"Deviam ser umas três da manhã e não conseguia dormir... Estava suado, nervoso, tremendo. Nunca estive tão nervoso por um motivo tão idiota!

Era Julho, época de férias escolares e como sempre vários jovens viajam com a família ou amigos, eu optei por viajar com meus amigos. Fizemos uma "vaquinha" com uns 20 ou mais amigos e alugamos um apartamento em uma cidade aonde só precisava ter praia e um lugar pra comer... Várias amigas e amigos foram, era aquela sensação gostosa que toda aquela bagunça proporcionava, obviamente minha melhor amiga foi... bem, eu era apaixonado por ela e isso não podia ser mais cliche! Não conseguia dormir imaginando ela dormindo no quarto ao lado.

Levantei, calçei meus chinelos, e fui ao banheiro, trancando a porta olhei para o espelho e vi minha imagem, eu estava com as buchechas vermelhas e molhadas, meu cabelo negro estava com alguns fios grudados devido ao suor, estava apenas com uma bermuda e ainda assim estava morrendo de calor. Lavei o rosto com água gelada, joguei água no meu cabelo e dei uma bagunçada com minhas mãos. Quando estava saíndo ouvi um barulho vindo da sala, fui até lá e vi ela...minha primeira e única paixão, Luh era como eu a chamava. A sala estava escura, ela estava de pijama, um short listrado com as cores preto e branco, uma camisa de alça branca com um desenho que não consegui indentificar devido a falta de luz no ambiente e ela estava descalça. Não sei porque, mas eu amava quando ela, com seus pés delicados, não calçava nada.

Ela sorriu ao me reconhecer, como estava escuro (Graças a Deus), ela não pode ver minha cara de bobo totalmente corada ao ver pela primeira vez, ela de pijama:

–O que você ta fazendo nesse escuro? -Falei sorrindo-

–Acabei de lembrar que esqueci minha escova na sauna, vou ter que ir lá em baixo buscar. -Disse ela fazendo uma cara de preguiça- Não quer ir lá buscar pra mim não? -Ela riu-

– Você não é a única com preguiça!

Mal sabia ela que eu faria qualquer coisa que pedisse. Ela abriu a porta e saiu, pude ouvir a porta do elevador fechar. Foi nessa hora que senti uma vontade enorme de a seguir. Sem pensar fui atrás dela no segundo elevador. Fui em direção da sauna, quando ia fazer a curva esbarrei de frente com ela fazendo-a deixar a escova cair no chão:

–Meu Deus, Yuri! Quase que você me mata de susto! -Ela disse meio atordoada enquanto pegava a escova, mas logo depois começou a rir-

Eu estava me perguntando exatamente a mesma coisa. Pensei rápido e inventei uma desculpa:

–Quando você saiu, pensei um pouco e lembrei que havia deixado meu chinelo perto da borda da piscina. -Ela olhou para meu pé, e deu uma gargalhada que acabou me fazendo rir também- Oque foi?

–Você ESTÁ com o seu chinelo! -Ela ainda estava se recuperando da risada-

–Ah...-Olhei para meu pé com o olho arregalado-

Fiquei sem reação alguma diante daquela situação engraçada e constrangedora, ficamos parados ali durante uns 15 e longos segundos nos olhando. Seus olhos eram perfeitos, sua boca era perfeita, seu cabelo longo e castanho era parfeito... ela era parfeita! Pude sentir minhas bochechas corando, ela arregalou um pouco o olho como reação, devia ser a primeira vez que ela viu minha bochecha corar daquela forma! Eu dei um passo para a frente enquanto entrelaçava meus dedos em seu cabelo, a distância entre nossos corpos era mínima, podia sentir o calor intenso de seu corpo. Suas bochechas foram tomando um tom muito forte de vermelho... era como se apenas eu e ela existissemos naquele momento. Eu estava travado com seu olhar penetrante, não sabia se devia, ela nunca havia beijado ninguém... nem eu, nunca tive corajem de trair minha paixão por ela. Me aproximei devagar de seu rosto enquanto ela ficava na ponta dos pés, eu e ela estavamos tremendo.

Nossos lábios se encontraram devagar, senti um calor que nunca havia experimentado antes invadir meu corpo. Sua boca era doce. Colei meu corpo ao dela enquanto ela envolvia meu pescoço com seus braços me proporcionando um arrepio por todo o corpo. Era um sincronismo semelhante ao de uma dança, eu a puxava para mim cada vez mais e mais, e ela correspondia me apertando mais forte. Eu não queria que aquilo acabasse, queria ficar ali para sempre, mas acabamos dando falta do ar, nos afastamos um pouco. Seus lábios estavam vermelhos, ela levou a mão para o meu rosto e limpou uma lagrima que caia de meus olhos, não havia dado conta mas estava chorando, e não era o único, seus olhos também estavam cheios de lagrimas loucas para cair. Ela me abraçou forte como nunca havia feito antes me dando uma sensação de conforto e saiu num passo rápido e desajeitado e entrou no elevador. Quando a porta fechou, eu cai sentado e fiquei ali durante uma meia hora me beliscando para verificar se não era um sonho, passei os dedos na minha boca que ainda estava úmida devido ao beijo demorado, seu cheiro ainda invadia meu nariz. Queria gritar, não sabia o que estava sentindo naquela hora... eu estava em choque."

Quando terminei de ler a folha a dobrei e joguei no buraco, as pessoas de preto que agora pareciam vultos em volta estavam em silêncio absoluto. Diante daquele silêncio pesado, de joelhos desmoronei. As lagrimas rolavam em meu rosto sem dar tregua, meu coração acelerado fazia meu peito doer. O caixão de Luh começou a descer naquele buraco imenso e escuro.

Um arrepio passageiro envolveu meu corpo, seu cheiro invadiu minha narina junto de um sussurro "Eu te amo..."