Lua Cheia escrita por Akyra Briefs


Capítulo 12
7.2 Pedras Negras




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Rachel me fez companhia enquanto me ajudava a preparar algo para Jake comer antes da caça. Sua excitação acerca do acampamento era palpável. Sobretudo por ser a primeira vez que ela iria passar um dia completo fora com Paul, e esperava tornar aquele momento único, ainda que Jacob tivesse na tenda ao lado para supervisionar tudo. O assunto mudou radicalmente, como da noite para o dia e, quando percebi, tinha caído na ratoeira bem preparada dela. “Jacob” foi o tema principal das perguntas mais íntimas e intimadoras de Ray, das quais não havia escapatória.

-Deus do céu, Nessie, não me diga que você ainda não sente nada pelo meu irmão? Está óbvio que vocês não se são indiferentes, e não falo isso só por causa do negócio da impressão. – Baixou então o volume de sua voz de contralto, soprando agora as palavras: - Conheço meu irmão como a palma da minha mão, mais umas semaninhas e ele está se declarando – aquela sentença acelerou-me o coração.

Um chuveiro escorregou das mãos de alguém, que soltou um urro irritado. Jake e sua maldita audição supersensível. Por que tinha ela de tocar naquele assunto justo agora?

-Ray, não confunda as coisas. Eu e Jake somos somente bons amigos, porém temos um carinho muito grande que nos une de uma maneira especial – balbuciei, confrontada com o fato de Jake estar ouvindo meu discurso. De onde vinha essa coragem? – Não tenho pressa para ele me ver como mulher. Teremos uma longa eternidade para isso – e com um tom rouco, completei: - Saberei ser paciente.

-Vocês adolescentes não têm pressa de viver o melhor da vida? – Ela gesticulava suas mãos, arranjando uma maneira de se expressar. – E não me chame de Rachel, pode-me tratar simplesmente por cunhada. – Piscou o olho. – Agora aqui para a gente, nem um beijinho?

Um cheirinho de menta entorpeceu minhas pernas. Ao voltar-me para o corredor, vi Jake com uma roupa mais confortável; uns calções de moleton cinzentos acima do joelho e uma camiseta azul marinha de manga curta, mesmo com o frio que se revelava lá fora. Seu aspecto parecia mais saudável, vivaz, embora uma sombra nas pálpebras inferiores denunciassem seu cansaço. Um remorso instaurou-se em mim.

-Você já pensou seriamente em se afogar, Ray? – um som enraivecido irrompeu na garganta dela.

-Estou de saída – anunciou ao parar perto do irmão. – Espero que você se engasgue com as sanduíches de mortadela. – Ao contorcer o rosto em desagrado, foi direto para o seu quarto.

-Não precisava ter falado assim com ela.

-Não se preocupe, logo á noite ela já me estará abraçando. – Deu ombros e pegou no sanduíche, dirigindo-se para a porta. – Vamos Nessie?

Em duas dentadas, o sanduíche desapareceu pela imensa fileira de dentes.

-Não se esqueça que hoje eu fico com a presa maior! – e correu o mais que pôde, ingressando pela floresta inviolável á nossa frente.

-Isso é o que vamos ver, Jacob Black! – Um brilho de competição cintilou em meus olhos enquanto as palavras saiam-me de forma presunçosa.

Corri para alcançar a menta que impregnava o ar frio a cada metro que eu avançava, e orientava os meus sentidos pela extensão de quilômetros que percorria. Minutos depois, vi um lobo arruivado aparecer por entre os troncos definhados das árvores e colocar-se á minha frente com a língua de fora, como se troçasse de mim. Ele voltou seu pescoço para trás e nos encaramos por segundos, acirrando ainda mais o nosso desafio até que suas patas traseiras adiantarem-se sobre as dianteiras, dando-lhe mais velocidade. De repente, ele desapareceu do meu campo de visão; igualando-se a uma flecha lançada com a força de um Deus enfurecido.

Minha garganta seca ardeu ao sentir o cheiro de alces invadir meu olfato, o que me fez abrandar a corrida. Desde quando me encontrava sedenta? Era fato que já não caçava há quase três semanas, mas tinha-me controlado tão bem à frente de meus avós, que meu estômago mal deu sinais de estar sedento – a não ser quando aspirei veemente o cheiro adocicado de Renée.

Parei completamente de correr ao me agachar numa posição de ataque, à medida que avançava escondida entre os galhos cobertos por uma película branca. Quando caçava, tornava-me numa pessoa divergente, mais ardilosa e cínica; a aberração berrava para se libertar da correnteza em que a minha alma sã a prendia. Mais adiante, a manada de alces pastava descansadamente, sem tomar conhecimento da ameaça que os rondava. Avaliei o maior – sabia que Jake possivelmente estaria do outro lado a fazer o mesmo, bem oculto entre a vegetação.

-Lá está. – sussurrei ao captar o alce maior no meio de uma dúzia deles.

Ao me preparar para caçar, um brilho incomum me fez reter.

À minha direita, no meio dos arbustos, vi um par de pedras negras como a noite de lua nova, concentradas em mim, sem expressar um único movimento. Por instantes pensei ser Jake, porém o cheiro a menta não inebriou meus sentidos, como acontecia todas as vezes que colidia contra a barreira sensível de minhas narinas. Pelo contrário, a brisa fria não trazia nenhum cheiro daquela direção, muito menos meus ouvidos captavam algum som daquele vulto – nada que se comparasse a um animal ou humano - alertando-me. Talvez fora por isso que não dera conta da sua presença mais cedo.

Mais longe, ouvi a investida de Jake contra o alce, sem sequer menear o pescoço para vê-lo atuar. Permaneci imóvel, compenetrada naquele olhar hipnotizada, amedrontada pelo fato de não conseguir reagir. Os instintos da aberração presa em mim, aliciava-me para avançar na direção daquele ser e certificar-me de que não corria perigo – talvez se o corresse, o vulto já me teria atacado ao invés de ficar imóvel a observar-me meticulosamente. Já os instintos humanos imploravam ferozmente para correr dali, gritar por Jake.

Na consequência desses pensamentos, algo fez clique na minha mente. Seria possível…

-Vampiro – rosnei num sopro de ar, entre minha respiração entrecortada.

Então era verdade. Havia um vampiro rondando estas zonas. Ansiosa, virei de relance a cabeça e vi Jake se alimentar do alce sem se ter apercebido da presença do vulto. Minha atenção voltou novamente para aquelas pedras duras, ofuscantes, sem vida alguma. Apelei aos céus para Jake não vir me procurar.

Um movimento recatado por detrás da pejada folhagem, e eu elevei meus lábios acima dos dentes ao formar um rugido. Malditas orbes negras que ofuscavam o rosto do meu opositor, como se o tornasse opaco. Outro movimento e meu coração acelerou. Dei um passo para trás; tropecei num pedregulho escorregadio, indo de encontro ao chão. Sem pensar em nada, rastejei de costas contra o solo úmido até sentir um tronco de uma árvore contra elas. O sangue de minhas veias fervilhava agora em adrenalina pura, acompanhado das batidas de meu coração.

Na altura em que o vulto ia mover-se novamente – e eu me preparava para me colocar de pé – um Jake na sua forma humana e vestido tapou-me a vista ao se colocar á minha frente.

-Nessie…

-Cuidado – berrei ao saltar atordoada para cima dele, que quase cambaleou para trás.

-Você está bem? – Amparou-me em sua fortaleza - Senti seu coração sobressaltado…

Depositei o olhar no mesmo sítio em que vira os dois olhos penetrantes, mas já nada estava ali. Virava minha cabeça freneticamente de modo aleatório à procura de um indício que não estava louca ou imaginando coisas. Duas mãos quentes depositaram-se sobre meus ombros, ao exigir minha atenção.

-O que há de errado?

-Nada – retruquei automaticamente, fitando suas apreensivas azeviches. – Imaginação minha. – Ou nem tanto, todavia não queria preocupá-lo com minhas inseguras crenças.

Aspirei todo ar para meus pulmões, aquietando-os ao máximo possível para ver sua ruga de preocupação desaparecer do rosto. Poderia esconder isso dele por algum tempo, já de Edward não podia dizer o mesmo. Seria aquele, o ser que traçavam as notícias de hoje? O mesmo que Jake sentira o cheiro na noite anterior? Se fosse, por que ele agora não sentira o seu odor, nem eu?

-Tem certeza? – Suas mãos deslizaram pelos meus braços apossando-se das minhas, com azeviches presas nos meus olhos.

-Sim, eu simplesmente escorreguei ao julgar ver um urso por perto. – Eu não sabia mentir, pensei ao estreitar o olhar e proferir mentalmente um impropério. - Sabe que eles não simpatizam muito com os humanos, – Exibi um sorriso que não me pertencia, e levei a ponta de seus dedos ao encontro de meus lábios trêmulos, beijando-as com ternura. – Vamos sair daqui, não estou com tanta sede como julgava. – A sede teria de ficar para segundo plano – Estou mais empolgada para as aulas de direção.

Li em suas feições que ele não havia acreditado em mim. Mesmo assim eu conduzi-o o mais depressa que pude para longe daquela clareira mal desenhada por borrões verdes e brancos; longe do perigo que esta perscrutava para quem ousasse invadi-la. Escutei ele atirar um suspiro frustrado, sem exigir novamente uma resposta de mim, apenas me seguindo calado. Já que meu pequeno segredo ia ser revelado por Edward, quando penetrasse no pórtico da casa vítrea da floresta, eu preferia manter Jake em segurança até logo mais, fora do alcance daqueles olhos negros como carvão pronto a queimar.


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Notas finais do capítulo

Aqui está a segunda parte do capitulo 7. Espero que tenham gostado. E quem será essas "Pedras Negras" que Nessie viu? Não terá sido realmente imaginação dela?

Gente, estou postando esta parte antes de me deitar, por isso, amanhã sem falta responderei aos comentários que me deixaram na 1ª parte deste capitulo. Contudo quero agradeço aqui cada palavrinha que recebi.

Muito obrigada por fazerem uma autora feliz =D



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