Ilusão escrita por LTrinkenathy


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma pequena historia que eu escrevi a um tempo. Mostrei pra duas amigas ontem, e elas disseram que eu deveria postar, então... Enjoy.



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Eu estava fingindo ler um livro enquanto espiava sorrateiramente o outro lado da grande e bonita praça. Ele estava lá, como sempre, cuidando de suas benditas flores! O que será que havia de tão interessante em plantar, regar e colher? Realmente não entendendo. Coloquei o livro dentro de minha bolsa e caminhei sem pressa até o canteiro das gloriosas margaridas, onde o objeto de minha volúpia, Eduardo é o seu nome, cavava um buraco com uma pequena pá de jardinagem.

- Plantando uma espécie diferente? – eu perguntei um pouco tímida. Ele me encarou e recebeu-me com um grande sorriso, me tirando o ar dos pulmões.

-Não, não – ele respondeu limpando as mãos em uma flanela encardida – Uma das margaridas morreu, então, estou a arrancando...

-Há... – suspirei, tentando parecer interessada. Eu realmente não tinha assunto nenhum para tratar com ele. Então, resolvi perguntar sobre sementes de girassol, não que eu me interessasse realmente, eu só não queria parecer uma boba muda. Ele começou a tentar me ensinar a arrancar uma flor devidamente, eu só fazia acenar com a cabeça e dizer frases monossílabas quando ele me perguntava se eu estava entendendo. Enquanto conversávamos, olhei de relance para o grande cartaz estendido entre dois postes de luz ao centro da praça, eu já sabia de cor o que nele dizia, estava escrito, em letras grandes e ofuscantes “ Baile da escolha das garotas. Dia 15/08. Comprem já o seu convite!” o baile seria ali mesmo na praça, já fazia semanas que o cartaz estava estendido lá. Eu nunca deixava de o olhar e pensar na pequena possibilidade de convidar Eduardo, mas a coragem me faltava.

-Entendeu? – ele perguntou, tirando-me de meus pensamentos.

-Há, sim, um pouco – eu disse, mas na verdade, eu não fazia idéia do que ele falava. Ele sorriu, e se virou para suas plantas mais uma vez. Abri a boca no intuito de convidá-lo para o baile, mas nada saiu.

E assim os dias se passaram. Logo era dia 15, passei o dia inteiro me aprontando. Eu iria ao baile, mesmo que sem um par. Chegando a praça, fiquei deslumbrada com os enfeites e luzes que se estendiam por todo o lugar. Mulheres agarradas ao braço de seus parceiros, vestidas gloriosamente, apareceram de todos os cantos. Olhei para os lados, procurando ver alguém conhecido. Reconheci um senhor idoso que sempre estava na praça conversando com Eduardo, ele estava num banco abaixo de uma arvore grande, caminhei ate lá e me sentei ao seu lado.

-Oi – eu disse, ele apenas me encarou e deu uma acenada com a cabeça para o lugar onde a maioria das pessoas estavam, dançando e bebendo, ao som de uma boa musica. Não demorei, a ver Eduardo, dançando com o corpo bem colado a uma mulher alta, com longos cabelos negros. Uma onde de ciúme e até inveja daquela mulher passou pelo corpo. Encarei o senhor, me perguntando o que ele queria me mostrar com isso.

-Você devia ter o convidado enquanto teve tempo. – ele falou naturalmente, como se comentasse sobre a cor do meu vestido.

-Como é que é? – perguntei rápido.

-Ele queria que você o convidasse – fiquei parada como uma estatua de mármore o encarando por um tempo, e então olhei para o chão.

-Ele queria?

-Sim, queria. Ficou decepcionado por você não ter o chamado.

-Ora, se é assim por que ele não me chamou? – eu disse alto, um pouco brava.

-Porque o baile é de escolha das garotas. Quer dizer que elas convidam, seria inconveniente se ele o fizesse, sabe? E o garoto é tímido que só vendo, ainda por cima!

Olhei para a pista de dança mais uma vez. Uma lagrima brincava em meu olho.  Ele e a morena de longos cabelos continuavam dançando. Aquela era pra ser a minha dança, a mão dele deveria estar na minha cintura, era pra mim que ele deveria estar sorrindo. Mas graças a minha covardia, aqui estou eu, sonhando com o quão belo poderia ter sido esse baile. Mais uma ilusão. Afinal, meu nome deveria ser Fernanda Ilusão? O velho me olhou, com um olhar reconfortante.

-Quem sabe no próximo baile? – ele disse.

-É, quem sabe... – falei pensativa, e me levantei para ir embora.  

Eu simplesmente não conseguia acreditar em minha tolice. Eu havia perdido minha chance por uma bobagem infantil. As lagrimas finalmente caíram, e eu não me importei em sujar o meu vestido sentando sobre um degrau perto do canteiro de margaridas. Me encolhi em uma bola, e abracei meus joelhos, nem mesmo os olhares curiosos das pessoas que passavam me davam vontade de sair daquela posição e parar com o choro. Minha visão era embaçada, e eu tinha absoluta certeza que o rimel estava manchando todo o meu rosto nesse instante.

Olhei para a pista mais uma vez, com esperança de ver Eduardo dançando com a morena, mas não o encontrei. Claro, ele devia ter ido para algum lugar mais reservado com a vadia. Funguei alto, reunindo o pouco de dignidade que me restava e me levantei.

-Já vai embora? – a voz rouca, que eu conhecia bem, soou baixa atrás de mim. Meu coração palpitou.

 Era mais uma ilusão?

Me virei lentamente para trás, colocando uma mecha dos meus cabelos ruivos que caíam sobre meu rosto atrás da orelha. Não, não era uma ilusão. Era ele. Eduardo estava bem ali. Mais elegante do que nunca em seu smoking preto. Ele sorriu. Dentes brancos perfeitos em contraste com sua pele morena avermelhada. Corri para limpar as lagrimas de meu rosto. Deus, que ele não tenha percebido as lagrimas!

-Princesas não ficam até a meia-noite? – Ele brincou e se aproximou de mim. Pensei bem antes de falar.

-Quando elas não tem um príncipe para acompanhar, vão embora as 22:00 mesmo.

-Ah!- ele riu – Com isso eu posso te ajudar, não que eu seja um príncipe... – ele estendeu uma mão pra mim. Isso é um sonho? – mas acho que dou pro gasto.

-Onde está sua acompanhante? – cruzei os braços, recusando sua mão.

-Minha irmã? Deve estar com o namorado dela. – ele deu os ombros.

-Ela... ela é sua irmã? – perguntei, com cara de idiota. Eu estava feliz e ao mesmo tempo abobalhada. Porque aquele velho não me disse que eles eram irmãos?!

-Sim, agora aceita uma dança? – Encarei Eduardo. Me estendendo uma mão, com um sorriso perfeito no rosto. Pude notar que suas bochechas estavam vermelhas. Eu é que deveria o convidar, não era?

-As garotas escolhem nesse baile. Você é que tem de acei..aceitar meu pedido – gaguejei. Ele recolheu sua mão e eu estendi a minha. Teatralmente. O que eu estava fazendo? Eu sou patética!

-Como você quiser – ele disse. Sua mão quente envolveu a minha e ele me puxou para si. Arrepios desceram pela minha espinha quando ele o fez. Acomodei minha cabeça em seu ombro e respirei seu aroma amadeirado. Suas mãos envolvendo minha cintura fina. Suspirei um sorriso.

-Eu deveria ter te convidado antes – pronunciei baixinho. Com medo de que qualquer movimento ou fala minha, desmancharia o momento perfeito.

-É, talvez – ele respondeu e me encarou.

O encarei. Seus olhos brilhantes me olharam de volta. Automaticamente me apertei mais sobre seu corpo, eu não queria desgrudar dele nunca. Sua mão saiu de minha cintura e foi para meu rosto fazendo movimentos suaves sobre minha bochecha. Seu rosto se aproximou do meu e eu dei um sorriso fraco, pressentindo o que viria a seguir.

Nossos lábios se tocaram. Meu coração acelerou. Mil borboletas levantaram vôo em meu estômago. Arrepios e arrepios!Seus lábios eram suaves contra os meus e suas mãos tão delicadas sobre minha cintura...  

E minhas ilusões acabaram.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Deixem coments, por favor.



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