022 – Dialogo

[Guilherme]

O celular tocou cinco vezes antes de eu criar coragem para atendê-lo. A voz do outro lado da linha apenas dificultava as coisas para mim, mas eu não tinha muita opção.

– Guilherme? – Perguntou, e eu respondi um sim rouco. – Já faz mais ou menos uma semana que não recebo notícias suas. O que aconteceu?

Sentei no sofá, aquela conversa iria demorar muito.

– Quem você esta tentando enganar, Alexandre? – Eu comecei. Já que não podia mais adiar, que ela pelo menos acabasse o mais rápido possível. – Eu sei muito bem que você já esta informado sobre tudo o que aconteceu aqui.

Ouvi a risada sem graça, sempre rindo para os outros, nunca rindo para si mesmo. Enganar era a sua melhor arma, a arma que nos tinha distanciado.

– Vejo que você está tão bem informado quanto eu, Gui.

– Me chame de Gui mais uma vez e eu juro que você nunca mais terá nenhuma noticia por minha parte.

Novamente aquela risada irritante, mas dessa vez com um pouco de nervosismo. Aparentemente eu ainda tinha minhas utilidades para ele, ou pelo menos era o que ele pensava.

– Tudo bem, Guilherme, eu realmente sei por alta o que aconteceu no Abrigo. – Começou ele, com uma voz mais séria. – Mas eu quero saber o que aconteceu vindo de você.

Soltei o ar dos pulmões. Matemática, Química, Biologia, Física, passei anos estudando essas matérias. Esse tipo de conhecimento era algo de que eu podia me gabar sem problemas. Mas quando eu me envolvo em qualquer assunto sem esses elementos, eu me perco por completo.

– Tudo bem, vou dizer o que eu sei... – E disse, sem interrupções de nenhuma das partes, todo o acontecido. Pelo menos tudo o que eu me lembrava, acrescentando alguns detalhes do que Daniel tinha me contado.

Quando terminei Alexandre ficou em silêncio por um tempo. Ouvi o barulho de um isqueiro e o imaginei com um charuto na boca naquele exato momento.

– Se bem entendi, temos um traidor na equipe, certo?! Nunca pensei que algo assim viria da Suzanna. – Mas uns segundos de silêncio antes dele soltar o que realmente queria saber desde o início. – Esse tal Eric... Ele não chegou a roubar nenhuma informação de seu laboratório não, certo?

Me levantei do sofá, no fim das contas era apenas com isso que ele se importava, com as malditas experiências.

– Não, Alexandre, ele não pegou nenhuma informação do laboratório. Está feliz agora? Posso desligar?

– Não fique assim Gui... Guilherme... Eu só estava preocupado com seus dois meses de pesquisa, só isso.

Como eu disse, fico perdido quando o assunto não é sobre exatas. E não existe nada de exato em seres como Alexandre, além da frieza e da quantidade alarmante de inimigos, claro. Seu último comentário, ou devo dizer “mentira”, tinha me deixando um pouco irritado.

– Quem diabos você pensa que engana com essas falas afinal, hem? Eu realmente deveria queimar todos esses meus dois meses de pesquisa, sabia?!

O silêncio dominou novamente a ligação, dessa vez foi proposital. Graças a ele eu consegui me acalmar um pouco.

– Está melhor agora? – Não respondi. – Ótimo! E como está... Você sabe, a experiência?

No fim das contas aquela conversa poderia me fazer um pouco melhor. Senti o sorriso de satisfação se formando em meu rosto. Estava na hora de eu me livrar daquele telefonema.

– Sinto muito, mas ele já não está mais em minha área de informação, ele se foi pra procurar o Eric. Tenho certeza que você entende... Bom, tenho que ir agora, se você não se importa, sabe como é, papéis para queimar, dados para apagar.

– Guilherme, você esta brincando comigo não está? Não desligue. Por favor, espere um pouco... Onde ele está, Guilherme? – O desespero em sua voz já não podia mais ser escondido. – Onde ele está...?

– Até mais... Pai!

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