- Michael, segure isto.

- Tudo bem. Quanto tempo demora?

- Apenas alguns minutos. Não pressione.

- Tudo bem, Doutora. Em breve terá mais um paciente pra você cuidar.

- Talvez ele seja um pouco menos teimoso do que você, Scofield. – Sorriram.

        Los Angeles nunca seria a mesma. Depois que Kellerman deu exoneração a todos nós, a vida tornou-se... Não sei... Limpa. Podíamos andar pela praia todas as tardes sem ouvir tiros e sirenes atrás de nossas vidas. Agora consigo ver nitidamente através desse ano que passou. Era como se estivesse extasiada ou quando usava morfina. Mas agora está tudo funcionando tão bem como nunca esteve. Scylla está nas mãos certas agora e isso não nos ameaça mais. Mahone está planejando retomar sua vida, sem cadáveres no quintal e sem ameaças a ninguém. Sucre? Não poderia estar melhor. Ele é um papai coruja, eu e Michael fomos vê-lo ontem em Hermosillo no México, e ele não parou de falar um minuto sequer...

Nunca pensei que diria isso, mas fugir com um detento para além das fronteiras de Illinois foi a melhor escolha que fiz até hoje:

- Não acredito que acabou. Um dia eu estava de Jaleco branco em Fox River, mas não me sentia completa. Todos os caras que passaram pela minha vida no fim só me machucaram mais. E um dia, entrou um detento naquela sala... Estou feliz que esteja comigo.

- É... –deu uma pausa - Isto não estava previsto nos meus planos em Fox River, mas confesso que foi a melhor surpresa que eu podia esperar daquele lugar.

        Ele olhou-me com seus olhos sempre atentos que me dizem mil palavras antes de me dar um leve beijo na testa:

- Sabia que eu ainda não te perdoei por aquilo?

- O quê? Por eu não ser diabético? – Sorrisos

- Não, seu mentiroso. (risos) Pelo jantar. Lembra do burrito que você me comprou em Chicago?

- Claro, na volta da casa do Pope... Estava muito bom. (risos)

- Eu te amo.

- Eu também te amo, Sara.

        Nem sei há quanto tempo espero este momento. Estamos eu e o homem que salvou a minha vida, arriscando tudo para não me perder... Finalmente juntos.

Ontem passeamos de iate, enquanto ele me ensinava a fazer seus origamis e relembrávamos todas as mensagens que deixamos um pro outro. Aquela flor de origami que ganhei no meu aniversário, ela ainda está comigo. É, eu disse que não me apegaria àquelas flores que recebi em meus 23 aniversários em que meu pai não pôde me ver. Porque disse que “não gostava de me envolver com coisas que sabia que não iriam durar.” Mas essa é diferente. Lembro como o olhar de Scofield conseguia me prender, e quando eu não quis sorrir ele conseguiu distrair a dor do meu coração com aquela flor.

Eu sempre tentava me esconder dele, mas ao mesmo tempo não queria ter reservas. Eu sempre fui tão cuidadosa, mas com ele eu dispensava meu cuidado e me sentia tão... Segura. Desde a primeira vez, quando ele me fez rir ao citar a frase de Ghandi e perguntou se ela era minha; e todos os mistérios e perguntas que o cercavam, de alguma maneira eu sabia que o lugar dele não era aquele. De alguma maneira algo me prendia a ele.

Desde que saí de Fox River ele me protegeu, até nos encontrarmos em Gila, e assim foi até hoje... Não consigo pensar em mais nada a não ser na minha nova vida...

- Sara! Vem ver o que eu trouxe...

        Michael me entregou um pacote decorado com pássaros e anéis azuis em volta:

        - Vamos ver o que tem aqui...

        - Eu disse que iríamos precisar de um desses.

        - Ah, não! Você se lembrou mesmo disso?! Um livro sobre bebês? - risos, muitos risos -

Lancei-me ao seu pescoço como se nunca mais tivesse que soltá-lo.

        - Michael, a única coisa que eu quero agora é viver esses dias com você. Nós passamos por tanta coisa... Quando você esteve preso em Sona, eu me desesperei por pensar que nunca mais te veria de novo. Você é tudo que eu tenho... Quer dizer, vocês. – sorriso –

        - Eu também, Sara. Eu também.

Ele me abraçou forte, e nesse momento eu senti algo. Intenso demais para descrever. Era algo que me protegia e me assustava ao mesmo tempo. Depois de passar por Kellerman, Gretchen Morgan, T-Bag e pelos outros agentes da Companhia eu me sentia um pouco assustada com a paz que imperava nas nossas vidas.

- Agora tenho a surpresa de verdade.

- Como assim? Tem mais?!

- Fecha os olhos e segue em frente.

- Michael, - risadas – O que tá fazendo?

- Anda, você já vai descobrir!

- Tá bem, me ajuda aqui com o degrau, por favor.

- Tá quase lá, só mais um pouquinho.

- Se for mais um burrito eu juro que eu te mato, Scofield! – Risadas –

- Pronto, chegamos. Pode abrir os olhos.

- Michael... Eu, eu...

        Nunca acreditariam no que eu senti quando vi aquilo. A mesa da sala estava coberta de pétalas de rosas, e no centro estava um sapatinho azul de bebê, e dentro dele havia um par de alianças. Tinha nossos nomes gravados nos anéis, um colar com conchinhas do mar e um barquinho de papel escrito: “O Oceano é o seu jardim da frente” Não tive tempo de pensar sobre aquilo tudo que eu vi:

- Sara, lembra do nosso encontro que teríamos em Baja, que eu te falei? Lembra quando te convidei pra jantar quando eu saísse vivo de Fox River? Lembra quando eu falei que não seria pra sempre daquele jeito? Eu te falei que colocaríamos aquele seu barquinho na água e iríamos sumir do mundo...

- Michael...

- Sara... Casa comigo?

Meus olhos brilharam tão forte que meu coração parou por um instante. Vai me dizer que não é o sonho de qualquer mulher? Com meus 29 anos não pensei que sentiria a mesma emoção de quando o vi pela primeira vez naquela enfermaria. Naquela hora senti o quanto precisava dele do meu lado e como eu enfrentaria mais meio mundo se fosse preciso para tê-lo comigo.

- Sim... Michael... Claro que sim. – Disse com voz trêmula –

- Sara, eu te amo... Eu vou ser o melhor marido de Chicago. – risos e lágrimas

- Tá, tudo bem, maridão. Pelo menos esse anel é de verdade, diferente daquele do hospital.

- Mas foi você que disse pra médica que era minha esposa. – disse sorrindo –

- Mas olha, eu tinha que ter certeza que ia ter acesso aos resultados dos exames. Tive que fazer esse sacrifício, sabe... – brinquei -

- Estou planejando tudo... Que tal daqui a um mês? Só quero me certificar de te deixar bastante ansiosa até lá. 

- Um mês, Michael... Até lá eu vou estar certa de que você já leu o livro pelo menos umas dez vezes!

- Quero que o pequeno Scofield cresça sabendo que o pai dele ama a mãe dele e que ela é a mulher da vida dele.

- Obrigada Michael, mas fala como se você não fosse estar conosco...

- Apenas quero que ele tenha todo amor que pudermos dar a ele...

Sentia-me feliz, tudo tinha valido a pena. Estávamos seguindo em frente e tudo isso me fazia acreditar em um novo recomeço. Uma vida de verdade...

Meu pensamento foi interrompido pelo telefone:

- Michael, querido, pode atender? Estou no celular ligando para o centro de registros, providenciando alguns documentos 

- Alô.

- Oi Michael... Lembra de mim?

- Você...

- Aposto que está surpreso, querido, mas precisamos conversar. Às cinco. Sem atraso, Dugdale Park. 

Vi o rosto de Michael empalidecer e corar logo em seguida:

- Michael, tá tudo bem? Quem era no telefone?

- Não sei, não tenho certeza. Me pediu para estar no Dugdale às cinco. 

- Michael... 

- Sara, eu preciso ir... Por nós. Eu você e nosso filho. 

Precisei de uma longa pausa pra respirar:

- Tudo bem. Se cuida. 

- Amo você, Sara. - E direcionando-se à minha barriga - Amo você, bebê. Fica aí bem forte e cuida da mamãe que o papai volta já, tá?

- Também te amamos, por favor, cuidado. - sorri com carinho - 

Incrível como eu nunca esqueceria aquele beijo. Um misto de preocupação, amor e dedicação. Michael não me deixaria. Não se atreveria a fazê-lo depois de tudo que aconteceu conosco no ano passado. Nem poderia.