Com todos os outros fora da briga, Korse teve apenas que sorrir friamente para deixar Poison sem esperanças. Mas mesmo assim, a Killjoy tinha que se mostrar confiante.

Korse se aproximou e atirou com facilidade na perna de Poison, que não conseguiu escapar pois estava muito fraca. Simplesmente mordeu o lábio inferior com força para não gritar, sentindo algumas lágrimas nos olhos.

–Acabou pra você, Megan. – disse Korse, com um tom desafiador.

–Não! Não acabou! Eu ainda tenho forças pra lutar! Eu... Eu não vou deixar você me transformar em um de vocês! Eu vou... Eu...

Foi aí que Poison Heart percebeu.

Ela já havia se tornado um deles. Matando Draculoids sem a menor pena ou consideração. Ela já havia parado para pensar que aqueles Draculoids eram pessoas normais, com família e amigos? Já havia parado para pensar que muitos deles também passavam por problemas, assim como ela própria?

Sim, ela já havia se tornado um deles. Ou até mesmo pior. Pelo menos a BLI tinha um pretexto para matar. Nem isso ela tinha.

A raygun escorregou da ponta dos dedos de Poison, indo de encontro ao chão lentamente, enquanto a própria Killjoy se encostava no que restou da parede.

–Desistiu, huh? – disse Korse, satisfeito.

–Eu... Eu vou para o lado de vocês.

–Muito bem. – disse ele, tentando manter uma cara séria, mas sua alegria transparecia, e muito. Korse começou a dar um discurso sobre o “bem maior que levou Poison Heart a fazer isso”, mas ela não prestava atenção. Todos os seus pensamentos estavam voltados para o que faria a partir de agora. Claro, nenhum dos outros estava morto, simplesmente estavam desacordados, mas eles não a entenderiam, não passariam para o lado da BLI junto com ela.

Enquanto Poison pensava no que faria a seguir e Korse discursava, ambos foram interrompidos por um barulho de microfonia. Poison tapou o ouvido que funcionava e Korse fez uma careta de desconforto. O barulho parou poucos segundos depois, dando lugar a uma voz estranhamente gélida e calma, que cantava em uma melodia lenta:

“A paranoia está florescendo, as transmissões das relações públicas prosseguirão... Eles tentarão nos empurrar drogas que nos mantém estúpidos e esperar que nunca veremos a verdade ao nosso redor...”

Korse olhou para Poison.

–Você tem algo a ver com isso, Solskinn?!

–Não! – exclamou Poison, tão surpresa quanto o mais velho.

“Outra promessa, outra geração, outra mentira embalada para nos manter presos em ganância, com todos os cintos verdes amarrados em volta de nossas mentes, e a burocracia sem fim para manter a verdade confinada...”.

Subitamente, vários dos Killjoys que vieram ao resgate de Poison começaram a aparecer em torno dos dois. Danger Bomb, Diamond Nightfall (que Poison ficou surpresa em saber que não estava morta), Supermassive Authority e Adrenaline Danger Heart lideravam um grupo de pelo menos trinta Killjoys, todos olhando com raiva para Korse. Mas era óbvio, considerando o que ele havia feito para a família de tantos.

–Eles não vão nos forçar... – disse Diamond, com um sorriso frio, acabando com um piscar de olhos todas as mutações que ainda rosnavam para o grupo, com um desintegrador na mão.

–... Eles vão parar de nos humilhar... – sussurrou Supermassive, com raiva, afastando a sua franja dos olhos para mostrar um olhar sanguinário.

–... Eles não vão nos controlar... – disse Adrenaline.

–... Nós seremos vitoriosos. – completou Danger, por fim. Korse olhou à sua volta, sem conseguir ver como o poder que tinha nas mãos logo deslizou até os Killjoys.

–Q-quem são vocês?

–Não se lembra? – disse Adrenaline, em um tom sarcástico – Não se lembra de como matou toda a minha família e depois tentou me matar, mas eu escapei? Pois é, você afetou a vida de cada um desses Killjoys, direta ou indiretamente, Korse. Você é o único que não vê o quanto Akira o usou como escudo somente para conseguir toda a glória, evitando tudo que fosse negativo. – ela balançou a cabeça – Patético. Você tinha muito potencial, Korse. Mas jogou tudo isso fora.

A voz vinda dos alto-falantes voltou a falar:

“Intercambiando o controle da mente, venha deixar a revolução pagar seu pedágio... Se você pudesse ligar o interruptor e abrir seu terceiro olho, você veria que não deveríamos ter medo de morrer...”

–O q-que é isso? – gaguejou Korse.

–É a nossa música. A música que vai marcar o seu fim. O seu e o da BLI, Korse. – disse Supermassive, enquanto tirava os entulhos, tentando salvar Fun Ghoul, que foi o primeiro a começar a acordar.

–Vocês estão loucos. – murmurou ele – Existem milhões de prédios da BLI espalhados por todo o mundo. Acham mesmo que destruir uma base vai ajudar a acabar com a empresa inteira?!

–Isso pode ser o começo de uma rebelião, Korse. – disse Supermassive, sorrindo desafiadoramente – Uma faísca pode acender uma fogueira inteira. – o Killjoy virou para todos os outros que vieram a ajudar e começou a gritar – Agora ergam-se e tomem o poder de volta, é hora dos gananciosos terem um infarto! Chega de sermos controlados por uma companhia monocromática! Vocês sabem que o tempo deles está chegando ao fim, temos que nos unir e ver nossa bandeira subir, mas isso só será possível se nós cooperarmos uns com os outros.

Poison sorriu desafiadoramente para Korse ao ouvir o pequeno discurso do colega.

Assim como Party, Sunshine e Kobra começavam a acordar, e foram sendo ajudados por outros Killjoys. Aos poucos, todos acordaram, ainda que estivessem extremamente confusos.

–O que...

–Shh. – disse Danger, colocando um braço na frente de Revolver, que cambaleava um pouco. Poison Heart continuava observando Korse, atenta a cada mínimo movimento vindo dele. Mas ela nunca poderia prever o que viria a seguir: Korse ativou mais algum mecanismo de autodestruição do prédio, causando rachaduras no chão. Todos deram um passo para trás, o que foi provavelmente a coisa mais segura a fazer.

–Como eu amo a tecnologia... – comentou Korse, sorrindo sadicamente – Se um de vocês der um passo para frente, todos vocês caem. Então? Vão arriscar? – perguntou ele, levantando uma sobrancelha.

Poison olhou para o grupo, e todos a encaravam, sem saber o que fazer, procurando por alguma confiança nos olhos de Poison Heart.

Mas ela não tinha.

Não mais.

Toda aquela confiança falsa de minutos atrás também já não funcionava em sua cabeça.

Mas ela não precisava de confiança para saber o que seria melhor.

A Killjoy puxou da cintura um tubo com um botão de liga e desliga, que ela empurrou. Um facho de laser apareceu, como se fosse uma espada laser, mas, ao contrário do laser, que queima, aquela espada cortava como uma lâmina.

–O que ela vai fazer? – murmurou Sunshine, com medo.

–E-eu não sei... – gaguejou Party, com o olhar fixo em Poison Heart.

–Você é mesmo teimoso, hein, Korse. – disse Poison, rindo de forma falsa e mancando levemente pela perna machucada – Eu tento matar você, e você não morre...

–Não vou entregar os pontos facilmente.

–Ah, vai sim. – disse Poison, olhando para o chão. A Killjoy suspirou fundo e deu um pulo alto, indo para o lado de Korse e sentindo o chão tremer sob seus pés tremer, tanto pelas rachaduras quanto pela perna que doía. Korse simplesmente riu e disse:

–O que pretende fazer? Lutar comigo?!

Com um simples movimento, o mais velho chutou a perna de Poison, que caiu ao chão.

–Você não pode fazer nada, Megan. Acabou pra você. – disse ele, sorrindo cruelmente. Poison afastou as lágrimas de seu rosto e lançou a Korse um olhar de raiva, antes de engatinhar e pegar novamente a espada, e fincá-la no chão com força. As rachaduras no chão foram ficando maiores e maiores, até se encontrar com outra perto de onde os Killjoys estavam.

–Ah não... – murmurou Korse, antes de arregalar os olhos e tentar fugir. Poison rosnou e jogou a espada, que cortou as costas de Korse com precisão e o fez cair ao chão.

–POISON, VOLTA PRA CÁ! – gritou Kobra, desesperado. Poison sorriu, fraca, e balançou a cabeça negativamente – NÃO O QUÊ?! VOLTA PRA CÁ!

Poison simplesmente fez que não com a cabeça novamente e acenou, enquanto o chão descia. Kobra e Sunshine correram para a borda, somente para ver uma Poison Heart jogada de qualquer jeito no chão seco da Zona 5, coberta de sangue e claramente desacordada.