Uma Lembrança Inventada. escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dedicada a Winnie Cooper que me apresentou os livros e deu eles de presente! E porque ela ama o Peeta mais que todos.



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Eu tentava a todo custo me lembrar do que eles diziam ser verdade, mas aquela dor de cabeça sempre tomava conta de mim antes que qualquer realidade fosse vista e as imagens distorcidas tomavam conta de mim. E a raiva de não poder ser eu mesmo. E o ódio de ter perdido a única coisa que queria manter ao passar pelos Jogos. A única coisa que me mantinha sendo eu mesmo estava sendo lentamente roubado de mim. Eu estava sendo roubado de mim mesmo.

E a idéia de ser culpa dela fazia com ao mesmo tempo em que me sentisse vontade de acabar com ela e vontade de acabar comigo mesmo. No fundo eu sabia que a culpa não era dela. Que a culpa não era minha. A culpa era deles, da ganancia e o desejo de poder absoluto. A culpa era dessa humanidade corrompida e cheia de ignorância, medo, e superficialidade. A culpa era do que as pessoas tinham se tornado.

Enquanto sua mente era distraída com o bolo de casamento de Finnick e Annie ele quase conseguiu se lembrar de quem realmente era. Do que buscava ser. Conseguiu se lembrar do que esperava do futuro, um ponto de sua mente em que eles não puderam tocar. Um ponto que não pertencia a mais ninguém a não ser a ele, um pouco que sabia que a culpa não era dela. Que ela era apenas mais uma vitima, mais um sendo usada para os planos de outros. Todos ali eram apenas peças de xadrez sendo manipulados por pessoas com sede de poder, sejam elas justas ou não. Todas queriam o poder absoluto sobre o resto deles.

O bolo estava ali na minha frente e me lembrava daquilo que um dia eu sonhei mesmo sem perceber. Me lembrava da mentira de um casamento que não aconteceria. Um casamento que inúmeras vezes aconteceu somente dentro de mim, na minha mente, no meu coração. Um casamento em que a Capital não conseguiu tocar. Um casamento que ninguém jamais tocaria. Essa lembrança mostrava que em algum momento eu a amei. Essa lembrança mostra que talvez ainda a ame, porque o amor não vem da mente, vem do coração.

Nessa lembrança em que jamais tocariam nós dois estávamos juntos. Nós dois estávamos bem. E estávamos vivos sem nenhuma sequela daqueles jogos malditos ao qual fui obrigado a participar duas vezes. Nessas lembranças só tinha nós dois, arrumados e juntos. Nunca soube se ela realmente me amou em algum momento. Ela é dura. É forte. É o oposto de mim. Mas eu a amei, ou amo. E nessa lembrança ela também me amava.

Nós estávamos em uma árvore. Em baixo de uma enorme árvore. Obviamente não era no distrito 12, era um lugar tão mágico quanto essa lembrança e possivelmente existia só em mim como ela.

O sol estava se pondo, e aquele laranja doce e leve tomava conta do mundo todo. Minha cor preferida, e o motivo é obvio. Não existe um momento mais lindo e mais mágico do que esse. Embaixo da árvore e nós existia um campo verde, extenso, coberto por dentes de leão, flores brancas e amarelas sendo sopradas por uma leve brisa, fazendo com que em nossa volta as pétalas finas e parecidas com algodão fizessem uma dança lenta.

Seus cabelos estavam soltos. Foram poucas as vezes que eu a vi assim. Mas me lembro da conversa no teto do prédio onde ficamos antes dos primeiros jogos. Me lembro que seus cabelos estavam soltos emoldurando seu rosto que mesmo sério tinha uma beleza envolvente. Uma beleza que me tocou de um jeito quase inesquecível. Seus olhos estavam em mim, só em mim. Sem se importar com nada ao nosso redor. E seu sorriso. Na minha lembrança ela sorria, e sempre foi tão difícil vê-la dessa maneira, fazê-la esboçar um leve sorriso. Diferente de mim, que sorria com facilidade. Antes.

Minhas mãos estavam entrelaçadas a suas.

Nossas respirações estavam sendo compartilhadas.

E quando sua boca deixou escapar as palavras: Eu aceito. Eu consegui voltar a sorrir como antes, eu consegui ser eu mesmo. E eles não tinham arrancado nada de mim.

Essas lembranças são boas, eu gostaria que fossem o futuro. Queria ver o sol se pôr, sentir o vento e ter em volta de mim uma chuva de dentes de leão. Isso tudo poderia me trazer de volta. Mas estou aqui trancado embaixo da terra, usando algemas por não ter mais controle. E a única coisa que me trás de volta nesse momento é o bolo. O casamento de Finnick e Annie. Ela estava perto de mim quando me resgataram. Ela é doce. E ela entende o que eu passei. Também a deixaram louca, mas não tentaram lhe tirar o amor. Como tentaram tirar Katniss de mim.

Nós somos iguais.

Infelizmente.

Por isso quero que ela seja feliz. E ao finalizar o bolo, eu fecho meus olhos e suspiro. Enquanto termino de ver a minha lembrança inventada, e sinto meus lábios unidos aos lábios da garota em chamas.

Eu o garoto dos pães, ainda tenho algo que eles nunca poderão me roubar. Eu tenho as lembranças inventadas, e o doce sabor dos lábios dela. E isso estará em mim para sempre.

The End.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!



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