Koi Wa Sensou escrita por Pandaryoshka


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente quero agradecer a Sud por revisar e betar a minha história. Honto ni doumo arigatou gozaimashita! ♥
Esta é minha primeira Fanfic (de muitas futuras, eu espero), e eu ainda inventei de transformá-la em uma Songfic. Torço para que vocês gostem, e espero ter usado a música certa na história. Eu achei que combinou muito!
Aqui está uma boa dose de amorzinho para vocês! Boa leitura. :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/201238/chapter/1

I think we have an emergency, I think we have an emergency”

Nós perdemos a guerra. Foi errado fazer isso sem conversar direito com o Áustria e os outros envolvidos, mas eu precisei resolver o problema pessoalmente com o Romênia. A luta não durou muito, e não sobrou quase ninguém do exército que levei comigo. No fim das contas os Comandantes chefes foram ao palácio fazer o que era para ser meu dever enquanto eu fugia. Foi então selado o Tratado Trianon, segundo o qual os países vencedores dividiriam o território conquistado e determinariam minhas fronteiras. Maldito Romênia, tirou uma parte grande e importante de mim! Aquela manhã não tinha sido fácil para nenhum de nós. Eu estava exausta, totalmente sem forças, pois no dia anterior eu havia acabado de sair quase derrotada em uma batalha. Isso acabou com a minha auto-estima. Aos olhos dos outros eu sempre aparentei ser aquela mulher forte, persuasiva, a que nunca desiste de uma briga antes de usar tudo o que tem, a que não aceita perder. Ainda mais na frente dos outros. Sempre dou o meu melhor em tudo o que eu faço,  não importando as circunstâncias, ou as conseqüências. Quando me dei conta de que eu não tinha chances de vencer, primeiramente tive que vencer meu orgulho e recuar, antes que perdesse a vida. Encostei em uma árvore, bem longe do local de guerrilha, localizada nas proximidades do território austríaco. Passei o resto da tarde que restava do dia descansando. Uma hora ou outra, usava minha pouca energia para buscar água em um lago próximo. Estava me desidratando à essas alturas. Também aproveitei o pequeno lago para banhar-me, pois precisava relaxar. Minhas roupas também estavam muito sujas, além de rasgadas. Tive de dar um trato para diminuir o estrago e deixá-las limpas e as vesti, mesmo molhadas. Passei parte da noite cuidando dos meus ferimentos, que por sinal foram muitos. Usei ervas e folhas medicinais para que não houvesse problemas. Na madrugada fria simplesmente caí no sono. Já estava mais ou menos cuidada para no dia seguinte poder tomar rumo à algum lugar. Como eu iria olhar para Roderich depois de ter deixado isso acontecer? Voltar à casa de Roderich e ver todos me encarando como derrotada já estava fora de questão. Por mais que eu não tenha dito ou demonstrado, ele sabe o quanto eu o adoro (o suficiente para trabalhar em sua casa). Então de modo algum eu diria à qualquer um que eu perdi, ou que quase morri, ainda mais para ele!

If you thought I'd leave then you were wrong”

Não faltava muito para bater uma e meia da tarde. Depois de ter recuperado parte da minha energia, era hora de partir. Por algum motivo aquela dor no peito de anos atrás me atacara novamente. O motivo? Para falar a verdade, nem eu mesma sei. Aquela maldita dor insuportável voltou em uma hora bem inoportuna. Eu, cheia de coisas para fazer, e ela surge assim do nada? Ignorei por algumas horas sem problemas, mas depois já não conseguia mais andar. Tive que interromper minha viagem sem rumos. Novamente encostei-me em uma árvore, de modo confortável. Minha respiração estava insanamente fora do ritmo. O que eu deveria fazer? Esperar algo acontecer ali? Me tornar novamente nômade e ir de canto em canto viver minha vida um pouquinho em cada um? Sem chance. Logo depois de ter me estabilizado, mesmo estando um pouco submetida ao Romênia e ao Áustria, eu não deixaria isso acontecer de novo. Abri um pouco a minha blusa branca; quem sabe ajudaria em algo, não é? De fato, a pressão liberada da roupa diminuiu minha tensão. Estava para cochilar novamente, quando escutei alguns passos vindo à norte da minha direção. Parecia ser alguém falando sozinho.

Cause I won't stop holding on”

– Que droga, já estou andando há horas! – Resmungou a voz. Não parecia muito satisfeita por estar naquele lugar, mas imaginei que talvez tal pessoa poderia me ajudar. – Ótimo, preciso de um lugar para me aliviar. Qualquer uma dessas moitas deve servir...

Mesmo não dando para escutar muito bem, defini a voz como masculina. Não somente pela voz, mas sim pelo o que ela dizia sem qualquer vergonha na cara. Como assim, qualquer moita serve? Tinha que ser bem onde eu estava? E por sinal estava um trapo. Poderia ser qualquer homem. Bem, no momento, pouco importava a pessoa que era querendo fazer coisas nojentas ali. Só de saber que havia alguém para eu gritar pedindo ajuda já era o suficiente, mas mesmo assim, decidi chamar a atenção de seja lá quem fosse.

– Ei! Não faça isso aqui! – Falei, erguendo um pouco o tom de voz. Vi a sombra correndo entre a vegetação. Certifiquei-me de que era um homem, mesmo sem ter visto o rosto. Ele seguiu à um canteiro, onde abaixou-se para ver quem falara com ele há segundos atrás. Fazendo uma pequena abertura entre as folhagens para ver quem era, pude ver seus olhos. Não acreditei no que vi. Eram aqueles olhos vermelhos e agitados, os quais vira pela última vez há muitos anos.

”So are you listening me? So are you watching me?

– Oi! Venha aqui! – Ele ergueu-se um pouco. Pude ver seu pequeno pássaro amarelo canário sobre seus cabelos acinzentados. Quem diria... Ele nunca imaginaria me ver em uma situação dessas. E nem eu também. O prussiano semi-cerrou os olhos, desviando o olhar. Talvez devesse estar muito surpreso. Deixou-se cair de bunda no chão, sentado atrás do arbusto por onde me espionava.

- Gilbert! Ahhgn, por favor... – O chamei mais uma vez, sem qualquer expressão no rosto.

Por fim ele se levantou e veio caminhando até mim. Eu o estava vendo com meus próprios olhos, aquela nação poderosa e confiante que colocou-se à minha frente. Desde pequeno, Gilbert sempre se punha à frente dos outros para conversar, sem deixar escapar uma piadinha, ou mesmo se chamando de “o incrível eu”. Seu rosto não estava sorridente desta vez. Não fez nenhuma graça e nem se vangloriou na minha frente, como sempre fazia comigo, e com todos. Ele parecia estar diferente, me olhou nos olhos com frieza. Imaginei que talvez fosse por estar apertado e ter encontrado uma mulher nos arredores, enfim. Nos encaramos por alguns segundos, até ele quebrar o silêncio.

”If you thought I'd leave then you were wrong”

– Ah, é você, Hungria. O que você está fazendo em um lugar como esse? – Olhei para cima, assim o olhando nos olhos, sem demonstrar sentimento algum, numa tentativa de igualar minha atitude à dele. O seu pássaro, Gilbird, permanecia imóvel em sua cabeça. Seu uniforme azul-marinho também não parecia estar em ótimas condições, como o meu uniforme. Acho que ele passara por muita coisa para chegar até aqui.

– Gilbert, eu – Fui interrompida, antes mesmo de falar qualquer coisa.

- Não me chame assim, Hungria. Eu sou o incrível Prússia! – Falou em um tom levemente alto, virando-se de costas à mim e foi caminhando lentamente até uma árvore próxima. Encostou-se nela, cruzando os braços e as longas pernas, com uma expressão mais séria. Olhou para cima, percebendo que o céu antes muito azul agora estava se fechando.

”Cause I won't stop holding on”

– O-o que aconteceu contigo, Prússia? Está agindo... Estranho. Ah, imagino que você tenha vindo até aqui de propósito para me humilhar e dizer que sou uma perdedora, não é? – Ri e em seguida tossi, juntamente de alguns respingos de sangue, um pouco carregada. Passei o pulso sobre a boca, para me limpar. Logo a manga branca da blusa social que eu vestia adquiriu um tom avermelhado e escuro. Talvez vestir roupas molhadas ao frio não tenha sido uma boa idéia. Mesmo se estivesse sem elas, o resultado seria o mesmo. – Eu deixo você falar o que quiser. Antes de saber que quem estava ao redor desta clareira era você, eu pretendia pedir ajuda para quem quer que fosse! Eu até lhe contaria o que aconteceu mas... – O olhei com uma expressão de desgosto. Já não reconhecia mais o meu amigo e companheiro de guerra. Nesse meio tempo que não nos vimos talvez ele possa ter mudado o conceito que tinha sobre mim. E depois de me ver como perdedora naquela batalha decisiva então, o respeito e amizade que tínhamos deve ter se perdido no tempo. Em aceitação de tal fato, fiz um sinal mais ou menos perceptível de negação com a cabeça, mirando os olhos vermelhos sem vida. – Nada, esqueça, siga seu caminho. – Semi-cerrei meus olhos, olhando para o chão.

This is an emergency, so are you listening me?”

Gilbert poderia ser forte, poderoso, convencido, egoísta, o que quer que fosse. Eu estava prestes à descobrir coisas sobre ele que eu jamais imaginaria. Já podia se escutar o estrondo baixo de alguns trovões, e imediatamente começara à garoar. O dono do pássaro deslizou as costas na árvore em que estava apoiado e sentou-se no gramado um pouco encolhido, para não se molhar. Ao seu lado, arrumou um montinho com folhas e galhos no chão, em seguida acomodou seu pássaro. Ignorei sua presença, achei que Gilbert estaria lá apenas para se proteger da chuva. Abaixou seu rosto e o apoiou em suas pernas, ficando assim por alguns minutos. Continuei com a mesma linha de pensamento, até que seu rosto tomou uma expressão triste e irônica ao mesmo tempo, com seus olhos fechados e um meio sorriso enfatizando sua ironia. Conhecendo essa cara, estava para vir um “senta, que lá vem a história”. Rapidamente pairou uma interrogação no meu rosto. Ao julgar o jeito que nos olhamos em seguida, eu parei para prestar atenção nele, e ele, logo que viu que a tinha, começou à falar.

” And I can't pretend that I don't see this, it's really not your fault”

– Eu sei muitas coisas, sabia? Estou determinado a esclarecer tudo aqui e agora. Antes de sair falando besteiras, faça o favor de me escutar, senão não dá! Eu... – Seu rosto corou um pouco, sem que ele mesmo percebesse. Permaneci em silêncio. A coisa parecia ser séria mesmo para ele agir estranhamente. E o que era esse papo de esclarecer tudo? Não tinha nada para ser explicado. Me encolhi abaixo da árvore para não me molhar e tentar não piorar a futura gripe. Respirei devagar e cruzei os braços, apoiando-os sobre as pernas juntas.

That no one cares to talk about it, to talk about it”

– Realmente eu não sabia que você estava em uma briga particular com o Romênia, ninguém me falou nada. Fui avisado por terceiros. – Falava em um tom de indignação, mas logo voltou a se parecer mais com ele mesmo. – Eu vim atrás de você, mulher! – Descruzou os braços e apontou seu indicador em minha direção, o abaixando em seguida. Entreabri os lábios e arregalei um pouco os olhos, que brilharam ao escutar aquelas palavras. – Um dos soldados sobreviventes me disse que você estava viva.

– Eu...?  Você estava me procurando? – O prussiano corou novamente enquanto me olhava, e dessa vez sentiu suas bochechas um pouco quentes. Quando se deu conta, abraçou suas pernas e virou a cabeça pro lado olhando para baixo.

- Só não imaginei que já estava por aqui, porque eu vim andando de longe, dos arredores do palácio, tentando te encontrar para você voltar para a casa do seu... – Fez uma pequena pausa, pensando em uma boa palavra para descrever Roderich, mas não completou a frase.

”Cause I've seen love die way too many times, when it deserved to be alive”

– Voltar para a casa do Áustria? Não, não mesmo! – Falei alto e semi-cerrei os olhos, com uma expressão triste no rosto. – Eu não posso voltar para lá, por mais que eu ame muito todos naquela casa! Eu acabo de conseguir me estabilizar como uma nação totalmente independente, dei muito sangue, suor e lágrimas para conseguir isso e tudo quase saiu errado. – Disfarcei uma lágrima rolando sobre minha bochecha. Num impulso, gritei. – Eu não quero mais depender deles, isso era algo para eu resolver sozi... – Tossi forte, virando o corpo para o lado, tendo de cuspir sangue novamente.

– Você podia ter chamado o incrível Eu! Na hora eu esmagaria o maldito do Romênia como um inseto pra você! Por que você preza tanto esse seu orgulho? Elizabeta?! – Gritou meu nome, e com razão. Eu e meu maldito orgulho. Uma hora ele acabaria me levando diretamente à morte. O albino me encarou por alguns segundos. Eu não sabia o que responder, em troca lhe dei meu silêncio e atenção. – Por que se importa com o que aquela gente vai achar?! Para eles você é apenas uma empregada doméstica que trabalha dia e noite na casa deles, uma pessoa que só serve para lutar! – Disse em um tom alto. A chuva já começara a apertar.

”And I've seen you cry way too many times, when you deserved to be alive, alive”

Arregalei os olhos novamente, que na hora brilharam, e cobri a boca fechada com a mão. Sem querer deixei rolar uma lágrima. Aquilo... Eu não merecia escutar aquilo. Eles sempre me deram tudo, por causa deles eu sou quem eu sou! Me tornei forte graças a eles.

– PARE! – Gritei. Em seguida, cobri o rosto com as mãos, para chorar baixo. Por ter me alterado, minha dor no peito aumentara. – Ahhghn, não fale assim...

– POR QUE SE IMPORTA COM O QUE AQUELE MALDITO RIQUINHO PENSA DE VOCÊ?! – Por fim, deixou escapar o que queria dizer desde o começo. Ele estava certo. Por que...?  – Olhe seu estado! Se não tivesse se unido à ele desde o começo, não acabaria assim desse jeito! A culpa é toda dele! – Parou para ver como eu estava, olhando cada corte, cada arranhão, todas as marcas roxas com uma certa tristeza. Meus curativos improvisados estavam sendo destruídos pela chuva forte. Já estavam começando a doer. Certamente ele culparia Roderich por isso. Apoiou a cabeça em sua mão, que estava em cima de suas pernas. Tomando um pouco mais de coragem, revelou o que estava preso em sua garganta.

– Eu nunca suportei ver você naquela casa, com aquele riquinho egoísta. Você o valoriza tanto e ele... – Calou-se por alguns segundos.

– O que tem ele? – Perguntei. Gilbert levantou-se, caminhou até mim e sentou-se ao meu lado, abrigando-se na mesma árvore. Curvou seu corpo e virou meu rosto pelo queixo, me olhando sério. Evitando olhar em seus olhos, perguntei novamente em um tom baixo. – O que tem ele...?

So you give up every chance you get just to feel new again”

– Ele não... Não te ama, não te considera... – Soltou meu rosto, voltando à posição anterior e olhando para baixo. – Não como você o ama e considera, você mesma sabe disso! – Semi-cerrou os olhos, tirando seu chapéu com a pluma branca rapidamente, o deixando de lado e me olhando em seguida. Quanto mais o tempo passava, mais rápido uma tempestade se formava, e eu me irritei com isso. Já estava cansada de ouvir essas coisas.

– Olha, Gilbert, agradeço por vir até aqui me procurar! Mas eu não sou obrigada a ficar aqui escutando essas coi-  – Virando-se rapidamente, o albino me puxou com as duas mãos pelo rosto e fechou os olhos, me beijando. Instantaneamente corei e arregalei os olhos, fora pega de surpresa. Ele acariciava minhas bochechas de modo delicado, então fechei completamente meus olhos e dei permissão para que continuasse, entrelaçando meus braços em seu pescoço. Sem querer ele deixou escapar uma lágrima, que descia em seu rosto até tocar o meu. Meus cabelos estavam um pouco molhados e bagunçados, já grudando no meu rosto. Das bochechas, foi tateando e colocando alguns fios atrás da minha orelha, brincando com as madeixas. Dos seus ombros, deslizei minhas mãos até seu peito. Ele finalizou o beijo com um selinho delicado, unindo nossas testas.

”I think we have an emergency, I think we have an emergency”

Este foi o nosso primeiro beijo. Eu nunca me importei muito com essas coisas, na verdade. Não fazia diferença na minha vida, e nem na vida de ninguém na casa de Roderich. Sempre fomos do tipo “cada um no seu canto” por lá. Ele ficava apenas em seus aposentos, tocando Chopin no seu adorado piano. Sacro Império Romano nunca sossegava. Se não estava brincando com o Ita-chan, estava criando confusão por onde passava. E eu, bem, estava sempre cuidando daquela grande casa, sem parar, todos os dias. Às vezes Ita-chan me ajudava e me fazia companhia. Eu adorava vestí-lo com minhas roupas antes de descobrir que ele era um menino, mas de qualquer jeito ele ficava muito fofo! Quando Roderich brigava com ele, eu não podia fazer muito, a não ser lhe dar meu carinho e abrigo. Me pergunto como ele está hoje...

”And you do your best to show me love, but you don't know what love is”

– Eu... Desculpe. – Afastou-se um pouco, sentando de modo oriental à minha frente. – Este não é o Gilbert que você conheceu quando era pequena, e você não é a Elizabeta que achava ser um garotinho que eu conheci quando pequeno. – Pegou minhas mãos e as segurou, trazendo-as em seu colo. – Como fizemos pela última vez, me conte o que aconteceu... Você sabe que eu vou estar sempre aqui para te ouvir, e mais, o incrível eu enfrentaria exércitos e mais exércitos por você! Kesesesesesese~! – Riu baixo. Também ri baixinho, pois suas gracinhas sempre me arrancavam um sorriso dos lábios. E no fundo, por trás do seu bom humor, eu sabia que ele estava falando sério.

Fechei os os olhos por um momento e respirei fundo. Eu não tinha nada a perder. Ainda estava muito cansada, era melhor esperar a tempestade passar para depois irmos embora. Olhei para baixo e apertei levemente as mãos do prussiano, abrindo um meio sorriso.

”So are you listening? So are you watching me?”

– Sabe, era um problema pessoal que eu achei que podia resolver sozinha. De fato Roderich não deu muita importância... Mas eu estava confiante. Eu achei que tinha força o suficiente, mas quando precisei dela, ela sumiu. E eu estava sozinha. Foi... Vergonhoso, fugir de tal forma, porém necessário. – Abaixei a cabeça, olhando para os arranhões e marcas em minhas pernas.

– Eu sabia, eu sabia! Maldito riquinho desgraçado. – Grunhiu, mirando com o canto dos olhos para os lados. – Ele nunca deu a mínima para quem mora na casa dele, só se importa consigo mesmo! – Voltou seus olhos para os meus. – Você é invisível para ele. Apesar do seu esforço, é isso que você parece ser. – Quis interrompê-lo, porém sem ter o que dizer.

– Isso é... – Disse em tom alto. Parei um pouco para pensar, considerando nossa relação e os últimos acontecimentos. – Verdade. – Olhei em seus olhos, deixando escapar uma lágrima novamente, sorrindo de modo irônico. – Que pena, não é? Algumas pessoas não sabem dar valor ao que os outros fazem por elas, menos ainda retribuir um sentimento. Hirc... Ahh... – Ainda sorrindo, comecei a soluçar. Talvez fosse o vento frio nas roupas úmidas fazendo o seu devido efeito de me deixar doente. Gilbert criou uma expressão séria.

” And I can't pretend that I don't see this, it's really not your fault”

– Ah, eu acho que... Hirc... Não tô muito bem... – Fechei os olhos e me desequilibrei, caindo em frente ao prussiano, que rapidamente me segurou em um abraço, para que não desse de cara com o chão.

– E-Elizabeta! Você tá péssima...Er... Ah... – Eu achei que fosse ficar desacordada, mas por sorte não fiquei, era apenas exaustão. Sem saber direito o que fazer, teve uma de suas idéias malucas. Me segurou pelos ombros, me pondo a sua frente. Abri os olhos, que teimavam em se fechar. – Ahh, olha, eu tive uma idéia! Você precisa tirar essa roupa molhada e se aquecer... Troque de uniforme comigo! – Disse, levemente corado.

– Hmmn hirc... Eeh? Mas como assim... – Senti minhas bochechas esquentarem. Ele realmente disse isso? Para trocarmos de roupa e usarmos um o uniforme do outro? De fato o dele estava mais seco e não em péssimo estado como o meu mas mesmo assim... Ele tinha razão e estava tentando me ajudar, e eu não estava em posição para fazer nada, então iríamos ter de fazer isto mesmo. Me sacudiu de leve para que eu não dormisse sem querer.

That no one cares to talk about it, to talk about it”

– Vamos, você precisa vestir algo melhor e se proteger... Sim? – Deslizou suas mãos de meus ombros até meus braços.

– Acho que... Você está certo. – Apoiei em seu tórax com uma das mãos. – Me ajude... Hirc... Aqui com isto. – Apontei para os botões da blusa de mangas longas. O albino logo desabotoou um a um dos botões, logo afastando as barras e revelando algumas marcas e arranhões em meu tórax. Nada a mais que isso, pois meu sutiã protegera meus seios, mesmo que não totalmente. Ele não estava surpreso, afinal, já havia explorado tais regiões vitais há muito tempo. Delicadamente abaixou as mangas, deslizando-as por meus braços, tirando-a por completo.

– Agora... – Retirou seu sobretudo vermelho e azul-marinho, revelando uma blusa branca social e por baixo da mesma uma regata preta. – Você vai usar este aqui. – Envolveu a peça nas minhas costas e logo a vesti. Gilbert abotoou o sobretudo largo.

– O-obrigada. – Segurei firme na gola do sobretudo, sorrindo ao rapaz, que vestiu minha blusa úmida por cima das que usava. Curvou seu corpo para o lado e pegou seu chapéu com a pluma branca.

– Ah... Coloque isso também. – Colocou seu chapéu em minha cabeça. – Que tal trocar suas calças comigo também? Haha! – Riu, descontraindo um pouco. Ri junto, observando seu rosto se enchendo da sua velha aura.

– Não, não precisa. E obrigada, haha! – Lhe sorri, fazendo sinal de jóia com o polegar. – Por tudo mesmo. Não sei como eu poderia estar agora... – O abracei em agradecimento.

”Cause I've seen love die way too many times, when it deserved to be alive”

O prussiano me abraçava forte, como se nunca mais fosse fazer isso de novo. Só que além de tudo isso, ainda havia uma coisa pendente para resolvermos. Gilbert e eu havíamos nos beijado. Se ele sentia alguma coisa por mim, este era o momento perfeito para conversar. E eu? Bem, depois de tudo, nem queria mais ter nada com Roderich. Menos ainda voltar à casa dele. Agora que eu já era independente, não precisava da ajuda de nenhum deles, e nem me submeter novamente à Roderich. A tardezinha já ia embora, e um crepúsculo se formava no céu. A chuva não havia cessado, mas a tempestade já se afastara da região.

– Já te falei que estou aqui pra você e que vim correndo atrás de você, Eliza. – Abreviara meu nome, enquanto acariciava e brincava com meus cabelos. – E você já deve saber o porquê disso, e o motivo de eu ter... Te beijado de surpresa. – Por fim ele iria dizer o que eu já esperava, ou o que talvez eu quisesse ouvir.

– Então crie coragem e me diga. – Sussurrava em seu ouvido, devagar, enquanto brincava com os dedos nos cabelos albinos. – Por mais que esteja estampado no seu rosto todo o ciúme que você sempre sentiu de Roderich, seu desespero, que sempre sentiu alguma coisa por mim desde tempos atrás, diga o que... Eu quero escutar.

”And I've seen you cry way too many times, when you deserved to be alive, alive”

– Eliza, *ich liebe dich... – Sussurou em meu ouvido. Eu podia sentir nossas batidas cardíacas totalmente dessincronizadas. Nos soltamos, vendo um largo sorriso formando-se no rosto um do outro. Estiquei meu braço para acariciar seu rosto. Seus olhos estavam serenos, e de certa forma me acalmavam, como se ele tivesse se livrado de um grande fardo. Um que talvez ele tenha tido de carregar por muitos anos. Falta de atenção a minha não ter percebido antes. Eu o entendo também, o que é não ser correspondida, meio invisível e na maioria das vezes, ignorada. Para lidar com isso é só o tempo, ou uma nova paixão. Quem sabe agora eu possa retribuir tudo o que ele fez e ainda faz por mim? Afinal, quem não arrisca, não petisca.

”These scars they will not fade away, and no one cares to talk about it, to talk about it”

– Gilbert, *én is szeretlek. – Gilbert não sabia nada em húngaro, mas entendeu perfeitamente minha resposta. De certa forma eu também o amava. O soltei e iniciei um beijo suave, o qual acompanhávamos no mesmo ritmo. Enlacei meus braços em seu pescoço, enquanto o albino enlaçava um em minhas costas e um em minha cintura. Seus lábios eram finos e macios, com um gosto fraco de cerveja alemã, que por um acaso devia ter acompanhado com seu irmão. Interrompi um instante para puxar um ar e sorri ao outro. – Agora somos só nós, e mais ninguém. Não vou deixar que ninguém estrague o que nós temos. – O albino sorriu e seus olhos se encheram. Aquela imagem me deixava feliz. Gilbert pôde criar um sentimento lindo em mim, o qual Roderich nunca poderia sequer pensar que existia. Levantou um pouco seu rosto, pondo-o em frente ao meu.

– Eu não me importo nem um pouco se você perder uma batalha, Eliza! Você é tão forte e incrível quanto eu! – Sorriu, deixando escapar uma risada. Levou o braço que antes estava em minhas costas ao meu ombro, batendo de leve, em sinal de amizade. Abri um pouco mais os olhos, que instantaneamente começavam a se inundar, mas sorri em seguida. Logo as nuvens delicadas pós-chuva deram espaço a um céu escuro, onde as estrelas surgiam uma a uma aos poucos, e à lua cheia ainda oculta.

”Cause I've seen love die way too many times, when it deserved to be alive”

– Verdade...? – Por um instante fiquei sem palavras, depois formando uma expressão levemente séria. De certa forma isso me confortou.

– Uhum. Você tem que lutar apenas por você e por quem você achar que vale a pena. Tem desgraçados por aí que não te merecem. Fugir nem sempre tem a ver com derrota, Eliza. – Sorriu, segurando minhas mãos com as suas duas mãos. – Você fez a coisa certa, senão, você podia não estar mais aqui. E eu... – Olhou para cima, mirando os pontinhos brancos ao fundo negro.

– Você sempre foi muito especial para mim, agora mais ainda. Tudo o que eu sentia pelo Roderich se tornou indiferença e desprezo. Ele nunca será amado enquanto não aprender a amar e valorizar quem corre por ele. – Concluí. E decidi por mim nunca mais cometer esse erro novamente. – Obrigada por abrir meus olhos. – Fechei os olhos e sorri ao rapaz, em agradecimento, logo os abrindo em seguida.

– Seus olhos são tão lindos quando não estão cegos, hahaha! – Gargalhou vigorosamente. – Fiz um excelente trabalho, não acha?! Hehe! – Vangloriou-se. Afinal, eu estava com Gilbert Beilschmidt, hora ou outra ele ia ter que agir bem como agiria normalmente com qualquer um.

– Eu sei que são tão bonitos quanto meus músculos, não é? Hahahahahahahah! – Comecei a rir loucamente e a lacrimejar, apalpando ambos os seios com as mãos.

”And I've seen you cry way too many times, when you deserved to be alive, alive”

O rosto do prussiano ganhou um tom rosado, pois ele sabia que eu estava tirando uma com a cara dele, como fiz da outra vez. Ele levou na boa, rindo junto comigo. A noite já havia se fixado sobre nós, e a lua cheia se mostrava radiante, iluminando delicadamente alguns cantos da clareira. Já dito e resolvido tudo, ainda estávamos perdidos e sozinhos, e pior, nas proximidades do território austríaco! Não seria nada conveniente se o exército de músicos de Roderich nos flagrasse pelas redondezas. Infelizmente não podíamos fazer nada no momento, a não ser esperar o dia raiar e partir dali para terras germânicas. Quem sabe eu não poderia pedir ao irmão de Gilbert, Ludwig, para ver como andava o meu garotinho, Ita-chan? Bem, ele já não é mais um garotinho. Ele já deixou de ser uma micro-nação. Fico feliz que ele também já não seja mais submetido ao Roderich. Sendo um lobo solitário, pouca diferença faz estar sozinho com ou sem subordinados em sua casa.

– Ah, pode crer que são sim, mas... Vamos passar a noite aqui mesmo? – Criou uma expressão de incerteza. Olhou ao redor tentando encontrar alguma coisa, ou algum caminho para seguirmos.

– Vamos, não tem problema se ficarmos aqui por enquanto. Primeiro que eu ainda não estou apta a seguir no estado em que eu estou, e segundo, nós estamos juntos. E juntos, nós somos invencíveis! – Sorri confiante ao rapaz, que balançou a cabeça positivamente. – Agora pode me passar a minha blusa, já deve estar mais ou menos seca.

”Alive”

– Ah, então tá. Err... Por que quer este trapo, Eliza? – Olhou para a blusa já não tão branca de mangas bufantes.

– Apenas tire, confie em mim, hm? – Enquanto o rapaz desabotoava minha veste superior, virei de costas e desabotoei os poucos botões dourados do sobretudo de veludo do outro. – Agora me passe a minha blusa, sim? – O albino terminara de tirar a peça, esticando o braço e a entregando em minhas mãos.

– O-o que está fazendo?! – Me observou deslizar as mangas da roupa pelos braços, deixando à mostra apenas o sutiã preto sobre a pele, ainda mais branca sob a luz da lua cheia. – Ei, co-coloque alguma coisa rápido, ou vai se resfriar! – Virou o rosto para o lado enquanto eu vestia a minha própria peça.

– Pronto, agora venha aqui e deite-se ao meu lado, Gilbert. – Deitei-me embaixo da árvore. Me encarando de modo estranho, o prussiano sentou-se ao meu lado. Coloquei o sobretudo ao meu lado direito. – Vamos, relaxe! Amanhã teremos um longo dia, não é?

– Temos, ah, então tá, né, haha! – Deitou-se ao meu lado esquerdo. – Ei, quer se apoiar? – Ofereceu seu braço para que eu pudesse repousar a cabeça. Sorri e respondi que sim. Logo puxei o sobretudo de Gilbert para nos cobrir. Ele sorriu. – Eliza, *gute Nacht, ich liebe dich.

– Gilbert, *jó éjt, szeretlek. – Me aconcheguei entre seu braço e seu tórax, em baixo do sobretudo. O rapaz virou-se de lado e me abraçou, me dando um rápido beijo delicado. Fechei os olhos e sorri. Em questão de instantes adormeci. Minutos antes eu percebi que aquela forte dor no peito havia passado, sem que eu percebesse. Do momento em que o vi ela já não me atormentava mais. Ela só surgia quando eu me sentia sozinha, desconfiante e totalmente fraca. Como se fosse meu orgulho me castigando. Assim que Gilbert me ofereceu ajuda, ela desapareceu. Eu já não estava mais sozinha. Ele havia encontrado o seu amor, e havia me ensinado uma coisa importante: Valorizar e lutar por quem me valoriza, que fugir não é sinônimo de derrota, e que uma nova paixão cura muito bem uma desilusão. Ele estava certo, eu estava enganada. Tão cega quanto a lâmina de uma espada pós-guerra sob o sangue derramado. Assim que amanhecer, vamos caminhar juntos para um novo futuro, o mais longe possível do nosso passado assombroso, e criaremos boas lembranças de um novo amor para recordar. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Chegamos ao fim do meu primeiro trabalho. ;3;
Quero agradecer novamente a Sud por betar e revisar esta história.
Aqui vão as traduções das falas em alemão e húngaro:
1º* ~ Eu te amo.
2º* ~ Eu também te amo.
3º* ~ Boa noite, eu te amo.
4º* ~ Boa noite, eu também te amo.
Well, espero que tenham gostado. Escrevi e imagiei cada cena com muito carinho para nós, shippers de PruHun e hetaliatards em geral.
Obrigada à quem leu até aqui, fico muito muito feliz!
Reviews para aquecer o coraçãozinho desta autora ?