Two Way Road escrita por Jules


Capítulo 3
Bombtrack


Notas iniciais do capítulo

Bom gente, eu não estava pretendendo atualizar a história até eu acabar minha outra fic, mas eu andei recebendo uns pedidos de algumas leitoras para eu atualizar, então aqui vai! =)
Espero realmente que gostem desse capítulo!



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Quando meus olhos tornaram a se abrir, a escuridão havia tomado inteiramente o céu. Digo, eu acho que tinha, considerando o fato de nada além das folhas das árvores sobre minha cabeça pudesse ser visto. Onde eu estava? Ah sim... Eu havia corrido de Jimmy e havia batido contra alguma coisa... Até aí era tudo o que eu me lembrava. Me sentei levemente no chão levando a mão à minha cabeça que latejava devido ao impacto. Fechei os olhos e soltei um gemido, piscando vezes consecutivas tentando dar nitidez à minha visão, mas a missão estava complicada. Onde eu estava mesmo? Não muito perto da praia, pelo que eu podia ver. Eu sequer conseguia escutar o som do mar. Nada poderia ser ouvido, além do barulho dos insetos e do vento. Senti um nó se abrir em meu estômago. Será que ninguém havia procurado por mim? Por quanto tempo eu estive apagada? Por que ainda estava no meio do nada? Senti um desespero me bater, eu estava sozinha, e perdida... Como poderia ficar pior?

E só podia. Meus olhos viraram-se alarmados com o barulho de passos sobre folhas não muito longe de mim. Senti meu coração disparar enquanto procurava a todos os custos um sinal de vida por ali, mas nada. Será que alguém havia vindo me procurar? Os passos continuaram a me cercar e logo o frio começou a perfurar minha pele mais uma vez. Afaguei meu braço na tentativa de me aquecer, eu estava gelada, precisava fazer algo antes que eu tivesse uma hipotermia ou virasse comida ali naquele momento. Me coloquei de pé trêmula enquanto olhava atentamente em volta, eu estava congelada pelo medo e pelo suspense que me cercava, quem estava ali? Limpei a garganta tentando tomar forças na voz para pronunciar as seguintes palavras:

-Tem... Tem alguém aí?

Nada. Nem uma resposta. Seja o que estivesse perto de mim, havia ouvido, mas sem a resposta ou não sabia falar, ou tinha a intenção de me pegar de surpresa. Tal pensamento era apavorante. Olhei em volta mais uma vez, mas era um movimento inútil, levei a mão ao peito com medo de ter um ataque cardíaco e fechei os olhos. Oh céus! Era assim que eu iria morrer? A vida toda me privando das minhas vontades insanas para morrer em uma floresta? Então foi aí que a verdadeira luz surgiu.

Era uma luz, realmente, e estava vindo de não muito longe. Uma pequena casinha na árvore... Mercy e eu havíamos a visto mais cedo! Eu tinha certeza! Porém, eu jurava plenamente que ela estava abandonada. Talvez abrigasse um nativo ou coisa do tipo... Eu sei que era perigoso aparecer assim na casa de um estranho, mas minhas opções não eram muito boas e claramente aquela era a melhor, então atenta aos passos que me cercavam, tomei o resto de minhas forças para correr, e em fim, tentar alcançar a única ajuda presente ali. Mesmo que aquilo não fosse exatamente uma ajuda.

Escalar a árvore não foi a parte difícil, eu estava de tênis então tirando o meu cansaço, foi uma operação quase simples. Olhei primeiramente para a casinha agora de perto, analisando bem o local. Não tinha certeza se era seguro estar ali, considerando que não tinha ideia de quem morava ali e estava sozinha em uma área completamente desconhecida.

Com as mãos ardendo e o coração batendo forte, escalei levemente o tronco da árvore composto por algumas tábuas de madeiras usadas como escada, e com medo de cair e ser percebida ao mesmo tempo, rezava em silêncio para sobreviver aquela noite pelo menos. Não muito tempo depois, finalmente consegui achar a varanda da casinha, ou pelo menos, o que poderíamos chamar de algum lugar plano onde consegui me segurar a alguns metros do chão. Olhei curiosa e atenta para o caso de... Bem, se eu não soubesse voar, talvez fugir não fosse uma opção para mim, era naquele momento que dois homens solitários me sequestrariam, estuprariam e me jogariam em um buraco onde eu morreria desidrata, mas em meio em meus pensamentos realmente otimistas, o primeiro sinal de movimento chamou a minha atenção.

Espiei como uma agente do FBI uma garota que caminhava de um lado para o outro da casa. Ela era bem bonita, considerando que tudo o que eu via eram os volumosos cabelos negros e tom de pele bem clara que a fazia parecer com um personagem daqueles livros de vampiros legais... Para uma menina que morava na floresta ela era muito limpa e bem cuidada, e naquele momento, parecia realmente nervosa.

Primeiro ela roía a unha do dedo indicador enquanto andava de um lado para o outro da casa e tinha uma mania chata de estalar os dedos enquanto parecia pensar. Parecia aflita, como se não gostasse de ficar sozinha. Olhei em volta para ver se achava algum movimento, mas não obtive um sinal sequer. Olhei para a garota que agora estava sentada em um sofá e cobria o rosto com as mãos. Mordi o lábio, ela realmente não parecia ameaçadora... Talvez... Talvez eu pudesse lhe pedir ajuda, mas algo dentro de mim, implorava para que eu não fizesse aquilo. Estava em meio a um debate mental do que fazer ou não fazer, quando os olhos da garota me surpreenderam, olhando em minha direção e enrijecendo o corpo completamente em um susto, pulando do sofá.

Um pouco intimidada por seu movimento, me apressei para tentar descer da árvore, mas a altura fez minha cabeça girar, e antes que eu pudesse sequer bolar uma forma de descer rápido sem... Sei lá, morrer, a porta se abriu atrás de mim e fui empurrada contra a parede. Soltei um grito agudo enquanto sentia algo espetar minha garganta, e a garota, que agora que me olhava de forma feroz, tinha a mão trêmula na faca que segurava. Segurei-me ao máximo para não entrar em desespero e começar a chorar.

-Quem é você?

Exclamou. Fechei os olhos sentindo meu corpo amolecer e o medo me congelar. Tossi.

-Sou... Jude.

Foi tudo o que consegui dizer, a garota de cabelos negros franziu a testa um pouco confusa, acho que ela estava ouvindo o meu coração de tão alto que batia.

-O que você quer?

-Eu... –Tossi. –Eu... Pode... Me... Soltar?

A garota de cabelos negros me olhou séria enquanto tirava o braço do meu pescoço me fazendo tossir que nem uma coisa louca. Levei a mão a garganta que agora formigava, olhei assustada para a menina.

-Não vou perguntar mais uma vez...

-Estou aqui em uma excursão. –Falei. –Eu... Eu fui perseguida na floresta... E me perdi.

A garota de cabelos negros ergueu uma sobrancelha de certa forma como se estivesse interessada na minha história. Cruzou os braços me olhando atenta.

-Perseguida? Por quem?

Soltei um suspiro enquanto lhe contava sobra tudo, desde a parte do meu amigo idiota até a hora em que fui perseguida pela sombra misteriosa. Achei que a garota fosse rir da minha cara e me expulsar dali, mas seu olhar era curioso com um pingo de confusão, e logo em seguida, um certo ar de alívio, como se eu estivesse ali para ajuda-la de certa forma e não ao contrario. Abaixou a faca e soltou um suspiro quase tão cansado quanto o meu. Abriu um sorriso simpático demais para seu rosto e apontou para a porta, olhando em volta.

-Não é a primeira vez que escuto essa história. –Falou em um tom mais calmo. –Claro que não com o amigo abusado e tal... Mas sempre rola de garotas serem perseguidas por aqui, não deveria ter entrado na floresta... Mas te entendo. Aliás, pode entrar. Está tarde para você voltar agora, veio parar mais longe do que pensa.

Falou de forma completamente acolhedora. Já eu? A observei de forma tão desconfiada, que por um momento, parecia que eu era a dona na casa de frente com uma estranha e não ao contrário, mas algo no olhar da garota me deixava curiosa... Ela me parecia ser um tanto... Verdadeira. Soltei um suspiro cansado enquanto sentia minhas pernas latejarem pelo cansaço... Acho que não tinha problema em entrar e descansar um pouco, certo? Talvez pela manhã ela pudesse me ajudar a encontrar o hotel mais uma vez.

-Hm... Não me disse o seu nome.

Falei tentando soar simpática. A garota deu uma risadinha e assentiu.

-Sou Luce, muito prazer.

***

Naquele momento, eu havia tomado um banho maravilhoso e havia pegado algumas roupas emprestadas de Luce. Sim, eu disse banho! E em uma casa na árvore! Como a garota havia conseguido guiar água e energia para aquele lugar eu nunca ia entender, mas ela poderia ser uma grande engenheira! Aliás, Luce ainda era uma incógnita para mim, uma garota doce e meiga, um tanto bem humorada e eu poderia dizer até que uma boa companhia –o que havia percebido por passar algumas horas conversando com ela e tomando um chá maravilhoso que havia feito –e uma pergunta em particular, não parava de assombrar o meu cérebro. Como ela havia chegado aqui? Digo, por que ela morava naquela floresta? E sozinha pelo jeito? Mordi o lábio batendo as unhas contra a xícara, eu tentava a todos os custos não levar nossos assuntos para um nível incômodo, aliás, nada além de me ajudar ela havia feito, mas minha maldita curiosidade gritava comigo. Por que eu tinha que ser assim?

-Luce... –A interrompi por um momento. –Hm... Desculpe a pergunta, mas como chegou a esse ponto? De morar sozinha aqui?

Luce me olhou por um momento fitando a xícara em suas mãos logo em seguida. Um sorrisinho um tanto cansado se abriu em seu rosto, sem exibir os dentes e deu de ombros em seguida.

-Bem... Não moro exatamente sozinha... –Falou. –Na verdade moramos eu e meu namorado aqui...

-Seu namorado?

Perguntei um pouco confusa. Oh céus. Eu não queria ser nenhum fardo para a garota e atrapalhar os seus planos de casal, mas minha pergunta apenas fez Luce rir e assentir, como se minhas preocupações fossem completamente desnecessárias.

-Ele não vem hoje. –Comentou. –Está caçando. E sim, moramos apenas nós dois no meio dessa floresta porque... Bem, haviam algumas... Implicações em ficarmos juntos, sabe como é... Então fugimos, e estamos escondidos aqui, para ninguém tentar nos atingir.

Abri um sorrisinho ouvindo a história. Um tanto fofa, tenho que admitir. Uma típica história de amor, onde o casal apaixonado decide seguir o caminho pela vida juntos e abandonar tudo o que tem, só pelo gosto de estar ao lado do outro. Na verdade aquela era a minha fantasia de cavaleiro de armadura, um alguém que seria mais necessário do que o chão que piso e o ar que respiro. Brega? Eu sempre sonhei com o amor da minha vida, sempre fui uma romântica incorrigível, sempre morei em um conto de fadas. Fazer o que? Cada louco com suas manias. Já Luce? Parecia ser viciada em livros de romance e mitologias. Por que eu sei isso? Bem, digamos que enquanto eu estava sentada na cadeira conversando com a garota de cabelos negros e rosto delicado, eu havia reparado na enorme estante de livros atrás de nós, onde haviam alguns livros bíblicos alternativos, alguns que pude reconhecer da biblioteca da minha escola, enciclopédias que se tratavam de Deus e seus arcanjos.

Abri um sorrisinho para Luce dando um último gole em meu chá enquanto o pousava sobre a mesa, meus olhos pairaram sobre algumas páginas que se encontravam soltas por ali.

-Mas então... –Falou a garota chamando minha atenção. –O que te traz aqui?

Olhei um tanto curiosa analisando sua pergunta. Na verdade, ela era muito mais complexa do que parecia. Inicialmente eu achava que era para estudar, ter lições sobre o campo, e aproveitar meu fim de ano com o colégio e com meus amigos, mas agora? Me parecia um tanto vago. Dei uma risadinha fazendo uma careta.

-Trabalho de escola. Bem paradisíaco, mas um trabalho.

Falei, Luce ergueu uma sobrancelha dando risada e assentiu balançando a cabeça negativamente.

-Eu sei, mas eu quis dizer aqui.

Olhei em volta e entendi a que ela se referia. Como eu havia a encontrado? A verdade? Nem eu sabia, porém uma coisa era certa, eu já havia lhe dito aquilo antes.

-Hm... Já te disse. –Falei em um tom desconfortável. –Amigo babaca, perseguida, caí, aqui estou...

-Sim, eu sei. –Falou Luce com um sorriso. –Mas caiu aqui perto? Já tinha visto a casa?

Parei por um momento confusa com suas perguntas, mas então pensei no que realmente estava sendo me perguntado. Eu havia visto a casa antes de cair? Eu estava perto da trilha que havíamos feito com meu professor? Mordi o lábio. Não. Quando eu bati, estava em uma área completamente nova, completamente desconhecida... Fora da trilha com toda a certeza. E eu estava sozinha, não havia visto aquela casa... Como eu havia parado ali perto então? E o mais importante, por que Luce parecia saber daquilo? Mudei de posição desconfortável limpando a garganta.

-Hm... Não me lembro. –Falei. –Provavelmente sim.

Luce me olhou um pouco curiosa, mas por fim pareceu engolir a resposta que eu havia lhe dado.

-Tudo bem, quer mais alguma coisa? Eu devo ter umas latinhas de Coca no fundo da geladeira.

Dei risada enquanto assentia ao que Luce me oferecia, que logo em seguida se levantava e caminhava rumo a cozinha. Meus olhos baixaram no pedaço de papel ali parado sobre a mesa... A página daquele livro vermelho de espessura grossa, que me parecia tão sem graça era tão atrativa, principalmente pelo fato de eu querer saber sobre que tipo de literatura Luce vinha tendo interesse. Agarrei-a arrastando os olhos sobre as letras, de forma atenta, prestes a esconder meu interesse em ser xereta quando a garota estivesse de volta. Franzi a testa lendo o conteúdo ali contido, as palavras que eu realmente conseguia intender diziam:

Após Lúcifer, o anjo braço direito de Deus, ter se rejeitado a curvar-se aos humanos, o senhor expulsou-o do céu, onde jurou eterna vingança e tormento para todos aqueles que andavam na terra. Então surgiram os demônios. Demônios, nada mais eram do que espécies de “arcanjos” de lúcifer, que subiam à terra para atormentar os humanos em vingança à caída do anjo, tendo finalidade eterna ao seu mestre que agora jazia seu reino em um lugar profundo conhecido como: Limbo, ou então o Inferno.

Deus, após ver uma guerra Apocalíptica travada, viu a guerra acontecer entre seus arcanjos –ou seja, anjos guerreiros do senhor –contra demônios de lúcifer, e durante o processo, muitos de seus anjos caíram nas perdições, fossem por tentações mortais, fosse para o lado de Lúcifer, onde ficaram conhecidos como os anjos caídos, isto é, os que faziam algo realmente ruim e contra as ordens de deus, sendo expulsos do céu e obrigados a vagar pela terra, mas não era somente isso o que acontecia.

Ao caírem os anjos ainda tinham uma escolha, isto é, o lado negro ou o branco. Alguns anjos optavam pelo lado do senhor, travando batalhas constantes com anjos que escolheram o lado demoníaco, criando assim, uma verdadeira batalha sobre a terra, causando desordem para todos os humanos que viviam ali, isso causou a desordem, isso causou uma guerra menor, porém milenária...”.

Ergui uma sobrancelha observando bem aquilo que estava lendo... Por que tudo o que parecia naquela casa era bíblico? Até onde eu via Luce era uma garota completamente religiosa... Não que eu não fosse. Mas para uma pessoa que mora isolada no meio de uma floresta com ninguém mais a não ser seu namorado, deveria ter pelo menos alguma dificuldade em seguir com toda a sua fé.

Ouvi os passos se aproximando novamente da sala, e rapidamente, joguei o pedaço de papel sobre a mesa exatamente onde estava. Abri um sorriso para Luce enquanto pegava a lata de Coca-Cola que me oferecia e a pousando sobre a mesa. Limpei a garganta.

-Você deve estar cansada. –Falou. –Se quiser dormir, posso tirar os cobertores para você... Amanhã pela manhã te levo de volta ao hotel.

-Tudo bem... –Concordei com um leve bocejo. –Se você não for se incomodar...

Luce deu uma risadinha e balançou a cabeça negativamente, abanando o ar, como se demonstrasse que não era grande coisa. Abri um sorriso agradecido enquanto a garota me erguia um cobertor dobrado.

-Tudo bem. Boa noite, Jude.

Falou enquanto caminhava em direção à cortina que separava seu aposento. Lhe devolvi o boa noite me deitando no sofá e tentando me ajeitar... Tudo bem, aquele não era o lugar mais confortável no mundo e de forma alguma chegava aos pés de todas aquelas camas do hotel, mas eu não poderia reclamar, aliás, se não fosse por ela eu provavelmente ainda estaria perdida em algum lugar da floresta. Bocejei mais uma vez antes de fechar os olhos pesados, eu estava realmente cansada. Eu não sei... Talvez correr, bater a cabeça, ter surtos esquizofrênicos e depois ficar em pânico tenha me cansado bastante para um dia só e eu precisava desesperadamente de um descanso para recarregar, aliás, eu não era um anjo como os do livro de Luce, eu ainda precisava de uma boa noite de sono, para ter um dia de disposição para a caminhada de volta ao hotel na manhã seguinte, e eu queria chegar o mais rápido possível.

(...)

Meus olhos se abriram ardendo quando o barulho me arrancou dos meus maravilhosos sonhos. Pisquei-os algumas vezes, tentando espantar o sono e deixar a minha visão nítida, provavelmente já havia amanhecido e Luce estava se preparando para me levar ao hotel, mas eu estava errada. Ainda era noite, ou pelo menos o céu ainda estava escuro. Franzi a testa um pouco confusa enquanto me sentava lentamente no sofá e esticava os braços, irritada por ter sido acordada por provavelmente um animal do lado de fora da casa.

Soltei um suspiro mal humorado, enquanto tocava lentamente os pés no chão. Quer saber? Eu era uma péssima pessoa quando era acordada antes do horário. Eu tinha o infeliz habito de ao acordar, não conseguir dormir novamente e isso poderia me condenar em horas como aquela. Parei por um momento um pouco assustada quando ouvi o barulho se repetir... Me pareciam passos, ou então alguém batendo o pé contra o chão de madeira da casa, mas ao meu visto, eu era a única pessoa presente no local. Talvez de fato fosse um animal ou coisa do tipo, mas quando eles começaram a bater-se contra a madeira, me perguntei que tipo de animal poderia estar usando um sapato.

Me coloquei de pé lentamente olhando atenta para os lados. Pensei em chamar por Luce, mas se não fosse ela quem estava fazendo os barulhos, aquela poderia ser uma grande besteira. Mordi o lábio tentando ser o mais silenciosa possível, nada além das altas batidas do meu coração poderiam ser ouvidos, mesmo pousado ao meu lado. De forma hesitante, caminhei lentamente até as origens do barulho, franzi a testa confusa, ao chegar de frente à porta de entrada, ergui a mão prestes a tocar a maçaneta, para ver o que tinha lá fora, mas não fiz... Pois assim que ameacei meu ato, as conversas começaram a soar com nitidez.

-Está tudo bem com ela?

-Estava muito assustada.

Respondeu a voz que consegui identificar ser de Luce. Ela conversava com algum homem, cuja a voz eu não me recordava. Praguejei por não estar escutando com clareza, e silenciosamente, franzi a testa encostando a orelha contra a porta para escutar melhor.

-Imaginei que estivesse, ele está fazendo errado. –Falou a voz masculina mais uma vez. –A garota vai ficar aterrorizada, mas temos que chegar antes dele. Ou vamos perder nossa única esperança.

-Eu sei. –Falou Luce lentamente, em um tom meigo até demais para meu gosto. –Eu perguntei se ela havia caído por perto... Ela me disse que não sabia. Ele a trouxe até nós.

Houve um momento de silêncio. Meu coração estava disparado e as mãos trêmulas... Quem era o rapaz e de quem eles estavam falando?

-O que? Por que faria isso?

-Eu não sei. –Falou Luce simplesmente. –Ele queria que nós a encontrássemos. No mínimo esperava que abríssemos o jogo com ela... Para ficar mais fácil para ele depois.

-Não podemos fazer isso. –Falou o homem decidido. –Ela pode surtar... Nós nem sabemos quem ela é...

-Mas está dizendo que ele sabe...

-Eu sei que ele sabe. –Falou a voz masculina parecendo ofendida pelo tom de Luce. –Achei que tinha esclarecido toda a história.

-Você me conta tudo por pedaços. –Falou ela em um tom levemente irritado. –Não sei o que quer que eu faça.

-Quero que a leve para o hotel. –Falou o rapaz simplesmente. –Ela precisa entender... Aos poucos. Sabe que é a chave, certo?

Pude ouvir um suspiro do outro lado.

-Sei disso...

-Luce.. –Falou a voz masculina em um tom agora, mais alarmado. –É a única forma. Você sabe o que está por vir, sabe que querem te machucar... Com ela, é a única forma de eu te proteger... De podermos ficar juntos.

-Eu sei.

Falou Luce novamente em um tom um tanto amedrontado, antes de cair em mais um momento de silêncio. Franzi a testa imaginando o porque de eles terem cessado a conversa... Talvez estivessem se beijando.

-Eu te amo, ok? Não vou deixar nada acontecer com você.

Falou a voz do homem, pude ouvir outro suspiro.

-Eu também te amo.

Falou Luce.

-Leve-a para o hotel... E cuidado. Eu retorno mais tarde quando estiver de volta. Não deixe a floresta.

-Não vou.

Garantiu Luce antes de se mostrar mais um momento de silêncio e logo em seguida... Um som de asas batendo. Franzi a testa completamente confusa tentando escutar mais alguma coisa sobre a conversa, mas tudo havia cessado e logo tudo o que pude ouvir, foram os passos de Luce em direção à porta. Meus olhos se arregalaram e senti-me cuspir meu coração, enquanto com todas as minhas forças, corria em direção ao sofá, me jogando debaixo das cobertas e fechando os olhos. Os passos se tornaram mais altos, e usei minha melhor forma de interpretação para fingir que estava dormindo... Mas Luce nem pareceu ligar, apenas atravessou a cortina entrando em seus aposentos e me deixando na escuridão mais uma vez... E com um nó na cabeça do tamanho do Empire State.

Quem era aquele garoto? Seria o namorado misterioso de Luce? Por que ele não tinha entrado então? E por que ela me disse que ele não viria essa noite? E ela estava falando de mim? Por que eu tinha essa impressão? E quem seria o “ele” de quem tanto falavam? Eram perguntas tão vazias que me rodavam a cabeça, que me doía só de tentar pensar. Mordi o lábio soltando um suspiro firme. Rolei de um lado para o outro do sofá tentando me sentir melhor, mas nada conseguia tirar as palavras da minha cabeça, nem a voz do garoto que sussurrava para Luce que a amava... Uma voz tão peculiar... Soltei outro suspiro mudando de posição mais uma vez. Bem, mesmo que u não fosse conseguir dormir antes, agora, era um sonho completamente impossível para mim.

***

Luce me levou para o hotel logo de manhã. Eu tinha certeza que estava com uma cara horrível, já que não havia conseguido tirar a conversa que havia escutado da minha cabeça e muito menos dormir. A garota andava pela mata como se a conhecesse de cabo à rabo. Seus cabelos volumosos estavam presos em uma espécie de coque e ela tinha um sorrisinho no rosto, enquanto andávamos pela trilha que atravessava aquele mundo de arvores... Tudo ali para mim parecia igual, me perguntei por um momento se ela realmente sabia onde estávamos indo... Mas é claro que sabia! Tanto porque cerca de meia hora depois que estávamos caminhando, eu pude ouvir o som do mar, e então risadas de algumas pessoas, seguido por uma vontade enorme de sair correndo em direção aquele hotel. Olhei para Luce com um sorrisinho sem graça no rosto. O que eu poderia fazer? Meu ânimo para sorrir naquele momento era microscópico! Mas como se eu tivesse acabado de ser a pessoa mais simpática do mundo, Luce me devolveu o sorriso e acenou com a cabeça em direção ás árvores.

-Chegamos. Mais três passos e você chega na praia.

Falou. Assenti agradecida.

-Obrigada... Você não vem?

Perguntei. Luce balançou a cabeça negativamente dando uma risadinha.

-Só venho até aqui. –Falou. –Mas tudo bem, devemos nos ver de novo! Qualquer coisa sabe onde me encontrar... E Jude... Boa sorte com seus professores. Acho que não vão ficar muito felizes por ter passado a noite fora.

Estremeci ao ouvir o que ela falou. Ah não! EU não havia pensado nisso até aquele momento. Abri um sorrisinho igualmente sem graça ao anterior e assenti dacenando levemente para Luce.

-Tudo bem... Obrigada. Vou precisar.

Então caminhei em direção às árvores, logo, como Luce havia dito, encontrando a praia. Mordi o lábio olhando em volta enquanto alguns amigos meus corriam de um lado para o outro atrás de uma bola de praia, olhei para as suítes não muito longes e a vontade imensa que me deu de dormir naquelas camas maravilhosas naquele momento. Olhei para a mata mais uma vez. “Devemos nos ver de novo”, havia dito Luce... Eu estava realmente grata por ela ter me dado abrigo e por ter sido uma anfitriã tão maravilhosa, mas eu, no fundo do meu ser, implorava para que não tivesse que a encontrar de novo.

Em passos cambaleantes, afundando os pés na areia, caminhei em direção ao hotel, onde recebi alguns olhares curiosos e logo em seguida, pude ouvir exclamando não muito longe de mim, a voz de Mercy.

-Ela está ali!

Gritou correndo até mim e me dando um abraço tão forte que quase me fez cair para trás. Arregalei os olhos.

-Quase me matou do coração! Onde esteve?

Exclamou. Logo atrás de Mercy, vieram Jimmy e Roger, nosso professor monitor. Olhei para os dois com um sorrisinho no rosto, que logo morreu quando Roger tocou meu rosto, aparentemente tentando ver se eu estava bem –o que realmente estava se desconsiderarmos o corte pelo choque contra o galho em minha testa –e logo em seguida cruzou os braços me olhando de forma muito severa, que vez minhas pernas ficarem bambas só de olhar para ele, assim que disse:

-Acho que você nos deve algumas explicações.


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Notas finais do capítulo

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