POV Annabeth

_ Quer dizer... Nossa.

Por um breve momento, achei que Katie estivesse se referindo ao que acabara de lhe contar. Apesar de Nico ter me pedido para não contar nosso “plano” para ninguém, ainda era difícil para eu engolir essa história toda sozinha.

Mas, assim que olhei na direção de seus grandes olhos verde oliva, entendi o porquê de sua pequena boca estar aberta num tão grande “O”. Do outro lado do corredor, o tal do Travis Stoll, o garoto com que Katie havia ficado na festa na casa de Luke, pressionava contra os armários, de um jeito bem... Intimo Drew, a irmã mais nova de Silena e líder de torcida que havia entrado para equipe há duas semanas, como Katie.

_ Eu... Meu Deus, Annie, eu não consigo acreditar.

Senti pena dela. Quer dizer, lá estava eu, estupidamente jogando em cima da garota toda a história da minha vida de merda e do maldito plano de “vingança” do Di Ângelo enquanto ela, claramente, sentia-se torturada e com o coração apertado com a cena que via.

_ Acho que não foi uma simples ficada para você _ murmurei baixinho. Estranhamente, eu entendia perfeitamente o que Katie estava sentido.

_ Eu pensei que fosse ser. Mas aí, talvez tenha sido porque eu estava bêbada, eu senti alguma coisa diferente quando ele me beijou, sabe? Eu até pensei que ele fosse vir falar comigo depois na escola... Nos primeiros dias, nada. Silena falou que eu deveria ter paciência. Só que a tal da “paciência” levou a isso aí _ ela direcionou a cabeça para onde eles estavam.

_ Ele é só mais um jogador idiota. E o que aconteceu com Silena não acontece com todas as garotas. Quer dizer, dar a sorte de achar um cara bonito e legal como o Charles.

_ Você deve saber como é isso. Você já namorou Luke Castellan.

Katie disse isso baixinho, como se sentisse um pouco de vergonha do que dizia. Talvez ainda estivesse meio abalada, eu não sei. A maneira nostálgica com que observava o casalsinho entrar na sala de aula era dolorosa.

_ E descobri que ele era um idiota. E que Thalia também era uma idiota. E que todos eram uns idiotas.

_ Eu sei... _ ela suspirou _ Desculpa Annabeth, mas é que... Você já parou pra pensar se é certo esse negócio todo?

_ O que?

_ Esse negócio de se vingar. Você não pensou que, se vingando, estaria meio que se igualando a Luke, Thalia ou Rachel?

Ela me pegara de surpresa. Pensei que pudesse ser alguma pegadinha, brincadeira, mas seus olhos agora me olhavam sérios, analisando a minha reação. Praguejei baixinho antes de virar-me para ela e dar uma resposta nada esclarecedora:

_ Eu não sei. Esse é o problema. Depois disso tudo que aconteceu comigo... Eu não sei mais o que é certo.

_ Tarde demais. _ ela deu um longe e profundo suspiro, batendo a porta de seu armário _ Seu namorado vem aí.

E saiu, dando risadinhas e ora ou outra olhando para minha cara de um jeito gozado. Não pude deixar de xingá-la em mais de um idioma. Realmente, Nico vinha em minha direção, com um aquele maldito sorriso calmo, ao mesmo tem que sarcástico, no rosto.

Preciso admitir que não pudesse deixar de me sentir nervosa. Era o nosso primeiro dia de “namoro” e parecia que eu tivesse comido borboletas vivas no café da manhã, porque várias delas batiam as asinhas dentro do meu estômago.

Ele usava a mesma jaqueta de couro da festa. Subitamente, veio-me a lembrança de quando tentei o beijar, tão bêbada que o confundi com Percy, algo que seria impossível de fazer sóbria. Nico tinha a pele meio pálida, olhos negros e profundos e o cabelo escuro formando um topete meio desengonçado. Lindo, eu sei, mas de um jeito completamente diferente do meu novo vizinho, com os olhos verde mar e o estranho cheiro de maresia.

_ Limpa a baba, Annabeth.

_ Vá se ferrar, Di Ângelo _ ralhei, embora de imediato tenha passado a mão embaixo da minha boca. Ele riu e me deu um selinho, bem ali, na frente da escola inteira.

_ Nico!

_ Nós somos namorados agora, benzinho.

_ Não em chame de benz...

Eu iria protestar. Ele seria a segunda pessoa, no dia de hoje que eu xingaria com todos os palavrões conhecidos de meu vocabulário se ele não tivesse me pressionado contra o armário trancado de Katie e me beijasse, exatamente como Travis estava fazendo com Drew há alguns poucos minutos atrás.

Sei que poderia ter lutado contra. Iria empurrá-lo. Mas assim que pus a mão sobre seu peito, vir Percy caminhando com Rachel na nossa direção. E cedi ao beijo.

POV Percy

A empregada pedira que esperasse sentado na sala enquanto ela chamaria Rachel. Mas isso fora há quase uma hora atrás.

Se ainda tivesse algum vislumbre de unha para roer, ela já teria indo embora há muito tempo. Meus dedos ficaram quase em carne viva enquanto eu observava a luxuosa residência dos Dare. Os quadros de artistas famosos pelas paredes, os móveis caros, as tapeçarias e o enorme lustre de cristal pendendo no teto. Embora tudo ali fosse lindo, parecia definitivamente errado para mim. Como se eu não pertencesse àquele lugar.

Finalmente Rachel desceu a enorme escadaria, numa minúscula saia jeans que parecia não ter mais para onde subir a cada passo que dava. Não me notou, quase morrendo em cima de seu sofá, distraída, falando ao telefone.

_ Amiga relaxa. Sério. Você está com Luke e formam um lindo casal. Por que deveria se preocupar com a Chase?

Ela fez uma pausa, também parando de descer as escadas. Franzindo os lábios, toda séria e concentrada, parecia uma pessoa completamente diferente. Imaginei que estivesse falando com Thalia, pelo que era dito.

_ Você pode até ainda gostar um pouquinho dele, e sim, é perfeitamente normal. Mas você não pode deixar o Luke por causa daqueles dois.

Rachel finalmente pareceu me notar ali, ficando estática e atordoada, desligando o celular com uma calma nada típica dela. Deu um sorriso que não pareceu muito espontâneo quando me viu, de braços cruzados e com o cenho franzido.

_ Não me avisaram que você já havia chegado. _ ela disse, sentando-se no meu colo e me dando um selinho.

_ A empregada subiu há mais de meia hora.

_ Aqueles inúteis _ revirou os olhos _ Mas então... Está nervoso?

Lembrei-me do motivo de estar ali, sentindo um calafrio percorrer todo meu corpo. E não era só pelo fato de Rachel estar prestes a me apresentar ao pai dela. Aquilo significaria tornar tudo que tínhamos algo sério, de verdade. E enxergar Rachel como uma garota séria era tudo que eu menos fazia. Provavelmente ela tinha conhecimento de que eu entedia seus motivos para tal, mas fingia desconhecer os tais.

Não pude deixar de achar estranho como sua mão ficou tão gélida quanto a minha ao ver Annabeth com o garoto novo. Quer dizer, uma semana atrás ele não falava com ninguém e, tcham, os dois são um casal.

Obviamente, os sentimentos que passaram pela sua cabeça naquele momento não foram os mesmos que os meus. A mesma raiva inexplicável, um ódio vindo sabe-se-lá-da-onde. Annabeth era apenas uma amiga, minha nova vizinha. Não deveria sentir-me feliz ao vê-la feliz e bem e com o cara de quem gostava? Será que tudo aquilo que acontecera na minha casa, logo após a festa de Luke, realmente mexera tanto comigo assim?

_ Eu entendo que você esteja nervoso, querido _ disse Rachel no meio de uma risada suave _ mas ele é um cara tranquilo... E parece que chegou.

Olhei, de imediato, na mesma direção que ela. E o homem parado na soleira não me pareceu “um cara tranquilo”. Impecável em seu terno de luxo, o senhor Dare, com seus cabelos grisalhos, seus aparentes cinquenta anos e olhos intensamente verdes como os de Rachel parecia um soldado romano prestes a ir à guerra.

_ Rachel, eu já disse para... Para parar de trazer seus namoradinhos para casa.

_ Pai _ ela se levantou de súbito, pondo-se frente a frente com o homem _ ele não é um “namoradinho qualquer”.

_ Você disse isso em relação a todos os outros.

_ Eu o amo. Será que você poderia ao menos fingir se importar com isso?

O Sr. Dare respirou fundo e pôs as mãos no bolso da calça, como se caso não o fizesse, pudesse dar uma bofetada no rosto da filha ali mesmo. Quanto a esta, parecia indignada, tão implacável quanto o homem a sua frente, embora começasse a formarem-se lágrimas em seus olhos duros e frios.

_ Eu tenho certeza que se você concordasse comigo e sua mãe não teria esse tipo de problemas na Suíça.

_ Eu não quero ir pra porra nenhuma de internato!

Rachel gritou, batendo os pés no chão, perdendo as estribeiras. Mas o homem apenas a empurrou de leve, passando por ela como se fosse uma erva daninha crescendo no chão, entrando na casa e subindo as escadas com calma e leveza, enquanto, sua filha frustrada, chorava aos berros, gritando sobre o quanto o odiava.

Ainda meio atônito, levantei-me e pus-me atrás de Rachel, massageando seus ombros de leve. Aquela era a primeira vez que conseguia enxergar um lado mais humano, mais sensível da líder de torcida. Mas ela pareceu não gostar nem um pouco.

_ Vá embora. Por favor, Percy, vá embora.

Ela sussurrou baixinho, ainda de costas para mim. Precisou repetir algumas outras vezes, e quando senti que sua voz parecia mais calma, retirei-me da casa.

Já do lado de fora, consegui escutar um último grito fino e revoltado.