Same Blood escrita por iamavillain


Capítulo 1
Caça Obrigatória


Notas iniciais do capítulo

Muitos ships. E ships inexistentes. A fic passa longe do foco em só um casal, trama etc.



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Aquele deveria ser o dia mais feliz que todas as minhas encarnações já teriam vivido. Quer dizer... vencer meu ‘avôzinho querido’, cujos únicos ensinamentos haviam sido os de como se tornar o pior tipo de ser humano possível e as únicas estórinhas contadas eram sobre como a vida poderia ser uma puta, ah, aquela era a melhor sensação do mundo.

- Você ainda vai me implorar por alguma migalha de pão, netinha querida. – sussurrou, baixo o suficiente para que eu fosse a única a ouvir, enquanto me abraçava da forma mais aparentemente meiga possível. 

-  É assim que se sente agora?  - sorri, encarando o velho de forma que eu sabia que o irritaria. Ele não poderia fazer nada naquela hora, de qualquer forma, tinha que manter a pose de senhor aposentado que vivia pelos netos.

– Implorando por uma migalha de pão?

- Mas é claro que não. – disse, defendendo-se. – As coisas vão inverter tão de pressa que eu nem vou sentir o tempo passar.

E eu dei as costas a ele. Aquele velho já tinha me atrapalhado demais, e olhar para a cara dele já chegava a me deixar nauseada.

Quando entrei na antiga casa dos meus pais - agora minha -, aquele parecia ser o melhor dia para se passar lá. Não via a hora de dizer ao meu irmão que “tudo estava resolvido”. Aquilo era o que eu podia contar para uma criança de oito anos, mesmo que  as palavras que realmente passavam pela minha cabeça fossem “temos dinheiro e não temos avô”. Subi as escadas para o segundo andar, onde ficavam os quartos e parei na porta do que era do meu irmão.

-  Lisa, Lisa! – ele chamou, e logo estava parado a minha frente, me encarando ansiosamente. Ele sabia que algo importante estava marcado para aquele dia, só não sabia o que. Eu não iria explicar para uma criança inocente que eu tinha ido ‘garantir nossa herança’.  – E então?

Disse, como se pensasse que eu ia mesmo contar o que havia acontecido. Sorri, me ajoelhando para ficar mais ou menos da sua altura.

- Deu certo. – disse, torcendo para que ele não perguntasse o que.

- Hum... – disse, ficando pensativo por alguns instantes – O quê?

Perguntou, e meu sorriso de satisfação automaticamente se desfez. Droga, eu não havia pensado bem no que responder quando a  aquilo.

- Hm... eu... não posso te explicar agora. – disse, sendo fuzilada com olhar  - Eu vou te explicar, - continuei, ignorando a expressão contorcida dele -  um dia. Quando você for maior.

- MAS EU QUERO SABER AGORA!

- Olha... – comecei, incerta – pensa que a vida é como uma maionese. – disse, e ele ergueu a sombrancelha assim que ouviu aquilo. E eu tive vontade de fazer o mesmo, assim que percebi o que havia saído da minha boca. Mesmo assim, continuei com aquele exemplo tosco – Como uma maionese, por quê não? – sorri amarelo, tentando soar convincente – Você sabe que a maionese, como muitas outras comidas, tem uma data de validade. Você só pode comer ela até quando está escrito que você pode, porquê se você comer depois, isso vai te fazer mal... certo? – ele concordou com a cabeça e eu suspirei aliviada, continuando – Então... pensa que você tem uma data de validade também, mas que ela funciona ao contrário da de uma maionese. É como uma data de validade que diz quando você pode abrir essa maionese, ao invés de quando você deve deixar de abri-la... O que eu quero dizer é... ainda não chegou a hora de abrir seu pote de maionese para algumas coisas, você tem que esperar a data de validade chegar, porque se não...

- Isso pode me fazer mal? – completou e eu lhe sorri satisfeita. Se vendessem aqueles biscoitos para treinar cães, só que para crianças, eu definitivamente teria que ter entregado o pacote todo pra ele naquele momento.

- Isso mesmo. – sorri – E eu estou aqui pra não deixar que nada de mal te aconteça. Mas agora ‘tá tudo bem... ninguém vai nos atrapalhar mais.

Disse, abraçando-o. Ainda abraçada nele – abraço esse do qual ele queria se livrar – um ruído forte cortou o ambiente, fazendo com que nós dois interrompêssemos aquilo para olhar em direção à porta. Meu irmão olhava assustado para a porta, mas de alguma forma queria aparentar coragem.

-  Que barulho foi esse, Lisa? -  me encarou com os olhinhos preocupados e eu continuei encarando a porta, mas logo virei-me em sua direção, tentando soar ao menos mais despreocupada que ele.

- Não é nada, não. – sorri amarelo, e ele pareceu não acreditar – É... uma surpresa. É uma surpresa minha para você.

- Você ‘tá mentindo, mana. – disse, acusador – São vampiros, não são?  O vovô me mostrou um filme sobre isso. Eles... eles são maus e fazem mau, mana, a gente tem que pegar eles!

- Não... – Eu disse, sem saber ao certo com o que completar. Aquele verme ainda tinha sujado a mente dele com aqueles filmes podres. Isso se não fosse ele o causador daquele ruído. – Essas coisas não existem, Brent.

E enquanto eu dizia aquilo, só para contrariar, um outro ruído mais forte chegou até o quarto, fazendo meu irmão se encolher, e eu fazer o mesmo.

- Eu vou lá...  – se desvencilhou dos meus braços, que o traziam para perto protetoramente, correndo em direção à porta.

- Não! – eu disse, tentando o puxar para dentro novamente frustradamente  - O que você pensa que vai fazer?

- Matar os vampiros. – disse, sem nenhum resto de dúvida na voz e eu o encarei sem saber o que dizer. – Eu sei como é, mana... é fácil. Olha, é só eu achar alguma coisa de prata e furar eles.

- Não... Brent, vampiros NÃO existem. E você não vai descer lá, eu já disse,  é minha surpresa pra você.

E outro ruído. Não era como se aquilo fosse fácil de ignorar, principalmente porque naquela altura os ruídos e estranhos gemidos de dor já eram ouvidos tão bem que era como se viessem daquele quarto mesmo, e não do andar de baixo. Quando desviei olhar da direção de onde eles vinham, Brent já não estava do meu lado. Não consegui pensar em nada além de alcançar ele antes daquele velho. Ele não ia fazer nada com o meu irmão, porque eu não ia deixar. Passei correndo pela porta entreaberta do quarto e tentei correr o mais rápido que meus pés me permitiram escada abaixo, mas a conhecida faca feita de prata caída sobre um dos degraus da escada me fez congelar ali. Ele tinha mesmo tentado matar algum tipo de vampiro, e o fato daquela faca ter sido abandonada ali só podia significar que o sanguessuga de verdade, nosso avô, já tinha o alcançado. Me ajoelhei, pegando aquela grande faca na mão e a apertando com força. Aquilo me seria útil. Porém, assim que me virei para seguir pela casa à procura do velho e do meu irmão, me deparei com algo que eu sabia que não iria esquecer. Lá estavam quatro desconhecidos, não aparentavam ser muito mais velhos do que eu, mas definitivamente não pareciam ter gostos em comum com os meus, muito menos interesses. Eram pálidos, altos e algo na cor dos olhos de cada um parecia brilhar mais do que em qualquer outras pessoas que eu já havia visto, como se eles dissessem algo importante  através deles. E então eu lembrei do meu irmão, e que talvez eles tivessem sido contratados justamente para fazer algo com ele. Então assim que eu corri alguns passos para ver melhor a grande sala, ignorando seus olhares para cima de mim, pude ver que não tinha mais tempo. Havia um corpo  – se é que eu podia chamar assim   – ,e mesmo que tivesse tão destruído que quase não desse para saber se era de um humano, eu sabia que era dele. Era o meu irmão ali, tão ferido que eu quase não conseguia reconhecer, morto. Morto por aqueles quatro, eu soube assim que o vi ali, caído. E assim que voltei meus olhos para os mesmos quatro, uma lágrima caindo inevitavelmente dali, eu percebi que havia sangue escorrendo da boca de dois deles. Sangue. Não podia ser o que eu estava pensando, só podia ser um pesadelo encomendado pelas pragas daquele velho para mim. Eles não podiam ser vampiros, e não podiam ter feito aquilo com o meu irmão para saírem livres. Mas eu não tinha como fazer nada naquele momento, então eu fui débil suficiente para sair correndo escada acima. Até um filme de terror de segunda te faz ter conhecimento suficiente para saber que correr nunca ajuda, mas não era como se eu tivesse tido muito tempo para pensar.

 – Mais uma não...  – ouvi um deles choramingar   – Se quiser, pegue ela você, Wentz.

Disse se referindo a mim, fazendo com que o que parecia o sobrenome ou algo do tipo do outro vampiro soasse com desprezo, como se guardasse algum rancor. E eu não demorei a ouvir a voz do outro... Wentz.

–  Certo.  – disse ofegante e eu congelei. Fiquei ali, parada próxima a escada, já no andar de cima, esperando que alguma atitude fosse tomada. Não era como se eu me importasse em viver ou não, eles já haviam tirado a única coisa que me importava.  – Eu disse que cumpriria...

Disse, se referindo à algo que eu não sabia do que se tratava. E então, em um piscar de olhos, ele já estava parado à minha frente. E quando eu digo que foi em um piscar de olhos, não é uma forma de expressão, eu realmente não entendia como ele havia chego lá tão rápida e sutilmente. Ele me olhou nos olhos, e eles tinham um tom escurecido, inexpressivo.

– Demorado. – repetiu a si mesmo, como que aceitando uma condição, e eu o encarei, milhares de perguntas passando pela minha cabeça, mas nenhuma pela minha boca.  – Vai valer a pena quando forem vocês, suas pestes.

Disse, e eu começava a pensar se ele estava delirando ou algo do tipo, a falta de sentido no que ele dizia tornava aquilo mais assustador. Mas então ele voltou o olhar na minha direção novamente, se concentrando em fazer logo o que parecia uma obrigação. E ele me arrastou porta adentro do quarto onde a apenas alguns minutos antes eu e meu irmão estávamos, me largando lá. Eu caí no chão mesmo sem que ele tivesse encostado em mim, minhas pernas pareciam não funcionar, e eu sabia que o resto do corpo também. Ele deu de ombros, provavelmente eu só o havia ajudado, e se ajoelhou ao meu lado. Abri a boca para dizer alguma coisa em objeção, mas logo senti seus dentes contra meu pescoço e tudo o que saiu da minha boca foi um grito que ele tratou de ignorar. O tempo passava enquanto ele sugava meu sangue e eu gritava, mesmo que inutilmente, até que ele finalmente parou. Ele simplesmente parou, e seguiu em direção à sacada do quarto, sumindo. Um curto espaço de tempo se passou, a dor ainda percorrendo meu corpo suficientemente para que eu não pudesse aproveitar a brecha para fugir, e então eu ouvi um barulho, daqueles que se ouve quando algo muito pesado cai. Ele tinha me abandonado ali, com aquela dor insuportável. Não tinha me matado. Por quê diabos não tinha me matado?!

Minutos se passaram. Minutos que pareciam séculos. E então a dor sumiu. Eu passei a mão pelo meu pescoço e lá só tinha restado uma cicatriz. E então eu comecei a sentir todos a minha volta com um aroma muito peculiar, não era o perfume caríssimo que haviam comprado, nem o aroma natural de pele que os românticos dizem sentir, era sangue. Sangue humano, e aquilo me atraía mais do que qualquer coisa. Ele havia me transformado em um daqueles. Eu era uma vampira abandonada sem qualquer tipo de orientação, sem o meu irmão... sem ninguém. Ele podia ter me matado, mas tinha decidido me largar ali, para sofrer pela eternidade. Aquilo era muito mais cruel do que matar para satisfazer necessidades, e eu sabia que teria que ter forças, porque eu iria me vingar. Mas, mesmo que eu quisesse, aquela fome era muito maior do que qualquer lembrança humana que eu tinha. Então eu acabei esquecendo todas elas, só me passava pela cabeça o sangue. Eu me tornei um daqueles vampiros não pensantes. Os estragados. E eu continuava daquele jeito, até conhecer um vampiro diferente. Eu o ataquei, não tinha preferência entre sangue humano ou de vampiros, atacava qualquer um, mas ele fácilmente se desvenciliou de mim. Mas ao invés de me matar, ele me levou com ele para um lugar. Lá, ele me doou parte de seu próprio sangue. Eu estava suficientemente alimentada, e eu... pensava. Aquilo sempre acontecia quando eu bebia o sangue de vampiros como eu, minha mente funcionava novamente, mas o efeito sempre acabava. Eu contribuía para que acabasse, era bem melhor não pensar em nada do que lembrar de tudo aquilo. Mas ele não parecia disposto a me deixar tornar um daqueles inconscientes novamente. Disse que seu nome era Robert. Robert McCracken. Depois me apresentou a alguém, tão estranhamente tranqüilo  quanto ele, se chamava Quinn Allman. Não retribuí as apresentações. Não disse quem era. Não disse nada. Mas eles eram convincentes, conseguiram me deixar “sóbria” novamente. Então, quando eu finalmente me deixei lembrar de tudo aquilo, contei à eles, e contei dos meus antigos planos de vingança. Eles disseram que podiam me ajudar, então eu deixei. Disse o sobrenome, que nunca saíra da minha mente e eles reconheceram. Quinn me contou que talvez soubesse o que tinha acontecido, ignorando o que eu dizia sobre saber mais do que ele. Então me disse que, há algum tempo, Wentz – que McCracken havia me contado se chamar Peter Wentz  –  tinha feito uma aposta com dois vampiros conhecidos entre os da espécie. Eles eram chamadosde “Pestes”, justamente por serem os causadores de quase tudo que atingia outros vampiros. Essas Pestes haviam feito essa aposta, que desafiava Wentz e mais três vampiros com quem ele andava, Travis McCoy, William Beckett e Gabriel Saporta, a se satisfazerem de forma cruel. Eles diziam que os quatro não eram capazes porque agiam como humanos na maior parte do tempo, o que incluía terem bandas onde o público eram humanos. Wentz era um vampiro com um ego gigantesco, não que não fosse assim com muitos outros, e aceitou a aposta. Mas aquilo era uma obrigação, principalmente para os outros.  Quinn disse que talvez o vampiro tivesse a deixado viva porque não conseguira pegar as ‘pestes’, e então havia se vingado no primeiro que aparecesse na sua frente, e McCracken parecia concordar com aquilo. Não era como se eu fosse seguir Allman, mas McCracken... ele parecia alguém com muita segurança no que dizia. E o que ele havia dito sobre o porquê do vampiro ter deixado que eu me transformasse só havia me deixado com mais ódio do quão egoísta ele era. Me vingar não era uma opção, eu sabia que só conseguiria seguir em frente depois que isso tivesse sido feito. Então aceitei a proposta dos dois. Minha moradia pelos anos em que eu tive que esperar até que tivesse auto–controle e experiência fora algo como um museu onde eles viviam. Eu não era a única vampira lá, eles eram experientes em dar a outros vampiros ensinamentos, então aquilo funcionava como uma academia. E assim que McCracken e Allman tinham certeza que eu podia começar a agir, McCracken me entregou um papel. Ele disse que nenhum dos dois poderia me ajudar como eu precisava, e que aquele papel continha as informações que eu precisava sobre alguém que me ajudaria. “Oliver Sykes”, era o que estava escrito, seguido do que parecia ser um endereço. Eu demorei a aceitar a idéia de que os dois não iriam comigo e eu teria que partir sozinha, mas eu tinha uma eternidade pela frente, e a melhor forma de vive –la continuava sendo a vingança. Eu iria atrás de Oliver Sykes, e nós veríamos se ele era mesmo um bom cúmplice para o que eu pretendia fazer.


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