Lírios escrita por Yuna Aikawa


Capítulo 20
Extra - Youta




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Eu finalmente havia entendido o que quer dizer "amor á primeira vista". As mulheres do vilarejo haviam ido tomar banho, como sempre, mas dessa vez voltaram com uma moça de pele clara, cabelos negros como alcatrão, traços suaves e um rosto delicado, meio infantil, e parecia indefesa no meio das moças - senti meu coração palpitar pela primeira vez. Aili, a aldeã mais velha, estava lhe contando a história da vila e, por algum motivo, a moça começou a chorar.
 Foi por instinto, quando percebi, eu já estava a abraçando, protegendo-a. Como estava preocupado, perguntei se estava tudo bem, e ela afirmou com a cabeça, de um jeito meigo. Insisti, queria muito ouvir sua voz, então me apresentei, mas a garota continuou calada, mesmo eu mostrando meu melhor sorriso. Aili me informou que a encontraram no rio, com um lírio, então pensei em chamar aquele moça branquinha de Yuri, e os demais concordaram, graças ao apoio de meu pai, Miroku, de quem eu herdei apenas os cabelos e o mau hábito de ser "atirado".
 Papai pediu que fornecessem comida e abrigo a jovem, e, como ele era muito influente, o obedeceram. Não pude ver mais a Yuri nesse dia, pois tinha que pescar com Kenji e os outros garotos.

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 No dia seguinte, fiquei esperando a garota despertar, ansioso, mas não a vi, o grupo de caça saia cedo e eu o liderava - felizmente era composto apenas por grandes amigos. Nosso grupo era eu; Kenji, um garoto de olhos claros e cabelos de fogo; os irmãos Yuu e Shin, cabelos e olhos de ônix; e Yuji, o mais novo e covarde da equipe - adorávamos brincar com ele. A caçada estava boa: eu, Jinz - minha fiél adaga - e os garotos pegamos 3 veados e um youkai fraco, que tentou atacar o irmão mais velho, Shin.
 Estávamos voltando ao vilarejo, com a janta sendo carregada em equipe, em madeiras, para facilitar o transporte. Já era tarde, o sol estava se pondo em nossas costas e estávamos famintos, quando Kenji começou:

- Hei, Youta... O que foi aquilo com a menina?
- Aquilo o quê? - Perguntei na inocência.
- Como "aquilo o quê?" - Shin parecia irritado após ser atacado pelo youkai - Aquele abraço!
- Ahhh! Na Yuri? - Sorri, lembrando de como ela era quente.
- Isso... Olha, ela é gatinha, mas parece meio louca, cara! Cuidado com ela! - O ruivo começou a rir, seguido pelos outros 3 da equipe.

 Aquilo me irritou muito, empurrei Kenji contra uma árvore, fazendo o grupo perder o equilíbrio e derrubar a carne, o ameacei com Jinz no pescoço.

- Nunca mais fale algo que você não sabe! - Afastei a arma, eu não iria machucá-lo nunca - Ela é pura e inocente! Dá pra ver nos olhos dela! Peça desculpas à Yuri quando voltarmos.
- Ta... Des..Desculpa, Youta... - Ele não parecia arrependido, apenas com medo, mas isso bastava.

 Voltamos em silêncio. Eu estava com pressa, realmente queria ver a jovem Yuri. Fomos bem recebidos pela vila, como sempre, que se apressou em limpar as carnes trazidas, mas estava faltando alguém: Yuri e meu pai. Perguntei à velha Airi, que respondeu que ela havia saído para caminhar. Droga, Yuri foi caminha com meu pai? Tudo bem, algumas horas depois, eles voltaram e pareciam bem. Servi carne de veado a Yuri e a assisti comer, sem pressa e com modos - linda como sempre. Ela agradeceu com um sorriso meigo e foi dormir.

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Era o segundo dia dela aqui, resolvi ficar mais amigo dela, então, depois de lhe dar bom dia, a convidei para colher frutas e ervas num morro ali perto - houve cochichos de meus amigos, mas não me importei. A garota estava sorrindo e concordou em ir comigo. Pegamos uma cesta e saímos a procura de frutas, flores, temperos e ervas medicinais. Yuri andava devagar, mas eu adorava espera-la, e eu ia explicando para quê servia cada item que colhíamos.

- Youta! Cuidado!

 Eu estava distraído, olhando para o chão a procura de cogumelos comestíveis, e quase bati a cabeça num galho quebrado, que teria me machucado muito, mas algo foi mais importante na hora.

- Yuri... - Eu realmente fiquei surpreso - Você fala?
- ...
- E que voz linda você tem - Insisti, sorrindo enquanto ela corava - Seu nome não é Yuri, né?
- N..Não... - Era tão fofo como ela falava sem jeito.
- Como se chama? - Tentei a manter falando um pouco mais.
- Rin.
- Um nome tão bonito quando a dona.

 Foi uma cantada horrível, mas eu realmente gostei do nome dela, mas não quis perguntar sua história ou o porquê de se manter calada no dia anterior. Na verdade, algo me pareceu mais interessante: sua delicada boca. Mantendo meu sorriso mais meigo, fui aproximando meu rosto do dela e, fechando os olhos, encaixei meus lábios nos dela, beijando-a. Me senti um pervertido, mas não me importei, estava realmente contente em ter sido ousado - até que ela me empurrou, corada.

- Me desculpe, Rin... - Mesmo me desculpando, não afastei meu rosto, fitando-a.
- Es..Esse foi...
- "Esse foi..."?
- ...Meu primeiro beijo.

 Sorri, tentando a acalmar e, de certo modo, consegui - Como ela era meiga e sincera, estava realmente apaixonado.

- Por favor.. Vamos voltar para vila - Me pediu com sua voz baixa.

 Concordei com a cabeça, mas ainda lhe roubei outro beijo e, rindo, peguei sua delicada mão e a guiou de volta ao vilarejo, agindo como se nada tivesse acontecido e, assim que chegamos, voltei a chama-la de Yuri.

- Já voltaram, jovens? - Aili nos recepcionou - O que trouxeram de bom?

 A senhora tomou o cesto das mãos de Rin, separando cada item de dentro dele, cantarolando.

- Está muito feliz, senhora Aili - Tive que comentar.
- Meu mau pressentimento passou - A senhora sorriu - Não sinto mais uma ameaça nas redondezas.

 Estranhei, não era comum ela ter esses pressentimentos. Aili chamou Rin para tomar banho com as outras moças da vila. Aproveitei a brecha e perguntei para senhora Aili se ela não me daria a mão da Rin em casamento. A velha riu, mas disse que eu merecia - a partir daquele momento, Rin era minha noiva. Fui para casa de meu pai, contar-lhe a notícia. Estava saindo da casa de Miroku, quando vi minha noiva, ainda molhada e mal vestida, se aproximando da vila.

- Já voltou, Yuri? - A esperei na entrada da vila.
- Já. Com licença.

 A garota passou por mim como um risco, sem perder o embalo da corrida, e foi direto à casa de Aili e começou a abrir todos os armários em busca de algo, até que ela parou, olhando para uma prateleira no armário bem mais alta que ela.

- O que está fazendo, Rin? - Perguntei com calma.
- Tentando pegar meu quimono.

 Entrei na casa e, como era mais alto, estiquei o braço e peguei a roupa, mas quando ia entregar, percebi que ela iria partir.

- Por favor, me devolva. Quero usá-lo! - Protestou.
- Então vista-o na minha frente, Rin - Não estava falando sério, mas sabia que ela não iria aceitar e então desistiria.
- O quê? - Ela ficou pasma.
- Você é minha noiva, por ordens - Não quis parecer grosso, mas Aili não deveria ter lhe contado.

 Ela me levou a sério e, impaciente, tirou o quimono rosa-sem-vida que estava usando e, enquanto eu estava boquiaberto, pegou seu quimono vermelho de volta, vestindo-o rapidamente. Então ela foi em direção á porta, mas a puxou pelo braço, a colando em meu corpo, sem deixa-la partir.

- Onde você pensa que vai? - Sussurrei.
- Para longe.
- Não vá, Rin. Fique, por favor - Estava quase implorando - Case-se comigo, Rin.
- Não! - Ela tentava se soltar, mas eu era mais forte.
- Por favor, Rin. Eu nunca havia sentido isso por alguém antes. Quando falei com Aili ela disse que estava com um pressentimento ruim, o mesmo que sentiu a 7 anos, mas, assim que voltamos da caminhada, ela me deu sua mão em casamento. Agora você é minha, Rin.
- Ela não tem esse direito! Eu não sou sua! Youta, por favor, me solte! - Seu tom de voz aumentou.
- Só solto se me aceitar em matrimônio - Falei na mesma altura.
- Youta... - As lágrimas começaram a brotar daqueles olhos ingênuos - Por favor, me deixe partir.

 Era injusto, eu não queria a soltar, finalmente havia encontrado alguém para amar e ela queria partir? Tinha força o suficiente para a segurar com um braço, então tirei seus cabelos de cima da nuca e a lambi, fazendo-a corar.

- O que vocês estão fazendo?

 Fomos interrompidos pela presença de Aili, que me obrigou a afrouxar o "abraço", pois era uma pose suspeita, mas Rin aproveitou para se soltar e fugir. Corri atrás dela, não pretendia deixa-la agora, porém só a alcancei a alguns quilômetros do vilarejo - ela era rápida - quando um youkai-lobo a me parou.

- Abaixe-se!! - Ordenei, jogando Jinz contra o pescoço do youkai - Você está bem? - A abraçou, esperando alguma reação.
- ...
- Olha só... Anoiteceu... E graças a uma certa Rin, estamos perdidos - Tentei falar num tom vivo, visando anima-la.
- ...
- Rin...?
- Se..Se.. Senhor Sesshoumaru - Ela me abraçou com força, chorando.

 Mantive o silêncio, pensando em quem era Sesshoumaru e o que ele significava para minha noiva. Suspirei, pegando-a no colo e procurando uma caverna, onde a deitei e pedi que dormisse, irritado. Passei a noite em claro, cuidado da Rin.

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 Acordei com sol nascendo, mas não quis acordar minha noiva. Sai em busca de água e comida para ela e, quando voltei, a garota nem havia se mexido. Chamei-a pelo nome várias vezes, mas desisti, chacoalhando-a.

- Riiin... Riiin... Hora de acordar.
- Uhum... - Ela sequer abriu os olhos.
- Se não levantar agora eu ou te beijar - Até que não era má idéia - Pensando bem, não levante.

 Rindo, a virei de frente para mim e, em cima de dela, a beijei. Rin despertou na hora e, assim que abriu os olhos, me afastou, dando bom dia com um sorriso meigo, então estiquei a mão para ajuda-la a levantar.

- Obrigada.
- Disponha - Ajeitei seu cabelos negros.

 Lhe servi a água num copo improvisado, feito de bambu, e alguns pêssegos recém colhidos. Grata, ela me convidou para comer junto, mas infelizmente já havia comido no caminho. Esperei ela terminar as frutas e a observei levantar-se e se espreguiçar, do jeito meigo dela.

- Aonde você vai? - Fui atrás dela.
- Procurar o senhor Sesshoumaru - Sorriu.
- Quem? - Eu sabia que já havia ouvido esse nome, mas não o conhecia.

 Rin suspirou e, calmamente, começou a me contar toda a história da vida dela, desde o dia que ela ajudou Sesshoumaru, até o dia que chegou no vilarejo. Fui cuidadoso para não ofendê-la em meus comentários - que foram feitos a medida que a garota fazia pausas.

- Então, é por isso que não me aceita em casamento? O problema não sou eu? - Isso não foi bem um alívio.
- É por isso. Não é você, nunca foi.
- E o que você sente por esse youkai? - Já sabia a resposta, mas precisava ter certeza.
- Eu não sei bem ao certo, mas... Acho que o amo.

 Aquilo me pareceu uma facada, o silêncio dominou a atmosfera e permanecemos assim por um longo tempo. O sol estava se pondo, exibindo a mistura fantástica de tons no céu. Resolvi cortar o clima de morte, mas quando eu ia falar, um inseto grudou nos fios de alcatrão da garota.

- Rin? - Resolvi avisa-la.
- Sim? - Ela sequer olhou para mim.
- Tem uma aranha no seu cabelo.

 Foi engraçado: a garota começou a correr desesperada, gritando "Sai! Sai!", como se o animalzinho fosse obedecer, mas corri atrás, "Espera, Rin!", para tentar ajudar. A alcancei, rindo muito, e tirei a "praga" dela.

- Obrigada - Ela estava corada.
- Você é uma boba, Rin - Ainda rindo, acariciei seu rosto, e lhe roubei um beijo rápido - Mas é a boba que eu amo.

 Fomos procurar um abrigo, pois já estava escurecendo e eu não queria me perder. Dormimos aos pés de um majestoso carvalho, abraçados por causa do frio, e acordamos doídos - adormecer sentado da dor nas costas. Rin estava reclamando um pouco, então lhe fiz uma massagem longa - ela pareceu gostar.

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 Fui buscar o desejum, mas pedi para que Rin não saísse de onde estava, continuasse próxima daquela árvore. Não achei nenhuma fruta, mas sim um filhote de raposa. Saquei Jinz e a matei, com dó, mas precisávamos nos alimentar. Pedi para Rin acender uma fogueira e então degustamos a carne com gosto forte.
 Apagamos e fogueira e começamos a andar, a procura do Sesshoumaru. Conversamos sobre muitos assuntos no caminho, estava me sentindo um tagarela, mas a garota não pareceu se importar.

- Rin! Cuidado!

 A jovem tropeçou, rolando moro a baixo - literalmente. Desci correndo atrás dela, preocupado, mas, inexplicavelmente, ela eu só havia machucado a mão.

- Como você é descuidada, Rin! - Rasguei um pedaço da manga para enfaixar a mão que estrava sangrando - Por favor, não me assuste desse jeito!
- Me desculpe - Ela me fitou com aqueles amendoados olhos ingênuos.
- Ah! Fazer cara fofa também não vale! - Comecei a rir, limpando seu rosto com a outra manga.

 Rin começou a rir junto, mas nossos risos foram interrompidos por um barulho de algo muito pesado caindo. Fomos procurar a fonte do som, a poucos metros dali. A garota se levantou antes e foi na frente, sumindo da minha vista, mas voltou pouco tempo depois, chorando, e me abraçou com força, quase me derrubando no embalo, mas não me importei, retribui o abraço e comecei a acariciar sua cabeça, perguntando-lhe o que havia acontecido. A garota não conseguiu responder, estava em choque, então, pressionando o indicador sobre seus lábios rosados, pedi para que se acalmasse - o que resultou em tê-la emudecida novamente.

- Rin... Vamos voltar ao vilarejo... E lá você será minha mulher, assim nunca mais vai chorar - Comecei a guia-la de volta.

 Estávamos andando em silêncio, quando algo veio em nossa direção.

- Cuidado! - Me joguei em cima da garota, derrubando-a no chão.

 A árvore que estava ao lado de Rin agora estava caída no chão, cortada na altura de seu pescoço. Saquei Jinz, a fim de proteger minha amada, e fui para cima da youkai que surgiu das árvores, atacando-nos com rajadas de vento feitas por um leque. Depois de desviar de muitos golpes, consegui fincar a pequena arma no peito da youkai, errando minha mira, pois queria lhe arrancar o braço. Sabia que iria morrer, então dei uma última olhada em Rin e desejei com todas as minhas forças que alguém lhe salvasse.
 Por favor, alguém cuide de Rin e a faça feliz... Por favor.


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Notas finais do capítulo

Eu ainda ia fazer a história do Jaken, mas minha cabeça está falhando... 1084 leitores e 65 reviews *-* Muito obrigada mesmo a todos x3