Capítulo 10

POV Demi Gilbert

Acordei com dores de cabeça na parte de trás, uma coisa que não era muito bom sinal. Estava tudo escuro, mas eu estava sentada numa cama confortável. Sentei-me, tentando procurar alguma luz, mas ela acendeu-se sem eu ter feito alguma coisa.

Um homem, com cabelo loiro acastanhado e olhos verdes olhava para mim, com os braços cruzados á frente do peito.

-Mason – falei, sabendo agora quem ele era.

-Demi Adams – disse ele, denunciando que também sabia quem era. – Melhor amiga de Elena Gilbert e Bonnie Bennett. Eu sem quem és. Conheci a tua mãe.

-Ainda conheces.

-Trágico acidente – comentou ele, olhando-me ferozmente. – Perda de três vidas inocentes e tu devias de ter lá estado.

Ergui o queixo. Se ele me estava a tentar magoar através das palavras tinha que fazer melhor do que aquilo.

-O que queres?

-Tens uma coisa que me pertence. Eu quero-a.

-O que é?

-O teu sangue – disse ele e eu ergui as costas. Comecei a mexer-me na cama, pronta para fugir, mas ele sentou-se na cama, o que me deixou imóvel pelo medo. – Calma. Não te vai matar nem nada. Afinal, tu és uma ninfa.

-É preciso alguém sobrenatural matar-me para eu voltar à vida. Não é assim tão simples – falei.

-Acontece que eu também sou um ser sobrenatural.

A forma como ele disse aquilo assustou-me e eu preparei-me para gritar, mas depois percebi que não sabia onde estava. Podia estar bem longe de Mystic Falls, ou pior: bem longe de alguma evidência de civilização.

-Onde estou?

-Onde deves estar – respondeu ele. – Não te preocupes, Demi, a seu tempo vais saber a razão porque estás verdadeiramente aqui.

Ele saiu e trancou a porta.

POV Damon Salvatore

-Eles levaram-na! – exclamei para Stefan. Eu estava fora de mim. Primeiro de tudo, aquela loira ia morrer hoje por nos ter atraído para a armadilha de Katherine, e depois ela e o seu animal de estimação iam morrer. Juntos, queimados numa igreja como aquela esquizofrénica devia de ter morrido à 146 anos atrás.

-Eu sei, Damon, mas precisamos de ter calma e de pensar.

Servi-me de mais um whisky, mas nem aquilo hoje me acalmava.

-Damon, tens alguma coisa que pertença á Demi? – perguntou Bonnie, com os olhos a brilhar como se de repente tivesse tido uma ideia de génio.

-Tudo o que lhe pertence está ao lado do quarto do Stefan – respondi num tom monocórdico, vendo o líquido movimentar-se no copo enquanto eu o rodava.

-Eu já volto. Stefan, tens algum mapa?

-Sim, tenho. Precisas?

Bonnie assentiu com a cabeça e desapareceu com Elena. Stefan foi buscar um mapa, mas eu limitei-me a ficar sentado.

-Damon, nós vamos encontrá-la – falou Stefan, quando voltou com o mapa.

-Vou matar aquela loira – disse e coloquei o copo na mesa de apoio com um baque surdo. – Agora.

-Não, não, não – negou ele, metendo-se à minha frente e eu virei a cara, começando a perder a paciência. Aliás, a minha paciência tinha terminado ontem à noite quando Katherine disse que a queria. Eu devia de ter apostado que ela queria algo com a Demi, afinal ela era uma ninfa e Katherine estava à procura de algo. – Caroline não fez por mal, está bem? Ela disse que pensava que era a Elena e depois teve um contratempo com o Matt e teve que ir embora.

-Mesmo assim, ela vai morrer.

-Encontrámos a escova do cabelo. Bonnie consegue localizá-la através disto – disse Elena. – Mas precisamos de sangue.

-Sangue? – perguntou Stefan, confuso.

- Preciso de um laço de sangue para saber onde é que ela está no mapa.

Elena estendeu a mão dela e Bonnie pegou no abre envelopes e abriu um corte. Olhei para Stefan, esperando ele se descontrolar, e tal não aconteceu. Bonnie começou a recitar qualquer coisa na língua das bruxas e as gotas que iam caindo começaram a criar um rasto pelo mapa. Começava a ir para o Norte da Virgínia e depois parou.

-É ali. Stuarts Draft.

-Muito bem, vamos – disse. – Eu conduzo.

-Fiquem aqui. Assim que soubermos de alguma coisa, damos notícias – completou Stefan e saímos de casa.

Peguei no meu carro e comecei a dirigir para Stuarts Draft.

-Aquela bitch está morta – falei.

-Primeiro temos que tirar a Demi dali. Depois, pensas na vingança perfeita – propôs Stefan e ele tinha razão: primeiro a Demi, depois a Katherine. Melhor, primeiro salvar a Demi, depois estripar o Mason e por fim queimar Katherine. Plano perfeito!

POV Stefan Salvatore

Viajámos durante quatro horas, o que não foi fácil porque Damon estava de péssimo humor. Porém, ele tinha uma centelha de sentimento no olhar.

-Tu gostas mesmo dela, não é?

-Sim, Stefan, gosto – admitiu ele. – Mas não penses que vou mudar por causa disso.

-Tu já mudaste, irmão – contradisse. – Por mais que queiras, o velho Damon voltou. Gosto disso.

-Cuidado, irmão. Os sentimentos podem tornar-se mais agressivos do que o próprio desligamento deles.

-Eu sei disso – concordei. – Eu também gosto da Demi. Ela é meia irmã da Elena e é uma peça fundamental para a tua humanidade. É impressionante, mas uma simples pessoa pode mudar o mundo.

-O nosso mundo – corrigiu Damon. – Ela definitivamente mudou o meu.

Damon estacionou o carro perto da mansão e olhámos para ela.

-Katherine pode estar por aqui – disse.

-Assim como Mason – acrescentou Damon e saiu do carro. Abriu o porta bagagens e tirou o fundo falso. – Tudo o que é preciso para acabar com Katherine.

-Há quanto tempo é que tens isto?

-Tempo suficiente para ter cuidado onde estaciono o carro – respondeu ele e sorriu de lado. – Agora vamos.

Pegou em duas estacas e colocou-as no bolso de trás das calças. Fiz o mesmo e ainda peguei nalgumas granadas de verbena, guardando-as nos bolsos. Damon fechou o porta bagagens e fomos andando para a propriedade.

-Ela parece estar no andar de cima – disse ele, olhando para uma janela que estava fechada até acima. Verifiquei com a minha audição e era verdade: havia um coração a bater no andar de cima. -Tu distrais, eu tiro-a.

-Melhor fazermos aos contrário – contradisse e expus a minha teoria: - Se ela me vir, vai saber que estás aqui de certeza, mas o contrário já não será tão certo.

Ele pensou e acabou por concordar com um aceno de cabeça.

-Mas se eu souber que tentaste alguma coisa com ela…

-Damon, aqui quem andou atrás da namorada do irmão foste tu, não eu – falei e ele olhou-me com raiva, porém eu sabia que ele não ia causar nenhuma luta ali porque Demi era mais importante do que o nosso atrito.

Ele correu na sua velocidade vampírica e escancarou a porta, arrombando-a pelas dobradiças. Entrou, o que significava que a casa não estava na posse de algum humano. Inclinou a cabeça para eu entrar e subi rapidamente as escadas, sem ninguém me notar.

-Eu sabia que acabarias por me encontrar – falou Katherine do andar debaixo.

-Então se sabias, porque ma tiraste?

-Curiosidade. Já agora, o sangue dela é delicioso – provocou ela e senti o Poder de Damon a emanar pela casa.

-Tu não fizeste isso – rugiu ele, claramente furioso.

Rodei a maçaneta da porta, mas ela estava trancada. Claro que sim, Katherine é esperta, ela sabia que Demi tentaria escapar.

-Acredita no que quiseres, Damon, mas ambos sabemos que eu sou bem capaz de ter feito isso.

Arrombei a porta e Demi levantou-se da cama, surpresa por me ver ali.

-Ste…

-Chiu – disse, colocando o dedo indicador à frente dos meus lábios.

-O que se passa? – perguntou Katherine do andar de baixo e ouvi os saltos dela começarem a movimentar-se no pavimento.

-O quê? – perguntou Damon, fingindo-se desentendido.

Pedi a Demi para avançar com um movimento da mão e entreguei nela uma granada de verbena e uma estaca. Ela olhou para aquilo espantada, mas parecia que já sabia o que devia fazer.

-Trouxeste o Stefan – denunciou Katherine e ouvi ela a subir os degraus e depois um baque na parede.

Peguei na mão de Demi e começámos a descer as escadas, mas Mason colocou-se à frente.

-Ela não vai sair daqui – falou ele, olhando para Demi.

-Observa-me – disse e apertei-a num abraço, correndo escadas abaixo com ela.

-Ela sai, ele morre – ameaçou Katherine, prensando Damon contra a parede e Mason estava ao lado dela, com uma estaca a milímetros do coração de Damon.

-Salva-a – disse o meu irmão para mim, mas eu neguei com a cabeça. Não, tinha que haver uma maneira de os salvar aos dois.

Contudo, foi Demi que tomou a iniciativa, saindo do meu abraço e abriu a granada. Atirou-a com perícia à cara de Katherine, que também atingiu Damon mas pouco e deu-lhe espaço para imobilizar Mason, atirando-o contra a parede.

Começámos a correr, mas Demi era demasiado lenta para nós, e então ele pegou nela e corremos até ao carro.

-Eu guio – falei e ele atirou-me as chaves do carro. Entrei no carro e arranquei a alta velocidade.

POV Demi Gilbert

-Preciso de telefonar á Elena – disse-lhes.

-Toma o meu – falou Damon e entregou-me o telemóvel.

Procurei na lista de contactos o número dela e liguei.

-Já a encontraram? – perguntou Elena do outro lado.

-Hum, acho que te estás a referir a mim, certo?

-Demi! – gritou Elena do outro lado. – OMG, tu estás bem?

-Sim, estou. Agora estou. Estamos a caminho de casa.

-Ainda bem. Pede ao Damon para pregar a fundo nesse acelerador porque eu quero abraçar-te bem rápido, está bem?

Ri.

-Na verdade, é o Stefan que está a conduzir e não te preocupes porque ele já está a quebrar algumas regras de condução.

Gargalhámos as duas e despedimo-nos.

-Demi, Katherine… fez-te alguma coisa? – perguntou Damon e eu congelei. Sim, ela tinha feito e ele não ia gostar nada.

-Que género de coisa? Porque raptar-me já é alguma coisa – desconversei, nervosa.

-O que Damon quer perguntar-te é se ela te mordeu – disse Stefan, sem rodeios.

-Sim – murmurei e os dois enrijeceram. – Mas foi pouco! Foi porque eu estava a tentar fugir pela janela e ela mordeu-me para me ameaçar!

-Queimá-la é uma ótima maneira de acabar com ela – sugeriu Damon com o seu tom irónico, que eu agora sabia que era para disfarçar a sua dor. Aquilo causou-me uma dor intensa, saber que ele sofria por mim e eu recostei-me no assento do carro, tentando a todo o custo não chorar.

Aquelas tinham sido as piores horas da minha vida e não gostava nada de as repetir, e saber que ele também sofreu por causa disso mostrava que ele realmente me amava e o quanto.

Stefan soltou uma gargalhada, o que me tirou dos devaneios.

-Tu tentaste fugir pela janela? Demi, aquilo era o primeiro andar!

-Eu sei, mas eu não sabia disso até a abrir – respondi.

-E Mason? – perguntou Damon. – Ele fez-te alguma coisa?

-Também podes ser mais específico nisso? – perguntei, também no meu tom irónico.

-Bolas, Demi, apenas responde! – gritou Damon, o que me fez encolher no assento.

-Apenas me ameaçou – respondi num murmúrio.

O resto da viagem foi num silêncio asfixiante, mesmo que Stefan tenha colocado música. Quando chegámos a Mystic Falls e chegámos à mansão, abri a minha porta e corri lá para dentro.

Elena e Bonnie estavam sentadas na sala, mas levantaram-se logo e abraçámo-nos as três a chorar.

-Fico feliz por estares bem – admitiu Bonnie, rindo e chorando ao mesmo tempo.

-Já sei! – exclamou Elena. – Festa do pijama!

-Não estou no humor certo para isso – disse e desfizemos o abraço.

-Nem pensar! Festas do pijama é para isso mesmo: divertir quando se está em baixo. Pipocas, chocolate e filmes lamechas.

-Amanhã há aulas – disse.

-Faltamos. Não seria a primeira, nem a última – falou Bonnie, sorrindo. – Fazemos onde?

-Pode ser aqui, se quiserem – sugeriu Stefan e eu concordei, assim como Elena e Bonnie não teve outra solução.

-Vou só avisar a Jenna que vou dormir cá – disse Elena e pegou no telemóvel.

-E eu vou avisar o meu pai – falou Bonnie e também pegou no telemóvel dela.

-Vou tomar um banho – avisei e subi as escadas. Entrei no quarto onde estavam as minhas coisas e escolhi um pijama cinzento. Entrei na casa de banho e fechei a porta, não a trancando. Entrei no chuveiro e assim que a água quente me atingiu causou-me uma calma e ao mesmo tempo uma tristeza profunda.

Saí do chuveiro e vesti o pijama. Entrei no quarto e Damon estava lá. Dei uns passos atrás, assustada por ver a figura dele.

-Damon – disse, tentando acalmar o meu batimento cardíaco.

-Desculpa – falou ele, subitamente e uma ruga cresceu-lhe na testa. – Fui rude contigo no carro.

Enfrentei-o com o meu olhar.

-As desculpas não se pedem, evitam-se. E o que tu fizeste no carro foi mais do que rude, tu gritaste comigo e nunca admiti que na vida alguém gritasse comigo.

-Des…

-Não! – exclamei. – As tuas desculpas não servem. Não mais e muito menos agora. Eu precisava do teu apoio e que tu me mostrasses que me amavas mas não fizeste isso. Só querias saber da Katherine e estavas a arranjar mil e uma maneiras de a matar!

-Não foi…

-Agora sou eu a falar! – falei alto. – Tu salvaste-me e eu estou-te grata por isso, mas quando eu precisava de ti, tu ficaste com a mente cheia de planos para a vingança e não pensaste como eu me sentia! Só querias saber se eles me tinham feito mal, mas não quiseste saber como eu realmente estava, só estavas a procurar motivos para os matar e não quiseste saber de mim.

-Estás a entender tudo mal.

-Talvez sim, mas até agora não me perguntaste como eu realmente estava.

-Como estás? – perguntou ele, ao fim de um tempo.

Ri nervosa.

-Neste momento ou há horas atrás?

-Damon, podes chegar aqui? – pediu Stefan da ombreira da porta  do quarto. – Boa noite, Demi.

-Boa noite, Stefan – falei mais dócil. Quando Damon saiu, entraram Elena e Bonnie abraçaram-me.

-Ele foi muito injusto – comentou Bonnie.

-Vocês ouviram? – perguntei com lágrimas nos olhos.

-Sim. Desculpa se não querias que ouvíssemos – falou Elena.

-Não faz mal – disse com a voz a falhar e comecei a soluçar.

-Oh, Demi – disse Bonnie e as duas abraçaram-me ainda mais fortemente.

-Foi horrível – disse entre soluços e lágrimas. – Horrível.

Sentámo-nos na cama e começámos a conversar sobre o que tinha acontecido.