Crime, Traição E Sangue. escrita por crimescenelover


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bem, essa era uma história que deveria ser feita para a aula de Português, mencionando algum autor famoso e sua obra, que nesse caso foi um conto de Machado de Assis. No entanto, a história é mais centrada no universo da investigação criminal.



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Sara Sidle já estava acostuma a trabalhar em cenas de crime de diferentes tipos: incêndios criminosos, suicídios, homicídios, latrocínios, seqüestros e mais uma série de crimes inimagináveis aos leigos. Porém, dessa vez foi diferente. Nenhuma experiência anterior a tinha preparado para ver o que encontraria ao abrir a pesada porta de carvalho anteriormente trancada. A primeira coisa que viu foi sangue. Muito sangue. Provavelmente os cinco litros de sangue que os seres humanos têm no corpo; espalhado por todo o quarto.

– Greg? – Ela chamou seu colega de trabalho, tentando disfarças a voz trêmula.

– Então Sarinha, encontrou... – A voz do homem de cabelo arrepiado foi sumindo a medida que ele entrava no quarto. Sara não poderia culpá-lo caso ele vomitasse; pois sinceramente, ela sentia como se fosse fazer a mesma coisa.

Sara passou os olhos rapidamente pelo quarto, e nisso viu um envelope amarelo, que, assim como o resto, estava cheio de grandes gotas de sangue. Cautelosamente ela atravessou o quarto e alcançou o envelope. Abriu-o e viu o que havia escrito na carta dentro dele.

“Querida Susan

Eu sei de tudo. De tudo mesmo. Ou você acha que eu nunca notaria a maneira como olhava para Richard, meu melhor amigo?

Sei que você não aprova a tecnologia, mas tomei a liberdade de instalar uma câmera em nosso quarto. Ainda não consigo acreditar que você me traia com ele, muito menos que me traia na nossa própria casa, em nosso próprio quarto, na mesma cama em que toda noite você dizia me amar mais que tudo.

Você sabe como sou perfeccionista, e para provar isso quero que, assim que você terminar de ler essa carta, se vire para a porta. E a última coisa que verá, será eu avançando contra você, segurando nossa melhor faca de churrasco.

Com amor, Peter. “

No mesmo instante que terminara de ler a carta, Sara virou-se para a porta, esperando ver o assassino com uma faca, avançando contra ela. Mas tudo o que viu foi Greg parado olhando para um canto no teto no quarto. Ela acompanhou seu olhar e viu um objeto minúsculo.

– Aquilo é uma câmera. – Sussurrou Greg, como se a qualquer momento a mulher morta no meio da sala fosse levantar por causa do barulho.

– É sim. Nosso assassino deixou uma linda carta de amor para sua amada. – Sara entregou a carta para Greg, que rapidamente a leu. Assim como Sara havia feito ao terminar de ler a carta, Greg se virou para a porta, como se também esperasse o assassino vir e atacar-lhe.

– Sabe, isso aqui não acabou bem como naquele conto de Machado de Assis.

–Quem? – Sara ergueu as sobrancelhas em sinal de dúvida.

Machado de Assis. Em um conto dele, chamado de A carteira, ele fala de traição. Um homem encontra uma carteira e a devolve ao dono, que traia sua mulher com a mulher do cara que lhe devolveu a carteira. Se ele tivesse sido um pouco mais curioso e aberto a carteira, ele teria encontrado inúmeros bilhetes de amor que sua esposa e seu amigo trocavam. – Greg explicou em tom professoral.

– Que horror. Pelo menos isso acabou bem melhor do que o nosso caso. – Sara deu de ombros.

– Com certeza. A traição era, e ainda é um enorme problema social. Juro que o laboratório de criminalística nunca esteve tão atarefado como agora com casos de maridos traídos que se rebelaram contra suas mulheres, e vice versa. – Greg continuava examinado a carta atentamente. Se tivesse sorte talvez encontrassem alguma digital aproveitável.

Sara olhou outra vez para o corpo mutilado daquilo que outrora poderia ter sido uma mulher muito bonita. Agora, seu corpo estava deitado no chão, e sua cabeça estava quase separada do resto do corpo por um corte enorme no pescoço. Com uma pontada de medo, Sara retirou cuidadosamente um fio de cabelo para a análise de DNA. Pegou uma amostra do sangue também, e guardou tudo na maleta, junto com a carta que o provável assassino teria escrito. Greg ligou para o laboratório explicando sobre a câmera de vídeo no quarto. Logo o quarto estaria abarrotado de técnico audiovisuais, procurando alguma coisa útil da câmera.

Sara e Greg voltaram ao laboratório e se concentraram exclusivamente no caso que tinham em mãos. Sara procurou digitais na carta, enquanto Greg fazia as análises de DNA e toxicologia do sangue. Sara havia encontrado duas digitais bem definidas no papel. Passou as para o computador e começou a comparação. Uma digital era da vítima, Susan Walsh. Até aí, nada de estranho. O que surpreendeu Sara foi a outra digital que encontrou. Era de Richard Simms, o melhor amigo de Peter. Aquilo sim era estranho. Ela desceu a página á procura da ficha criminal, e Richard havia sido preso algumas vezes por falsificação de documentos.

– Estranho. – Ela murmurou.

– O que houve? – Greg apareceu ao seu lado, e logo seus olhos encontraram o porque de Sara estar surpresa. – A digital na carta é de Richard?

– Sim. Eu esperava encontrar a digital de Peter. Olhe, Richard foi fichado por falsificação de documentos. Será que ele tem alguma coisa a ver com o assassinato?

– Eu sei que não devemos tomar decisões precipitadas, mas eu acho que foi Richard quem escreveu a carta. Você não encontrou nem uma digital parcial de Peter?

– Nada. – Sara foi categórica.

– Olha, vamos fazer o seguinte. Interrogamos o Richard e fingimos que precisamos da ajuda dele no caso, e aos poucos vamos confundindo ele, até que confesse o crime. Eu só não entendo o porque dele matar a amante. – Greg suspirou. – E ainda com tanta brutalidade.

– Talvez ela soubesse de um podre dele e estivesse usando isso para chantageá-lo. Não seria a primeira vez que algo assim acontece. Uma hora ou outra a pessoa cansa de viver dependendo de alguém que sabe tudo sobre você. – Disse Sara se levantando.

Ambos contaram o plano para o supervisor, Gil Grissom, que os autorizou a prosseguir . Conforme haviam previsto, Richard mostrou-se bastante cooperativo, até demais. Respondeu a todas as pergunta, mas evitava entrar em detalhes e sempre fugia do assunto quando perguntavam a respeito de como era o relacionamento dele com o casal. A análise da câmera de vídeo não havia ajudado muito, era apenas uma câmera de transmissão imediata, que não gravava nada. Mas haviam encontrado digitais de Richard, que apenas o deixava ainda mais encrencado.

– Temos o peixe na nossa rede. – Greg comentou certo dia.

– E um peixe muito encrencado. – Sara completou. – O resultado da autópsia chegou á pouco, e tenho más e péssimas noticias para Richard.

– Por exemplo, qual seria a má? – Greg tentou pegar o relatório que Sara segurava, mas ela o empurrou. Com um sorriso sarcástico, ele tentou outra vez, passando uma mão pela cintura de Sara e segurando seus braços, conseguindo pegar os papéis facilmente.

– Assim não vale, seu trapaceiro. – Mesmo assim, ela sorria. Antes que ele pudesse descobrir por conta própria o que havia no resultado da autópsia, Sara explicou.

– A má notícia é que encontramos DNA de Richard na cavidade vaginal de Susan. Então, eles realmente tinham um caso. A péssima notícia é que ela estava grávida. – Assim que Sara falou isso, Greg ergueu o olhar dos papéis e olhou curioso para Sara.

– Sério? Grávida de Richard?

– Isso mesmo. Comparamos o DNA do feto de dois meses com o DNA que Richard tão prontamente nos doou.

– Ele se ferrou mesmo. Antão além de pegar pena por homicídio, ele vai ganhar uma pena bônus por matar algum membro da família.

– Isso vale se o parente, ou no caso, o filho, for apenas um feto? – Sara olhou intrigada para Greg.

– Sim. Muitos americanos já se deram tremendamente mal por assassinar mulheres grávidas. Fetos também valem como vidas, embora que, se eu fosse o juiz, não saberia o que dizer sobre isso.

– Nem eu. Falando nisso, ontem eu interroguei o marido da vítima. Perguntei a ele sobre a fidelidade da sua esposa, e ele disse que ela jamais o trairia. E aquelas coisas que sempre ouvimos dos amigos ou parentes da vítima, ‘ela era uma pessoa muito doce’, ‘não tinha inimigos’, ‘ninguém jamais faria mal a ela’ e assim por diante. Ele também nunca viu a carta que encontramos na cena do crime. Fiz uma comparação de caligrafia da carta com a escrita de Peter e outra com a de Richard. – Sara explicou.

– E bateu com a caligrafia de Richard. Portanto, Peter é inocente. – Greg finalizou.

– Isso mesmo. Estou indo interrogar Richard, quer me acompanhar? – Sara convidou, sabendo que Greg nunca recusaria um convite desses.

– Não perderia isso por nada. – Greg falou, seguindo Sara até uma sala pequena, onde os únicos móveis eram uma mesa espelhada e quatro cadeiras.

– Olá senhor Simms, agradeço por ter vindo ao interrogatório. Essa conversa será gravada. – Sara sentou-se em frente á um homem com cabelos muito loiros, com a pele vermelha como se tivesse passado muito tempo no sol.

– Sem problemas. Quero ajudar a prender quem fez isso com Susan. – Ele respondeu.

– Bem ontem foi feita a autópsia da senhora Walsh e encontramos o seu DNA no corpo dela. Sabe o que isso significa, não é? – Sara perguntou delicadamente. Ela não conseguia ser tão direta quanto Brass.

O vermelho no rosto de Richard se intensificou e ele começou a traçar círculos na mesa com a ponta dos dedos indicadores. – Sim. – Ele falou com a voz tão baixa que Sara teve que se inclinar para frente para conseguir ouvi-lo.

– Então você confirma que tinha um relacionamento com a senhora Walsh?

– Sim. Mas não a matei. – Ele acrescentou rapidamente.

– Certo. Encontramos uma carta na cena do crime que estava assinada com o nome de Peter. – Sara continuou.

– Então ele é o assassino. – Richard falou aliviado.

– Mas a caligrafia da carta é sua. Nosso técnico em documentoscopia pode confirmar isso. E sua ficha diz que você já foi preso por falsificação de documentos. – Sara retrucou com a voz gélida. – É a sua ficha criminal contra você, senhor Simms.

– E-eu... Bem... – Richard omeçou a gaguejar olhando para a porta no canto da sala.

– Nem pense nisso, senhor Simms. Temos dois guardas grandes e muito mal-humorados cuidando dessa porta pela qual você pretende sair correndo. – Sara cortou qualquer pensamento de fuga que o homem pudesse estar tendo.

– Senhor Simms, sabia que a pena para quem mata um membro da família é mais longo do que a pena por homicídio de alguém sem um grau de parentesco? – Greg entrou na conversa.

– Mas Susan não era a minha parente! – Richard bradou com indignação.

– Ela não era sua parente, mas o feto de dois meses que carregava no útero tem o seu DNA. Você matou seu próprio filho. – Greg terminou olhando diretamente para Richard, que começava a chorar.

– Foi isso, não foi? – Sara pressionou Richard, que estava soluçando de tanto chorar. – Eu amava Susan. – Richard recomeçou a falar, depois que havia parado de chorar. – Eu e ela estávamos tendo um relacionamento escondido há dois anos. Então, mês passado, durante um de nossos encontros, ela me contou de estava grávida de mim. E-eu sou casado e não iria me separar da minha mulher por causa de um acidente. Falei para ela fingir que o filho era de Peter, mas ela disse que nunca daria certo pois fazia muito tempo que não iam para a cama. Falei para ela abortar, mas ela insistiu em ter aquele filho. Então perdi a paciência e disse que ela teria que criar aquele filho sozinha. Ela imediatamente retrucou dizendo que falaria tudo para a minha mulher, e se ela não acreditasse, faria um exame de DNA de uma maneira ou outra. Foi aí que eu percebi que estava encrencado. Minha mulher me sustenta e, se me separasse dela, iria acabar virando um mendigo.

– E é tão difícil assim arrumar um novo emprego? – Sara perguntou desdenhosa.

– Você não entende! – Richard estava exasperado. – Peter controla a maioria das empresas daqui. Se ele quisesse,poderia dar um jeito de eu não conseguir um emprego em lugar nenhum. Então, me dei conta do que fazer. Instalei uma câmera no quarto deles. Esse foi o primeiro passo. Então escrevi aquela carta e coloquei no quarto, onde Susan a encontraria. Conheço a rotina dela, de modo que sabia exatamente quando entrar na casa e matá-la.

– E como você entrou na casa? – Greg perguntou olhando torto para Richard.

– Eu era praticamente da família, o porteiro me deixava passar direto. Então, eu entrei e coloquei a carta lá no quarto e esperei no escuro até que Susan voltasse. Ela é tão previsível... Enfim, ela terminou de ler a carta e virou-se para a porta então eu a matei. Minha experiência como falsificador me ajudou muito. Vocês iriam encontrar a carta e poriam a culpa em Peter. Não sei onde eu errei.

– Você errou quando matou uma pessoa, Richard. – Sara disse friamente. – Nessas circunstâncias, a pena mínima que você vai pegar é a prisão perpétua.

– E-eu sinto muito. – Richard falou recomeçando a chorar.

– Não. – Falou Sara. – Nós é que sentimos.


Fim


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Críticas, sugestões, elogios, aceito de tudo, não sejam tímidos. ;)