Caleidoscópio escrita por lljj


Capítulo 34
Laranja, verde e azul. A luneta volta a girar


Notas iniciais do capítulo

Oioi gente!! Como vão vocês?
Bem, bem como eu disse semana passada este capitulo seria maior e realmente é. Estou tentando voltar como era no inicio quando realmente punha pra fora toda a minha criatividade, acho que vai demorar um pouco para conseguir aquele resultado mais esse aqui é suportável até lá...
Queria agradecer ao pessoal que respondeu minha pergunta na semana passada e queria pedir para outros também expressarem sua opinião. Queria dizer que não se preocupem com o que vai acontecer, ideias boas não faltam para fazer outra fic continuando essa. Só quero saber se alguém se interessaria ou se seria enfadonha.
Não quero falar sobre o capitulo de hoje quero que vocês falem...
Boa Leitura!!



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As horas nunca pareceram demorar tanto para passar. Eram 20 para meio-dia e boa parte dos funcionários do prédio já estavam se preparando para o horário de almoço e até agora não haviam lhe incumbido nenhum tipo de serviço externo.

Não costumava ficar muito tempo lá dentro, apenas o suficiente para saber onde ir e em qual caso está. Hoje parecia que tudo estava voltado ao pequeno lugar onde passou parte de sua infância. Todos que estavam de plantão foram enviados para lá, mas como não estava presente para apresentar sua disponibilidade acabou sendo deixada para trás.

Nesse momento estava arrumando alguns papeis de Liandra que já havia subido para pegar a bolsa. Liandra era uma mulher muito esquecida, mas nunca foi desorganizada. Seus papeis estavam arrumados em ordem alfabética, data, número e servidor que o notificou.

Dava até uma espécie de nervoso de mexer, tudo parecia que ia se bagunçar ao simples toque.

Liandra tinha pedido que procurasse uma pasta onde estavam nomes de abrigos com vagas para menores de idade com algum tipo de problema como: dependência química, deficiência, doenças sexuais... Ela esperava que tudo pudesse surgir daquele lugar.

  — Matsumoto? — Ela abriu a porta devagar. — Não vai ir comigo?

  — Não Liandra, estou sem fome. Vou ficar aqui e ver se encontro algo para fazer...

  — Minha querida eu juro que esqueci de avisar que você podia ir... Me desculpe.

  — Não tudo bem. Bom que posso sair mais cedo e ficar mais tempo com minha filha. — Ela deu um leve sorriso tentando disfarçar o desconforto.

  — Ok. Quer que eu traga algo pra você?

  — Uma vitamina de morando e um salgado.

  — Qual?

  — Qualquer um.

  — Pastel de carne?

  — Pode ser... Talvez de queijo.

  — Ótimo. Volto em meia hora, se alguém ligar diga que está no horário de almoço e que é pra ligar depois.

  — Tudo bem. Até mais.

Liandra saiu e fechou a porta. Rangiku ouviu o barulho de seu salto ir diminuindo até que sessou. Voltou sua atenção para a gaveta onde mexia com os papeis. Lá encontrou duas pastas amarelas e uma preta, todas entupidas de papeis (sempre organizados).

  — Meu Deus. Qual dessas será? — Ela olhou para as pastas. Queria arrumar alguma coisa para fazer, mas revirar pastas embaralhadas de coisas que ainda não entendia era mais como uma tortura para seu cérebro.

Separou as duas pastas e pôs em cima da mesa da secretária e correu até a porta.

   Talvez ela ainda esteja no prédio.

Ela olhou para trás ao abrir a porta só para conferir as cores das pastas e um forte tom de azul inundou seus olhos ao virar para frente.

Bateu bruscamente em um corpo alto e rígido que rapidamente a amparou quando ela começou a cair para trás.

  — Ei, ei... Toma cuidado. — A voz macia disse.

  — Toma cuidado você. — Ela falou se ajeitando. — Por que não bateu antes de entrar?

  — Eu ia bater, mas você se jogou em cima de mim antes que tivesse tempo. — O homem alto falou entrando pela porta. — Cadê a Liandra?

  — Foi almoçar e eu não me joguei! — Ela riu.

Daniel era um homem alto moreno e com um forte senso de humor.

  — Já foi almoçar? Mas ainda nem é meio dia. — Ele olhou para o relógio.

  — Fazer o quê... — Ela balançou os ombros.

Havia conhecido Daniel quando entrou no Projeto e descobriu nele uma fonte interminável de conversa e piadas. Mas quando estava no trabalho sua personalidade mudava para uma seria e que gostava de fazer as coisas certas.

  — É bom que o diretor não saiba disso. Ela pode tomar uma bela bronca... — Ele passou a mão nos cabelos castanhos encaracolados.

  — Ela já está aqui nisso há muito tempo. Sabe o que faz... — Ela falou tentando o acalmar.

  — Mesmo assim. Temos um grande caso nas mãos e ela não pode simplesmente se ausentar.

  — Diga o que quer e eu vejo se posso ajudar. — Ela se aproximou dele.

  — Precisava que Liandra me desse os documentos de liberação de custodia que o pessoal esqueceu hoje de manhã. Não estamos precisando agora, mas fará falta mais tarde.

Daniel não era um simples assistente social. Ele era pedagogo formado, secretario do Centro Nacional de Recuperação e Readaptação, estudante de direito e auxiliar de administração do diretor do Projeto Wakasa. E tudo isso sem ainda ter completado seus 33 anos.

  — Desculpe realmente não posso ajudar. — Ela olhou para ele fixamente era um homem tão bonito. — Como a coisa está?

  — Um pouco desgastante. O lugar é um nojo e temos famílias com até 12 membros sendo apenas filhos.

  — Doze? — Ela repetiu surpresa.

   — É. Esse povo gosta de procriar... — Ele deu um leve sorriso. — Você por acaso tem o número da Liandra?

  — Tenho sim. — Ela andou até sua bolsa que estava no sofá da sala.

Pegou o celular e começou a procurar o numero de Liandra.

  — Rangiku... Por que não foi conosco? — Ele falou cruzando os braços.

  — Culpa da secretaria. — Ela revirou os olhos.

  — Claro! — Ele se aproximou dela. — Por que não vem agora? Eu posso te levar comigo.

Seus olhos brilharam.

  — Mas eu não fui escalada para ir. — Ela disse entregando a ele o celular.

  — Está fazendo algo de importante?

  — Não.

  — Está marcada para ir a algum lugar?

  — Não.

  — Então agora você já tem. Arrume suas coisas e pegue sua credencial. Vou ligar para Liandra e saímos em dez minutos.

Assim que ele terminou de falar o celular de Liandra começou a tocar debaixo de uma das almofadas do sofá. Rangiku o pegou e deu um grande sorriso.

  — Ok... Talvez em vinte. — Ele disse desligando a chamada.

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Depois de quase meia hora Liandra chegou e entregou os papeis para Daniel, que não poderia voltar sem eles.

Entraram no carro dele e discutiram sobre algumas das coisas que ele pensavam em fazer.

Daniel disse que todos os habitantes daquele local seriam removidos da melhor forma possível para abrigos e lugares onde possam ficar até o governo decidir que medidas devem ser tomadas. O problema era convencer todos que aquilo era o melhor para eles.

  — Acho que se eles se abrissem mais para o que temos a dizer não precisaríamos de ter levado a policia.

  — Enviaram equipes lá antes? — Ela perguntou arrumando o cabelo no boné que pegou emprestado com ele.

  — Sim. Três vezes. E todos foram enxotados sob xingamentos e ameaças dos moradores.

  — Entenda o lado deles. Não estão ali porque querem, a maioria simplesmente não tem escolha.

  — Mas nós estamos dando essa escolha. — Ele disse parando em um sinal.

  — Não é assim Daniel... Imagine que você não tenha nada a não ser um pequeno lugar onde você tenha ao menos um teto para seus filhos e comida para eles. Você realmente largaria esse pouco garantido para partir em busca de algo que você não sabe quando ou se vai ter?

Ele não respondeu apenas virou o rosto para a janela.

  — Bem... — Ela continuou. — Imagino que se estivesse no lugar deles também iria insistir para ficar.

  — É. — Foi o único som que ele emitiu.

Continuaram o resto do caminho em silêncio.

Rangiku assistiu a rua dar lugar a estradas de terra. Enfim estavam no meio do nada com completa vegetação em volta.

Daniel parou o carro no meio de um descampado onde outros carros e vans estavam estacionados. Ao descer do carro e olhar em volta teve a mesma sensação que sentiu quando a mias de dez anos os assistentes foram recolher as crianças.

Parte desse dia foi apagado de sua memoria. A única coisa que continuava forte era a lembrança de Gin a puxando entre as árvores para fugirem.

  — Rangiku o pessoal está mais a frente. Vamos. — Daniel a acordou de seu devaneio.

Seguiram levantando poeira com seu caminhar pela rua de terra pura. Pouco tempo depois chegaram a um pequeno córrego onde havia uma água escura que cheirava a esgoto.

  — Olhe. — Daniel disse apontando para os encanamentos das casas próximas ali. Todo o esgoto era descartado no pequeno rio.

  — O risco de contaminação é muito grande para essas crianças. — Ela falou olhando cerca de sete meninos que jogavam bola do outro lado do córrego.

  — Olha o que eles usam para poder atravessar. — Ele falou apontando para uma velha ponte.

Rangiku parou ao olha-la.

Daniel seguiu e foi direto falar com três homens que estavam do lado deles do rio.

Ela continuou parada olhando a velha ponta. Parecia que as tabuas nunca foram trocadas, estavam todas desmontando e boa parte já estava boiando junto com o lixo dentro do córrego. Uma menina então veio e passou correndo pela ponte fazendo ela ranger e balançar. O corpo de todos que assistiram aquilo estremeceu com o medo da menina cair junto com a ponte.

  — Ei linda tome cuidado quando for passar ai. — Disse um sanitarista que estava conversando com Daniel.

A menina deu um sorriso e continuou seu percurso alheia ao que acontecia.

  — Matsumoto. — Daniel a chamou.

Pela mudança do modo dele a chamar com certeza seu trabalho começaria agora.

Se aproximou dele e dos outros homens. Daniel fez uma rápida apresentação, ali estava um sanitarista e uma equipe que foi colher materiais do córrego e descobrir onde ele desagua, o outro era delegado estava bem fardado e segurava em sua mão um pequeno bolo de folhas (mandados de prisão), o terceiro homem era o dono do terreno invadido, estava de terno e tinha uma aparência de superioridade. Assim que Rangiku o olhou sentiu por ele uma forte empatia.

  — Bem essa é Matsumoto e é uma assistente social muito bem integrada nesse tipo de situação. A encontrei no projeto e a trouxe para reforçar nossa equipe.

  — Ótimo, é um prazer senhorita Matsumoto e se você quiser pode encontrar os outros mais lá na frente. — O delegado falou com sua voz grossa.

Daniel fez sinal para ela ir e ela se afastou do pequeno grupo indo em direção à ponte velha.

Passou nela com grande cuidado e por um momento lembrou das tardes que ela e Gin passavam apenas olhando a água correr junto com os pequenos peixes que ali nadavam.

Ela começou a andar no meio da pequena rua que mais parecia um lixão. Cachorros latiam presos em suas correntes para outros que estavam soltos rasgando os lixos. Ainda um pouco de longe viu um pequeno grupo de pessoas todos estavam com a camisa cinza do projeto Wakasa.

Deu uma leve corridinha e se aproximou do grupo. Encontrou vários conhecidos e outros funcionários que também prestavam serviços a população, policiais estavam misturados a eles fazendo buscas a traficantes e armas. Paramédicos estavam vendo a carteira de vacinas das crianças e fazendo rápidos testes em bebês. Outros agentes estavam fazendo vistorias nos pequenos imóveis.

O que estava circulando era que o proprietário do terreno estava vendendo ele, mas não recebia nenhuma oferta por conta do lixo e das pessoas que aqui moravam. A desocupação era para ser feita em menos de um mês... A coisa estava ficando complicada.

Se juntou com uma paramédica e um sanitarista e entrou em um pequeno barraco feito de tabuas de diferentes cores. A casinha a fez lembrar de sua velha casa onde viveu sua tão desafortunada e feliz infância.

Ali moravam uma mulher com cerca de 20 a 30 anos que estava grávida junto com suas duas filhas pequenas. Estava ansiosa por conta da desocupação e no meio da conversa que estavam tendo a pobre mulher começou a chorar. Dizia que não tinha para onde ir e que não suportaria viver longe de seus filhos. Suas lágrimas mexeram fundo no interior dos três e tentaram mesmo que fosse impossível amenizar sua tristeza.

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  — É as coisas estão tranquilas não? — Ed o sanitarista falou para Kaya a paramédica.

  — Sim. As crianças daqui por incrível que pareça não tem problemas sérios. — Ela falou guardando seu estetoscópio. — A hora passou de pressa não?

  — Que horas são? — Rangiku disse acabando de se dar conta que o dia realmente já havia passado.

  — 4:07. — Ela falou olhando para seu relógio de pulso. — Agora vamos subir aquele pequeno morr...

  — Droga! — Ela falou se afastando deles e pegando o celular. — Droga, droga, droga.

O sinal da escola de Kisa batia às 4:45. Estava a mais de uma hora de distancia do centro da cidade. Nem se saísse correndo agora chegaria a tempo.

Discou o número rápido e desceu a rua que havia subido com os outros dois a procura de Daniel.

  — Atende, atende. — Todos os moradores haviam saído para ver o que estava acontecendo. Encontrar Daniel no meio daquela multidão estava sendo realmente difícil.

  — Alô.

  — Oi é a Stella?

  — Não é a filha dela. Quem é?

  — Oi Yachiru aqui é a Rangiku. Sua mãe está em casa?

  — Oi Ran-chan... Minha mãe tá na cozinha quer falar com ela?

  — Sim fofa eu adoraria.

Ela ouviu a garota sair e gritar a mãe. Avistou então de relance o boné vermelho de Daniel.

  — Daniel! — Ela acenou para ele.

  — Alô Rangiku?

  — Stella pelo amor de Deus você tem que me ajudar.

  — O que houve?

  — Eu estou no vale da cidade e a Kisa vai largar da escola em menos de meia hora. Pode por favor, pega-la pra mim?

  — Claro querida! Sabe que sempre pode contar comigo.

  — Obrigada eu vou tentar sair daqui agora e chego ai antes das seis... Não precisa dar nada para ela comer porque eu vou dar janta quando chegar.

  — Tudo bem. Não precisa se preocupar com a hora. Sabe que eu adoro a Kisa.

  — Muito obrigada Stella e até daqui a pouco.

  — Até!!

Um problema estava resolvido, mas agora ela tinha que sair daquele lugar.

Daniel estava na frente de uma das poucas casas dali que eram feitas de tijolo e cimento, carregava no colo uma menina que parecia ter menos de 6 anos e estava com um olhar assustado.

   — Daniel. — Ela tocou em seu ombro.

  — Espere um momento Rangiku. — Ele disse movendo a menina para o outro braço. — Encontraram o irmão mais novo? — Daniel gritou.

  — Sim. — Uma voz soou de dentro da casa.

  — Dan eu preciso ir embora. — Ela entrou em sua frente.

Ele deu um suspiro, o estresse já estava tomando conta de todos.

  — Você vai ter que esperar. — Ele falou firme ao se aproximar do portão da casa. — Cadê ele?

De dentro saiu uma das paramédicas com uma criança no colo.

  — Ai meus Deus! — Rangiku falou ao olhar para o menino.

O pequeno parecia ter uns 3 anos estava coberto de algum pigmento escuro que cobria parte de seu corpo. Com certeza estava abaixo do peso para sua idade, parecia muito magro.

  — Me de algo para ele beber. — A mulher que o segurava pediu.

  — Aqui está. — Rangiku entregou sua garrafa d’água.

Ela então virou a garrafa na boca do menino, que bebeu da água como se não houvesse bebido nada em dias.

  — Eu também quero. — A menina no colo de Daniel pediu.

  — Aqui está. — A mulher lhe estendeu a garrafa com um sorriso.

  — Vocês estão com fome? — Daniel perguntou carinhosamente.

A menina só fez sinal que sim enquanto bebia da água com igual ferocidade quanto o irmão.

  — Arrumem algo para comer, por favor. — Daniel gritou para alguns homens que já estavam arrumando suas bolsas. — Então... Algum sinal dos pais? — Ele perguntou a moça.

  — Os vizinhos disseram que o pai não vive com eles e que já faz três dias que a mãe não aparece aqui. — Ela disse acariciando o rosto do menino que parecia fraco demais para se mexer. — Os dois parecem estar desnutridos e esse pequeno está com sinais de desidratação. Devemos leva-lo ao hospital.

  — Ponha o na ambulância e veja o que pode fazer com ele agora. — Daniel falou.

  — Não temos o equipamento necessário Daniel. — Outro paramédico surgiu atrás deles. — Se for caso de desidratação só com soro e isso parece que não temos.

  — Uma ambulância sem soro!? Como isso? — Daniel falou revoltado.

  — Calma Daniel... — Rangiku entrou na conversa. — Vamos leva-los conosco. Com o depoimento dos vizinhos e nenhum responsável maior de idade para pegá-los nós temos o dever de leva-los. — Ela disse passando a mão nas costas da menina.

Daniel olhou para ela e pareceu pensar um pouco.

  — Tudo bem. Chamem algum dos policias e façam a denúncia de abandono de incapaz. — Ele falou para o paramédico que deu um sinal de cabeça e foi fazer o que lhe foi pedido. — Então linda vai querer dar uma passeada com a gente? — Ele perguntou sorrindo para a menina.

  — Sim... — Ela falou envolvendo seu pescoço com os pequenos braços. — Mas o Kaio vai com a gente né?

  — Claro que vai... Só que o Kaio está dodói e a Tia Wi vai ter que levar ele um pouquinho no medico para cuidarem dele. — Ele falou alisando os cabelos negros da menina.

  — Pode segura-lo para mim? — A paramédica perguntou para Rangiku. — Vou ver se arrumaram algo para eles comerem...

  — Faça isso. — Daniel falou fechando a cara. — Parece que se esqueceram da gente.

  — Passe ele para mim. — Rangiku pegou o pequeno no colo e se impressionou com a leveza de seu corpo.

Assim que ele estava em seu colo recostou a cabeça em seu peito e começou a observar o movimento dos outros inerte naquela posição. Era de cortar o coração.

  — Como alguém pode fazer isso Dan? — Ela falou olhando para o menino em seus braços.

  — Também não sei Ran... — Ele parou em sua frente. — O que queria falar comigo mesmo?

  — Eu preciso ir logo para casa... — Ela olhou para seus olhos âmbar. — Kisa já deve ter largado da escola.

  — Caraca é mesmo! — Ele olhou no seu relógio de pulso. — E agora?

  — Não se preocupe. Liguei para uma amiga e ela vai busca-la na creche, mas quero chegar logo em casa para pega-la.

  — Sim eu entendo. Algumas pessoas já estão indo, se você quiser pode entrar em uma das vans ou ir junto com um dos carros.

  — Sim... — Ela olhou para o menino novamente. — Mas gostaria de acompanhar esses dois.

  — Nós vamos ter que leva-los ao hospital para fazer alguns exames mais detalhados, ele vai tomar soro e a Katara vai comer yakisoba como eu prometi... — Ele deu um olhar brincalhão para a menina que sorriu. — Depois ainda teremos de ir na delegacia fazer o BO e arrumar um lugar para eles ficarem... Com certeza só acabaremos mesmo lá para umas oito horas, vai mesmo querer ir?

Ela deu um sorriso.

  — Espere só um minuto, vou fazer uma ligação.

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Já fazia mais de uma hora que ele estava na sacada de seu apartamento olhando para a cidade que começava a se iluminar. Sua mente mais parecia um turbilhão, tinha passado o dia inteiro assim. A imagem dela saindo sem ao menos o olhar de verdade se repetia varias e varias vezes em sua cabeça.

Foi tão diferente vê-la de perto depois de tanto tempo, isso sim era uma sensação que ele nunca imaginou sentir. Nunca imaginou um dia não reconhecer a mulher com quem passou parte de sua vida.

Ela agora estava muito longe da menina que deixou ha quatro anos. Havia cortado o cabelo até a altura dos ombros, tinha uma expressão mais madura, mais séria, mas sem perder a delicadeza que sempre teve. Também estava se vestindo diferente, não usava mais roupas coladas e super decotadas. Andava muito bem vestida, com roupas elegantes. Terninhos, vestidos, saltos-altos, roupas modernas, tudo com decotes do tamanho suficiente para que pudesse se mexer e respirar com tranquilidade. Tudo isso só a haviam deixado mais sexy e linda do que já era.

Claro que a mudança por fora só era um reflexo da mudança que houve por dentro e era exatamente essa que mais o preocupava.

Ela agora andava com cabeça erguida pelo meio de pessoas que antes só a traziam medo. Carregava um tom firme e controlado. Serenidade e paciência também eram coisas que entraram na personalidade da mulher que ele conheceu sendo super impulsiva.

Talvez fosse o trabalho que tivesse exigido tanto amadurecimento, claro. Também tinha a menina que agora era como uma filha, a falta de Keith também deve ter contribuído. Mas, mais do que tudo a necessidade de se ver livre de algo que a prendia foi o que lhe deu essa força pra enfrentar tudo de frente.

Ele não tinha problemas em admitir que a corrente sempre havia sido ele, mas o que fazer se ela conseguiu fugir?

Ele deu um suspiro.

Rangiku havia o surpreendido desde que voltou para a cidade. Tudo o que ela fez depois da morte de Keith, tudo o que ela estava fazendo pela Kisa, tudo o que ela fazia no trabalho. Na realidade ele estava até orgulhoso de ver o quão longe sua garota conseguiu chegar com suas próprias forças.

  — Você ira arder no fogo do inferno. — Uma voz esgrimida surgiu do nada o tirando de seus pensamentos.

  — O quê?! — Ele olhou em volta.

  — Me desculpe por isso. — Uma voz fina falou do lado de sua sacada.

Gin virou o corpo e no meio das varias plantas da sacada do vizinho conseguiu avistar duas crianças.

  — Ele é muito católico. — A menina de cabelos rosas falou sorrindo e apontando para um papagaio que estava pendurado em uma gaiola.

  — Leia a bíblia leia. — O papagaio repetiu antes de começar a assobiar.

Gin já o havia ouvido antes, mas não falando assim.

  — Mas que bicho estranho. — Ele falou rindo.

  — Você vai arder! — O papagaio repetiu e as duas meninas soltaram uma gargalhada gostosa de ouvir que fez Gin as encarar.

Ao reparar bem Gin achou a menorzinha muito familiar.

  — Sabia que ele consegue cantar o hino nacional americano todo? — A garota de cabelos rosa falou.

  — Acho que já o ouvir cantar essa... — Ele se apoiou no beiral que estava mais perto da sacada das meninas. — Mas por que o americano?

  — Por que minha mãe é americana... E ouve o hino às vezes. Não é Kisa?

  Kisa!

  — É mesmo. — A pequena loira falou sacudindo a cabeça. — O Mik-jay também sabe recitar vários versículos da bíblia.

  — Jura? — Ele levantou uma sobrancelha. — Esse papagaio é realmente inteligente... Ele faz alguma outra coisa?

  — Inferno! Vai ser castigado! — O papagaio gritou.

As meninas novamente começaram a rir e Gin olhou atentamente para a menina loira.

  — Ei moço Como você se chama? — A garota mais velha falou.

  — Gin, Ichimaru Gin.

  — Meu pai tinha uma raposa que parecia com você. — Ela falou rindo.

  — Yachiru! — Kisa gritou olhando para a menina. — Não fale isso.

  — Não se preocupe baixinha. — Gin interviu. — Eu gosto de raposas. Elas costumam comer a língua de crianças tagarelas. — Ele falou olhando fixamente para Yachiru que parou de rir no mesmo momento.

  — Meninas. — Uma mulher entrou na sacada das pequenas. — O que estão fazendo?

  — Estamos conversando com aquele moço. — Kisa falou apontando para Gin.

   — Olá! — Ele deu seu sorriso característico e um leve aceno com as mãos.

A mulher pareceu meio surpresa.

  — Me perdoe se elas estão te incomodando...

  — Claro que não. — Ele ergueu o corpo. — Na verdade até foi divertido conversar com duas crianças tão inteligentes.

  — Inferno, inferno! — Mik-jay falou.

  — Jay! — A mulher gritou. — Eu vou tirar esse bicho daqui. — Ela disse pegando sua gaiola.

  — Não mãe ela só tá brincando. — Yachiru falou.

  — Sua vó que lhe ensina essas coisas! Me perdoe senhor... — Ela pôs a gaiola na mesa do outro lado da sacada.

  — Tudo bem. É interessante a religião de seu papagaio. Quem o converteu?

  — Ah! Bem ele não é meu é da minha sogra. Ela é católica e ensina essas coisas para ele.

  — Detesto ela, detesto ela. — O papagaio novamente berrou.

  — Agora sim eu te jogo no lixo. — A mulher falou voltando a mesa e pegando a gaiola.

Saiu da sacada e desapareceu em sua casa.

 — Não mãe por favor... — Yachiru correu atrás da mãe.

Depois que as duas saíram Gin voltou suas atenções a Kisa que o olhava sem parar.

   — Bem, você também gosta do papagaio?

  — Não, ele é barulhento. — Ela falou passando a mão nos ouvidos.

  — E de que animal você gosta?

  — Eu gosto de gatos. Eu tenho um.

  — Serio? Qual é o nome dele?

  — É Haineko. Ela é uma gata preguiçosa e muito comilona, a barriga dela é desse tamanho. — Kisa abriu os braços em um tamanho que seria desproporcional até para seu próprio corpo, isso fez Gin sorrir mais leve.

  — Falam que os animais puxam os donos...

  — Mas eu não sou gorda. — Ela falou cruzando os braços e batendo um dos pés.

Nesse momento Gin enxergou na menina loira a sua garota ruiva.

  — Mas é claro que você não é... Você é linda.

  — Obrigada. — Ela deu um sorriso.

  — Kisa. — Yachiru gritou entrando na sacada novamente. — Sua mãe ligou e disse que só vai chegar mais tarde.

  — Ah... — A menina fez um rosto triste.

  — Mas assim a gente pode brincar de casinha Kisa.

  — Eu queria que a minha mãe chegasse logo. — Ela balançou os braços (outro movimento que lembrava Rangiku) — Estou com saudade da minha mãe.

  — Ela só vai demorar mais um pouquinho... Vamos brincar até ela chegar!

  — PRIMEIRO vocês vão jantar depois vocês brincam ok? — A mulher surgiu novamente. — Você gosta de bife e batata frita Kisa?

  — Sim. — A menina deu um leve sorriso.

  — Então vamos comer. Deem tchau ao senhor...

  — Ichimaru mãe! — Yachiro gritou.

  — Sim. Se despeçam e venham comer.

  — Tchau senhor Ichimaru a gente se vê depois. — Yachiru passou correndo na frente da mãe.

Ela rolou os olhos e deu um sorriso.

  — Agora sua vez Kisa.

  — Tchau senhor Ichimaru. — A menina falou balançando a pequena mãozinha e dando um sorriso cativante.

  — Tchau Kisa. Até mais...

As duas entraram e novamente Gin ficou em seu incomodo silêncio só que agora além de uma mulher ruiva e avassaladora na cabeça também tinha uma criança loira e meiga.

Ele suspirou.

  A coisa só passa a melhorar.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Já estavam dando 7:30 quando saíram do hospital. Kaio, o pequeno menino teve que tomar duas bolsas de soro para dar uma revigorada. Katara, sua irmã, estava muito contente depois de ter comido o tão esperado yakisoba que Daniel lhe prometeu. Os dois agora estavam de mãos dadas com um policial que iria os levar até o abrigo onde passariam a noite.

Rangiku estava sentada os observando com a cabeça apoiada no ombro de Daniel. A agitação do dia já estava refletindo nesse cansaço agora noite, mas era gratificante olhar as duas crianças que agora sorriam como se nunca houvessem sido abandonadas pela mulher que deveria as cuidar e proteger.

  — Pra onde eles vão mesmo? — Ela disse erguendo a cabeça.

  Daniel parecia muito mais cansado.

  — Ainda não decidiram, mas com certeza irão para o abrigo da Posse.

  — Lá é um bom lugar... — Ela voltou a por a cabeça em seu ombro. — Quero ir os visitar.

  — Nós vamos amanhã... — Daniel passou os dedos por seus cabelos.

  — A mãe será presa se aparecer? — Ela levantou a cabeça novamente.

  — Se confirmarem a negligência, sim. Será julgada por abandono de incapaz, tortura por tê-los trancado e maus tratos pela situação que os deixou. — Ele passou a mão pelos cabelos. — Vamos nos despedir deles e ir... Teremos que chegar cedo amanhã.

  — O trabalho vai continuar naquela área? — Ela se levantou.

   — Sim. O dono quer que eles saiam o mais rápido possível.

  — E o que fará com os que se recusarem?

Ele se levantou e suspirou forte.

  — Ele entrará lá com um pequeno exercito de policiais e expulsará todos que ainda estiverem no local. — Ele pareceu triste ao dizer aquilo. — Agora vamos logo, Kisa está esperando não é?

  — Sim... — Ela olhou para o chão.

  — Não fique assim. — Daniel colocou a mão em seus ombros. — Nós fazemos o possível e conseguimos ajudar muita gente com isso. Não fique triste se algo acontecer naquele lugar, tenha consigo que fez o seu melhor. — Ele sabia realmente o que dizer o que qualquer um precisava ouvir.

  — Eu sei Dan. — Ela sorriu. — Você já me deu essa lição.


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Notas finais do capítulo

Prevejo muitas perguntas sobre o Daniel e a Rangiku..
E sim, talvez eu faça o que vocês pensaram por um momento (só talvez).
Até quarta galerona!!



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