Lua Cheia escrita por Akyra Briefs


Capítulo 19
11.1 Festa




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Capitulo 11

 

Festa

 

Sentada na margem da praia, era diversas vezes invadida pela lufada de ar agradável vinda diretamente do mar. Noah estava igualmente sentada ao meu lado, apreciando os restantes saltarem como loucos do precipício. A cada exibição de Embry, ela batia palmas e ria monumentalmente, como se ele dependesse disso para se sentir o mais admirado de todos. Já eu permanecia com os braços envoltos dos joelhos, apreciando um Jake quieto, imóvel, em cima do rochedo mais alto à superfície do mar, com o olhar longe sobre um céu incerto. No que estaria ele pensando? Estaria arrependido de me ter beijado? Sentiria ele algum tipo de… culpa? Chocalhei a cabeça de forma discreta. Droga, este tipo de reflexões consumiam-me de uma forma devastadora, logo a mim que deveria estar radiando felicidade por cada poro de meu corpo.

 

Não aguentava mais estar ali parada. Precisava espairecer o mais urgente possível, ou ficaria louca com aquele tipo de pensamentos. Ergui-me sem pensar duas vezes e, numa voz rouca, murmurei:

 

-Noah, você se importa de ficar um pouco sozinha? Preciso de me trocar. – Melhor, preciso ficar sozinha, quis adicionar. Os olhos de Jake voaram diretamente na nossa direcção.

 

-Claro que não. Vá. Eu daqui a pouco também vou. Já começo a ficar arrepiada. – Assenti, com um sorriso fraco, e sacudi as palmas das mãos, dando-lhe ás costas.

 

Correndo, engrenei pelo trilho florestal, sem me importar se seguia ou não o pequeno carreiro recalcado pela relva remoída. A instável brisa - causada pela minha trôpega corrida – parecia extinguir aos poucos o fogo ainda existente nos meus lábios, à medida que pequenos anéis de cabelo esvoaçavam livremente sobre o rosto. Liberdade. Era o que eu podia sentir neste preciso momento. Sem pensamentos ou reflexões, sem ninguém para me lembrar do que fosse ou regras para cumprir. Nada que me fizesse lembrar do que eu era. Raios, por que me sentia como se o mundo tivesse devabado sobre minhas costas? Eu devia estar radiante, feliz. Contudo, eu me sentia insegura, incerta…perdida! E, sobretudo, com medo. Medo devido á expressão ambígua de Jake. Medo por ele ter apenas cumprido um capricho meu. Burra, burra, burra!

 

Cerrei os olhos e ainda podia sentir o calor daqueles lábios se sobreporem nos meus. Não tinha sido muito diferente do que fora no dia do riacho. O mesmo toque suave, carinhoso, porém mais fogoso e assolador. Meu coração ainda batia freneticamente, como se atualmente Jake ainda tivesse unido a mim, com suas mãos quentes e ásperas percorrendo minha nuca, arrancando-me arrepios frios. Agora sim, eu tinha a certeza absoluta de algo na vida: eu não estava só apaixonada por Jacob Black, como amava-o com todas as minhas forças. E isso assustava-me, tal como a incerteza do futuro. De como seria daqui para a frente, depois disto.

 

Abrandei a corrida e abri os olhos úmidos. Não ia ceder à parte sentimental humana. Não ia derramar uma única lágrima por este assunto.

 

Estava perto do acampamento, já reconhecia o cheiro familiar dos presentes. Todavia, no meio da vereda, algo me fez deter a marcha. Movimentos recatados balançaram as folhagens verdes dos arbustos, posicionados na minha lateral direita abanarem levemente. Fiquei hirta, sem me mexer um único milímetro, engolindo em seco. Algo me alertava que nenhum Quileute estava por perto, muito menos um animal. Concentrei-me e inalei vagarosamente o ar, porém nenhum cheiro ou som foi perceptível para meus sentidos. E se fosse…? Rosnei ao me posicionar para um possível ataque. Começava a ficar cansada daqueles joguinhos. Se tivesse que enfrentar o ser que me seguia desde ontem, então estaria pronta.

 

-Saia daí covarde. Ou eu mesma vou aí.

 

Nada se passou, além dos movimentos cessarem. Apertei os punhos com força e num passo arrastado e precavido aproximei-me dos arbustos, deixando a aberração controlar os sentidos e instintos humanos. Quando estava bem próxima, uma deslocação prudente se manifestou atrás de mim. Gelei por completo. Sentia o coração exercer pressão contra o meu peito. Num súbito ato de coragem, voltei-me de rompante, onde vi uns lindos olhos verdes me fitarem com surpresa.

 

-Não me vai atacar, pois não? – Aquela frase infantil, trouxe tranquilidade para meu pobre coração, e eu ri ao me recompor.

 

-Claro que não, Claire. – Mas logo enruguei o cenho, preocupada com o movimento que tinha cessado atrás do arbusto. – O que você faz aqui sozinha? – Tentava não desviar o canto do olho da massa verde atrás de mim.

 

-Eu ia ter com Quil sem tia Mily saber.

 

-Querida, você não devia andar sozinha pela floresta. - Sem licença, e tentando não ser muito brusca para não assustá-la, peguei a menina no colo, sem me importar se a molharia ao colocá-la em contato com minha roupa. Em seguida, olhei ao redor. – Que tal uma corrida às cavalitas? – Claire sorriu abertamente.

 

-Boa! – berrou entusiasmada com a ideia. 

 

Passei-a, então, para as minhas costas, ao mesmo tempo que Claire cercava o meu pescoço com seus frágeis braços pequenos. Numa breve corrida, comigo fingindo ser um avião super sónico e com uma menina rindo de forma harmoniosa, alcançamos o acampamento numa piscar de olhos. Logo a coloquei no chão ao ver Emily vir ao nosso encontro com um semblante perturbado, segurando Lyuba em seu colo.

 

-Graças a Deus – rogou ela. – Andei a sua procura pelo acampamento todo. Como você me prega uma peça dessas?

 

-Eu só queria ir ter com Quil para brincar. – Claire baixou o rosto, embaraçada, escondendo-se um pouco sob minhas pernas. – Me desculpe!

 

-Querida, Quil disse que não ia demorar muito. – Emily aninhou-se e passou a mão pelo rosto da sobrinha, com cumplicidade. – Espere só mais um pouco, e tente não cometer mais nenhuma parvoíce. Ultimamente a floresta anda perigosa para nós humanos. – Ela anuiu.

 

Claire soltou minha mão lentamente e fixou seus verdes penetrantes em mim. Com um novo sorriso estampado no rosto, deu ombros e desatou a correr para dentro da tenda de Quil. Emily meneou a cabeça negativamente e suspirou ao erguer-se.

 

-Ela anda cada vez mais intolerável. É como se já não conseguisse viver sem Quil.

 

Quis dizer que entendia a pequena Claire perfeitamente, visto estar na mesma situação. E o pior é que nós duas estávamos em níveis de igualdade, em termos da impressão. Ambas ainda éramos menores e vivíamos à mercê do amor fraternal de nossos protetores. Inevitavelmente, o meu olhar tentou atravessar cada tronco ósseo das árvores, onde há minutos atrás eu desaparecera de mãos dadas com Jake, para agora estar esperando por ele, sem saber como reagir perante a sua presença. Os hormônios de um adolescente eram, sem sombra de dúvida, uma verdadeira caixinha surpresa; quanto menos previsível, pior era a reação.

 

Com dificuldade, expeli todo o ar dos pulmões e baixei o rosto, ao morder o lábio inferior. Emily colocou carinhosamente uma mão no meu ombro, evocando minha atenção.

 

-Passasse alguma coisa? – Ela suspirou diante do meu silêncio – Ly, por favor, serene flor. – Lyuba tentava pular para o meu colo. – Você se importa? – Fez uma pequena menção para eu pegar na pequena. – Ela parece gostar de você.

 

-Você não tem medo? – murmurei baixinho ao dar a entender o que queria dizer com aquela interpretação.

 

-Oh claro que não! – Estendi, então, os braços para receber a menininha. – Eu não partilho do mesmo tipo de preconceito que Leah, apesar de a compreender perfeitamente. Entretanto, peço que não leve tão a sério as provocações dela. Leah só vê em você uma porção negativa daquilo que fez o seu corpo despertar para as alterações visíveis. – Franzi a fronte, confusa. - O que eu quero dizer, é que ela culpa indiretamente os Cullen pelo desencadear da sua transformação em loba.

 

Lyuba se estreitou no meu peito, e logo seus dedinhos voaram directamente até ao meu cabelo emaranhado, brincando com meus cachos tão bem definidos pela água salgada.

 

-Não a posso julgar, embora não ache justo o seu julgamento. – Encolhi os ombros, embalando Lyuba nos meus braços ao tentar fingir um estado de espírito que não possuía: felicidade. - Sei que ela simplesmente me suporta por ser a impressão de Jake – o fio de voz pareceu falhar-me neste momento.

 

-E é aí que está o cerne do seu problema. A impressão! – Num trejeito de mão, ela pediu-me para que a acompanhasse. – Venha comigo, os garotos vão chegar esfomeados. E enquanto preparo a merenda deles, você pode me contar o que te atormenta, se se sentir o suficientemente à vontade comigo.

 

Talvez não fosse tão má ideia compartilhar com ela algumas das minhas dúvidas sobre a impressão, já que com Rachel, Noah e Kim seria impossível. Elas tentariam saber pormenores de coisas que eu não gostaria de tocar, além de provavelmente colocarem uma pitada de humor em cada pergunta que indagaria. Sim, Emily era a pessoa certa para falar sobre isso, pois levar-me-iam a sério.

 

Em silêncio, dirigimo-nos até à volumosa tenda de Sam, onde já havia uma mesa sobreposta bem á frente da entrada. Emily ausentou-se através do fino e impermeável véu da caravana, aparecendo segundos depois com uma grandiosa cesta feita de palha. Ela não precisou tirar o conteúdo da cesta para saber o que lá continha. O cheirinho a Waffles e muffins invadiu o meu olfato, num convite tentador. Esses eram considerados os doces favoritos dos homens lobo e que desapareciam numa questão de segundos, quando Emily os cozinhava tão bem.

 

Ao finalizar a mesa, com uma travessa bem guarnecida de Waffles, muffins de todos os sabores e feitios, juntamente com alguns bolos, pão, compotas de frutas e salgados, ela me fitou com um sorriso.

 

-Agora é esperar que eles sintam o cheirinho. – Observou o relógio no pulso. – Já está na hora do almoço também. Daqui a pouco isto vai se transformar numa bagunça.

 

-Quelo. – Lyuba fechava e abria as mãozinhas, lambendo os lábios graciosamente. Peguei num bolinho com doce de chocolate e entreguei-lhe. – Bigada.

 

-De nada, flor. – Sorri em troca.

 

-Agora sou toda ouvidos. - Encarei Emily determinada.

 

-O problema é que eu já não vejo Jake como meu melhor amigo! – confessei numa rajada de ar e ruborizei; ela desenhou um terno sorriso. – E cada toque carinhoso dele, cada palavra ou ato, me fazem ansiar por mais. Por isso cai no erro de lhe pedir que me beijasse. – Um suspiro mortificado escapou da minha garganta, à medida que estreitava os olhos e abanava a cabeça. – E ele me beijou. - Minhas bochechas arderam ainda mais. – Eu devia de estar feliz, porém eu sinto medo.

 

-Sabia que na maior parte das vezes, eles sabem ou sentem quanto uma impressão evoluiu? – Arregalei os olhos ao engolir em seco; interpus:

 

-Mesmo que a impressão de Jake por mim seja diferente da de Sam por você?

 

-Isso não é assim tão complexo. O contexto da impressão é o mesmo, o que altera são as fases. – Mantive um semblante confuso. - Todos os homens lobo passam por três fases com a sua impressão: a fase dos melhores amigos, a dos melhores companheiros até à dos melhores amantes. – Ela sorriu desajeitadamente. – Confesso que alguns deles conseguem quebrar esse seguimento, passando logo para a fase dos amantes. – E tornou a ficar circunspecta. – Já no caso de Quil e Jake, a sequência altera, sendo adicionada a fase de irmão mais velho. E em todo o caso, os homens lobo sabem quando a sua impressão progrediu.

 

-Isso tem algo a ver com as almas gêmeas? – Emily cruzou os braços, levando uma mão ao queixo, pensativa.

 

-Talvez! Sabe, nós mulheres possuímos sempre dois caminhos a seguir: ou escolher o homem lobo que sofreu a impressão por nós ou então um outro alguém que nos faça feliz. Contudo sempre temos tendências a escolher o homem lobo, possivelmente por ser a nossa alma gêmea.

 

-Mas segundo sei, almas gêmeas nem sempre têm como significado ser o grande amor da nossa vida; podem ser simplesmente um bom amigo ou apenas um bom ouvinte. – Sentia meus olhos marejados; discretamente, passei o braço para limpar qualquer rastro do meu embaraço.

 

-Renesmee, Jake não te beijaria se soubesse que isso te faria sofrer, ou ferir seus sentimentos, mesmo quando você supôs o seu pedido. – Fez uma breve pausa e, parecendo rendida a qualquer tipo de pensamento que debatia em sua mente, baixou o tom, segredando: - Não devia contar isto, mas na noite após o seu aniversário, ele chegou a nossa casa atordoado e confidenciou ao Sam que estava confuso, pois desconfiava que você já não o via como seu melhor amigo. E Sam aconselhou-o a rever o que ele realmente sentia por você, para não te machucar. Se Jake levou esse conselho a sério e te beijou, então os sentimentos dele não são tão paternais assim.

 

-Então isso quer dizer que ele já sabe e…

 

Meu coração falhou uma palpitação com esta revelação. E se ela estivesse certa? Ou pior, e se eu estivesse me ludibriando ou tentando arranjar conforto com as palavras de consolação dela? Levei a mão ao rosto, pronta para retrucar quando ouvi o barulho de vários passos a deslocarem-se apressadamente até nós. Emily só teve tempo de me fitar de relance e proferir:

 

-Não o receie, Renesmee, aja naturalmente. Quando tiver uma oportunidade, fale com ele. Não tem nada a perder. – E piscou-me o olho.

 

-Ótimo, a merendinha já está pronta. Já estava cá com uma fome de lobo.

 

-Quil. – Mal ouviu a voz dele, Claire saiu disparada da tenda, correndo até ao colo dele.

 

-Olá fofinha!

 

Por cima do ombro vi Jake se aproximar numa passada distinta, com um sorriso insuportavelmente bonito a bailar em seus lábios. Cada vez parecia entender menos da sua fisionomia. Ora, num minuto encontrava-se sisudo, e no outro exibia aquele sorriso que fazia meu coração vacilar. De repente, as anteriores palavras de Emily bailaram em minha mente, com uma grande intensidade, chamando-me à razão. Abanei a cabeça e foquei-me em Lyuba, que batia palminhas quando viu Sam chegar.

 

-Papai.

 

Gentilmente, Sam fez-me uma mesura de cabeça e tomou-a de meus braços, com um gesto carinhoso sobre sua menina. Beijou-lhe o rosto e logo de seguida estendeu a mão para pegar um bolo da mesa.

 

Tal como Emily tinha concluído, todos haviam chegado esfomeados. Mal alcançaram a mesa, uns optaram por pegar três muffins ao mesmo tempo, sentando-se no chão para reabastecer seus estômagos vazios, ao passo que outros preferiam comer um de cada vez, além de saborearem outro tipo de petiscos expostas na mesa. Na altura que resolvi me aproximar da mesa, para poder depenicar algum bolo saboroso, por entre a barafunda criada por Seth e Embry, uma figura desmazelada assomou à minha frente, com os olhos espremidos.

 

-O que aconteceu para você vir mais cedo embora?

 

-Estava começando a congelar, Ray. – Encolhi os ombros. Ela cruzou os braços sobre o peito, e fez uma expressão elucidada.

 

-Vou fingir que acredito. Entretanto, espero que você esteja preparada para o programa que escolhemos para logo à noite. – Inclinou-se sobre mim e colocou a mão ao lado da boca: - O frio vai ser algo que não te vai incomodar durante muito tempo.

 

Uns braços robustos e quentes enrolarem suavemente no meu pescoço. Entortei-o um pouco para ver a figura alta e serena de Jake, com aquele sorriso contagioso me atingindo de uma maneira tranquilizante e inexpressiva. O meu sol voltava a radiar. Meu coração acelerou de forma embaraçosa, sobretudo depois do que ocorrera. Droga, Renesmee tente não ser tão transparente.

 

-Vá lá Ray, não a assuste.

 

Com um ar superior, ela lançou seu cabelo molhado para trás do ombro e fez uma mesura de cabeça.

 

-Ela vai adorar, pode apostar. – E saiu sem dizer mais nada, lançando-se para as costas de Paul.

 

Dentro do meu íntimo, gritava de forma desesperante para ela não nos deixar sozinhos, todavia foi inútil. Eu não sabia como reagir, ou o que falar diante da presença de Jake. Aja naturalmente, aconselhara Emily. Mas como se fazia isso depois do homem que nós amamos nos ter beijado?

 

-Nessie, precisamos falar. – Jake soprou sobre minha nuca, o que fez os pêlos desta se eriçar.

 

Revirei-me em seus braços, tentando não quebrar o toque de seu abraço. Contemplei o peito, agora seco e luminoso, erguendo muito lentamente o olhar até suas azeviches. Surpreendi-me ao vê-las cintilarem jubilosamente. Sorri em troca de tal recepção. Desejava submergir naqueles negros brilhantes e me perder na intensidade com que me fitava. Senti-me corar e novamente o meu coração pregava-me uma peça.

 

-Sim. – Afirmei maquinalmente com a cabeça. – Mas depois do almoço, se você não se importar. – Covarde!, acusei-me mentalmente, ainda que só quisesse ganhar tempo para me preparar para o que fossemos falar.

 

-Como queira. – Seus lábios vieram ao encontro da minha testa, surpreendendo-me mais uma vez.

 

-Então vamos, humm…almoçar? Acho que estou faminta. – Ele anuiu e afastou-se um pouco.

 

De imediato, estendeu a sua mão para acolher a minha. Mordi o lábio, ponderando brevemente, porém aceitei o convite ao entrelaçar a minha mão trêmula na dele. Senti um sorriso instintivo reaparecer no meu rosto. Numa passada lenta, movemo-nos em sintonia até à mesa, que permanecia a poucos passos de nós. Jake tomou a liberdade de pegar num prato de plástico – do qual decidimos partilhar – e reabasteceu com tudo comestível que se encontrava no topo da mesa. Confesso não saber onde ele ia buscar espaço no estômago para tanta comida. Só de olhar, eu já chegava a ficar empanturrada.

 

Sentamo-nos na areia rescaldada pelo sol – perto da nossa tenda -, e almoçamos em silêncio. Nossos olhos fixaram-se um no outro, sem ter prazo de quebrar tal contato, o que fazia com que um calor inexplicável incendiasse meu corpo todo, somente com a combustão de suas calorosas azeviches. Seria isso reagir naturalmente? De certo não! Já que eu tinha a perfeita noção de exibir um olhar demasiado enamorado para passar despercebido perante o meu homem lobo. Porém, já há algum tempo que não sabia como reagir de forma natural.

 

E pela primeira vez, eu não me importei de ser transparente.

 

-Você vai devorar esse último waffle? – Seth lançou seus olhos redondos e firmes, quase implorantes, tanto para Jake como para o pequeno bolo, quebrando assim o nosso vínculo visual.

 

-Deveria perguntar a esta jovem senhorita se está pensando em comê-lo. Por mim, eu já o teria devorado se não fosse o meu senso de cavalheirismo.

 

-Jake! – repreendi-o com certa pena de Seth, que baixou o rosto, desconsolado. – Pode levá-lo, aqui já ninguém está com fome. – Jacob soltou uma gargalhada ao ver o amigo atirar-se ao bolo com tamanha ânsia. - Só gostava de saber onde vão buscar tamanho apetite. Parece que têm uma solitária vivendo no estômago.

 

-De onde você julga que vem a nossa energia de lobo? – Engoliu-o numa dentada só; pestanejei admirada com a presteza daquele garoto – Você ainda tem muito que aprender connosco, principalmente sobre coisas de lobo - Acabei por rir ao vê-lo afastar-se.

 

Imprevistamente, meus olhos se incidiram numa Leah solitária e meu riso cedeu. Foquei-a, tentando ser o mais discreta possível. Ela ainda permanecia sozinha e distante de todos, bufando cada vez que alguém a importunava, ou então, com um olhar longínquo do acampamento. Contudo, pude reparar nas vezes que ela espiava, através da cortina de cabelos negros, formada acima do seu ombro, um Sam paternal, que brincava com Lyuba de um modo amoroso e único. Apesar de eu e Leah não nos darmos bem, eu conseguia ter um misto de lástima e compaixão pela sua situação. Não devia ser fácil suportar a felicidade de seu amado e da sua nova família, mesmo perante a nossa tristeza.

 

-Não se preocupe com ela – sussurrou Jake, tão baixo quanto pôde no meu ouvido, como se adivinhasse o que me passava nos pensamentos. – Tenho a certeza que um dia ela superará o rancor que sente e voltará a ser a velha Leah, alegre e amistosa.

 

-Duvido muito. Não é fácil quando amamos alguém e não somos correspondidos – pronunciei sem meditar bem na minha sentença; era como se meus lábios tivessem vontade própria. Encarava-o com uma mancha de mágoa tingida em meus chocolates.

 

Novamente aquele olhar intenso, penetrante, de quem pensa invadir os meus mais ínfimos pensamentos. Enrijeci os membros e sustive a respiração por um segundo, sem desviar meus olhos dos dele. Um silêncio pareceu nos envolver com sua reservada manta. Foi então que sua mão veio ao encontro de minha bochecha, e eu inclinei meu rosto de encontro a ela, apreciando o calor agradável de seu carinho.

                                        

-Não tem que ser assim, Nessie!

 

-Você se arrependeu de me ter beijado? – intercalei-o de maneira inconsciente e dura; meu sangue borbulhava de forma frenética no meu pescoço

 

Malditos impulsos que me embaraçavam constantemente. Podia sentir o rubor habitar agora nas minhas faces rosadas. Ele elevou o canto do lábio e baixou a cabeça, abanando-a simultaneamente com seu cabelo desalinhado, como se minha pergunta soasse como algo absurdo. Afrouxou seu toque e numa golfada de ar, passou suas mãos sobre o rosto. Meu coração batia contra as paredes de meu peito, tão veloz, que levei discretamente a mão até ele, numa tentativa falha de o acalmar.

                                                                                                                                               

-Nem por um segundo – a voz dele soou profunda e rouca, impondo o seu olhar sobre o meu.

 

-Então porque ficou tão sério?

 

-Renesmee, há coisas que eu tenho de pensar, de ponderar seriamente. É como se minha mente tivesse sido invadida por um furação enraivecido e devastasse tudo o que eu achava certo até agora. – Soltou um extenso e frustrado suspiro. – Seria errado da minha parte não admitir que você mudou nestes últimos meses! E eu tento acompanhar essa mudança de forma refletida, consciente de que tenho que seguir meus limites, minhas regras...

 

Alguém se esgueirou até nós, todavia não demos tamanha importância à presença dessa pessoa. Agora que eu tinha começado esta conversa, parecia improvável não a terminarmos naquele preciso momento, já que havia muito a ser esclarecido. Pelo menos para mim.

 

-Peço imensa desculpa por interromper os pombinhos, mas já está na hora de mexer os traseiros para ajudar na festa. Eu gostaria também de solicitar a vossa ajuda, se não fosse muito incómodo. – Jake e eu continuamos a nos entreolhar.

 

-Você sempre gostou de quebrar a regra! – acusei-o de forma a evitar o tremor do fundo da garganta, provocado pelo meu nervosismo de última hora.

 

-E você sempre adorou saber quais eram os meus limites…

 

-Alô! – Desta vez Jacob rodou os olhos ante a insistência da irmã, cerrando os punhos. – Gostaria de não ser ignorada, sobretudo quando o assunto é de extrema necessidade. Vamos lá, eu quero esta festa perfeita.

-Rachel... - bufou o seu nome, quase soletrando-o.

-Nós já vamos. - Cortei-o, antes que ele proferisse algum impropério contra sua própria irmã.

-Então que seja logo. A vossa conversa pode esperar umas horinhas já esta festa não!

Era como se escutasse uma réplica perfeita de Alice falar. Nota mental a cumprir nos próximos dias: proibir qualquer tipo de contato entre Rachel e Alice, ou tanto La Push, como Forks, não aguentarão a explosão de festas semanais planeadas por essas duas doidas. Suspirei e, contrariada, vi-me forçada a adiar esta conversa promissora para outro momento. Ergui-me com uma nota de pesar nos olhos, dirigidos a Jake, que encolheu os ombros ao devolver-me aquele sorriso que eu tanto adorava e proferir um: “Mais tarde falamos”.

 


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Notas finais do capítulo

Olaaa!

Aqui está a primeira parte do capitulo 11. Será que a conversa com Emily vai mudar alguma coisa na mente de Nessie? Terá algum efeito na futura conversa com Jake?

Eu prometo que na próxima quinta posto a segunda parte.

Obrigada pelos vossos comentários =D

Bjoka grandee



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