O dia amanheceu, dois dias passaram de pressa, John dormia no chão frio, e Emily olhava a rua da sacada, o dia era frio e ela sentia como se houvesse milhares de borboletas em seu estomago, e ela não sabia distinguir, se era ansiedade de reencontrar seus pais, ou se era porque logo deixaria John, talvez fosse um pouco dos dois, foi até John, sentou-se do lado dele e depositando um beijo em sua testa o acordou.

- Bom dia. – Ele disse se espreguiçando.

- Bom dia flor dia. – Ela disse tentando parecer bem humorada, e conseguindo fazê-lo sorrir.

- Hum... É hoje né? – Ele perguntou sentando-se.

- Sim, é hoje... Mas, eu não sei se quero mesmo ir.

- Como assim? É claro que você tem que ir! É o melhor para o seu bebê.

- Mas e você John! Eu estou preocupada com você! Não quero te deixar aqui sozinho... Eu... Gosto de mais de você para fazer isso. – Ela disse as últimas palavras num tom quase inaudível, fazendo John corar, ele então lhe deu um selinho tímido.

- Exatamente por isso que você deve ir! Não desperdiça sua vida com o resto da minha... E não seja tão egoísta a ponto de não pensar em quem está por vir. – Apontou para a barriga dela que com o tempo já começara a salientar. – Vai ser o melhor para ele... Ou para ela. – Sorriu.

- Tudo bem, então eu vou. – Esboçou um triste sorriso.

- Sabe... Eu acho que vai ser um menino! – John disse empolgado.

- Será? – Ela indagou curiosa. – Bom, se for mesmo um menino, vai se chamar John! – Ele ficara realmente feliz com isso.

- Mesmo? Mas, por que... Meu nome?

- Por que, quem sabe... Ele possa se tornar um gênio igual a você!

- Você é incrível! – Ele disse parecendo emocionado.

- Você que é...  – Breve pausa. – John, eu preciso ir... Disse aos meus pais que estaria no aeroporto esperando eles... Você, vem comigo?

- Ahm... Claro, claro, eu vou sim...

- Bom, então vamos, digamos que eu não tenho ‘malas para arrumar’. – Disse rindo de sua própria piada.

Os dois se levantaram e caminharam até o aeroporto, era uma longa caminhada, pois o lugar era bem longe e eles não tinham dinheiro para um simples ônibus, que dirá para um táxi.

No caminho conversaram bastante, sobre o futuro, ela tentava de todo jeito convencê-lo de não tirar sua vida, mas parecia em vão, ele dizia que não havia outra que ele pudesse fazer, mudaram de assunto, falar sobre aquilo com ela o deprimia, conversaram sobre o futuro dela, o que ela faria no Canadá, coisa que ela também não fazia a menor idéia. Enfim, conversaram tanto que a caminhada pareceu mais rápida do que o esperado, e logo estavam eles no aeroporto.

Sentaram numa sala perto dos portões de desembarque, ela não sabia qual era o horário do vôo dos pais, então achou melhor ficar por perto.

Ela estava sentada, olhando pro teto esperando o tempo passar, quando de repente John segurou sua mão.

- Emily... – Ele a olhou sério e tirou um objeto do bolso. – Isso é pra você.

- O que é isso? – Ela olhou admirada.

- É uma pulseira... Certa vez fiz uma viagem ao oriente com o Anthony e nos deram isso, é artesanal. – Ele sorriu

- Nossa John, é linda, muito obrigada, mesmo.

- Me promete uma coisa? Promete que vai sempre usá-la, e que sempre que olhá-la, vai se lembrar de mim? – Seus olhos lacrimejavam.

- É claro que eu prometo! Vou sempre me lembrar de você John! – Ela o abraçou, e os dois se entregaram as lágrimas novamente.

Algumas horas se passaram, John apoiara sua cabeça no colo Emily, e ela quase pegara no sono, mas acordou de supetão assim que viu um casal, uma senhora de meia idade, um rosto humilde e cabelos loiros, e um senhor, com cabelos grisalhos e uma feição séria, pareciam procurar algo.

- São ele John! Meus pais estão ali! – Ela dizia emocionada.

- Bom... Então, vá ao encontro deles! – Ele disse triste.

- Vem John! Vamos falar com eles! – Ela parecia animada.

- Não Emily... Eu não vou... – Deu um pequeno sorriso. – Seus pais não vão gostar de te ver com uma figura como eu. – Emily entristeceu.

- Então... Temos que nos despedir agora?

- Sim... Nós temos. – Ele abraçou.

- Adeus John. – Mais do que nunca ela chorava, não acreditara que esse momento havia chegado.

- Adeus Emily... Se cuida... E, cuida do John. – Ele tentou sorrir por entre as lágrimas.

- Pode deixar... Tenta se cuidar também.

- Você sabe o que eu vou fazer. – Ele disse sério. E ela o abraçou mais forte.

- Eu te gosto tanto! Muito mesmo.

- Eu também Emily... Obrigado por me fazer companhia todo esse tempo.

- Não precisa agradecer. – Ela lhe deu um beijo demorado.

- Vai lá... Antes que você os perca de vista.

- Sim, eu vou. – Ela disse um pouco atordoada. – Adeus. – Emily pôs a pulseira em seu braço e correu até os braços de seus pais. John a acompanhou com os olhos, assistiu de longe todo o reencontro, como todos eles choravam, de felicidade por ter sua filha de volta, e enquanto isso John chorava, de tristeza, por sua solidão, mas no fundo havia um pequeno sentimento de felicidade, agora ele sabia que ela estaria bem, a viu embarcar junto com os pais, virou as costas, e voltou para sua vida.