Amigas, Amigas... Garotos a Parte escrita por Machene


Capítulo 1
Tinha um Garoto no Caminho


Notas iniciais do capítulo

^^ Esta é minha primeira fic conjunta: Beyblade e Bakugan. Espero que gostem!



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Cap. 1
Tinha um Garoto no Caminho

{Salima Pov’s}


Bom, por onde eu posso começar?... Este é o meu relatório semanal, um programa que eu e minhas amigas começamos a fazer pra lembrar todos os dias de tudo o que nos aconteceu de mais importante. Ao fim de toda semana, nós repassamos esta agenda para a próxima. Eu vou começar a escrever primeiro só porque aconteceu comigo uma coisa que nenhuma de nós jamais esperou que acontecesse com alguma nessa semana passada, uma coisa que mexeu comigo...

Eu sou uma esforçada zoóloga de um Instituto de reintegração ambiental para animais de grande porte, o famoso Witier, e, como é do meu costume, eu comecei a caminhar até lá depois de acordar e me arrumar por volta de umas nove da manhã. Não estava levando mais do que a bolsa, pois todo o material do qual eu preciso costumo deixar na minha sala de vice-chefe, que é no último andar do prédio e ao lado da sala da minha melhor amiga.

Ela não é ninguém menos do que a Alice, a chefe do Instituto, que me deu meu cargo assim que demonstrei capacidade para coordenar as coisas no lugar. Apesar de ser tímida e um tanto delicada, a Alice é uma mulher que já viveu horrores na vida e ainda sim consegue se mostrar sempre firme e forte pra todos, tomando muitas vezes a iniciativa de tudo e sem perder o charme! Os homens que trabalham conosco a respeitam muito. E ela é um tanto misteriosa...

Enfim, voltando ao meu relato inicial, eu cheguei na hora pra fazer o meu exame de rotina em todos os animais e dar as vacinas necessárias antes de sair com a própria Alice para nos encontrarmos com as nossas outras amigas nesse feriado. Ela já tinha folgado todos os empregados e aquele era o último dia de trabalho até a chegada dos substitutos, voluntários que iriam monitorar tudo. Portanto, contando tudo, nós passamos três dias com o tempo livre.

– Salima, já terminou? – tomei um pequeno susto quando ouvi os passos.

– Ah, oi Alice. Já sim, esta é a última vacina.

Meu caso mais complicado dentro do Instituto é um tigre branco com o nome de Suyure. Como é um veterano dentro do grupo, os outros tigres de pelagem comum o tratam como a um líder e ele nunca quis voltar ao seu habitat, menos ainda tentou fugir alguma vez. Quando eu comecei o meu trabalho, parecia que o Suyure não dava a mínima pro que eu fazia. Os outros já ficaram hostis ou curiosos quando me viram pela primeira vez, mas ele não.

Sempre pude tocar em todos os tigres sem ele reclamar, diferente de como realmente achei que se comportaria com um cargo tão alto dentro do grupo, mas, mesmo também me deixando cuidar dele próprio, eu nunca consegui conquistar seu carinho. Tratei de aplicar logo a vacina pra que nós dois nos víssemos livres; ele saiu andando, indiferente como sempre. Com os outros nós temos que aplicar tranquilizantes; com Suyure, nem é preciso!

– Dois meses e ainda não conseguiu nada?!

– O que eu posso fazer se ele não gosta de mim?

– Ah, acho que ele deve gostar de alguma maneira... Do jeito dele.

Mal nós trancamos tudo, quando os vigias noturnos e a equipe veterinária do plano de revezamento chegaram, e Melissa começou a ligar. Ela é outra que tem a mania de planejar um monte de coisas, mas não faz nada por morrer de preguiça de seguir as próprias regras! Apesar de atraente, ela sempre ignora a fila de pretendentes que conseguiu bem antes de se tornar uma modelo e mesmo após isso. E pudera: uma loira dos olhos azuis e pele macia...! Virou modelo!

– “Ei, por que vocês duas estão demorando tanto? Julie e eu já estamos aqui esperando ao maior tempão junto com a Hilary e a Runo também!”.

– Certo, nós já estamos indo. Onde é que vocês estão?

– “Conte duas mesas ao lado direito quando chegar ao restaurante; nós estaremos lá. E venham logo, que temos muito que conversar!”.

– Seria mais fácil se você falasse logo pelo telefone, não é Melissa?!

– “Não seja estraga prazeres Alice! Eu vou desligar.”.

– Ela desligou. – Alice suspirou.

– Então é melhor irmos logo pra que ela não fique zangada. – ri.

O nosso restaurante favorito sempre foi este onde eu estou agora, um simples e bonito do bairro que pertence aos pais da Runo e, por isso, sempre freqüentamos e ganhamos desconto. O nome é o mesmo do sobrenome dela, mas a Runo prefere sonhar em abrir uma confecção por ela mesma pra colocar um nome exótico e atrativo, no que já prometemos sermos suas fiéis clientes. E claro, com um considerável desconto usando os nossos cartões VIP! (Risos)

Ela é bonita, talentosa, faz as próprias roupas e já vende algumas para juntar dinheiro. Quando pode, adora nos ajudar nos nossos trabalhos, já que ela só banca a garçonete e auxiliar de cozinha pros pais. Tudo em que precisamos de uma mão, Runo oferece duas!

– Até que enfim... – Melissa suspirou assim que nos viu sentando.

– Ora, pare de reclamar Melissa. Elas já chegaram, não foi? – Hilary até tentou acalmá-la, mas ela suspirou e cruzou os braços.

– Sim, mas precisa mesmo demorar tanto tempo só para dizer aos empregados que estão dispensados? E dá um detalhe que eles iam sair mais cedo!

– Desculpa Melissa... – eu pedi – É que o Suyure ainda não confia muito em mim. Ou deve confiar, mas eu acho que não gosta...

– Não se preocupe com isso, algum dia você vai conquistá-lo.

– Obrigada Hilary, eu espero que sim.

A Hilary é uma amiga antiga minha, a primeira que eu tive. Ela trabalha como professora de história, e eu já imaginava que isso ia acontecer quando nós conhecemos nossa professora da oitava série, que ensinava a mesma matéria. O amor dela pelo ensino fez a Hilary se apaixonar pelos estudos, e ela adora aprender coisas novas! De todas nós, é a única com o cabelo curto. Se formos falar da personalidade, ela e Runo são mais parecidas, assim como Julie e Melissa.

Nisso, se supõe que Alice e eu sejamos quase uma cópia uma da outra. Nós já paramos as brigas da Hilary e da Runo, que acontecem pelos motivos mais bestas, e as discussões da Julie e da Melissa, por coisas como fofocas mal interpretadas, diversas vezes! E embora sejamos muito compatíveis, Alice e eu também temos os nossos maus dias... Enfim, citar momentos ruins não é o meu objetivo aqui, então eu vou regressar à narração daquele dia!...

– E então, onde estão Runo e Julie? – mal Alice terminou de perguntar, elas apareceram na nossa frente, Runo com avental branco e Julie usando patins.

– Nós estamos ajudando os meus pais, mas já acaba o nosso turno.

– Ah, isso me lembra de quando a Alice estava procurando emprego pra pagar a faculdade e começou a fazer um bico aqui como garçonete. – Julie suspirou pensativa e sorrindo.

– Foi divertido. – ela respondeu, sorrindo igualmente e com as mãos juntas para apoiar o queixo – Então podem trazer o nosso almoço?

– Tudo bem, eu já tinha anotado o que a Hilary e a Melissa estavam querendo comer... – Runo sorriu e pegou a caneta, abrindo o bloquinho de anotações – O que vai ser?

Não lembro muito bem do que cada uma de nós pediu, mas quando acabamos, e nisso a Runo e a Julie já estavam comendo com a gente, o assunto de verdade começou...

– A Julie tá namorando! – Melissa quase gritou enquanto nós rimos e ela corou.

– Mentira! – Hilary e eu dissemos juntas, quase não acreditando.


Julie quer abrir o seu próprio restaurante, e por isso pediu que Runo falasse com os pais e arranjasse o seu recente emprego. Ela também é o nosso cupido entusiasmado. Quando Melissa e ela se unem, nenhum casal tem uma chance de resistir! Como ela, a nossa Julie também recebe muitos pedidos de namoro e os rejeita sem pensar muito. As duas tem o perfil do cara ideal, mas ele nunca apareceu pra nenhuma... Pelo menos até agora.

– Não é novidade você estar namorando, sempre foi muito animadinha – Runo começou e nós rimos -, mas o que importa é quem é ele.

– Essa é a melhor parte! – Melissa se empolgou – Ele...

– Melissa, não acha melhor a Julie mesma contar? – Alice a parou e ela fez bico.

– Tudo bem, eu conto... – Julie suspirou e nós chegamos mais perto dela – O nome dele é Billy. – saíram alguns gritinhos discretos de algumas de nós – Ele é loiro, tem olhos azuis e faz escavações arqueológicas pelo mundo. – Hilary rapidamente se interessou mais pelo assunto e colou em Julie, assim como Melissa.

– Como vocês se conheceram? – a pergunta saiu da Alice.

– Ah, eu estava paquerando aquele duplex a dois quarteirões daqui...

– De novo Julie? – eu reclamei – Já dissemos que quando tiver dinheiro vai conseguir compra-lo, mas você tem que parar de ficar secando ele!

– Foi isso que você fez com o seu namorado? Ficou secando ele? – Runo abriu um sorriso meio malicioso, mas fingiu estar séria enquanto apoiava o queixo na mão, o que nos fez rir.

– Não! – Julie devolveu e recomeçou, sonhando alto e com as mãos juntas, quase como se orando pra agradecer aos céus – Quando ele me viu, eu ainda estava parada na calçada olhando o duplex, mas eu queria ver ele melhor, então eu me afastei um pouco. Antes que visse, estava no meio da rua e um carro preto ia passando a toda velocidade.

– AI-MEU-DEUS! – todas nós falamos juntas e pausando.

– Mas tudo bem... Ele me salvou! – demos gritinhos ao mesmo tempo, chamando atenção de quem ainda estava no recinto – O Billy estava usando um boné na hora, e pelo que parece ele adora os chapéus da coleção dele, e quando me ajudou a levantar veio um vento horrível, sabe-se lá de onde e daqueles que o seu cabelo fica todo assanhado, sabe?! Mas aí ele colocou seu boné na minha cabeça e disse: “Você fica muito bonitinha com ele.”. – e mais gritinhos preencheram o ambiente – Depois disso ele me chamou pra tomar um café e nós trocamos números, e-mails e endereços... Depois de três encontros ele me pediu em namoro. – e vieram os suspiros.

– Que lindo Ju! Eu queria que um garoto salvasse a minha vida!...

– Pra isso você teria que entrar em perigo primeiro Runo.

– Ah Alice, não estraga o momento! – ela cruzou os braços e fez um bico de protesto. Nós voltamos a rir – Mas espera aí! Onde é que a gente tava que não viu nada disso?

– Pois é! Eu perguntei a ela a mesma coisa! – Melissa se pronunciou – Foi agora, no meio tempo em que saímos pra praia e ela não quis ir porque disse que ia fazer uns pagamentos antes do almoço. Os outros dois encontros foram quando passamos a nossa noite de jogos na casa da Salima e enquanto estávamos no cinema quarta-feira passada!

– E você nem pra nos avisar, né, traíra! – Hilary estapeou o braço dela levemente e rimos.

– Mas eu estava distraída! – Julie tentou se justificar.

– Imaginamos o quanto! – Hilary devolveu e voltamos a rir.

– Ele é tão divertido! E além de ser muito lindo, o Billy também é romântico!

– Ah Runo, engole essa! – Hilary apontou pra ela e riu enquanto Runo fechou a cara.

Eu me esqueci de dizer que Hilary e Runo estão sempre competindo pra ver quem arruma um namorado antes da outra. Isso já faz anos, mas nenhuma delas chegou ao menos perto de conseguir, porque toda vez que algum rapaz chega perto elas o assustam com alguma explosão de raiva súbita. Quando Hilary e eu nos conhecemos, já começamos a frequentar o restaurante dos pais da Runo com nossos pais e as duas, desde aí, viraram amigas meio rivais.

É uma relação engraçada... Quanto a Melissa e Julie... Nós conhecemos Ju mesmo quando pediu o seu trabalho aqui, mas a Meli apenas no momento em que ela declarou que este era seu restaurante favorito e os jornais prestigiaram. Desde então, muita gente vem aqui para comer! Outro lado bom da fama da Meli, segunda ela mesma diz, é que nós podemos sair bem nessas revistas e nos jornais com as roupas chiques da Runo.

Runo começou a vender suas roupas mesmo quando Melissa começou a usá-las. A Hilary foi prestigiada uma ou duas vezes e começou a ser chamada para lecionar em faculdades e umas escolas populares. Alice e eu passamos a receber muita ajuda de doadores anônimos pra manter o Witier, que ficou famoso a partir daí. Julie conseguiu uma boa oferta pelo duplex citado aqui também, só faltando o dinheiro que ela prefere juntar por si mesma.

Tudo isso no instante em que Melissa nos juntou na frente do restaurante para fazer a matéria especial da sua vida na nossa revista favorita. A nossa foto foi parar em outdoors! Foi, pelo menos, uma semana recebendo paparicos de estranhos... Felizmente, ninguém fica tanto em cima da Meli graças ao seu empresário!...

– Então, já que estamos falando em garotos, como anda o seu empresário bonitinho Meli?

– O Max? – ela virou para a Hi e depois deu de ombros – Bem...

– Opa! Parou tudo! – Alice ergueu as mãos, não muito alto, e nós começamos a segurar risos – Você vive falando dele, o quanto é esperto, fofinho e como ele te ajuda a se livrar de fãs malucos quando quer sossego! Por que não está falando agora?

– Não é como se eu gostasse dele, se é isso que você quer dizer...!

– Então você não gosta dele? – insisti.

– Não é uma questão de gostar ou não gostar... Ele é legal. – nós continuamos encarando ela até que desistisse de esconder o jogo – Ok, ok! – ela começou a rir descontroladamente – Ele me chamou pra sair! – os nossos gritos aumentaram um pouco e fomos repreendidas pela mãe de Runo, abaixando logo o tom outra vez – Ele vai me levar para um parque-de-diversões!

– Seu lugar favorito no mundo! – eu lembrei sorrindo – Que bom Meli!

– Então, das seis, nós quatro ainda estamos encalhadas. – Runo suspirou – Qual é a dos caras dessa cidade? Nós já somos conhecidas no mundo inteiro só por causa daquela foto, que saiu em capas de revistas famosas e primeiras páginas de vários jornais! Deviam ter homens do mundo inteiro saindo pelos vidros das janelas deste lugar atrás de nós!

– Ou não somos atraentes... – Hilary falou e as duas começaram a lamentar.

– Deixem disso. Somos todas lindas mulheres de vinte e quatro anos. Quando for a hora, o cara certo vai aparecer. – Alice sorriu.

– Bem gente, o papo tá bom, mas eu preciso ir andando...

– Ah Sali, por quê? Vamos tomar sorvete ainda.

– Desculpe Hi, eu tenho que comprar os brinquedos para as crianças do orfanato.

– Ah sim, o serviço de doadora mensal... – Meli suspirou.

– Até mais tarde Sali! – Ju acenou quando eu já estava na porta.

– Tchau Salima! Não se esqueça da nossa tarde de compras amanhã!

– Certo Runo. – eu ri e acenei de volta para elas.

Sem nenhuma ideia do que iria acontecer em alguns minutos, passei no orfanato e voltei ao meu apartamento pra me trocar. Como estava sem pressa, fui paciente esperando o elevador. Fui ao centro de compras para lanchar qualquer coisa, achando um pequeno restaurante com fachada em branco e preto, e me lembrei de que Meli já havia dito como gosta de lá. É um lugar aconchegante, mas apesar dos donos serem, originalmente, chineses, o restaurante não é.

Lá eles vendem todos os tipos de comidas diferentes e do mundo inteiro, porém, claro, os pratos são limitados!... E eu estava parada, olhando tudo fascinada, perto da porta de madeira corrediça atrás de mim. Estava tudo ótimo, até que o “motivo” do meu relato nesta agenda chegou mais perto... Ray Kon, filho adotivo do recente dono do restaurante, um senhor velhinho e animado, apareceu atrás de um balcão enxugando um copo e usando um avental branco.

– Boa tarde. O que vai querer? – ele sorriu, colocando o copo de volta na estante do bar.

O seu sorriso deixa-me tremendo. Agora eu posso dizer isso com certeza! Mas talvez eu ainda tenha que explicar como isso começou acontecer... Naquele momento, não estava usando bolsa, ou joias e nenhuma maquiagem. Eu vestia uma blusa tomara-que-caia lilás com aquela jaqueta preta, o short-saia cinza, com o cinto vermelho de fivela prata, as longas meias cor preta e meus tênis de couro lilás. Ou seja, ele me pegou de corda baixa, totalmente despreparada!

Mesmo assim, ele parecia completamente alheio a isso, se considerar como os outros que estavam no lugar na hora estavam bem vestidos, parecendo ter saído há pouco tempo de uma reunião de negócios. Eu finalmente sorri de volta, mas quando ia me aproximar do balcão, um garçom bonitinho parou bem na minha frente. Ele devia ser um ninja, porque nem o vi chegar perto! De qualquer forma, ele estava já pronto para me atender com o seu bloquinho branco.

– Boa tarde senhorita! Gostaria de sentar?

– Ah... – eu ainda demorei a perceber que ele estava sorrindo para mim – Claro!

Eu segui o garçom do sorriso lindo e ocupei a mesa mais próxima do balcão. Para ser um pouco mais exata, bem em frente ao balcão! Ray ficou me olhando com o canto dos olhos de vez em quando, mas eu não sabia a razão, já que devia estar muito boba parada feito uma estátua e o encarando! Provavelmente tenha sido por isso mesmo... E eu sabia que o nome dele era esse por ter escutado alguns garçons e clientes antigos, acredito eu, o chamando assim...

– O que vai querer comer? – o garçom desviou a minha atenção.

– Ah, eu... Acho que só um café mesmo... – eu estava sem graça.

– Você acha? – ele abaixou o bloquinho e ficou sério – O que comeu durante o almoço?

– Uma salada com batatas. Eu acho... – não me lembrei do meu almoço nem no momento!

– Isso não é almoço! – ele riu – Vou te trazer o especial do Ray. Ele faz o melhor yakisoba que você já provou! – eu não tive tempo de responder, porque ele saiu rapidamente.

“Tomara que ele não olhe pra cá.”, eu pedia mentalmente. Mas não adiantou muito... Ele olhou. Eu peguei rapidamente o cardápio e fingi procurar algo, escondendo o rosto. Antes que eu percebesse, Ray já estava em cima de mim, sorrindo de ponta a ponta das orelhas e apontando qualquer prato no cardápio.

– Apesar de o Lync dizer aquilo, eu costumo cozinhar melhor pratos com arroz.

– Ah... – eu dei um meio sorriso, sem saber o que responder, e então pus tudo a perder – A garota de quem eu gosto já prefere macarrão com queijo! – quando percebi o que tinha dito, eu preferi ter ficado em casa e enterrado a cabeça nos travesseiros depois de comer alguma coisa na geladeira, mas já era tarde demais pra voltar atrás.

– A garota de quem você gosta? – ele repetiu entre a surpresa e a confusão.

– Ah!... – eu só sabia gaguejar – Não, não é o que está pensando! – e ria sem jeito – Eu só quis dizer que a minha amiga gosta de macarrão com queijo. Eu não sou lésbica!

Quando dei por mim, tinha falado alto demais e pelo menos dez pessoas estavam olhando na nossa direção. Eu coloquei o cardápio na frente do rosto, segurando de lado, e ele começou a rir baixinho. “Por que o sorriso dele tem que ser tão encantador?”, eu pensava a toda hora. Ele puxou uma cadeira e sentou ao meu lado, encostando levemente no meu ombro direito.

– Sua amiga frequenta o nosso restaurante? – e o sorriso não saia do seu rosto.

– Sim. Você com certeza a conhece! É a Melissa Taylor.

– A modelo? – eu ri um pouquinho e concordei com a cabeça – Ah sim! Nós recebemos muitos fregueses depois que ela disse como gosta de comer macarrão com queijo aqui.

– Você sabe como ela encontrou este lugar? Ela não me contou.

– Foi o meu amigo Max que recomendou o lugar. Você sabe o empresário dela, Max Tate?

– Sim, mas eu nunca o conheci pessoalmente. A Melissa não tem muito tempo.

– Ah, se você quiser pode espera-lo aqui nas quartas. Na verdade, o Max sempre aparece por aqui durante as quartas, na hora do almoço. Ele também adora macarrão com queijo!

– Mesmo? – aquela altura eu já estava rindo – Será que foi assim que começou?...

– Começou o que? – o rosto dele estava consideravelmente próximo.

– Ah não, nada! – eu balancei a cabeça e as mãos – Estava pensando em outra coisa.

Ele não me perguntou o que era, e eu também parei de falar depois disso. Nós só ficamos lá, nos encarando em silêncio, até que a situação ficou um pouco desconfortável, sendo que uns homens estavam observando a cena com igual quietude, então eu peguei o cardápio largado na mesa e abri outra vez, bem na página com alguns pratos envolvendo arroz.

– Bom... Você me recomendou o que mesmo? – eu sorri sem jeito, tentando não encará-lo.

– Ah... Se você quiser, pode provar um prato americano ou brasileiro. – ele foi folheando o cardápio e, pra isso, se debruçou mais sobre mim – Este aqui é novo.

– Mas aquele gentil garçom já me recomendou um prato seu, então eu acho que vou pular direto pra sobremesa. – eu trouxe o cardápio mais pra perto dele, já sentindo o seu braço roçar no meu – Não gosto muito de doces, mas se tiver sorvete eu aceito.

– Então você vai gostar deste aqui. – ele me apontou um do qual agora não me recordo.

– Perfeito! – eu fechei o cardápio e joguei longe na mesa com algum cuidado – Obrigada. – eu me afastei discretamente dele, sentindo arrepios por todo o corpo.

– Não por isso. Eu gosto de ajudar os novos clientes com algumas sugestões.

Nós passamos mais um tempo sem dizer nada, e ele não parecia que ia levantar tão cedo. Eu olhei ao redor e percebi que o restaurante parecia ainda mais cheio. Voltei a olhar pra ele, o que, admito, não era nenhum sacrifício, e sorri, recebendo outro sorriso de volta.

– O seu restaurante está cheio. – comentei e ele olhou ao redor.

– É, está, mas ainda não é meu... Vou herdar do meu avô em breve.

– Seu avô? – eu repeti e ele se levantou.

– É meu avô adotivo, um pouco doido, mas um bom homem. – ele apontou um retrato dos dois, pendurado na parede, acima do balcão.

– Que bom. – foi só o que pude dizer, até perceber que ainda não tinha me apresentado – Ah sim, desculpe, eu sou Salima Roman. – eu estendi a mão e ele fez o mesmo.

– Ray, Ray Kon. – ele abriu um sorriso maior e demorou a largar a minha mão – Então, aproveite a comida Salima. – ele se afastou bem quando o garçom voltou.

– Aqui está o seu pedido senhorita. – ele entregou o prato e recolheu a bandeja.

Eu agradeci como pude, quase perdendo o ar no pulmão. Então, acabou meu tempo... Até!


Continua...


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