Prison Break: A Verdade Contestada escrita por Jessyhmary


Capítulo 4
4. A Corrida


Notas iniciais do capítulo

A caminho de San Francisco, algumas lembranças de Utah permeiam os pensamentos de Sara e ela continua descobrindo mais coisas sobre Michael. Porém, ao chegar no destino final, alguém resolve reaparecer na história.



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Naquela mesma noite, antes de chegarmos a San Francisco, fizemos uma parada em Utah. Lembra de Utah? Então, vejamos... Foi o mesmo lugar onde D.B. Cooper havia escondido os 5 milhões de dólares. Westmoreland finalmente revelara sua identidade para Michael e lhe deixou essa pequena bolada que, depois de passar pelas mãos de todo mundo, encontrou seu destino final. Já no Panamá, Quinn chutou a mochila com o dinheiro para dentro do rio, e esse, provavelmente, foi o último movimento brusco que ele fez. Segundos antes de ele atirar em Lincoln, lá estava eu de novo, dessa vez com muito, muito medo. A única coisa que consegui fazer foi atirar em Quinn e fugir com Michael para uma pequena cabana abandonada. Cercados pela polícia panamenha por todos os lados, chorei desesperada ao cair em mim e perceber o que tinha feito. Michael tentou me acalmar (o que era praticamente impossível) e me pediu a arma. Nesse meio tempo, Lincoln voltou ao local e pegou a mochila com o dinheiro. Eu ainda estava estagnada de medo; minhas mãos estavam sujas de sangue. E não era o sangue de um cara com oito dedos numa penitenciária e nem de uma moça inocente executada no estado de Illinois. O sangue era de um asiático cegado pela Companhia, frio, rude e covarde e ele faria o que fosse preciso para acabar com Michael e Lincoln. Infelizmente para ele, eu faria o que fosse preciso para defendê-los, então, ele acabou no fundo do rio. Eu não pretendia me tornar uma serial killer, e nem me tornei. Naquele instante eu me lembrei da faculdade, do juramento de Hipócrates, de Fox River, das reuniões do AA. Lembrei das palavras do meu pai dirigidas a mim, relembrando meu passado e me culpando por meus erros. Percebi o quanto minha vida era turbulenta e agitada, como se a droga ainda circulasse nas minhas veias. Mas não. Era tudo real e eu estava lúcida. Michael me convenceu a sair e disse que faria tudo o que pudesse pra me ajudar. E ele fez. Contra a minha vontade, ele simplesmente se entregou como culpado pela morte de Quinn enquanto eu era levada pela polícia panamenha como sendo uma possível vítima dele. Michael foi levado para Sona e eu acabei nas mãos da Companhia.

Não foi fácil para eu relembrar isso. Sona até hoje é o meu pesadelo. Michael me contara o que tinha acontecido lá e eu comecei a imaginar Fox River como um paraíso. Porém, seria impossível passar por Utah sem lembrar a corrida pelos 5 milhões que Quim simplesmente lançou na água.

- Lembra de Utah?

- Você não imagina o quanto. – respondi –

- Vamos passar a noite aqui. Não estou me sentindo muito bem e você precisa dormir direito.

- O que tá sentindo?

- Não sei... Um pouco de tontura. Deve ser da viagem.

- Tudo bem, então vamos pro hotel, lá eu tiro sua pressão.

- Claro.

Descemos do carro e eu levei os remédios. Michael estava um pouco pálido e vez por outra levava as mãos à cabeça. Desde a operação para remoção do tumor feita pela Companhia, ele não havia manifestado nenhum sintoma ou efeito colateral. Para todos os efeitos sempre ando prevenida.

- Muito bem, deixe-me ver seus olhos... – Dei uma pausa – Hum... Você tem sentido dificuldades em enxergar ou tem colocado força para ver nitidamente?

- Um pouco.

- Com que frequência?

- Não sei... Acho que quando passo muito tempo dirigindo.

- Tudo bem... – Coloquei o estetoscópio – Respire fundo.

Lá estava eu encarando os mesmos olhos daquele dia em Fox River.

Os mesmos olhos que me encantavam e me questionavam ao mesmo tempo.

- Michael, sua pressão está um pouco baixa. Você tomou seus remédios ontem?

- Tomei. Você ficou no meu pé o tempo todo, lembra?

- Sem gracinha, Scofield. Sabe que eu levo saúde a sério.

- Tá bom. – Ele sorriu como nos tempos da enfermaria da Penitenciária.

- Michael, agora você pode me dizer como ficou sem os dedos em Fox River? Prometo que não conto pro Pope. – sorri

- Então... Sabe aquela tesoura de jardinagem que...

- Michael...

- Tava só brincando com você. – sorriu – John Abruzzi. Eu conhecia uma testemunha que poderia trazer sérios danos aos seus negócios do lado de fora: Otto Fibonacci. Então, eu usei isso para que ele me colocasse na fábrica e nos ajudasse com a fuga. Só que Fibonacci era um homem honesto, eu não iria entregá-lo, isso só fazia parte do Plano. É aí que entra Nika que já sabia de algumas coisas soltas, mas não sabia bem o que eu estava planejando.

- Você contou pra ela?

- Contei o quê?

- Que ia tirar o Lincoln da prisão?

- Não. Nika e eu nos falávamos pouco. Casamos no dia anterior ao “roubo ao banco”. Ela estava numa situação complicada com o visto permanente e eu ajudei ela. Em troca eu tive essa garantia do lado de fora.

- Sei... Agora eu vou aplicar essa injeção em você. Vai diminuir a tontura e você vai acordar se sentindo bem melhor.

- Tá, tudo bem. Precisamos dormir, já são 23:25.

- Vai levar só um minuto.

Utah não parecia tão ameaçador agora. T-Bag estava preso, graças a Deus. Nunca vou esquecer o que aquele homem fazia com as pessoas e o que tentou fazer comigo. O lugar agora era apenas um poço de lembranças do qual não conseguia me ausentar.

Michael dormia enquanto eu avistava os prédios ao longe. Iluminados como que por faróis, os arranha-céus pareciam não se importar diante de tantos holofotes. Eu permanecia imóvel admirando a cidade quase deserta que outrora estava cercada de policiais e agentes que como cães farejavam os Oito de Fox River. Entre tantas lembranças, a imagem de Gretchen Morgan não me saía da cabeça. Com aqueles olhos azuis penetrantes ela conseguia quase tudo o que queria. Quase. Diante da Companhia, ela era apenas uma boa agente que como muitos, falharam. Treinada pelo próprio General Krantz, Gretchen matava e torturava quantos fosse preciso para alcançar seu objetivo, embora em alguns momentos se mostrasse frágil. Quando tocavam no nome de Emily, sua filha (que foi criada como sendo filha de sua irmã) ela mostrava alguma reação característica dos seres humanos. No demais, sua atitude fria e insípida me causava arrepios. Da ultima vez que a vi, prometi que estava longe de acertar minhas contas com ela. Enquanto Michael buscava um jeito de tirar Whistler de Sona para ter eu e L.J sãos e salvos, ela me manteve presa em um barraco, sem comida e sem água por dois dias. Isso aconteceu após a minha fuga do cativeiro onde estava junto com L.J.

Eu quase sucumbi à loucura. Sobrevivi tomando a água da chuva que se acumulou numa fresta de madeira do barraco. Gretchen me torturava como se descontasse todos os seus fardos sobre as minhas costas. Ela era uma psicopata e eu não tinha culpa. As chicotadas me doíam a alma. “Onde estará Scofield?” Essa pergunta me torturava. Não sabia se ele estava bem, nem o que a Companhia queria dele. Os ganchos agudos de aço... Esses, Gretchen fazia questão de deixar meio minuto no fogo antes de fazê-los arder em meu corpo. As cicatrizes ainda estão aqui. Mas nada se comparava a dor de estar longe de Michael. E se acontecesse algo comigo? Ele se culparia pro resto da vida e eu não suportava nem sequer pensar nisso.

No terceiro dia, apareceu uma policial que, para variar, Gretchen manteve refém junto comigo. Só que os planos para Michele eram outros. Num ato de heroísmo, ela me entregou a chave que foi o meu escape, no entanto, bem diante de meus olhos, Gretchen atirou em sua cabeça e o sangue dela espirrou em meu rosto. Apavorada, tentei fazer parar o sangramento, usei de todos os meios possíveis nas condições em que eu estava e vi Michele morrer em meus braços. Braços esses que nas últimas semanas estavam banhados de sangue. Então eu consegui destrancar a porta e fugi para Chicago. Consegui encontrar Bruce, amigo de meu pai e com ele fiquei durante algumas semanas. Nessa Correria, acabei deixando minha flor de aniversário para trás. Ela era a única coisa que me restara do Michael. A única flor que resistira a todos os meus anseios.

No entanto, as coisas com Gretchen ainda estavam pendentes. Eu ainda a encontraria para resolvermos essa história, não por mim, mas por Michele. Pela sua dedicação e altruísmo roubados por alguém que nem mesmo sabe o significado disso.

- Sara... Bom dia. – Disse Michael com a voz rouca.

- Oi... – Bocejei – Bom dia, Scofield... Que horas são?

Meus olhos quase não se abriam de sono.

Michael, ajoelhado ao pé da cama, mexia nos meus dedos numa tentativa frustrada de me despertar.

- 8:15. Você dormiu bem?

- Sim... Oh, Michael, Pára!

- O que foi? – Disse sorrindo

- Meus dedos... Pára.

- Não paro não. Até você levantar daí.

- Michael, eu tô falando sério.

- E quem disse que eu estou brincando?

- Michael! Ah, é assim então, não é? Então tá!

        Desci rapidamente da cama e agarrei no seu pé.

        - Vamos ver quem está brincando agora!

        - Não, Sara! No pé não... Ah!

        - É bom não é, Scofield? Eu sei muito bem como equilibrar um jogo.

        - É... Tenho que admitir. Minha mulher é mesmo muito forte.

“Minha mulher.” Aquelas palavras ecoaram em minha mente e desceram pelo meu coração até chegar à minha alma. Ainda ficava surpresa com as minhas reações diante de algo tão comum.

- “Minha mulher” – Repeti em tom triunfante – Gostei de ouvir isso.

- Então, o que a Minha Mulher quer fazer hoje, além de pegar a estrada?

- Só tomar o café-da-manhã mesmo. O resto a gente decide quando chegar em San Francisco, tudo bem?

- Tá bom, vamos tomar café então.

Ele me deu um beijo antes de me ajudar a levantar do chão, onde estávamos iguaiszinhos a duas crianças de oito anos brincando. Seu sorriso ainda era o mesmo porto seguro que eu conheci no ano passado. Não conseguia imaginar minha felicidade completa sem essa luz que emanava dos seus olhos verde-musgo. Com ele, cada dia da minha vida tinha uma história pra contar; tinha começo-meio-e-fim. Era algo que dava gosto de viver, relembrar e reviver.

Saímos de Utah direto pra San Francisco e depois de algumas horas chegamos ao Golden Gate Park. Estacionamos o carro para eu poder aplicar a injeção de Michael na hora certa.

- Michael, você não pode brincar com isso, tá? Qualquer sintoma comunique-me imediatamente.

- Eu tô bem, Sara... Relaxa. Eu tô tomando todos os remédios e você já cuida muito bem de mim.

- Só quero ter certeza de que está tudo em ordem.

- Ok... Vamos almoçar aqui e depois subimos pra minha casa, certo?

- Tá bom.

Almoçamos num restaurante de onde a vista era encantadora. Minha paixão pelo mar sempre me deixava com um ar distante e Michael perguntou se eu estava bem. Disse que sim com cabeça e apontei para ele o navio que eu queria estar e ele me prometeu que iríamos dar uma volta pelo mar no dia seguinte. Estávamos esperando pra sair quando tive uma surpresa que tomou meu fôlego. Confesso que nesse instante, todos os músculos do meu rosto se enrijeceram e eu me segurei para não esboçar nenhuma reação. Michael ficou tenso mas não esboçou surpresa; seu olhar permaneceu firme como se esperasse alguma coisa.

- O que você está fazendo aqui?!

- O mesmo que você, Michael.


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Notas finais do capítulo

"Nós estamos longe de ficar quites" (Sara Tancredi)



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