Kagura me seguiu por quilômetros, em silêncio. Era bom ter uma companhia novamente, mas não era a mesma coisa. Era estranho ser seguido por alguém que acompanhava minha velocidade, tinha equilíbrio, folego e sabia se defender. A cada passo que dávamos, mais saudades eu sentia da Rin, mas era tarde demais para engolir meu orgulho.
            Senti um vento passando por mim, fazendo minhas vestes tocarem meu corpo com suavidade e refrescar a minha pele. Virei-me, querendo desfrutar mais dessa brisa que acariciava meus cabelos, então localizei a fonte do meu prazer momentâneo: Kagura, querendo me animar.

- Agradeço - Continuei indiferente.
- As ordens - Ela sorriu, ainda me abanando.

            Ficamos parados por dois minutos, tempo suficiente para eu me acalmar e tentar me localizar - estávamos próximos ao túmulo do Exército dos 7, o que era ironicamente nostálgico.

- No que esta pensando?
- Foi aqui que eu quase te matei uma vez - Respondi com frieza.

            Fui até a youkai, a encostei numa árvore, segurando o pulso que mexia o leque e, com minha prótese de braço, contornei seu pescoço com a mão, sufocando-a novamente.

- Lembra?
- Bons tempos - Ela riu.
- Ótimos - Tive que concordar, tudo era tão fácil.

            Me afastei, libertando-na de minhas garras, e continuei andando, procurando algum youkai ignóbil para matar - o que não deveria ser difícil. Kagura continuou me acompanhando, agora mais próxima.

- Até quando pretende me seguir?
- Até você me mandar embora.

            Parei um pouco, pensativo, mas logo continuei a caminhar, ouvindo risos baixos da minha acompanhante - o que me irritou muito.
            Paramos de andar quando anoiteceu, eu não sabia onde estávamos e também não me importava com isso. Deitei aos pés de um majestoso carvalho - minha acompanhante fez o mesmo. Kagura tinha movimentos leves, o que fazia o nome "Feiticeira dos Ventos" lhe cair muito bem. Então eu percebi: Kagura significa "dança dos deuses" - Sesshoumaru quer dizer "Perfeição que mata". Quis rir, o nome era realmente perfeito para ela.

- Você lembra...?
- Uhn?

            A youkai estava fitando o chão com seus olhos avermelhados brilhando, então ela se virou para mim, com um sorriso tranqüilo.

- Lembra do dia que eu disse que te amava?
- Lembro - Foi antes de eu encontrar Rin, quando ela veio negociar fragmentos da jóia de quatro almas, seguindo ordens de Naraku.
- Sabe... - Seus olhos agora estavam concentrados na lua - Esse sentimento nunca mudou.
- Faça-o mudar - Fechei os olhos, cansado e pronto para dormir.

            Kagura se manteve em silêncio, pensativa, olhando para os tons maravilhosos que compunham a noite. Minha mente se concentrou na imagem do sorriso perfeito da Rin, assim eu adormeci tranqüilo.