O baixista beijou o topo da cabeça do vocalista encolhido em seus braços. Estavam ambos nus, deitados na cama espaçosa de Reita, no estado ofegante e suado característico depois do sexo. Era a quinta vez que essa cena em particular se repetia, causada não pela atração sexual espontânea entre as duas figuras, mas sim unicamente pela necessidade do menor por afeição. Em cada uma das ocorrências, o que precedera a cena aparentemente pacífica fora o término de algum relacionamento de Ruki, o que o levava inevitavelmente a buscar consolo com o baixista. Consolo este que na grande maioria das vezes envolvia algum grau de contato físico entre os dois.

            Assim, o que vinha primeiro era a ligação.

            "Alô?"

            "Akira? Você está em casa?"

            "Hai."

            "Posso ir aí?"

            Três palavras que deixavam claro que havia algo de errado, e Reita, ao encerrar a chamada, suspirava ao pensar no que estava por vir. Preparava-se psicologicamente para deixar qualquer coisa referente a si próprio de lado, e incorporar o papel, aparentemente simples, que lhe era designado: ser exatamente tudo o que Ruki precisava naquele momento.

            Depois, quando o vocalista já estava seguro no interior de seu apartamento, sentado ao seu lado no sofá, vinham as lágrimas. Silenciosas, sempre silenciosas. E a frase.

            "Eu não sei o que aconteceu, Akira..."

            E então Reita abraçaria o corpo menor que o seu próprio, aninhando-o contra o peito, sentindo-se estraçalhar toda vez que assistia ao outro colapsar diante de si, depois de mais uma tentativa de final feliz arruinada. Ele sabia, então, que os próximos dias, ou semanas, dependendo de quão afetado Ruki tivesse sido, seriam um período de fartura quanto às composições da banda. Mas isso não melhorava em nada a tristeza que sentia pelo menor.

            Por último, vinha a sempre presente necessidade que Ruki tinha de dar e receber afeto.

            "Aki... por favor..."

            Sem dizer mais nada, Ruki o beijava. E Reita entendia perfeitamente tudo o que estava subentendido naquela breve súplica. O quanto o vocalista precisava daquele contato, mas também a superficialidade do que aquilo significaria para o relacionamento dos dois. Que aquilo era um consolo, que o baixista não era mais do que o amigo mais caro ao menor.

            Assim, Reita sorria brevemente e o beijava de volta, oferecendo ao outro, ainda que este não notasse, toda a extensão de seus sentimentos, na única ocasião em que isto lhe era possível. Sempre, sempre tomando o cuidado de não ultrapassar as barreiras que separavam o consolo de algo mais além.

            O que o vocalista nunca percebera - e nunca perceberia, enquanto o baixista não permitisse - eram os sentimentos por trás daquele sorriso. A tristeza, mas ao mesmo tempo a completa e sincera disposição - mais conhecida como amor - de ignorar todo o resto em favor unicamente das necessidades do homem à sua frente.

            Ou pelo menos era isso que Reita pensava. Porque, enquanto as dois colegas de banda trocavam carícias cada vez mais devidas a amantes, os pensamentos do mais baixo deles eram ocupados por uma única frase.

            "Gomen, Akira."