Ichigo passou os dedos entre os cabelos demonstrando frustração.

                - Não brinque com a Inoue. – Disparou em seguida, virando o rosto para que o outro não visse sua expressão.

                - Você deveria escutar as próprias palavras. Se deu o trabalho de nos seguir? – Rebateu Uryuu imediatamente.

                - Claro que não. – Respondeu o shinigami com um sorriso atravessado. Ishida olhou para ele impassível.

                - Claro. Claro que não.

Dizendo isso, o Quincy deu as costas ao garoto. Sua mão tremia levemente de raiva.

                - Kurosaki-kun!! – Chamou Inoue que ia chegando no Colégio de Karakura na manha seguinte. Como sempre, a garota abria um grande sorriso para ele. – Que bom que eu te encontrei tão cedo... Sabe, eu, é que hoje...

Inoue gaguejava corando furiosamente. Remexia em algo nas mãos e parecia muito atrapalhada.

                - O que foi Inoue? – Perguntou Ichigo já ficando preocupado.

                - Eu... preciso te entregar isso. – Disse estendendo os braços.

O shinigami olhou desconfiado para o embrulho em suas mãos e o pegou com cuidado. Enquanto desembrulhava a colega balbuciava algumas palavras muito nervosa.

                - Hoje é... Kuchiki-san disse... Eu...

                - A Rukia? – Disse interrompendo. Quando finalmente desfez o bonito laço e o envelope se abriu em um chocolate em forma de coelho. Ichigo sorriu com carinho. – Mas porque ela fez isso para mim?

Orihime o encarou finalmente sem palavras. Do que ele estava falando? Tivera tanto trabalho pra seguir a receita e fazer um chocolate “normal”. Pediu um conselho a Rukia sobre como fazer (sem revelar para quem) e ela lhe dera a ideia do formato de coelho. Mas... Foi Inoue quem fez para Ichigo. Afinal, era 14 de fevereiro.

                - Bom, preciso agradecer ela então de qualquer forma. Valeu Inoue. – Disse Ichigo vendo que a colega não falava nada. Fazendo uma confusão bem grande. Tao ocupado em observar o chocolate não se deu conta das lagrimas que se formavam nos olhos de Orihime. Não tanto pela confusão, mas pelo obvio carinho que o shinigami observava e segurava o presente. Pois achava que era de Rukia. Segurando as lagrimas e pensando em como sair correndo dali , não viu exatamente de onde ele veio. Mas lá estava Ishida dando uma generosa mordida no doce que estava nas mãos do ruivo.

                - Mas que..? – Nem mal pudera ficar surpreso o Quincy avançou e mais uma vez tirou um pedaço do chocolate. – O que você esta fazendo?! Seu idiota... Perdeu a cabeça?

                - Exta delixioso! – Disse com a boca cheia.

Inoue olhava chocada para a cena. Estava mesmo acontecendo? O frio e distante Quincy roubando o doce do shinigami? E de repente não havia mais lagrimas, mas um sorriso pela situação.

                - Mas que merda... Deve estar mesmo. Você esta até falando de boca cheia. O que acon... Ah... Rukia.... – Disse Ichigo e esqueceu de toda a situação vendo a garota no portão do escola. Imediatamente foi até ela. Novamente o sorriso de Inoue morreu. Por uma questão de impulso fez menção de segui-lo. Antes que continuasse, ao passar ao lado do Quincy, sentiu o maior segurar seu pulso. Parou imediatamente.

Do pulso entrelaçou seus dedos. Estavam de lado e evitando se olhar. Orihime sentiu um calor repentino partindo daquele contato. Lembrou-se do dia anterior e corou.

                - Eu sei que não sou ele... Nem que era para mim o presente mas...

                - Ishida-kun...

                - Estava muito bom. – Completou com um sorriso virando-se, finalmente, para encara-la. Os olhos dela brilharam e ela sorriu também.

                - Na verdade... – Disse e remexeu em sua mochila. Tirou um embrulho azul. – Este é para você. Dessa vez foi o Quincy quem corou, quase imperceptivelmente. Segurou a pequena mão de Inoue, que estendia o presente, entre as suas.

                - Qual o problema com vocês? – Disse Ichigo interrompendo. – Parados se encarando sem falar nada. Ele te ofendeu Inoue?

Como se a tirassem de um sonho bom, a garota voltou sua atenção ao shinigami. Desfazendo o contato com o moreno. La estava Ichigo ao lado de Rukia. Que parecia frustrada.

Dessa vez o impulso a fez sair de perto deles. E antes que alguém pudesse dizer algo a ruiva já estava longe.

                - Kurosaki... Você fez de proposito? – Perguntou o Quincy friamente. Rukia lhe deu um tapão na cabeça e observou Ishida se afastar.

                - Não é possível o quanto você é idiota. – Disse a garota.

Uryuu chegou na sala de aula e não viu Inoue. Ia sair para procura-la mas deu de cara com a professora impedindo sua saída. Sentou-se na classe contrariado. Logo Ichigo e Rukia se juntaram a ele. Nada de Inoue. Distraído, percebeu que ainda estava com o embrulho entre os dedos. Puxou a fita branca e revelou seu conteúdo. Vários bombons no que parecia ser o formato de sua cruz Quincy. Ou uma desastrosa tentativa de estrela. Sentiu seu coração descompassar. Ela era tão doce. Porque Ichigo não conseguia enxergar?

Perdido em pensamentos nem se deu conta de que a aula já corria. E a garota ainda não voltara. Devia estar chorando em algum lugar por aquele idiota. Gostaria de encontra-la neste instante. Queria vê-la. Queria sentir seu toque novamente. Como se tudo fizesse sentido de repente, levantou-se.

                - Banheiro! – Gritou ao deixar a sala em disparada sob os protestos da professora.

De alguma forma, sabia onde ir. Sabia onde encontraria a garota.  Com passos apressados se dirigiu aquele lugar.

E acertou em cheio. Nem tanto na verdade. Inoue estava no café que a trouxera no dia anterior. Mas não estava chorando. Ao contrario, estava rindo muito com Hiruka, a garçonete.

                - Inoue... – Chamou Uryuu vendo a cena.

                - Ishida-kun! O que faz aqui? – Perguntou surpresa. – C...como me achou aqui?

                - Eu... Sempre vejo você. – Disse sem explicações. Parecia confuso para Hiruka. Ela também estava vendo a garota. E dai? Mas as lagrimas nos olhos de Inoue mostrava que isso queria dizer muito mais.

                - Você me encontrou Ishida-kun! – Disse fazendo uma careta de choro. O Quincy não pode deixar de sorrir.

                - Há muito tempo.  – Falou com um sorriso gentil.

E enquanto trocavam olhares significativos, Hiruka olhava de um para o outro sem entender.

                - Que papo mais estranho. Deve ser coisa do casal. Vou deixar vocês... Cuida bem da sua namorada heim Ishida-kun? Ela é muito... – Disse a garçonete observando a garota que em poucos minutos de conversa a cativara. De um modo estranho. Mas cativara. – Ela é muito... Ela é única.

                - Eu sei. Eu vou cuidar. Vamos Inoue? – Respondeu o Quincy estendendo a mão. Delicadamente Orihime deixou ser envolvida pelos dedos finos e longos do moreno. Mas que passavam uma sensação de proteção.

De mãos dadas saíram do café. Andaram um pouco e a garota não sabia para onde estavam indo. Sem soltar dos dedos de Uryuu deixou-se levar.

                - Aqui. – Disse de repente parando em uma calçada movimentada, próximo ao prédio da escola. – Foi a primeira vez que eu te vi Inoue-san. Foi aqui nessa esquina. Você estava com uma sacola grande e esbarrou em mim, pois não me viu. Eu fiquei observando seu cabelo que se agitava enquanto você se a fastava. E a imagem não saiu de minha cabeça. E logo voltando das férias, você virou minha colega de sala. Mas você não me reconheceu. Não viu que sou a mesma pessoa que te ajudou a recolher as compras. Um sentimento bom surgia sempre que estava perto de você. Desde a primeira vez que eu te vi, inexplicavelmente.

                - Ishida-kun...

As pessoas passavam por eles na calçada sem dar atenção aos dois.

                - Eu estou apaixonado por você... Inoue. – Declarou o Quincy tranquilo. Um sorriso terno cobrindo seus lábios. A garota estava com os olhos brilhando como nunca, arregalados de surpresa e levemente corada.

                - Será que você consegue me ver agora? – Completou Uryuu enquanto chegava mais perto. Calmamente aproximou-se de Inoue, pode sentir seu cheiro invadir seus sentidos enquanto beijava seus lábios trêmulos. Afastou-se observando a reação da garota. Muito corada e ainda de olhos fechados. Após alguns segundos sorriu e fitou o Quincy.

                - Então era ai que você estava? – Disse a garota timidamente.

                - Sempre.

                - S...será que você me desculpa pela demora?

                - Não. – Respondeu o Quincy surpreendendo Orihime. E mais uma vez tomou seus lábios. Dessa vez demorou um pouco mais. Aproveitou um pouco mais. Seu coração agradecia.

                - Ok. Agora esta perdoada.

Inoue abriu um grande sorriso enquanto voltava a envolver os dedos de Ishida. Com o coração disparado levou a mão livre aos lábios recém beijados. O moreno percebeu seu gesto. Mesmo não desviando o olhar da rua disse:

                - Foi seu primeiro beijo não é?!

Mais corada do que era possível imaginar, Orihime concordou com um aceno da cabeça. Tímida demais para dizer alguma coisa.

                - Foi o meu também. – Comentou o Quincy dando um grande sorriso para a garota. Era a primeira vez que via esta expressão. Seu peito se enchendo de um sentimento ótimo. Queria ver as outras expressões de Uryuu que não conhecia. Queria saber mais a respeito dele. Porque nunca perguntara nada de sua vida? Qual era sua comida preferida? De uma forma inesperada. Meio confusa, Inoue só tinha uma certeza:

                Só conseguia ver Ishida naquele momento.