Sua vista girou depois de ter usado tanta energia. Seu corpo caía sem a menor força restante. Gun pairava estendido no chão, olhos fechados, desmaiado. No entanto, sua mente viajava para outro lugar. Ela já não se encontrava naquela grande cidade onde tudo era movido a vapor. Suas costas sentiam um familiar gramado pinicar.

E assim as cores iam se formando... Primeiro, um verde vívido que ele não via há eras, na sua terra natal. Ele levantou-se e olhou em volta. Um garoto de uns oito anos brincava com seu pai em baixo de uma árvore seca. O espadachim observava os dois alegres, desfrutando o momento quando decidiu aproximar-se sem preocupação. Afinal de contas, os dois estavam felizes e despreocupados e não havia o que temer... Talvez.

À medida que se aproximava, as formas se tornavam mais nítidas revelando quem eram. Para a surpresa de Gun, eram ninguém mais ninguém menos que ele mesmo e seu filho! Aquilo roubou as forças de suas pernas e o deixou de joelhos. Ele admirava aquilo, coisa que não via há anos e isso poderia notar-se nas feições do seu antigo “eu”: Jovem, com a barba feita, seu cabelo aparado e penteado num tom castanho vívido e seus olhos pretos cheios de vida contrastavam com o seu visual atual. Visual que o tempo deformou como os ventos deformam uma pedra.

Um sentimento enorme daquilo parecia querer tomá-lo. Suas mãos tremiam sob suas coxas e ele abaixava a cabeça. Curiosamente, ele não chorou, não gritou... sequer fez nada. Para ele, aquilo era algo que foi parte de sua vida, mas, ao mesmo tempo, aquela visão era tão estranha para ele. Era a sensação de que duas peças não se encaixavam. Uma sensação de deslocamento.

Infelizmente, ele não teve nem mais um momento para refletir sobre isso. Uma outra figura familiar pisava na grama e deslizava pelo chão lentamente. Caminhando, ele desembainhava a espada.

“Não...” Sussurrou Gun. Sua força finalmente voltava com tudo, trazendo consigo outro grito.

“Não, Velvet!”

Velvet brandiu a espada, desferindo um golpe definitivo na criança. O vermelho do sangue tingia o gramado com uma nitidez que Gun não queria ver de novo. Gun avançou como um raio em direção de Velvet, deixando o gramado para trás e pairando com o seu irmão em plena escuridão. Velvet virou-se lentamente, sorrindo. “Ora, meu querido irmão... qual o seu problema? Não gosta de uma brincadeirinha inocente?” Perguntou-lhe, soltando a espada e esta desaparecendo em meio a fumaça na escuridão.

“Brincadeirinha inocente?”, rugiu Gun enquanto corria para cima de Velvet em vão. Os dois se mantinham na mesma distância. “Mas, vai me dizer que sentiu mesmo saudades daquilo, Gun?” Gun apenas corria, queria pegá-lo. Queria fazê-lo pagar. Enquanto isso, pequenos pontos brilhantes iam tomando forma atrás de Velvet. O mesmo novamente indagou. “Vai me dizer que você sentiu falta de estar lá?” A corrida do espadachim ia ficando mais lenta, reduzindo-se a alguns passos, até ele parar no meio de diversas luzes avermelhadas. “Aliás, será que você estava mesmo lá?”