Jennifer não voltou no apartamento 221B naquele dia. Não que ela não quisesse, mas era impossível. Estava muito cansada e tinha combinado com Mac que chegaria cedo. David levara a garota até o orfanato, mas não chegou a entrar lá dentro. Os dois se beijaram na soleira da porta, até que a luz ligou e Jen riu, gritando para a janela:

- Já estou entrando, Mac. - Se virando para David, disse:

- Temos que repetir o dia de hoje. - Jovem sorriu, puxando a loira pelo quadril para mais perto dele.

- Eu concordo plenamente. - Jennifer riu.

- Tem uma madre vendo, sabia? - Ele se aproximou da boca de Jen e disse rindo:

- Não me importo. E você? - O hálito dele estava muito perto e era inebriante, Mars sorriu sapeca e disse:

- Nem um pouco. - E se deixou ser beijada pelo jovem. O beijo durou até que o ar foi necessário.

- Eu... - começou a pequena Mars, mas teve que parar para pegar fôlego, - tenho que entrar. - David começou a dar pequenos beijos pela extensão do pescoço da jovem que começou a gargalhar. Por fim ela o empurrou e pegou na maçaneta da porta dizendo:

- É sério, eu preciso mesmo. Boa noite David. - Ele sorriu, Jennifer sentiu seu coração dar um pulinho, não acreditava que aquele sorriso era para ela. Estava tão acostumada a ser pisada que esquecera como era ser feliz.

- Boa noite pequena detetive. - Ela riu, e finalmente entrou no orfanato.

- Gostei dele. - Mac disse, feliz ao ver a jovem tão sorridente. Jennifer a olhou e deu-lhe um abraço, dando um beijo na bochecha da madre.

- Ele é tão perfeito! Hoje pareceu um sonho, um perfeito e estranho sonho. - Mac sorriu e, beijando a testa da animada adolescente disse:

- Vá dormir criança, amanhã a noite terá a festa. - Jennifer revirou os olhos, ela teve que comprar um vestido longo para aquela maldita festa dos ricos e mimados que davam dinheiro para o orfanato. Além de tudo, o padre Leo iria embora e outro padre viria, e Jen não queria isso, ela estava acostumada com padre Leo, gostava muito dele.

- Bem, boa noite, Branca de Neve. - Mac riu.

- Boa noite, Wendy. - Jennifer amava ser chamada assim, seu maior e eterno sonho infantil, depois de ter os pais de volta, era ir para Neverland.

Ela correu para o quarto, tirando a roupa e colocando um pijama. O celular deu um aviso que havia mensagem e ela o pegou. Ao invés de David, era Sher.

Vem amanhã? É um caso interessante. Boa noite. SH. Jennifer ia responder, quando outra mensagem chegou.

Durma bem, meu anjo.  O número correspondia ao celular de David. Jennifer deu um pequeno gritinho.

Sonhando com você, eu com certeza irei. Ela respondeu para David. E para Holmes foi algo mais prático:

Estarei ai para o café, boa noite Mr. Holmes. JM.

Jennifer sonhou dessa vez. Sem o remédio do Dr. Watson, ela não tinha proteção alguma com os pesadelos. Em alguns momentos ela estava na antiga casa, mas ao contrário do passado, com seus quase dezessete anos, chorando, amargurada por algum motivo. Quando se aproximava dos corpos via Trinity, Jonh, David e Sher. Ao lado deles havia Jim. O tão pouco suspeito Jim a olhava divertido, rindo, gargalhando e sumindo com o som de choro de Jen.

Em outros momentos ela estava na sala de interrogatório da Yard, e, dessa vez, ninguém vinha salva-la de Davis. Ele a estuprava, várias e várias vezes e ela não podia fazer nada. Gritou.

Jennifer abriu os olhos, conferindo se estava em seu quarto, na proteção de suas cobertas. Ela olhou para os lados, na escuridão da noite e se levantou. Foi até o banheiro, jogou uma água na cara, respirou fundo e voltou a deitar. O relógio marcava 4:00 AM. Ela se revirou várias vezes na cama, mas nada adiantou, o sono escapara, junto dos pesadelos.

Jennifer se dando por vencida por fim, se levantou da cama, indo até a prateleira onde guardava alguns livros. Escolheu um pequeno livro. Ali, uma coletânea dos contos dos irmãos Grimm, se sentou na cama, com apenas o abajur ligado e começou a ler.

O celular despertou as seis e meia da manhã. Jennifer estava cansada, havia pego no sono no meio do livro, que agora jazia no chão, aberto. Ela o recolheu, levantou e foi em direção ao banheiro. Tomou uma longa ducha, pensando sobre o que seria o tal caso que Holmes quer sua ajuda. Saiu do banho e colocou uma saia florida e rodada, uma regata branca e sandálias de salto alto.

Se me fizerem correr eu juro que mato os dois. Domou a juba loira e passou uma maquiagem leve. Pegou uma bolsa, colocando ali seu celular, as chaves do orfanato, sua carteira e seu soco inglês. Não levaria seu revólver, provavelmente Jonh o confiscaria.

Ele estava começando a parecer um irmão mais velho para ela.

Desceu e percebeu que todos dormiam. É claro, hoje tem aquela maldita festa. Vou acabar me arrependendo depois, de ter acordado tão cedo. Deixou um recado no bloco de notas ao lado do telefone dizendo que havia ido visitar Sherlock sobre algum caso e saiu. Não era louca de ir de skate e, com a roupa que estava, o metrô estava fora de questão, por isso pegou um táxi mesmo.

Eram exatos 7:30 AM quando Jennifer tocou a campainha do 221B. Mrs. Hudson abriu a porta e vendo que era Jen, sorriu.

- Oh querida, os meninos me avisaram que viria para o café, estou terminado de prepará-lo... Pode subir se quiser.

- Mas a senhora não quer ajuda? Eu gostaria muito de poder ajudá-la. - Mrs. Hudson sorriu, concordando e levando Jen para a cozinha que as duas haviam tomado chá no dia que se conheceram. Jen pegou a bandeja onde havia quatro xícaras. Porque quatro?

- Mrs. Hudson?

- Sim querida?

- Quem irá nos acompanhar nesse café?

- Oh, Sherlock não lhe contou? Ele chamou o irmão também. - Então as duas levaram todo o café, que incluía alguns confeitos de padaria como croissant, sonhos, e pães franceses e doces. Quando ambas entraram no lugar, Jonh sorriu.

- Nosso café chegou. - Mrs. Hudson e Jen arrumaram a mesa e ela se retirou, deixando Jennifer bem desconfortável com o fato de Mycroft estar ali e ela, estar com uma saia um tanto quanto... pequena.

- Olá Jen. - disse Jonh e Sherlock.

- Oi Jonh, oi Sher... - para Mycroft ela apenas fez aceno com a cabeça - Mr. Holmes.

- Oh sim, havia me esquecido que já se conheciam. Bem Mycroft, pode começar a me falar sobre esse caso que tanto deseja que eu investiguem - Disse Holmes.

- Mas com a garota aqui? - Jonh e Sher se olhara. Jen abaixou o olhar, constrangida.

- Sim, ela estará nos ajudando. - Disse Sher, causando um sorriso na boca de Jen.

- Bem, eu não acho que seja bom envolver uma jovem nesse caso, ela pode correr... algum risco.

- Veja bem Mycroft, eu não sou uma pessoa que se fira facilmente e com toda a certeza não tenho medo algum do que quer que possa me ocorrer, então eu seria grata se parasse de me tratar como uma criança e falasse logo sobre o assunto. Sabe, eu não tenho o dia todo. - Sherlock e Jonh seguraram o riso, e, após isso, Mycroft se tornou bem mais... receptivo com Jennifer Mars.

- Bem, trataremos de negócios após o café, - disse Sher, - agora... vejo que seu encontro foi satisfatório ontem Jennifer. - Jen sorriu por impulso, mas logo ficou irritada pela afirmação do amigo detetive.

- Acho que isso não é de seu interesse Sherlock, mas sim, foi muito satisfatório. - Jonh riu, mas Sherlock ficou impassível. O café passou tranquilamente, com algumas poucas picuinhas trocadas pelos irmãos Holmes. Na maioria era Sherlock perguntando algo impróprio para o momento. Começou com um: “Você engordou?” e terminou com os dois discutindo algum fato de um passado distante.

Quando os quatro saíram da mesa, se sentando nas poltronas, no caso, Sherlock e Mycroft, e no sofá, Jennifer e Jonh, o Holmes mais velho finalmente começou a falar sobre o caso.

- Esse homem, - disse ele, mostrando uma foto de um belo jovem de cabelos loiros platinados e olhos acinzentados. - é um dos mais procurados pela Europa. É um grande falsificador, um bandido do colarinho branco.

- Ou seja é Matthew Wolf. - Jen disse, chamando a atenção de todos, - ele é alemão e tem como característica o charme com as mulheres. Não vejo do porque ele estar em Londres essa semana se não há nada em especial para roubar. - Eles continuaram a encarando. - O que? Eu tenho um grande tempo livre. - Jonh riu, Sherlock nada fez e Mycroft ficou irritado.

- Bem, como a senhorita Mars disse... - o trio disse em unissom:

- Jen. - Se entreolharam e riram. Jennifer explicou:

- Me chame de Jen.

- Bem, que seja, como você mesma disse, não há motivo algum, aparentemente para ele estar aqui, mas fui informado que ele desembarcou ontem mesmo e está em um hotel no centro.

- Provavelmente no The Mair Fair. - Disse Holmes, ouve um barulho de concordância de Jen. 

- Bem, o que deseja de nós, Mycroft? - Disse Jonh.

- Que o sigam. Ele é conhecido como o melhor em fugir de perseguições. Ninguém nunca consegue segui-lo. Espero que vocês três consigam e o impeçam, caso ele faça algo que não seja de uma índole muito... correta.

- Não precisara se preocupar, irmão. - Holmes disse divertido, seria interessante perseguir o ladrão por toda Londres.

- Bem, eu estou disposta a ajudá-los, mas apenas a partir de amanhã... Hoje tem um evento que não posso faltar... Acredite, eu faltaria se pudesse. - Jonh sorriu, ele percebeu que a amiga estava cada vez mais feliz, o que era estranho.

Talvez confirmar que o pai não era louco, conhecer o assassino não tenha sido algo ruim, e sim algo bom.

Mycroft não ficou mais que o necessário e Jen também não. Ela voltou ao orfanato para a hora do almoço e logo saiu, correndo para chegar ao cabeleireiro no horário.