La estava eu. Indo para mais um primeiro dia de aula. Na realidade, para meu 15º primeiro dia de aula. Começaria tudo de novo. Aqueles professores idiotas que quando percebem que você errou ficam te atormentando a aula toda. Aqueles alunos idiotas que riem de qualquer coisa que a professora fala e fazem de tudo para enrolar a aula. Aquelas pessoas falsas que falam com você não sei por que. Aqueles amores não correspondidos...

La estava eu, imaginando se este ano seria apenas mais um ano, entre tantos outros. La estava eu, saindo do carro, com os fones de ouvido fazendo o seu devido trabalho, escondidos debaixo do capuz daquele ridículo moletom que a escola nos obrigava a usar.

A cada passo que eu dava, eu chegava cada vez mais perto do lugar onde eu permaneceria mais tempo sentada, tentando não ter minha atenção desviada por uma mosca qualquer, o que me parecia muito mais importante do que aquela aula. Tentando não ser mandada para fora de propósito, tendo como culpado, o tédio.

Sentei-me no fundão d sala, como me era de costume, tombando a cabeça na parede atrás de mim. La eu poderia ter uma visão da sala inteira. As pessoas iam chegando, dando gritinhos falsos de alegria e abraçando uma as outras pelo reencontro, contando sobre suas férias, e se sentando, ocupando primeiro as cadeiras da frente.

Logo todos ocuparam seus lugares, havia uma única cadeira vazia. Do meu lado. Pensei se um emo chapado sentaria ali (n/a: nada contra emos chapados, blz ?), ou um nerd da vida, igualmente excluído.

A professora logo nos encheu de tarefa de casa e no tempo que ela deu para podermos conversar, fui adiantando algumas coisas. Senti alguém me observando e levantei a cabeça. Ele me olhava como se eu estivesse equilibrando uma melancia na cabeça escrito em neon: ‘OLHEM PARA MIM !’, o que por acaso eu não tinha.

Comecei a prestar atenção no garoto. Ele me olhava como sede algum modo soubesse o q se passava em minha mente, como se soubesse o q eu sentia.Como toda regra tem sua exceção, eu era loira. E pensava.

– Oi. – disse ele com um sorriso no rosto, esperando q eu fosse educada o suficiente para lhe devolver o sorriso. Voltei a prestar atenção na apostila, onde aqueles números me deixavam com raiva só por existirem. Não, Julie. Você não deixaria o pobre do garoto no vácuo. Deixaria? Sim, deixaria.

Voltei a encarar a apostila, esperando que o resultado da conta que eu nunca mais usaria na vida aparecesse lá num passe de mágica.

-Não sei se você sabe, mas a conta não vai se resolver sozinha- disse o garoto de novo, fazendo com que o olhasse novamente. – Qual é seu nome?

Julie, ele está tentando ser educado. Colabore com ele. Já deixou ele no vácuo uma vez, não o deixe de novo.

- Julie. – falei tentando não ser grossa, tentando até mesmo sorrir.

- Prazer, Adam.- ele fez uma cara de “olha, ela fala”, sorriu e falou seu nome.

Depois da nossa longa conversa – sim, pra mim era longa, já que não falo com praticamente ninguém daquela escola – observei a histeria das pessoas para sair da sala enquanto o sinal para o intervalo ainda tocava. A sala foi se esvaziando, a ponto de sobrar eu, a professora, Adam, e mais um grupinho de patricinhas que estavam se arrumando e retocando suas maquiagens antes de descer para o pátio da escola. Peguei meu celular, com meu fone de ouvido e sai da sala sem pressa, vendo uma apostila praticamente intacta em cima de cada mesa.

Caminhei ao som de Avenged Sevenfold até um pequeno pátio ao lado da cantina, e me sentei em uma das janelas gigantes, apropriadas para a construção antiga da escola... Depois de acomodada, fico observando a fila gigantesca da cantina, o grupinho das patricinhas chegando no final da fila e reclamando do tamanho dela, os populares zuando os nerds, os novatos, e lá no começo, ele, o Adam. Em poucos minutos ele sai da fila com uma latinha de coca-cola já aberta e com quatro canudos nela. Ele vai passando por entre as mesas, com cara de perdido, enquanto algumas menininhas o convidam para sentar na mesa delas e ele recusa. Eu sorrio com a situação e fecho meus olhos, me concentrando na musica, que passou de Avenged Sevenfold para Evanescence.

Ainda no primeiro minuto da musica, sinto alguém tirar um dos meus fones e abro os olhos irritada.