Amanda’s P.O.V.

 Sim, eu sabia que iria apanhar quando chegasse em casa hoje. Isso era muito injusto! Se iríamos matá-los, queria pelo menos aproveitar um pouco dessa alegria que eles transmitiam, seria uma pena acabar com eles.

 - Então... – Ray suspirou, abrindo um refrigerante. – Quantos anos você tem?

 - Vinte – sorri.

 - Não apaixone-se por ela, Ray! – Mikey brincou.

 - Cale a boca, Mikey! – Ray rosnou, corando. – Se não eu como as suas esfirras...

 - Não ouse tocar nelas! – Mikey fingiu indignação, levando duas esfirras com ele para o outro lado da sala.

 - Não ligue para ele – Ray tentou rir, mas estava muito nervoso para isso.

 - Tudo bem – ri também.

 Olhei em volta, era tudo muito grande e evoluído, cheio de equipamentos. Logo pensei em Brad, que se sentiria no céu se estivesse ali, cercado por tanta tecnologia.

 Logo pousei meus olhos sobre a figura masculina e pensativa sentada em um sofá no canto mais afastado da sala. Era Gerard Way, o vocalista. Ele tinha os cotovelos apoiados sobre as pernas e o rosto enterrado entre as mãos, parecia cansado.

 - Ele está assim há algum tempo – Ray disse-me, provavelmente percebendo que eu estranhara a aparência de Gerard.

 - O que ele tem? – perguntei.

 - Não sabemos muito bem... – ele suspirou pesadamente. – Sempre que perguntamos, ele responde que está cansado... Na verdade suspeitamos que isso tenha a ver com o que aconteceu com nosso último baterista.

 - E o que aconteceu com ele? – arqueei uma sobrancelha.

 - Ele nos enganou... Na verdade foi pego roubando, e Gerard confiava muito nele – Ray respondeu. – Gerard sempre foi o mais “paternal” – ele fez as aspas no ar – e sempre confiava muito rápido nas pessoas... E acabou se decepcionando muito desta vez.

 Nesse momento Gerard levantou a cabeça, olhando em volta rapidamente e suspirando.

 - Logo ele ficará melhor – Ray encerrou rapidamente.

 Gerard levantou-se e caminhou até a mesa onde estavam os refrigerantes pegando um para ele.

 - Vou dar uma volta – ele disse apenas, caminhando até a saída da sala.

 Fiquei encarando suas costas enquanto ele se afastava indo até a porta, tinha algo nele que parecia-me familiar... como se lembrasse-me alguém, mas eu não conseguia lembrar quem.

***

Luana’s P.O.V.

 Bloqueei as chamadas de rádio, sabia que Aline iria querer explicações urgentes sobre o que eu e Amanda fizéramos.

 Fiquei ouvindo um pouco de música enquanto encarava o dia lá fora, que agora parecia estar ficando nublado. De repente eu reconheci a melodia da música que começara...

 - Ah, mas que droga! – rosnei.

 Grande ironia da vida. A música que tocava era “I Don’t Love You”, justamente da My Chemical Romance.

 Sim, eu já ouvira algumas músicas deles, afinal, eles eram uma banda muito conhecida em todos os lugares, principalmente em Nova York.

 Abaixei o volume da música, era bonita, mas eu não queria ouvir a voz daquele mal-educado desgraçado.

 Voltei há encarar o dia, a cada instante o céu estava ficando mais escuro... e eu gostava disso, passava-me tranquilidade.

 Nesse momento vi uma figura masculina sair do estúdio... torci para não ser o “meu trabalho”, não estava afim de seguir ninguém agora. Tarde de mais, era Gerard quem caminhava lentamente e aparentemente cansado pela calçada.

 - Droga – suspirei.

 Torci também para que ele fosse de carro, já que assim seria muito mais fácil segui-lo, mas parecia que ele era totalmente do contra, já que passou direto por seu Audi – cópia do meu, maldito!

 Bufei ao ver que teria de segui-lo a pé. Liguei meu rádio novamente.

 - Alguém quer segui-lo por mim? Por favor? – implorei.

 - Vai caminhar... Exercícios fazem muito bem – Ana brincou.

 - Aline? – torcia para que ela fizesse esse favor para mim.

 - Acho melhor se apressar, ele anda rápido – Aline disse apenas, desligando a comunicação entre nós.

 Debati-me dentro do carro de tanta raiva que estava, soquei o volante, acabei buzinando algumas vezes por acidente, mas dane-se.

 Peguei meu celular dentro de minha bolsa e coloquei no bolso de minha jaqueta, desliguei a música e abri a porta do carro, saindo para o frio novamente. Tranquei o carro e liguei o alarme, comecei a caminhar.

*

Ele não cansa de andar?, pensei. Estava o seguindo há quase uma hora, e ele andava rápido!

 Estávamos próximos ao Central Park, eu mantinha uma distância de quase cem metros dele, precisava apenas não perdê-lo de vista.

 Enfim Gerard parou, sentando sob uma árvore quase sem folhas. Sentei-me em baixo de outra, há uns cinquenta metros de distância, onde podia observá-lo.

 Ele parecia realmente muito cansado, peguei-me pensando o que teria acontecido para deixá-lo assim, triste e depressivo.

 Uma namorada? Uma traição? Uma doença? Uma briga? Enfim... eram muitas suspeitas, e fazia parte de meu trabalho saber mais sobre a vida de minha vítima, não era?

 Peguei meu celular e disquei o número de Brad, ele atendeu rapidamente.

 - Quero que você faça uma pesquisa para mim – falei rapidamente.

 - Sobre o que? – ele perguntou.

 - Gerard Arthur Way – respondi. – Quero saber tudo sobre a vida dele, principalmente se houve alguma briga ou se ele teve algum problema recente.

 - Por quê? – ele ficou curioso.

 - Por que eu quero – respondi simplesmente, desligando.

 Coloquei meu celular novamente no bolso de minha jaqueta e voltei meus olhos novamente a Gerard. Meu coração parou e eu arfei ao ver que ele estava olhando diretamente para mim.

 Encarei-o perplexa por alguns instantes até meu cérebro voltar a funcionar. Por que ele me olhava daquele jeito? Como se estivesse lendo cada traço de minha fisionomia? Era meu trabalho fazer isso!

 Estava sentindo-me incomodada, acabei desistindo de sustentar o olhar a abaixando a cabeça. Raciocinei rapidamente e decidi que era melhor ir embora, meu trabalho acabara por hoje. Levantei rapidamente, limpando minha roupa de vestígios de grama que pudessem ter restado. Dei uma última olhada para Gerard, agora ele encarava o chão, perdido em pensamentos novamente.

 Dei de ombros e comecei a andar, preparando-me para uma longa caminhada até o estúdio novamente.

***

Gerard’s P.O.V.

 Assim que cheguei ao Central Park joguei-me sob uma árvore para pensar. Não sabia ao certo quais eram meus pensamentos nesse momento, eram tantos que eu nem conseguia distinguir.

 Estranhamente eu me sentia observado, como se alguém estivesse vigiando-me a todo o momento. Sim, era loucura, mas era o que eu estava sentindo.

 Respirei fundo e voltei meu olhar para o céu nublado, provavelmente choveria em poucos instantes.

 Olhei em volta e surpreendi-me ao ver que prendi minha visão em uma garota há alguns metros de distância de mim, ela tinha cabelos castanhos e pele exageradamente pálida, falava ao telefone. Parecia-me familiar.

 Assim que ela desligou o telefone, instantaneamente olhou para mim. No exato momento em que nossos olhos se cruzaram eu pude lembrar de onde a conhecia.

 Ela era Luana, se não me engano. Estava hoje mais cedo em nosso estúdio com sua amiga espevitada, Amanda. Ela pareceu-me um tanto incomodada em estar lá, não entendi muito bem, mas também não importava-me.

 Ela dissera que iria ao mercado, mas estava sem nenhuma sacola ali. Claro que eu soubera desde o início que era apenas uma desculpa para escapar do estúdio.

 Estranhamente, eu sentia como se já a conhecesse há séculos, mas ao mesmo tempo tinha a certeza de que nunca a vira antes. Isso causava-me uma extrema curiosidade sobre aquela presença feminina que se encontrava há poucos metros de mim.

 Pensei então em ir falar com ela, mas percebi então que ela estava preparando-se para ir embora. Dei de ombros e abaixei a cabeça, voltando a meus pensamentos turbulentos, que agora, estranhamente, também envolviam ela.