, se lembrando que ele provavelmente estava com fome. 

Ele pega discretamente um grão de milho e coloca no bolso, voltando a comer normalmente. 

"Guardando pra depois, Ross?" ele não precisa nem olhar, ele já sabia quem era. "Papai não coloca comida na mesa?" 

"Nada melhor pra fazer, Audrey?"

"Não, infelizmente. Tá na hora de dar um jeito na sua vida, não é?"

"Obrigado pelo conselho. Pode ir embora agora" ele diz, finalmente olhando para ela, o cabelo multicolorido brilhando sob a luz do refeitório. 

"Eu vou quando eu quero" ela diz e pega o suco da bandeja de Ryan, que não fala nada, a cabeça baixa. 

Ela se vira para sair, mas para no meio do caminho para dar um grito de dor. Ela segurava a orelha, e um líquido vermelho escorria por seus dedos. 

Ele olha para o bolso, e não encontra Brendon. Ele logo percebe que ele estava voando perto da orelha da menina, então indo para o bolso do maior novamente. 

"Não sei como você fez isso, mas vai pagar, Ross!"

Ele sorri, pegando o suco das mãos dela novamente, observando o cabelo voar enquanto ela corria para fora do refeitório. 

Ele coloca uma mão na frente da boca para disfarçar que ia falar. "O que eu disse sobre morder? Você não podia ter feito isso". 

"Mas fiz. Aquela vadia não merece nem viver". Ryan olha chocado para a criatura, que dava de ombros dentro do bolso. "Mais milho?" Brendon pergunta, e o maior assente, colocando outro grão no bolso. 

***

A rua estava vazia, então ninguém podia ouvir o que ele estava falando. Ele carregava a guitarra dentro de uma bolsa, e a mochila no outro ombro. 

"Eu não queria ir hoje" ele diz, olhando para o seu bolso. 

"Eu quero ver você tocar. Por favoooor"

Ele fita o menor, que tinha as mãos juntas, os olhos castanhos esperando uma resposta. 

Ele suspira. "Tudo bem. Só dessa vez"

Ele sente uma movimentação no bolso, o menor fazendo uma dancinha. 

Ele chega na casa de Spencer, colocando a mochila e a guitarra perto da porta. Todos estavam ali, e ele coloca a mão discretamente no bolso, colocando Brendon dentro de um dos bolsos da guitarra. "Você fica aí"

"Ryaaaan! Que bom que está aqui! Vamos, garagem" Spencer diz. 

Ele pega a bolsa com cuidado, colocando-a nas costas. 

Ele entra na garagem, e todos assumem seus postos. Eles tinham escrito na bateria de Spencer com uma canetinha 'Pet Salamander', e tinha um cartaz com o mesmo nome na parede. Ele coloca a bolsa delicadamente no chão, pegando a guitarra. Ele observa a ansiedade nos olhos de Brendon antes de ligar o amplificador. 

Eles tocam algumas músicas do Blink 182, depois Smashing Pumpkins. Eles tocam, por último, a música que Ryan havia escrito na aula esses dias. Não era perfeita, mas a melodia era boa, e a letra não era nada mal.

Ele se despede, falando que não, não queria roubar umas cervejas do pai do Spencer, que queria ir para casa e dormir. Ele sobe sozinho até o andar de cima, pegando sua mochila e se despedindo da mãe do amigo. 

Já estava escurecendo, e a rua continuava vazia. Ele pega no bolso da guitarra o pequeno, o colocando no seu ombro. 

"O que achou?"

"Vocês são bons! Eu adorei adorei adorei" ele diz, e Ryan conseguia sentir ele rindo perto do seu ouvido. "Eu gostei daquela segunda, da terceira... E eu adorei a última!"

"Sério? Eu que escrevi a última"

Ele sente o menor puxando a sua orelha. "Você é bom, senhor Ryan"

Ele ri, e ele admitia que se sentia feliz. Aquele homenzinho estava sendo bom para ele. Ele era intrigante e diferente, mas também era feliz, honesto e ingênuo. 

"Amanhã é sábado, você sabe o que significa?" o maior pergunta, um sorriso no rosto. 

"Não...?"

"Não tem aula! Nem ensaio, nem nada. E hoje nós temos sessão filme lá em casa! Eu sempre faço sozinho, mas hoje eu tenho você!"

O menor pensa um pouco, olhando para as mãos. "Vai ter pipoca?" 

Ambos riem enquanto iam para a casa, a rua começando a ficar escura. 

***

Ryan estava deitado no sofá, ocupando ambos os lugares com as pernas. Brendon estava em cima do seu abdome, uma pipoca em mãos, observando a tela da TV com cuidado. 

"Mas ele foi mal com ela! Por que ela tá voltando?" ele pergunta, o cenho franzido. 

"Porque eles se amam" o maior diz, simplesmente. "Mas esse filme é muito idiota, também. Na realidade, tudo que ele ganharia é um belo de um soco na cara"

Brendon ri, uma mão tapando a boca. 

Eles observam enquanto os protagonistas se reencontram, o beijo selando o final do filme. 

"Ry... Posso perguntar uma coisa?" ele espera a resposta olhando para as próprias mãos, envergonhado. 

"Claro" 

"Por que é sempre homem com mulher? Quer dizer, homens não podem se amar e mulheres também?" ele estava um pouco vermelho, ainda não olhando diretamente para Ryan. 

Ele sorri para a ingenuidade de Brendon. "O amor não escolhe o gênero da pessoa. O normal, o que é da nossa natureza, é que um homem ame uma mulher. Mas isso não quer dizer que precise ser assim. Nada pode impedir o amor, pequeninho" ele cutuca o pequeno de leve, um sorriso nos lábios. 

O menor sorri, aliviado em escutar aquela resposta. Ele escala o peito de Ryan para ficar mais perto. "Obrigado por ser tão legal comigo" ele sorri e se senta no lugar onde tinha chegado. 

"Eu que devia agradecer, eu acho" ele sorri. 

Eles se fitam por alguns instantes, mas o barulho da porta faz Ryan pular. Brendon voa rapidamente para dentro do bolso, e o maior fica de pé. 

George chega, o mesmo olhar de sempre na face. Ele fita o filho, que estava com os braços cruzados no meio da sala. 

"O diretor me ligou. Disse que você anda faltando" 

"Foi só uma vez, eu tinha passado mal e-"

"Eu não ligo, Ryan. Mas eu não quero gastar com uma escola se você não quer mais ir. Se você é incompetente a ponto de querer sair da escola, que vá logo"

"Não! Eu não quero sair!"

Ele olha o filho de cima a baixo, um olhar de reprovação. "Você se tornou um idiota, sabia disso?"

"Eu sigo o seu exemplo" ele cospe. 

"Olha, eu-" ele avança até o filho, uma mão erguida. "Retire o que disse"

"Não. Eu consigo sentir o cheiro daqui, George. Você não presta" ele diz, decidido. 

O pai dá um tapa na face do filho, e ele perde o equilíbrio para trás. 

"Eu tenho nojo de você" o pai diz, se sentando no sofá. 

"Eu também" Ryan diz baixo, enquanto sobe as escadas correndo para o seu quarto. 

Ele sente uma lágrima escorrer, mas a limpa antes de fechar a porta do quarto. 

"Ryan" ele já havia saído do bolso, voando próximo ao maior. 

"Eu estou bem, sério, já teve piores" ele vira e arruma algumas coisas na mesa, escondendo os olhos vermelhos de Brendon. 

Ele voa perto do rosto do maior, ignorando o fato de ele o estar escondendo, e coloca a mão em cima da bochecha, onde estava vermelho. O contato da mão gelada fez Ryan se arrepiar, e logo depois o menor se afasta, olhando diretamente nos olhos do outro. 

"Eu vou estar aqui pro que você precisar" ele diz e entra no bolso da camiseta novamente, se enrolando ali dentro.

Ryan observa, e, sem contestar, o deixa ali enquanto entra em baixo das cobertas e deixa as lágrimas escorrerem. 

***

Ele acorda desconfortável por dormir preocupado se iria esmagar Brendon, o que felizmente não aconteceu. Bem pelo o contrário, ele estava do lado de fora do bolso, dormindo curvado na parte de pele que a camiseta de Ryan deixava aparecendo, as mãos servindo de travesseiro. Ele parecia tão confortável que o maior não teve coragem de acordá-lo. Ele simplesmente fecha os olhos, se entregando ao sono mais uma vez. 

***

Ele desperta novamente, dessa vez virado de bruços, abraçado em um travesseiro. Ele procura a pequena criatura, se levantando apressadamente, os olhos vasculhando a cama. O pensamento de tê-lo esmagado fez seu coração bater o mais rápido que podia. Ele não o encontra, nem na cama, nem no resto do quarto. 

Ele desce apressadamente, correndo até a cozinha, onde encontra o menor encharcado, sem a camiseta, em cima da mesa, o leite derramado do lado do pacote de cereal. Ele tremia, tentando limpar seu estrago com a camisetinha. 

"Brendon, o que tá acontecendo?"

"Eu queria... Te fazer sentir... Melhor..." ele diz, tremendo de frio. 

"Você está tremendo!" ele pega o menor na mão, depois a camiseta, subindo apressadamente até o andar superior. 

"Eu estraguei tudo" o menor diz enquanto se enrola em um dos dedos de Ryan. 

"Não, não estragou. Vamos, antes que você-" ele pausa, ouvindo a tosse do pequeno, "fique gripado".

"Desculpa"

"Sh. Eu vou fazer um banho quente pra você, e vou secar suas roupas. Não quero ter que argumentar" ele diz, o levando até o banheiro. 

Ele o deixa em cima da pia, procurando algum objeto que seja útil. Ele acha a saboneteira, retirando o sabonete e colocando água quente diretamente da pia. Depois de encher o potinho, ele aponta para o menor. 

"Tira. Tudo" 

O menor olha para as calças e depois para Ryan, um pouco envergonhado. "Vira pra lá"

"Meu Deus, Bre-"

"Por favor" ele diz, tremendo. 

Ryan vira, erguendo a mão para trás, sentindo as pequenas peças de roupa na sua palma. Depois ele ouve o barulho da água, e Brendon o dizendo que estava pronto. 

"Vou sair e lavar isso, tudo bem?" ele diz, ainda não se virando. 

"Tudo bem"

Ele sai do banheiro sem olhar para a pia, indo até o banheiro de visitas e lavando as pequenas roupinhas na pia. Elas eram tão pequenas, tão delicadas. Ele se perguntava se ele ia ficar bem. Ele era tão pequeno para uma gripe. Ele poderia tomar remédio? Qual seria o peso dele? Havia medida para menos de um quilo? Ele devia tomar sopa. Com que colher? Ele era um pouco maior que uma colher de café.

As roupas estavam limpas, então ele retorna até o quarto e pega o secador, as secando rapidamente com o jato quente. Ele pega a boxer, as meias, a calça e a camiseta e vai em direção ao banheiro. Ele estava de costas para Ryan, a cabeça descansando na borda da saboneteira de plástico. 

"Eu trouxe as roupas secas. Se seca com a toalha de rosto e veste elas logo, ok? Me chama quando acabar"

Ele assente e Ryan sai do banheiro, esperando do lado de fora. 

Algum tempo depois, ele ouve a voz o chamando e rapidamente entra, pegando o menor na mão e indo até a gaveta do quarto, pegando uma meia de lã com a outra mão. Ele desce, tomando o máximo de cuidado com a criaturinha que agora espirrava na sua mão.

Ele coloca a meia listrada de lã no sofá, depois ajeitando Brendon no meio, o cobrindo até os ombros. "Fica aqui. Vou trazer umas coisas"

Ele vai até a cozinha, depois de um tempo voltando com um copo miniatura que seu pai usava para beber, e dentro dele havia chá e um canudinho. 

Ele observa o menor tomar o líquido. Ele ficou resfriado rápido demais, e Ryan se pergunta se era porque ele era pequeno. Devia ser. Ele nem era humano. Ele era uma fada. 

Ele toma um pouco do chá, tossindo logo depois. "Eu queria te deixar feliz" ele diz, fraco. 

"Sh. Você já ajudou demais. Fez demais. Agora você vai descansar antes que piore"

O menor dá um sorriso e procura o canudo com a boca. 

Eles assistem a um filme policial antigo, ou Brendon assiste, já que Ryan estava preocupado demais com a tosse e com a febre e com os espirros. O pequeno dizia que estava bem, mas o outro não engolia. Ele estava se sentindo responsável por ele. 

Brendon sai da meia, escalando o corpo do maior que estava deitado do seu lado. Ele tenta argumentar alguma coisa, mas não adianta. A criaturinha subia rapidamente, somente quando chega no peito, ele hesita. "Eu quero te agradecer. Por ser um bom humano comigo"

Ryan ri. Ele nunca tinha imaginado que iria ouvir aquilo. "Eu que te agradeço. Por ser uma boa fad- guardião comigo" ele diz quando vê o olhar do menor na sua direção. 

Ele pausa e olha para baixo. "Eu tô me sentindo estranho. Aqui na barriga" ele aponta para a pequena barriguinha. 

"É dor? Você tá com dor?"

"Não... É diferente" ele hesita de novo, olhando para os olhos do maior. Então ele se inclina e deposita um pequeno beijo no lábio inferior de Ryan, se deita no peito do maior e se enrola na sua camiseta. 

Ryan também sentia sua barriga estranha. 

***

Brendon acorda sozinho na enorme cama de solteiro. Ele olha ao redor, não encontrando nenhum vestígio de humanos. Ele levanta com um pouco de dificuldade, voando até a porta, passando pela pequena brecha. Ele vai até o chão, caminhando até ficar atrás de um pedaço de madeira do corrimão. Lá de cima, ele via homens levando o pai do Ryan, homens de branco. O filho estava com a cabeça baixa, escutando os gritos do pai. Uma mulher aparece, e logo depois Spencer. 

"Ry, tudo bem?" o amigo perguntava, preocupado.

"Sim... Acho que foi melhor ele ir. É o melhor"

"Ryan, não é?" a mulher perguntava, arrumando os óculos. "Você tem algum parente pra ficar?"

"Não, mas eu posso ficar sozinho"

"Ou você fica com um familiar ou vem com a gente"

Ele suspira, olhando para seus sapatos. "Eu-"

"Pode ficar com a gente! Tem um quarto sobrando, e a mamãe ia adorar!"

"Posso?" ele perguntava para a mulher. 

"Bem, ele não é um familiar... Mas eu posso abrir uma exceção. A casa vai interditada até seu pai conseguir voltar. Você tem até amanhã" ela se vira e conversa com outro homem de branco. 

Ryan tinha um sorriso na face, logo depois abraçava o amigo. Ele estava feliz.

Brendon não pode evitar sorrir lá de cima. Ele estava feliz pelo o seu humano. Ele sentia que tinha cumprido sua parte naquela casa. 

Mas daí ele se lembrava da parte ruim dessa sensação. 

***

"Não é legal, Bren? Eu sonhei tanto com esse dia!" ele  colocava as roupas na mala, fechando com cautela. 

O pequeno só assentia de cima da cama. 

"Eu vou poder fazer o que quiser, agora. Depois que eu fizer dezoito anos, eu volto pra essa casa e vou pra faculdade!"

Brendon assentia de novo, um sorriso forçado nos lábios.

"Ei... O que foi? Você tá se sentindo mal?" o maior se aproxima da cama, se ajoelhando no chão para ficar no mesmo nível que Brendon. 

Ele suspira. "Lembra quando eu disse que eu ia ficar até que você não precisasse de mim?" ele sorri, os olhos lacrimejando. "Você não precisa mais"

Ryan o fita, franzindo a testa. "Não!" ele finalmente diz, percebendo o que estava acontecendo. "Eu ainda preciso de você! Não!" ele começava a formar lágrimas também. 

"Não fica assim. Durou o que durou, e eu vou ter que ir"

Ryan deixa uma lágrima escorrer. "Eu não quero que você vá".

"Eu também não quero ir. Eu te amo, Ry"

O maior pisca, um sorriso se formando. "Eu também te amo, Bren" 

O menor hesita, mas voa até perto do rosto de Ryan. "E é porque eu te amo que eu tenho que fazer isso" ele sorri, deixando uma lágrima cair. 

"O quê?" 

Ele se aproxima, beijando o lábio inferior do maior, logo depois indo um pouco mais para cima e pressionando dois dedos na testa de Ryan. 

Tudo o que se passa depois disso não é mais do que um clarão. 

***

Ryan sentava na última fileira da aula de geometria. Ele batia os dedos na mesa, em um ritmo que ele não sabia se podia virar uma música em potencial. O professor falava sobre alguma coisa que ele não entendia. Tudo o que ele pensava era em como ele iria desempacotar suas coisas na casa do Spencer, e como eles iam o receber. Ia ser difícil, mas era muito melhor que ir para algum abrigo da polícia, ou seja lá o que fosse.

Há uma batida na porta, e o professor vai atender. Ele entra seguido de um menino. "Turma, esse é o novo colega de vocês" ele sorri. "Brendon Urie". 

Ryan fita o menino, como se ele já o tivesse visto antes. Ele usava uma blusa preta, jeans e All Star.

Pensando bem, ele nunca o tinha visto antes, mas que ele o intrigava, era claro. 

"Seja bem vindo, Brendon. Pode escolher um lugar"

"Obrigada, senhor" ele caminha até uma mesa do lado de Ryan, se arrumando no pequeno espaço. Ele olha para o lado, lançando um sorriso. 

Ryan ainda ia descobrir de onde ele o tinha visto. 

Por enquanto, ele só devolve o sorriso e volta a se concentrar na aula, não sabendo das palavras que circulavam a cabeça do seu novo colega. 

Você não tem mais utilidade aqui. Você foi feito para aquele humano. Pode ir agora. 



FIM!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Me deixe sabendo o que achou, ok? Até!



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