Diet Mountain Dew escrita por Venus Noir


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Diet Mtn Dew, da Lana Del Rey pode ser ouvida aqui: http://www.youtube.com/watch?v=u89_AiQu9BQ não é a versão do álbum, btw. E a letra não tem quase nada a ver com o enredo, mas eu escrevi ouvindo essa música sem parar, então...



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Eu adorava aqueles óculos. Sua armação vermelho-coral cobria meus olhos com os dois corações que superavam minhas sobrancelhas bem delineadas. Ele era o mais marcante de toda a loja em que o compramos perto de Chinatown. Aliás, Joon comprou pra mim. Ele disse que assentava perfeitamente em meu rosto arredondado e de proporções perfeitas. Havia custado dez dólares e alguns centavos, mas fora o presente mais memorável que recebi dele – talvez por ter sido o único. Eu costumava brincar dizendo que aquele era o meu olhar quando eu o via descer a rua, ar despojado e jeans surrado, all star e regata branca. Era verão e não havia nas redondezas nenhum garoto tão atraente quanto ele.


Eu o assinalara como meu ainda em meus tenros doze anos. Na época, ele tinha dezesseis e já era cobiçado, seguido de perto pelos olhares insistentes e apaixonados de oito entre dez das garotas do bairro. Fazíamos parte do grupo de coreanos radicados nos Estados Unidos que ainda conservavam sua identidade intacta. Fora de nossa comunidade, não havia ninguém bom o bastante. E, por mais que houvesse um sem número de americanas mais ricas e mais modernas que nós, Lee Changsun nunca iria se aventurar com elas. Era eu contra as outras. Minha ‘concorrência’ equivalia a um par de orientais com dentes grandes demais e olhos apertados demais. Eu era a única dali que servia para Joon.


Eu fui sua segunda namorada. Ele foi meu primeiro. Em tudo. Antes de mim, ele tivera alguns encontros com uma japonesa do Bronx. Japonesa. Nem preciso explicar por que o namoro terminou em menos de três semanas, não é? Os pais dele foram veementemente contra. Já a mim, eles acolheram de braços abertos. Parecia muito óbvio que nós iriamos nos casar num futuro próximo. Seríamos o casal mais bonito dentre os casais de descendência oriental de New York. Eu estava ansiosa por isso.


Estava. Isso foi quando Bang Cheolyong ainda estava nos confins da Coréia do Sul e ainda não havia invadido nossas vidas. Não é que eu o despreze. Ele é o melhor amigo de Joon e eu estou certa de que é um bom companheiro, um amigo a quem se deve prezar. De alguma forma, ele me faz pensar que sua presença é uma ameaça. Odeio esse tipo de pensamento, não é como se eu gostasse e cultivasse esse sentimento de quase repulsa por ele. No entanto, há algo nele que me deixa desconfortável, insegura, temerosa.


Ele me faz ter medo de ser deixada.


Joon e Mireu – é como Joon costuma chamá-lo – saem muito. Todos os dias. Eles estão sempre juntos, andando para cima e para baixo sempre conversando e rindo. Eles tem assunto para toda uma eternidade. São como duas crianças. Dois bobos. É uma amizade pura, não é? Fraternal. Não tenho motivos para desejar que Cheolyong voltasse imediatamente para a Coréia e nos deixe em paz. Joon precisava dele. Como amigo. Não iria me meter entre eles. Não me cabia ali.


Eu estava cada dia mais isolada, mais silenciosa. Não iria dar uma palavra sobre aquilo, foi o que me prometi. E ficaria assim, se não fosse Joon me perguntar o que se passava comigo. Tentei desconversar, mas ele foi mais esperto. Ele sabia que era por causa de Cheolyong. Eu estava enciumada, segundo ele. Abaixei o rosto, meneando levemente com a cabeça. Ali ele tivera a minha negativa, embora eu duvide que ele tenha reparado. Eu não estava enciumada. Era outra coisa.


De todo o modo, ali estávamos. Joon dirigia, eu ocupava o banco dianteiro do passageiro e Cheolyong estava no banco de trás. Depois de três meses economizando e dando duro numa lanchonete pestilenta do centro, Joon havia comprado aquele Dodge Coronet caindo aos pedaços por pouco mais de quinhentas pratas. Ele não era confiável para uma viagem longa, mas estávamos indo só à Middletown. Acho que o Dodge aguentava até trezentos quilômetros de estrada e a distância que iríamos percorrer não era nem de duzentos. Ficaríamos bem.


De Middletown, venderíamos o Dodge e compraríamos uma pick-up com a ajuda minha e a de Cheolyong. Também tínhamos nossas economias. Partindo de Middletown com a pick-up nova, iríamos para a Califórnia. Era verão e Joon estava de férias da faculdade municipal, assim como eu e Cheolyong. Não sei por que Cheolyong estava conosco, o fato era que ele estava e eu não seria grossa ou mal educada com o garoto, afinal, ele era o melhor amigo daquele que, em tese, seria meu futuro marido.


Estávamos numa boa, a despeito do que eu imaginara. Eu estava tranquila e assim fiquei pela maior parte da viagem. Teria permanecido assim se Joon não tivesse tido a brilhante ideia de parar numa cidadezinha da fronteira do Texas com o Novo México, perto de um campo aberto em cuja paisagem em tons amarelados estendemos uma toalha e fizemos um pequeno piquenique com o que nos havia sobrado desde Oklahoma. Ainda havia uma garrafa de dois litros de Diet Mountain Dew e eu a bebia direto do gargalo.


Arrumei os óculos de sol no rosto e observei Joon e Mir se comportarem como dois adolescentes que acabaram de se ver livres de um longo período de tortura na High School. Eles estavam tão felizes um com o outro que acabaram por ignorar minha presença. Eu bebi o refrigerante até o ponto de meus olhos ficarem vermelhos. Eles não me davam importância quando se encontravam. Eu era jogada para escanteio.


Porque, é claro, eles eram especiais um para o outro. Como eu nunca seria. Eu era apenas a garota de Joon. Não tinha muito espaço pra mim, de qualquer forma. Peguei um punhado de batatas do saco enorme que achamos numa loja de conveniência do último posto no qual paramos. Mastiguei ruidosamente. Eles ainda falavam animadamente sobre um chinês da 5th Avenue que possuía o maior acervo de espadas medievais de que se tinha notícia em toda a América. Era um cara rico, óbvio. Muito provavelmente um traficante de armas ou de bolsas. Ainda assim era encantador para aqueles dois.


Passei o Diet Mountain Dew para Joon, fazendo com que a garrafa batesse em seu peito propositalmente. Ele me lançou um olhar meio magoado, meio furioso. Eu encolhi os ombros, fazendo-lhe meu pedido de desculpas mudo. Ele bebeu alguns goles e passou para Cheolyong em meio à conversa entusiástica. Eu puxei o rosto de Joon e o beijei. Era a primeira vez que ousava algo como aquilo. E ele retribuiu muito bem ao meu beijo, apesar de eu esperar a reação contrária. Estávamos perante seu tão valioso amigo, mesmo assim, ele não me deteve. Pude ver, através da fresta entre meus cílios, quando a mão de Cheolyong pousou próximo ao joelho de Joon.


Ele afastou-se de mim e continuou a tagarelar com o outro como se nada tivesse acontecido. Mordi meu lábio inferior, ultrajada. E suspirei fundo, desviando o olhar e saindo dali. Joon enfim me notava e veio ao meu encontro, eu havia me deitado no banco do traseiro do Dodge e ele me indagou o porquê daquilo. Daquilo o quê? Eu rebati, cínica. Ele voltou para onde Cheolyong o esperava e eu fiquei sozinha.


Essa seria nossa viagem à Califórnia. Eu seria deixada para trás enquanto eles aproveitavam da companhia tão agradável um do outro. Nada pior do que ser trocada por alguém com quem você sequer está em condições de competir. Cheolyong era, de muitas maneiras, mais atrativo que eu. Ele dava a Joon o que nenhuma mulher poderia dar. Ele era fonte de prazer inesgotável, de diversão infindável. Joon não o abandonaria, não desistiria de sua amizade por nada nesse mundo. Cheolyong estava numa posição muito confortável.


Já eu, eu seria regalada à minha própria sorte.


E nem me surpreendi quando vi eles aproximarem seus rostos a ponto de seus lábios quase se tocarem. Cheolyong foi mais rápido do que o reflexo de Joon e o parou, uma mão espalmada em no ombro alheio, antes que avançassem mais. Nossos orbes se encontraram e eu o fitei com um semblante vazio. Ele coçou a cabeça, desconcertado. Joon olhou em minha direção. Eu não era nada, era? Tive a confirmação de que não, eu não era nada. Ele logo voltou sua atenção a Cheolyong.


Há umas semanas atrás, antes de partimos rumo a Middletown, Joon perguntara se eu achava que nós ficaríamos apaixonados um pelo outro pelo resto da vida. Se eu o suportaria até o fim, se nós permaneceríamos juntos.


Eu disse que sim.


Eu era inofensiva à sua amizade. Ele podia viver aqueles dois amores sem problemas. A verdade é que Cheolyong era muito mais esperto que eu. Ele segurava Joon como eu jamais estaria apta a fazer.


Cheolyong era bem pior do que as outras garotas da vizinhança. Ele era quase como uma ameaça fantasma. E Joon estava irremediavelmente seduzido por ele. Por entre os óculos em formato de coração, eu vi quando eles tocaram as mãos de um jeito terno demais para apenas dois amigos. A mim, só restava aceitar. Eu amava Joon.


E Cheolyong o amava também.



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Notas finais do capítulo

Diet Mountain dew, o refrigerante: http://www.ebeverageservice.com/product_images/h/972/american-diet-mountain-dew-soda-new-2-litre-bottle-dated-14.03.11-10322-p__85986_zoom.jpg
Debut duplo em duas categorias nas quais nunca me aventurei. lol Nunca escrevi com MBLAQ, tampouco com 4minute, então me deem um desconto. ):
Essa fic foi escrita pra esse desafio aqui: http://myangrybear.tumblr.com/post/16470262937/desafio Ninguém me pediu, aliás, eu que quis fazer mesmo. rs E pronto.
Espero que não tenha ficado tão ruim. :p Mas eu tinha que botar isso pra fora, porque eu passei a manhã INTEIRA querendo escrever essa fic.
Se vocês forem carinhosos comigo e me mandarem muitos, muitos reviews, quem sabe eu não escreva mais fics com o MBLAQ/4minute? Vamos fingir que tem alguém interessado nisso, né. dsjhfdjfdgf
Enfim, tomara que vocês gostem, de verdade. ;-;
Beijos e até a próxima. ♥



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