Quando cheguei ao dormitório dos monitores-chefes que estava devidamente decorado em tons de vermelho grifinória e verde sonserina, disse a senha para o quadro na porta e entrei em seguida. Trazia nas mãos uma luxuosa bandeja de prata com comida suficinte para três pessoas. Se eu estava esperando por alguém para juntar-se a mim e Hermione? Não, o fato era que eu estava com tanta fome, que poderia comer um dos javalis que guardavam a entrada da escola.

A Sala Comunal era um cômodo de proporções enormes, chegava a ser maior que a sala da Sonserina, que, devo dizer, era exorbitantemente grande. Haviam confortáveis móveis em tom de tabaco com branco. A lareira que crepitava em uma das paredes, era enome. Todo o aposento estava envolvido no calor proporcionado pelo fogo. A um canto, pude ver um piano de cauda, branco, esplêndido.  

Eu tive aulas de piano desde pequeno, e, sem que o meu pai soubesse tinha aprendido a tocar a maioria das músicas clássicas dos trouxas. Em meu repertório, poucas músicas eram de origem bruxa. Aquele instrumento, assim como o por-do-sol, me deixava em um estado de espírito calmo e sereno.

Olhei em volta á procura de Mione, e, como ela provavelmente estava em seu novo quarto, tomando um banho quente, eu deixei a bandeja em cima de uma mesinha de centro que localizava-se de frente para um amplo sofá que ficava próximo a lareira.

Hermione povavelmente demoraria, então decidi subir para o meu próprio quarto para tomar banho e quando descesse, ela e eu lancharíamos juntos (eu, é claro, aproveitaria o momento para saber mais sobre ela).

No topo das escadas, havia um pequeno corredor com dois quartos, um em cada extremidade. O meu, obviamente era o da esquerda, com o brasão da Sonserina. Abri a porta e fiquei surpreso que o quarto fosse tão confortável quanto o que eu costumava ter na mansão dos meus pais. Na parede do fundo, portas duplas abriam para uma pequena varanda com sacada, a vista dava para a floresta. No centro de uma da paredes, havia uma cama de casal do tamanho king size com um edredon em um tom verde escuro. A decoração do quarto era básica, com uma poltrona em um canto, um grande espelho em outro, uma mesa de estudos próxima á varanda, e um armário, todos em tons variados de branco e tabaco. Minhas malas estavam ao lado da cama, portanto sentei na mesma para começar a desfazê-las. Só depois de me colocar em uma posição confortável, foi que eu notei o bilhete sobre a cama.

" Sr. Malfoy,

espero que aprecie suas novas acomodações, caso algo na decoração de seu aposento não seja de seu agrado, tem a minha autorização para mudar o que desejar. Espero o senhor e a senhorita Granger em meu escritório amanhã pela manhã, antes do início das aulas para que eu possa dar-lhes algumas instruções.

Atenciosamente,

Minerva McGonagall, Diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts"

Deixei o bilhete de lado e voltei ás minhas malas, com um feitiço simples e prático, todas as roupas estavam em seus devidos lugares, dentro do enorme armário que ocupava uma parede inteira do meu quarto. Fui em direção á porta que provavelmente era o banheiro. Diferente do restante das acomodações, o banheiro, não tinha nada em tons de branco, tudo estava em um tom muito elegante de preto. Girei uma das torneiras e coloquei a grande banheira para se encher. Enquanto isso, voltei ao quarto para separar uma roupa para vestir. Quando a banheira estava cheia, despi-me e entrei, a água quente tirando o cansaço que havia se acumulado em meus músculos. O sabão tinha um agradável cheiro de lavanda, fechei meus olhos e recostei a cabeça na borda da banheira. Fiquei ali, de molho por alguns minutos, pensando em Hermione.

Ela parecia tão mais misteriosa, tão cheia de segredos, e ao mesmo tempo, tão transparente. Acho que o tempo que ela passou viajando com Harry á procura das Horcruxes, foi um dos fatores que influenciou nessa sua mudança.

Eu não gostava de pensar muito nos meses que ela passou sozinha com Harry.

Será que havia acontecido algo entre os dois?

Será que ela alimentava algum tipo de sentimento por ele?

E ainda existia Ronald Weasley.

Será que ela ainda gostava dele? Ou teria esquecido o garoto completamente?

Meu coração deu uma acelerada brusca com a possibilidade dessa segunda hipótese.

Apenas o fato de pensar sobre ela causava reações nunca antes vistas em meu corpo. Eu não conseguia ser tão espontâneo quanto de costume quando estava perto dela, na grande maioria do tempo, não conseguia falar o que tinha a intenção, acho que eu parecia um grande panaca para ela.

Por falar em panaca, a cara que Rony Weasley fez ao perceber que Hermione preferia ficar no trem comigo (não que tenha sido por minha causa que ela ficou, mas acredito que foi o que ele pensou) do que ir para a escola com ele e os amigos, foi impagável! Ele parecia ter acabado de ver a avó com roupas curtas e coloridas demais para a idade dela, girando de um lado para outro, rodopiando em uma pista de dança.

Agora que paro para pensar, a decisão de Hermione em ter ficado no trem comigo, já foi uma pequena vitória, seguida pela divertida conversa que tivemos no caminho até aqui, e para fechar o meu dia com chave de ouro, teve aquele abraço. Naqueles poucos segundos, eu podia jurar que sentia o coração dela batendo tão rápido quanto o meu.

Depois que saí do banho, enrolei uma toalha em minha cintura e fui para o quarto vestir minhas roupas. Quando deixei o quarto, vestia uma camiseta num laranja desbotado, uma bermuda em tom pastel e chinelos de dedo. Hesitei quando cheguei ao topo da escada. Descia ou, ia até o quarto dela chamá-la?

Optei por ir para a sala, afinal, ela provavelmente já estaria lá embaixo.

Antes de chegar ao final da escada, eu a vi. Ela estava sentada no sofá, de frente para o nosso lanche, lendo um livro trouxa, assim como a banda na camiseta que ela vestia até agora a pouco. Ela agora estava em um lindo pijama (na verdade era apenas um blusão de dormir e shorts, mas tudo ficava bonito nela). Seus cabelos, agora molhados, pingavam nas costas de sua blusa. Hermione parecia tão concentrada em seu livro (a pequena ruga que se formava entre suas sobrancelhas quando ela estava concentrada era adorável), que não me viu chegar, então pigarreei chamando sua atenção para mim.

– Ah, oi Draco - disse colocando o livro fechado sobre a mesinha de centro

Eu não podia acreditar, era Orgulho e Preconceito!

Um dos meus livros preferidos. Na verdade, eu sempre gostei do livro porque seu nome era um retrato dos meus dias antigos. Tudo se resumia a orgulho e preconceito para mim. Eu mudei, mas o gosto pelo livro continuou o mesmo, apenas mudaram as minhas razões para eu gostar dele, eu não podia deixar de comparar Hermione com a bela Elizabeth Bennet, apesar de seu gosto por leitura me fazer lembrar de Mary Bennet. Um fato que muito me entristeceu, é que provavelmente, Hermione me via como Elizabeth via Darcy em um primeiro momento, um homem orgulhoso e arrogante. Prometi a mim mesmo, que, se fosse esse o caso, eu a faria mudar sua opinião a meu respeito, assim como o protagonista do romance inglês fez com sua amada.

– Você está melhor? - perguntei saindo de meu devaneio

– Sim, muito melhor na verdade - disse com um sorriso

– Bem, vamos comer então? Eu estou com uma fome enorme

– Sim, vamos comer, eu também estou faminta!

Nós nos servimos de sanduíches e suco enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias. Quando dei por mim, já era quase meia noite.

– Acho que devemos ir para as nossas camas, ou não acordaremos a tempo de nossa reunião com a diretora - disse Hermione reprimindo um bocejo.

–Boa noite Hermione, sonhe com os anjos! - disse quando chegamos ao corredor

– Boa noite Draco - despediu-se entrando no quarto e fechando a porta com o brasão da Grifinória atrás de si.

Eu havia comido tanto, que logo que me deitei em minha confortável cama, caí em um sono pesado e sem sonhos.

Parecia que eu havia dormido por apenas alguns minutos quando acordei com batidas insistentes na porta. Levantei-me a contragosto e fui atender. Hermione já estava em seu uniforme, o distintivo de monitora chefe brilhando em seu peito.

Quando me viu, ela bufou como um gato nervoso por ter perdido seu lanche matinal.

– Céus, você ainda não está pronto? Nós vamos nos atrasar

– Bom dia para você também! - disse rindo de sua expressão - Não fique nervosa, só vou tomar um banho e desço em alguns minutos.

Dito e feito, 10 minutos depois, eu descia as escadas, perfeitamente arrumado, cabelos minuciosamente penteados, uniforme perfeito e exalando meu perfume. Ela me esperava ao pé da escada, o pé esquerdo batendo no chão em sinal de impaciência, o lindo rosto contorcido em fúria.

– Vejo que os senhores me deram a honra de sua presença esta manhã - disse McGonagall assim que adentramos em seu escritório.

– Desculpe-nos o atraso de ontem diretora, acabamos perdendo as carruagens na estação de Hogsmead - disse Hermione

– Bem, vamos ao que interessa - disse indicando duas poltronas á sua frente.

Hermione e eu nos sentamos

– Primeiramente, espero não ter nenhum problema, nenhuma briga entre vocês dois, não seria um comportamento adequado se os monitores-chefes fossem pegos aos tapas um com o outro não é mesmo?

– Eu posso garantir que Hermione e eu superamos a nossa antiga rivalidade diretora McGonagall

Hermione nada disse, mas assentiu

– Assim espero, senhor Malfoy, assim espero...

– Então, professora, o que mais a senhora gostaria de falar conosco? - perguntou Mione

– Suponho que não seja preciso explicar como funciona a monitoria em Hogwarts, visto que ambos já foram monitores. A única mudança, é que agora, os outros monitores também são de sua responsabilidade, fora isso são algumas outras tarefas simples que vocês têm de realizar. Estamos de acordo?

– Sim, senhora - dissemos em uníssono

– Qualquer outra coisa, mando chamarem os senhores - e dito isso, encerrou nossa reunião, despachando-nos para nossas aulas.

Hermione correu direto para sua aula de Runas Antigas, enquanto eu retornei para o dormitório, pois tinha o primeiro período livre.